FICHA TÉCNICA 1998

 

Carnavalesco     Mário Borriello
Diretor de Carnaval     Paulo Roberto Mangano e Syllos Ramos de Oliveira
Diretor de Harmonia     Reinaldo Fernandes da Costa
Diretor de Evolução     Reinaldo Fernandes da Costa
Diretor de Bateria     Mestre Louro (Lourival de Souza Serra)
Puxador de Samba Enredo     Melquisedeque Marins Marques (Quinho)
Primeiro Casal de M.S. e P. B.     Sidclei Marcolino dos Santos (Sidclei) e Ana Paula Macêdo
Segundo Casal de M.S. e P. B.     Jorge Enir dos Santos e Fernanda Saint'Clair
Resp. Comissão de Frente     Renato Ferreira Santiago e Regina Miranda
Resp. Ala das Baianas     Lecy Souza de Oliveira (Tia Ciça)
Resp. Ala das Crianças     Não desfilou

 

SINOPSE 1998

Parintins, a ilha do Boi-Bumbá: Garantido e Caprichoso

            Bem vindos a Parintins. a Ilha Encantada.
            As “gaiolas”. as “chatinhas” e os “vaticanos” vão aportando suavemente.
            Vindos de todos os lugares. os visitantes vão se aproximando da proa atraídos pela algazarra dos “Brincantes”, que dão boas vindas com alegres toadas.
            Estamos a 420 Km de Manaus.
            A emoção da chegada nos deixa sentir o pulsar do pulmão do mundo. E neste clima tomamos conhecimento da figura de DINAHÍ, a “mãe d’água”: exuberante morena, que segundo a lenda emergiu do fundo das águas, trazida por uma enorme serpente. Seu corpo sensual é metade mulher, e outra metade peixe. Ela é protetora dos rios, e também uma suave deusa que abre as portas deste mundo mágico que agora vamos penetrar.

“O jardim do paraíso”

            A ilha de Parintins foi chamada primeiramente de Tupinan-Barana. Era habitada pelos guerreiros Parintintins, pelos Tupinambás, pelos Maués e Sapupés.
            Antes do descobrimento oficial do Brasil, em 1496 um vendaval obrigou uma pequena caravela comandada pelo capitão Armendoriz de Cordoba a procurar abrigo nesta ilha.
            Não fosse a exuberância selvagem do local, esta parada seria apenas um fato rotineiro a ser descrito no diário de bordo.
            Os botes foram arriados e os marujos remaram ansiosos, atraídos pelo perfume das exóticas flores. Após tanto tempo no mar, esta terra virgem os entorpecia, fazendo-os cada vez mais embrenharem-se pela mata: abateram animais que nunca dantes haviam visto, colheram frutos de raros sabores, se surpreenderam com uma fonte cristalina, onde se banharam, supondo ser a fonte da juventude.
            De repente o canto das águas foi cortado pela batida dos tambores selvagens. Os visitantes logo aperceberam-se que centenas de olhos os observavam.
Imediatamente guerreiros indígenas surgem contrastando minúsculas tangas e corpos pintados com as formais vestimentas européias. O encontro foi desprovido de agressividade de ambas as partes.
            Pôde-se logo distinguir o chefe dos índios, que indicou para seguirem em direção dos tambores.
            Por uma alameda ladeada de flores, chegaram a um povoado. De pronto avistaram rapazes e moças de cabelos negros e sedosos, crianças que corriam alegres e velhos que socavam em pilões a mandioca ou trabalhavam no tear.
            Grandes vasos com pinturas geométricas apresentava uma nova estética aos convidados, que logo perceberam estarem diante de uma solenidade: era a cerimônia do MUIRAQUITÃ, troféu que as CUNHATÃS (mulheres jovens amazonas) entregariam aos rapazes perpetuando o amor eterno.
            Uma cerimônia de rara beleza que emocionou até o mais rude marujo ali presente.
            Hoje, depois de muitos séculos, mais uma vez os rituais desta Ilha voltam a encantar ao homem branco.

