FICHA TÉCNICA 1996

 

Carnavalesco     Fábio Borges
Diretor de Carnaval     Elza Carneiro e Dejahyr dos Santos
Diretor de Harmonia     Jorge da Silva Casemiro (Jorge Calça Larga)
Diretor de Evolução     Jorge da Silva Casemiro (Jorge Calça Larga)
Diretor de Bateria     Lourival de Souza Serra (Mestre Louro)
Puxador de Samba Enredo     Melquisedeque Marins Marques (Quinho)
Primeiro Casal de M.S. e P. B.     Vanderli Silvares Rodrigues e Andréia Cristina Neves
Segundo Casal de M.S. e P. B.     Sidclei Marcolino dos Santos (Sidclei) e Ana Paula Oliveira
Resp. Comissão de Frente     Zeca Taveira e Regina Miranda
Resp. Ala das Baianas     Lecy Souza de Oliveira (Tia Ciça)
Resp. Ala das Crianças     Não teve

 

SINOPSE 1996

Anarquistas Sim, Mas Nem Todos

          A Itália, geográfica, histórica e culturalmente herdeira do glorioso Império Romano, é o berço da civilização moderna. Sua projeção estende-se a todo o globo terrestre, e o Brasil é um dos maiores herdeiros dessa civilização, seja através da língua mãe, do sangue latino, da religião, do Direito e da Justiça, ou da cultura peninsular trazida pelos italianos que para cá imigraram.
          Repartindo conosco parte daquilo que criaram através de século de sua existência, em todos os campos da atividade humana, eles contribuíram extraordinariamente para o nosso desenvolvimento material e espiritual, moldando-se um pouco à sua feição. A imigração italiana no Brasil se distingue em duas classes: a primeira, constituída de agricultores, se dirigiu ao Sul do Brasil e a São Paulo; a segunda, composta de imigrantes menos visíveis, por terem chegado em pequenos contingentes ou isolados, trouxe um pouco de cada elemento necessário à vida nos centros urbanos – operários, artesãos, comerciantes, industriais, professores e artistas.

Colonos Italianos no Sul do Brasil

          Desde 1808 D. João VI havia criado um decreto que permitia a qualquer estrangeiro ser proprietário de terras no Brasil, o que até então era proibido.
          Atraídos pelas promessas de transporte, instrumentos agrícolas, animais e semente, milhares de italianos migraram para o novo mundo, repleto de possibilidade. O Brasil era a terra da Promissão, o Éden do bem-estar e da fartura. As terras do Sul eram quase desabitadas e inóspitas, mas a semelhança climática com a Itália atraiu os peninsulares, que ali desenvolveram a agricultura, demonstrando grande capacidade técnica. Era surgir a necessidade e punha-se a criatividade em ação. Aproveitando centenas de riachos do solo montanhoso, puseram a girar, através de roda d’água os primeiros moinho, industrializando trigo o milho na mais rústica mecanização. Assim fizeram a primeira farinha para a polenta. Com sua fé inabalável espalharam milhares de capelinhas pelo sul do Brasil e cultivaram as tradições da terra mãe, a Itália.
          Na colonização do Paraná tem particular importância a Colônia Cecília, implantada em 1880, com o propósito de criar uma sociedade anarquista, sem leis, sem religião, sem propriedade privada, onde a família fosse constituída da forma mais humana, assegurando a todos os mesmos direitos civis e políticos. Seus objetivos não foram concretizados, mas a Colônia Cecília tornou-se um mito na história social brasileira. Ali desenvolveram a civilização da madeira, implantando pequenas indústria de pratos, talheres, bacias, móveis, carroças, construindo suas casas e esculpindo, rusticamente as imagens para o culto.
          A cultura da uva foi disseminada em todos os estados do sul, mas a sua industrialização assumiu maior importância do Rio Grande do Sul, através da colônias italianas de Garibaldi, Bento Gonçalves, Santa Maria e Caxias do Sul, onde surgiu a indústria de vinhos de Luís Michelon Filho. Em Caxias do Sul os peninsulares celebram a famosa Festa da Uva, mantendo viva a tradição que tem origem nos antigos rituais pagão da Roma Antiga.

