Salgueiro é Sol e Sal nos Quatrocentos Anos de Natal
Apresentação:
Demonstrando
elevado espírito de unidade federativa, liberalidade e parceria, os povos
dos Estados do Rio Grande do Norte e do Rio de Janeiro uniram esforços
para realizar a festa comemorativa do Quarto Centenário da Cidade do Natal
em pleno Carnaval Carioca.
A reputação do Salgueiro, considerando o seu passado, suas tradições e
por ser carinhosamente por “SAL”, foi de fundamental importância para
ser escolhido para homenagear e transmitir felicitações à aniversariante
no imenso salão de festas da Marquês de Sapucaí, na presença de 100 mil
convidados e outros milhares que assistirão o evento pela televisão tanto
no país como no exterior.
O enredo que será apresentado pelo SALGUEIRO não pretende incluir em apenas
um trabalho, toda a história passada e presente da Cidade do Natal, pois,
levada em conta a sua grandeza e riqueza de acontecimentos e personalidades
exigiria não somente um desfile carnavalesco, mas inúmeros outros.
Mesmo assim, os acontecimentos mais marcantes, os episódios históricos,
as belezas naturais e as atrações turísticas serão mostrados pelo SAL
dentro do seu ponto de vista e estilo carnavalesco, inteiramente solto,
descontraído, mas suficientemente sério para levar ao espectador a importância
desta homenagem.
O estilo da sinopse,em formato de crônica, leva o leitor a viajar pelas
terras potiguares do passado ao presente ressaltando a beleza e a importância
deste recanto do Brasil, objetivando realizar um desfile em que o samba
enredo e sua letra, assim como as alegorias e figurinos, na visão do carnavalesco,
sejam os mais originais e criativos, integrando-se desta forma ao nosso
lema: “Nem melhor nem pior, apenas uma escola diferente”.
O Salgueiro, desde já, manifesta o seu orgulho e satisfação por ter sido
escolhido e, mais ainda, tem a certeza de que ouvirá dos espectadores
presentes, a uma só voz, a esperada palavra de reconhecimento: Parabéns!
Paulo Cesar Mangano
Emoções de uma Viagem à Cidade do Sol
Ainda mesmo sobrevoando a cidade do Natal já me desperta um sentimento
de curiosidade e ao mesmo tempo de euforia. Lembro-me de quando estive
aqui, anos atrás, e quanto esta cidade cresceu e se modernizou de lá para
cá.
Já naquela época interessou-me a historia da região e consegui um exemplar
de A História do Rio Grande do Norte. Visitei os sítios históricos da
cidade e das redondezas, como se estivesse num filme em que o roteiro
e os diálogos eram de Luís da Câmara Cascudo, trazendo informação e dramaticidade
ao cenário que se descortinava ao meu redor.Comecei bem do começo. Da
margem esquerda do Rio Potengi, de onde se vê o porto, a Ribeira e a Fortaleza
dos Reis Magos. No relato do grande historiador, transportei-me àquele
tempo.
Na minha frente, imaginei o dia-a-dia dos índios potiguares já se acostumando
com as visitas cada vez mais freqüentes dos navegadores franceses. Estes,
aproveitando-se do porto seguro que o estuário do rio Potengi proporcionava
aos seus navios, aqui abasteciam-se de água, frutas e outros víveres e
saíam a piratear as naus portuguesas e a costa nordestina.
Atento à beleza da fortaleza, à sua forma estelar por cima dos arrecifes
que se escondem na maré cheia, pus-me a considerar que luta terrível e
que dificuldade os portugueses enfrentaram para conquistar este pedaço
do Brasil, tomando-o dos piratas e reatando a amizade com os índios nativos.
Iniciada a construção da fortaleza dos Reis Magos, em 6 de janeiro de
1598, logo os franceses foram expulsos e a cidade do Natal pôde afinal
ser fundada, na paz do natal de 1599, exatamente no dia 25 de dezembro.