Lendas e mistérios da Ilha

            O ritmo das toadas continua por toda a cidade engalanada de azul, vermelha e branca. Neste cenário mágico os caboclos vão narrando antigas lendas da região.
            Com ênfase vão descrevendo CURUPIRAS e CAIPORAS, onças pintadas e bolos sedutores. Ouvimos adorações a TUPÃ, Deus dos trovões e MONÃ o Deus supremo.
            Aprendemos a origem do guaraná derivada da tribo SATERÊ-MAUÉ, que segundo a lenda nasceu das terras sagradas onde foi enterrado CERRA-IWATÓ, o guerreiro.
            Com convicção nos falam de ervas milagrosas, de serpentes mágicas e nos ARUANÃ, peixes que se transformam em índios, os KARAJÁS.
            Este mundo de tão ricas imagens nos leva a sonhar acordado vendo girar ao nosso redor todos esses incríveis personagens.

O fascínio do Boi

Ê - Boi, oi vaqueiro, traz meu boi prá brincar!
É - ê, oi vaqueiro, traz meu Boi prá dançar!
(Silvio Camaleão)

            Aqui na Ilha a figura do Boi, está por toda parte. Me reporto ao tempo de menino sendo embalado por uma canção que falava: “Boi da cara preta, pega esse menino, que tem medo de careta.”
            O Boi desde o inicio da humanidade se faz presente em todas as culturas. Aqui na festa de Parintins, ele, o personagem principal, mais uma vez será imolado e exaltado. Nesta euforia, que antecede a grande festa fazemos uma reflexão sobre algumas manifestações populares onde o Boi é a grande estrela.
            No antigo Egito o Boi representava a reencarnação de Osíris, o Deus da criação, que era chamado de “Boi Apis”. Segundo o mandamento do Deus RÃ, era sacrificado em substituição a seres humanos.
            Já na Grécia a mitologia nos mostra os Bois como motivo de bravura para seus heróis. O Deus dos Oceanos, Posseidon, fez emergir das profundezas do mar o touro branco de Creta. Este touro deveria ser sacrificado em sua honra, por Minus o rei de Creta. Porém, o sacrifício não ocorreu ocasionando a maldição da criatura com cabeça de touro e corpo de homem, o Minotauro.
            A figura bovina na Índia aparece em clima de adoração e respeito. Em grande pompa as vacas sagradas atravessam as cidades cobertas com mantos bordados de pedrarias. São perfumadas e incensadas.
            O povo prefere morrer de fome a sacrificá-las.
            Na Espanha todas as semanas, milhares de pessoas se reúnem na praça principal para assistir a um duelo.
            O encontro do touro e do toureiro, que já inspirou inúmeros artistas, garante o sucesso do espetáculo.
            Trazidos pelos portugueses no século passado, o “Boi” chega ao nordeste assumindo suas características. Invadiu Pernambuco, o Ceará e o Maranhão, vestindo as alegres cores das frutas típicas.
            A febre da borracha no final do século passado atraiu muitas pessoas para o Amazonas, e com ele seguiu o “auto” do “Boi”.
            Saindo nesta colorida ciranda em que o Boi foi visto de diversas maneiras, vamos de encontro a nossa meta principal, que é festejar o “BOI” mais adorado do Brasil: - O “BOI BUMBÁ”!

