De poeta, carnavalesco
e louco... Todo mundo tem um pouco
Introdução:
Caro(a) Compositor(a) do G.R.E.S. Acadêmicos
do Salgueiro,
Em 1993 fizemos
junto uma viagem no velho ITA!
Este ano, volto para convidá–lo à uma outra viagem: uma viagem pelo mundo
do Inconsciente, onde sem censura a mente humana libera sua emoções.
Tratando do questionamento da Arte Expressada pelo Inconsciente, nosso objetivo
não é responder, mas sim instigar a discussão do tema:
- Arte é loucura?
- Loucura é arte?
Tenho certeza de que nos seus corações há sempre um espaço livre para mais
uma manifestação de arte. Espero com ansiedade o resultado que virá do poeta
que existe em vocês.
Boa Sorte !
SALGUEIRO 1997
“O artista cria um mundo de fantasias porque a força de seus apelos interiores
existe mais do que a vida real lhe dá; o mesmo princípio se aplica ao psicótico,
de forma mais violenta”.
Apresentação:
“Nosso desfile será uma homenagem à Doutora Nize da Silveira psiquiatra,
fundadora há 50 anos do Serviço de Terapia Ocupacional do Hospital Psiquiátrico
Pedro II, no Engenho de Dentro, que deu origem mais tarde ao Museu de Imagem
do Inconsciente.
Não pretendemos retratar de maneira detalhada o Museu e seus artistas, ma
sim “penetrar, ainda que por frestas estreitas, nas regiões misteriosas
que ficam do outro lado do mundo real”.
Este enredo é sinônimo do respeito que dedicamos ao trabalho da Drª Nize
e” uma mensagem de apelo no sentido de todos participarem intimamente do
encantamento de formas e cores criadas por seres humanos encerrados nos
tristes lugares que são os hospitais para alienados”.
Sinopse:
Nosso enredo se inicia no encontro de intelectuais e poetas que, cansados
do pensamento lógico e do racionalismo, despojam–se de suas consciências
para se transportarem até outras dimensões e penetrarem no universo da loucura.
O momento é solene e para tal vestiram seus fardões bordados a ouro, que
os distinguem dos mortais.
Logo eles começam a liberar suas fantasias e a penetrarem nos misteriosos
estados do ser .
Com imaginação, nossos “viajantes” retrocedem no tempo onde encontraram
Dona Maria I, a “Louca”, envolta por uma fantástica teia de aranha. Em delírio
sua mente criou uma floresta tropical habitada Por deuses africanos, flores
carnívoras e folhas venenosas. A rainha louca logo percebe que os visitantes
desejavam mergulhar mais profundamente no mundo do inconsciente.
Abre então para elas as portas do mundo de imagem, onde arte e loucura convivem
em harmonia.
Extasiados, conhecem castelos absurdos ocupados por estranhas criaturas,
retratadas nas telas de Hieronymus Bosch, e que proclamam constantes conflitos
entre o Bem e o Mal.
Seguindo a trilha que divide a lucidez e a insanidade, elas atravessam um
campo de trigo iluminado. Expressivos girassóis invadem a mente de um artista
louco: Van Gogh! A imaginações deste gênio atravessou as grades do hospício
para dizer em cores a emoção superando a razão.
Os poetas logo estabelecem uma relação com as obras dos grandes mestres:
Chagall, Picasso, Miró, Mondrian, Dali e outros.
Surge então a pergunta:
ARTE ou LOUCURA?
Em busca da resposta eles invadem o Museu das Imagens do Inconsciente, onde
sob os olhares da Doutora Nize da Silveira doentes mentais realizam obras
de arte. Modelam e pintam as diversas formas.
Criadores espontâneos, Fernando, Raphael, Adelina, Isaac e Abelardo, formam
com sua pinturas um arco – íris onde flutua a “Barca do Sol, quadro que
traz apenas uma modesta assinatura: “CARLO”.
A barca leva então os poetas de Jacarepaguá as obras de Arthur Bispo do
Rosários superam as proposta s convencionais de arte, fazendo os poetas
inverterem a pergunta: Arte ou Loucuras?
A espontaneidade de expressão traz até os Poetas o mundo da arte NAIF, onde
a arte Bruta e a Arte Ingênua se comungam nas telas de grandes artistas,
como Heitor dos Prazeres e Chico da Silva.
Entre a dúvida e a certeza são atraídos até o barracão de uma escola de
samba: Um espaço livre para a criação dos grandes Arquitetos dos Sonhos.
Igualmente anônimos, eles trabalham noite e dia na produção de abjetos que
ganharão vida aos fazerem parte desta arte feita de folia e loucura.
No carnaval loucura é Arte, e Arte é Loucura!
... e os poetas eletrizados pela cadência da bateria, deixam fluir suas
mais profundas emoções.
E, assumem a frente do desfile trazendo uma estória para contar:
- “De poeta , Carnavalesco e Louco ... todo mundo tem um pouco!
Seguem–os uma delirante massa humana, que compõe um gigantesca escultura
viva, indubitável obra de Arte!
Ao final do desfile, os poetas já estão voltando ao mundo da realidade,
mas ainda há tempo para perceberem “Loucos Varridos” varrendo as ilusões
de mais um carnaval que passou.
Síntese:
Um grupo de Poetas que desejavam sair do convencionalismo, liberam suas
mentes para uma trajetória marcada pela dualidade ARTE OU LOUCURA?
Em nosso Enredo a ARTE será apresentada como uma arma contra a “Instituição
Asilo”, e a LOUCURA não será uma doença, mas sim um “Símbolo de Liberdade”.
Mário Borriello
Glossário:
-
Criar – dar existência a; imaginar.
- Psicótico – De, ou relativo a psicose; que sofre psicose (ver psicose).
- Psicose – Designação comum às doenças mentais.
- Psiquiatra – Especialista em psiquiatria (ver psiquiatria).
- Psiquiatria – Parte da medicina que trata do estudo e tratamento das doenças
mentais.
- Terapia ocupacional – Aquela em que se procura desenvolver e aproveitar
o interesse do paciente por um determinado trabalho ou ocupação.
- Intelectuais – Relativo ao intelecto; que possui dotes espírito, de inteligência.
- Poetas – Aquela que tem faculdades poéticas e se consagra à poesia.
- Loucura – Estado ou condição de louco; insanidade mental; tudo que foge
às normas que é fora do comum.
- Fardões – Fardalhão; veste simbólica dos membros da Academia Brasileira
de Letras. (veja Academia Brasileira de Letras).
- Fantasia – Imaginação; Obra ou criação da imaginação; vestimenta usada pelo
carnavalesco, e que emita palhaço, tipos populares, figuras mitológicas.
- D. Maria I – Mãe do D. Pedro IV do Reino Unido de Portugal, Brasil e Algares.
Sofria de delírios.
- Inconsciente – Não consciente; que está sem consciência.
- Imagem – Representação gráfica, plástica ou fotográfica de pessoa ou de
pessoa ou de objeto; representação dinâmica, cinematográfica ou televisionada,
de pessoa, anima, objeto, cena, etc.
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