A partir daí, sua história seguiu tranqüila, até que essa paz foi sacudida
pelas naus holandesas, que permaneceram na cidade até 1654. Nesse ano,
depois de incendiarem todos os documentos e locais importantes da cidade,
os holandeses foram expulsos pelas tropas portuguesas, já bem mescladas
por contingentes de brasileiros oriundos da Paraíba e de Pernambuco.
A fortaleza mantém-se até hoje intacta e abriga em seu interior o primeiro
marco de posse da terra do Brasil em nome da coroa portuguesa: é o Marco
de Touros, que data de 1501, registrado por Américo Vespúcio. Penso na
força de seus canhões e nos seus soldados em plena batalha. Sei que nada
aconteceu com facilidade em Natal, que já nasceu cidade por decreto do
rei Felipe II, num verdadeiro presente natalino para a colonização portuguesa
do nosso país .
Passado este período de turbulência, a capitania se desenvolveu. Tornou-se
rica aproveitando seus recursos naturais, as pastagens e o gado, o sal,
suas frutas tropicais, seus peixes e crustáceos das lagoas de água doce
e do mar sempre generoso e enfeitado pelas velas enfunadas e a valentia
das primitivas jangadas.
A gente potiguar que resulta dessa história costuma expressar sua natureza
gentil e prazerosa em festas, no folclore e na música. E quem tiver qualquer
dúvida, que consulte Luís da Câmara Cascudo, uma das maiores expressões
da intelectualidade norte-riograndense. Foi ele que pesquisou e registrou
com excelência, toda a riqueza da cultura popular desta terra. O boi Calemba,
o Fandango e a Chegança, os Caboclinhos, o Pastoril , os Congos e o Bambelô,
assim como as belas apresentações do grupo Araruna. Morto Cascudo, essas
manifestações encontraram no professor Deífilo Gurgel um sucessor à altura,
tanto pela dedicação como pelo seu interesse na cultura ímpar do povo
desta terra.
O avião aterrissou. Salve! O aeroporto é ainda pequeno mas moderno e confortável,
Na pista, aeronaves vindas de toda parte do Brasil e também da Europa.
Turismo internacional emergente. O caminho até à cidade é feito por avenidas
largas e bem sinalizadas. Logo à saída do aeroporto, deparo-me com uma
placa: Base Aérea do Natal. Num delírio, sinto-me transportar para o ano
de 1943. O automóvel que me veio buscar, transforma-se num jipe militar
que percorre a maior base aérea dos aliados fora do território norte americano,
a Parnamirim Field. Na minha frente, perfilam-se enormes fortalezas voadoras,
hangares, armamentos e suprimentos para as tropas que vão combater na
África e na Europa. A proximidade de Natal com a costa africana possibilitou
realizar esta fantástica ponte aérea que mudou os destinos da IIª Guerra,
do mundo e também a história da cidade.
Assim como os franceses e os holandeses dos tempos coloniais, este enorme
contingente de militares e pessoal americano trouxe hábitos e costumes,
deixando aqui, algumas marcas características. O cartaz anunciando os
bailes para os sub-oficiais e praças grafando FOR ALL (para todos) - e
o brasileiro pronunciando Forró - hipotética ou fantasiosa origem da denominação
para o que veio a ser a mais típica forma de diversão e da música nordestina
é um bom exemplo disto. Sem falar no intercambio musical inspirado nos
acordes de Tommy Dorsey e das bandas americanas que se apresentaram no
cassino da base de Parnamirim. Diz-se até, como lembra o jornalista e
crítico musical Roberto M. Moura, que numa noite memorável Tommy Dorsey
e Severino Araújo competiam nos improvisos e desceram do palco, com seus
instrumentos, continuando a tocar, andando pela rua, seguidos pela platéia
extasiada.
Com emoção ou sem emoção? Assim me saudou o piloto do buggie que
me levou para passear nas praias do litoral norte. Não entendi bem a frase
mas, como sempre gostei de emoções e novidades, respondi afirmativamente.