Garantido e Caprichoso

            O surgimento desses “Bois” no início do século é narrado de diferentes formas. Qualquer que seja porém, a origem não desmerece nem um nem outro.
            Ao final do mês de maio tem início um verdadeiro mutirão, que visa deixar tudo enfeitado de vermelho, branco e azul, cores do “Boi” Garantido e do “Boi” Caprichoso.
            Desde então a cidade fica dividida em dois “currais”, como é chamado o local onde ensaiam.
            Apesar da competição o objetivo principal é difundir o folclore Parintinense e a cultura Amazônica.
            Por isto, todo ano uma série de atividades artísticas e culturais engrandece cada vez mais a imagem do Amazonas no âmbito nacional e internacional.
            A festa do “Boi” tem sua apresentação mais exuberante nos dias 28, 29 e 30 de junho. Nesses dias todas as atenções se voltam para os “Bois” GARANTIDO e CAPRICHOSO, que há 80 anos empolgam toda a Ilha.
            A apresentação dos grupos é feita para um público de mais de 35 mil espectadores, exultantes com as toadas que cantam lendas e tradições da região.
            O Bumbá ganhou tanta força que foi necessário construir para sua apresentação o “Bumbódromo”. como é chamado o popularmente conhecido anfiteatro Amazonino Mendes.
            Apesar de respeitar as tradições e os mitos, o “Bumbá” está sempre em constante evolução.
            Esta manifestação popular não é Carnaval, nem Axé, nem Maracatu. Nem propõe a ser uma autêntica dança indígena.
            O que é certo é que nesta Festa todos tremem de emoção.
            Tanto o “Boi” Garantido, como o “Boi” Caprichoso, trazem cerca de 5.000 “brincantes”.             Algumas das principais figuras obrigatórias e quesitos são:

  • Apresentador:Mestre de cerimônias, esboça com sua saudação aos guiados, convidados e galera os contornos do grande espetáculo, contagia a galera com sua alegria, fazendo o coração de cada brincante bater mais forte e chama para o centro da Arena o Levantador de Toadas.

  • Levantador de Toadas: É o intérprete oficial da agremiação.

  • Batucada: A batida dos seus instrumentos se caracteriza por uma cadência específica no compasso 2/4.

  • Ritual: Uma apresentação de um conjunto de práticas consagradas pelo uso e/ou normas e/ou mitos que devem ser observados de forma invariável em ocasiões determinadas no caso rituais indígenas.

  • Porta-estandarte: Baila com o estandarte de sua agremiação.

  • Amo do Boi: Expressa sua musicalidade em versos improvisados. Representa o patrão da Fazenda.

  • Sinhazinha da Fazenda: Ela representa a ascensão do ciclo do couro, a colonização e a influência espanhola, portuguesa e francesa na Amazônia. Sua indumentária, é tradicionalmente inspirada no século XVI.

  • Rainha do Folclore: A rainha acompanha a figura típica regional do período da ascensão da borracha que foi a riqueza por muitos anos na Amazônia.
    Sua indumentária simboliza o Seringueiro e o seu nobre oficio.

  • Cunhã-Poranga: A moça mais bonita da tribo. Ilumina  com sua presença o espetáculo e o desfecho do Ritual.

  • Boi-Bumbá: E a evolução do Boi (a pessoa que faz esta evolução é chamado de Tripa).
    Toada: E a musica que cada agremiação escolhe para ser julgada como o grande representante dentre todas toadas cantadas no Bumbódromo.

  • Pajé: Ele é o elo entre o mundo dos mortos e dos vivos. Do bem e do mal, da saúde e da enfermidade, do instinto humano e animal. Do céu e da terra.
    O Pajé em si já representa os quatro elementos. Seus pés evocam o elemento terra ao dançar. A lança ou maracá em suas mão chamam os ventos quando posto em movimento. O suor é o elemento água e o calor que emana do seu corpo é o fogo.

  • Tribo Indígena Masculina: Representa uma determinada tribo escolhida para ser retratada, observando sempre suas características originais, costumes, hábitos, dança, etc. Sua localização e sua origem.

  • Tribo Indígena Feminina: Representa uma determinada tribo escolhida para ser retratada, observando sempre suas características originais, costumes, hábitos, dança, etc. Sua localização e sua origem.

  • Tuxaua Luxo: Caracteriza o líder da tribo sob o aspecto da indumentária luxuosa.
    Tuxaua Originalidade: Caracteriza o líder da tribo sob o aspecto da indumentária original com material natural da região.