Os Italianos em São Paulo

          Na segunda metade do século XIX, o Brasil à crise do regime escravocrata, necessitava substituir a mão-de-obra escrava na lavoura de café, principal fonte de renda do país. A rápida expansão cafeeira pelo oeste de São Paulo fez com que milhares de imigrantes italianos demandassem às fazendas de café do planalto, de terras férteis e avermelhadas. Espantados com a cor da terra, os italianos diziam que era “rossa”, que em italiano quer dizer vermelha. Devido a semelhança da pronúncia entre “rossa”, e roxa, tornou-se comum chamar esse tipo de solo de “terra-roxa”. A mão-de-obra italiana foi o sustentáculo da cultura cafeeira do Brasil, onde alguns peninsulares fizeram fama e fortuna, com Geremia Lunardelli, o :”Rei do Café”.
          Alguns italianos fixaram-se nas cidades, tornando-se agentes da industrialização ou comércio, ou trabalhando como operários.
          A indústria era uma atividade promissora no Brasil, e alguns imigrantes familiarizados com as máquinas e técnicas de produção. Era um tempo de pioneiros, em que o estabelecimento de uma fábrica podia gerar a criação de complexos industriais poderosos. Dados de 1900 sobre a indústria do Estado de São Paulo acusavam a existência de 30 indústrias pertencentes a italianos.
          O Conde Francesco Matarazzo funda um vasto império industrial, que compreende fábricas de banha de óleo, tecelagens, refinarias de açúcar e trigo, destilarias de álcool, frigoríficos e fundição.
          Alexandre Siciliano, chegado ao Brasil em 1869, controlava no início do século XX, um complexo industrial que incluía uma das maiores indústrias metalúrgicas do país, as Fábricas de Tecidos Brasital e a Central Açucareira Dumont.
          Nicolau Scarpa fundou no Bráz, o Cotonifício Scarpa S. A Victor Civita cria uma das mais importantes editoras brasileiras, a Abril S. A Cultural.
          Américo Emílio Romi fundou em Santa Bárbara do Oeste a maior fábrica de tornos do país, a Indústria Romi S. A, que produziu as primeiras máquinas agrícolas, o primeiro trato, e o primeiro automóvel nacional, a Romi-Isetta.
          Pelas chaminés dessas fábricas sai uma espessa fumaça, que espalha pela cidade uma atmosfera definitivamente moderna.
          São Paulo se transforma numa metrópole, e ganha o primeiro arranha-céu da América Latina, o prédio Martinelli, construído pelo fundador da CIA. de Navegação Lloyd Brasileiro, Giuseppe Martinelli.
          Pelas ruas da cidade trafegam automóveis Alfa Romeo, Ferrari, os Lancia de Nápolos e os Fiat de Torino, com pneus Pirelli.
          Ernesto Gattai e Chico Landi se destacam como automobilistas. Os imigrantes fundam os bairros do Bráz e do Bexiga, tipicamente italianos, onde mantém viva a esperança peninsular, como culto a Nossa Senhora de Achiropita, quando as melhores colchas e tapetes enfeitam a rua para homenagear a santa.
          As mammas preparam o macarrão, o nhoque, o ravioli, a pizza e a linguiça calabresa, cantando árias de óperas. A arquitetura típica dos italianos foi misturando aos modismos do início do século, formando um estilo “macarrônico”.
          A cidade já contava, no início do século, com dois bancos: A Casa Bancária e Industrial Crespi e Rigolo, fundada em 1899, e o Banco Comercial Italiano, fundado por Puglisi Carbone em 1900.
          Em 1904 foi fundado o “Palestra Itália”, que devido aos acontecimentos da Grande Guerra, mudou seu nome para Sociedade Esportiva Palmeiras.
          Em 1929, em terço dos habitantes de São Paulo era constituídos por italianos.
          Além de industriais, eles são sapateiros, jornaleiros, alfaiates, joalheiros e também donos de armarinhos.

Os Italianos no Rio de Janeiro

          No dia 3 de setembro de 1843, desembarca no Rio de Janeiro, Dona Tereza Cristina de Borboen, filha do Rei das Duas Sicílias. No mesmo dia a princesa italiana caso-se com D. Pedro II, tornando-se Imperatriz do Brasil. Com o séquito da princesa vieram artistas e professores italianos. Ângelo Fiorito, Mestre de Capela do Imperador Pedro II, foi professor de Música no Conservatório do Rio de Janeiro, que contava ainda com outros professores italianos: Luigi Ellena, violinista, La Gemma Luziani, pianista, Briani, mestre de canto e La Rosa, violinista. O doutor Luigi Vicenzo de Simoni di Genoa, foi professor de Latim e italiano no Colégio Imperial D. Pedro II e um dos dezessete fundadores da Academia de Medicina.
          O napolitano Alessandro Cicarelli foi professor de desenho da Imperatriz. Em 1849 chegou o pintor Nicollo-Antônio Facchinetti, senhor da técnica primorosa que retratou com minúcias de documentalista a paisagem brasileira. Por influência de D. Tereza Cristina, o Imperador enviou para a Itália o jovem maestro Carlos Gomes, incentivando a criação da Ópera Nacional Brasileira . sofrendo o influxo da Escola Romântica de Giuseppe Verdi, Carlos Gomes compõe, entre várias óperas, II Guarani e Lo Schiavo, cantadas em italiano, aclamadas e consagradas no mais famoso teatro da Itália, o Alla Scala de Milão.
          Domênico e Cesare Farani, ourives e joalheiros se estabeleceram na Rua dos Ourives, 59, entre a Rua Sete de Setembro e a Rua do Ouvidor. Fornecedores da Casa Imperial, de sua joalheria saíram a espada de honra e a coroa dadas com prêmio de guerra ao Conde D’Eu e ao Duque de Caxias. O fotógrafo L. Musso tinha atelier na Rua da Carioca e era o preferido da alta sociedade.
          Paschoal Segretto, a princípio, distribuidor de jornais e revista, abre o Salão de Novidades, na Rua do Ouvidor, a Maison Moderne e a Empresa Teatral Paschoal Segretto, com os teatros Carlos Gomes, São José e Padiglione Internazionale.
          Na República, a cidade do Rio de Janeiro passou pela remodelação promovida por Pereira Passos. No Concurso Internacional de Fachadas para a Avenida Centra, entre 107 concorrentes, o vencedor foi o projeto do italiano Antônio Januzzi. Sylvio Rbecchi constrói os pavilhões da Bahia e Minas Gerais para a exposição de 1908.
          Giuseppe Martinelli fundou em 1917 a Companhia de Navegação Lloyd Brasileiro.