Cruzamos o rio Potengi, seguimos pela praia da Redinha e daí até as dunas
de Genipabu. A partir daí, fiquei sabendo o que queria dizer “com emoção”.
Correndo, subindo e descendo por dunas fantásticas num ritmo frenético,
pude ter a verdadeira noção das diabruras de que era capaz aquele pequeno
veículo. E tudo cercado por um dos mais lindos lugares do mundo. O que
se seguiu também teve muita emoção. Vôo em para-pente rebocado pelo buggie,
ski-bunda deslizando em uma pequena prancha duna abaixo até o mar. Banho
em praias e lagoas de água doce, com peixinhos rodeando a gente. Pitangui
com a sua “menor cachoeira do mundo”, ultra-leve, cabo aéreo, um deslumbramento
constante neste que é o melhor dos parques de diversões aquáticas, porque
todo construído pela natureza. Uma festa, inesquecível para os olhos e
para todos os sentidos. Inigualável combinação de beleza e excitamento
que faz qualquer visitante exaltar a vida e o prazer de viver.
Ao voltar à cidade, a tranqüilidade e o conforto do hotel. Um intermezzo
relaxante para o passeio do dia seguinte, pelo litoral sul.
Ponta Negra, com suas rendeiras de bilro e o morro do Careca. Barreira
do Inferno, incrível falésia de arenito avermelhado, base de lançamento
de foguetes. Pirangi, com seu gigantesco e inacreditável cajueiro, a indescritível
sensação de penetrar em sua sombra gigantesca, onde a natureza nos acolhe
e alimenta. Tom, o menino-guia, nos surpreendia com sua inteligência e
perspicácia. Sua descrição deste fenômeno botânico e das outras maravilhas
locais nos tocava por seu entusiasmo e sinceridade.
Seguindo a costa para o sul, uma infindável sucessão de praias e localidades,
cada qual mais peculiar. De embriagar de tanta beleza.
Passados quatrocentos anos da sua fundação, Natal mostra cada vez mais
porque tantos estrangeiros a quiseram no passado. Porque tantos são cada
vez mais atraídos na sua direção, ainda mais nesses tempos de preocupação
com a ecologia, com novas soluções urbanas. Não bastasse a beleza, Natal
ainda guarda uma riqueza única: possui o ar mais puro do planeta.
O passeio pelo litoral sul foi mais calmo e a natureza mais tranqüila.
Por isto, depois de relaxar um pouco, aceitei o convite para jantar e
conhecer a Via Costeira. Lá, localizam-se inúmeros hotéis 5 estrelas,
bares e restaurantes dos mais variados .
Outra festa! A comida deliciosa. Peixes, lagostas e crustáceos em profusão.
Um ambiente exuberante e, para completar, a música nordestina em toda
a sua variedade, levando-me a imaginar a alegria esfuziante do carnaval
ou, melhor dizendo, do Carnatal. Um festival fantástico, carnaval fora
de época que os natalenses realizam tão bem nas primeiras semanas de dezembro
e que traduz a alegria e a hospitalidade daquela gente. Não é por acaso
que se chama Natal de Cidade do Sol, Cidade Sorriso, Cidade do Carnatal.
E foi imaginando o Carnatal, com toda esta emoção, que percebi que poderia
unir estes sentimentos de alegria e entusiasmo aos mesmos que sentimos
aqui no nosso carnaval do Rio de Janeiro.
Assim me despedi ,mas já sabendo que logo voltaria...
Hoje, já não mais sonhando, vejo o meu querido Salgueiro feliz em cantar
todas essas maravilhas para o Brasil e para o mundo inteiro. Tenho certeza
que o sucesso dessa cidade vai nos inspirar. O que queremos é ser os Campeões
no Quarto Centenário do Natal.
Com Emoção, com muita Emoção!!!
Luiz Fernando Abreu
Rio, 13 de Maio de 1998
Enredo e Sinopse de Luiz Fernando Abreu
Carnavalesco Mauro Quintaes
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