  • Figura Típica Regional: Representa um tipo humano associado sempre a uma atividade econômica regional: Ex.: Pescador, seringueiro, etc.

  • Alegorias: São estruturas artísticas que dão suporte ao cenário que se pretende retratar.
    Lenda Amazônica: Ilustrando as raízes da Amazônia e as histórias que passam de pai para filho.

  • Vaqueirada: A guardiã do Boi entra na Arena com seu bailado tradicional.

  • Galera: Torcida que participa, criando um monumento vivo, um único corpo, um só coração.
    Coreografia e Organização: Arte de compor um bailado em consonância com os ritmos.

            O “Boi” Garantido é conhecido como o do povão da baixa do São José e tem como símbolo um coração vermelho.
            O “Boi” Caprichoso é o Diamante Negro e tem como símbolo uma estrela solitária azul.
            Em virtude da rivalidade referem-se ao concorrente como o “contrário”, não citando assim o nome da agremiação.
            Nesta disputa a criatividade dos artistas faz surgir nos QGs.. como são conhecidos os ‘Barracões”, verdadeiras obras de arte.
            Os materiais rústicos da região. a palha, o cipó. as folhas secas. transformam-se em ricos personagens de conto de fadas. Penas multicores decoram imensas alegorias que bailam no espaço desafiando a gravidade.
            As estórias desses deuses indígenas é aqui representada com esmero e apoio da mais moderna tecnologia.
            Neste quadro feérico o “Boi” desafia a todos com irreverência e brejeirice, narrando a sua ressurreição após ter sido morto.
            O canto do Boi-Bumbá é um ritmo afro-brasileiro, mistura de carimbó e samba, marcha e cateretê.
            As luzes e cores encantam ao público, quando Garantido e Caprichoso contam estórias de suas histórias.
            Misturam o sonho e a realidade nesta acirrada competição, cujo maior vencedor será sempre a própria cultura, que se vê viva e protegida.

A confraternização

            No esplendor da euforia vermelha, azul e branca, da distante Ilha, sai para o mundo uma mensagem de vida e de arte: é o homem simples do Amazonas, autodidata por excelência, que libera sentimentos para mostrar suas alegrias e lamentos. Garantido e Caprichoso dão às mãos para mostrar a todos a força desta ópera amazônica.
            Esta grande emoção só é superada quando param a batida da toadas e todos se calam para ouvir o canto do UIRAPURU, o solista da floresta.

Agradecimentos:

            A Simão Assayag. com valiosa colaboração através do seu livro “BOI-BUMBÁ” festa, andança, luz e pajelanças.

Mário Borrielo

 

SAMBA ENREDO                                                1998
Enredo     Parintins - A Ilha do Boi-Bumbá
Compositores     Paulo Onça, Mestre Louro e Quinho
Alô, você, Alô do boi-bumbá
Vem salgueirar, vem salgueirar, vem salgueirar
Vem garantir iôiô
Vem caprichar Iáiá
A lenda viva do folclore está no ar
São dois pra lá (ê Boi)
São dois pra cá...
Dança nativa dos Parintintins
Que maravilha
Explosão na Ilha
Dos tupinambás
Mostrando para o mundo inetiro
Pois o meu Salgueiro
É folclore popular

Bate tambor, cunhã-poranga é puro fogo no ar
Gira meu boi, meu boi-bumbá
Um lado azul, outro vermelho, as cores do festival
É garantido, é caprichoso, é carnaval

Um duelo na floresta
Veio de longe o meu boi-bumbá
Entre rituais nativos
Magias e lendas
Ao som do tamurá
Este é o Brasil cultural
Raça mestiça e amor
Mostrando o seu visual
No carnaval
Nossa cultura é assim
O nosso povo é de fé
Vem pro Salgueiro
Se banhar de Axé

Eu sou um índio e só sei amar
Uso arco e flecha, na cabeça um cocar
Banho de cheiro de patchouli
Olha o Salgueiro na Sapucaí