Artes Plásticas

          O primeiro registro da presença de artistas italianos no Brasil, refere-se à chegada do arquiteto Antônio José Landi à Belém do Pará, em 1753. Ele foi o introdutor do estilo neoclássico no país, construindo naquela cidade o maior edifício civil do período colonial, Palácio dos Governadores de Belém. São de sua autoria os projetos dos hospital militar e as mais importantes igrejas da capital.
          O neo-classissismo, movimento intelectual surgido na Itália nos fins do século XVII que preconizava o retorno ao classissismo na arte, foi o estilo oficial no Brasil império. No início da República, alguns artistas italianos se destacaram no cenário nacional, entre eles os irmãos Henrique e Rodolfo Bernardelli e Eliseo Visconti, autor das pinturas da cúpula central do Foyer do Teatro Municipal do Rio de Janeiro.
          O movimento Modernista Brasileiro contou com a participação do poeta Menotti Del Picchia, da pintora Anita Malfatti e do escultor Vitor Brechret, autor do magnífico Monumento às Bandeiras em São Paulo. Em torno do Ateliê de Francisco Rebolo é criado o grupo Santa Helena, composto por imigrantes ou filhos de italianos: Francisco Rebolo, Mário Zanini, Humberto Rosa, Fulvio Pennacchi, Aldo Bonadei, Clovis Graciano, Alfredo Pizzoti e Volpi.
          Cândido Portinari dominou o cenário brasileiro como o mais intenso e impressionante pintor do país.
          A convite de Assis Chateaubriand, Pietro Maria Bardi troca a Itália pelo Brasil, para fundar e dirigir o Museu de Arte de São Paulo. A arquiteta Lina Bobardi assina os projetos do MASP e do Sesc Pompéia.
          Por iniciativa do industrial e Mecenas Francisco Matarozza Sobrinho e de Pietro Maria Bardi é criada a Bienal de Arte de São Paulo, em 1951.
          No cenário das artes plásticas, brilham nomes Pancetti, Maria Nonomi, Pietrina Checcacci, Iberê Camargo e Cláudio Tozzi.

Teatro

          Os espetáculo teatrais do Brasil durante o século XIX eram marcados pela presença de companhias estrangeiras. Passando a fase das companhias francesas, o Rio de Janeiro foi invadido e dominado pela ópera, tornou-se o bel canto mania nacional. Essa paixão facilitou, sem dúvida, a triunfal recepção dada aos atores e elencos italianos que nos visitaram na virada do século. A mais famosa diva italiana foi a condessa Bezanssonni Lage.
          A partir de 1914 inicia-se a fase ítalo-brasileiro através da integração do imigrante, com dramaturgia eminentemente regional. À contribuição dramática e o modo de encenação, acrescenta-se, ainda, a revelação de alguns grande intérpretes como Itália Fausta, fundadora do primeiro sindicato de atores do país, no Rio de Janeiro.
          O Teatro Brasileiro de Comédia nasceu do desejo do engenheiro italiano Franco Zampari de dar aos amadores de São Paulo um local de trabalho.
          Sob o comando de Adolpho Celi, Luciano Salce, Ruggiero Jacobi e Gianni Ratto, o TBC chegou a reunir em seu elenco cerca de 30 atores, futuras estrelas dos palcos brasileiros: Cacilda Becker, Madalena Nicol, Cleyde Yáconis, Tonia Carreiro, Nydia Lycia, Maria Della Costa, Tereza Rachel, Fernanda Montenegro, Nathália Thimberg, Paulo Autran, Sérgio Cardoso, Walmor Chagas, Jardel Filho, Juca de Oliveira, Luiz Linhares, Gianfrancesco Guarnieri e Ítalo Rossi. Nos palcos encenam-se textos de Pirandello.

Cinema

          A primeira sala de cinema no Brasil foi o Salão de Novidade, aberto por Paschoal Segretto na Rua do Ouvidor 141. No dia 19 de junho de 1898, Alfonso Segretto filmou as primeiras vistas da Baía de Guanabara, a bordo do navio Brésil. Nascia o cinema brasileiro.
          Giuseppe Labanca criou em pleno centro do Rio de Janeiro o primeiro estúdio cinematográfico do país onde foram feitos cerca de 100 filmes.
          Vitória Capellaro foi muito importante na fase pioneira do cinema brasileiro, criando uma obra autenticamente nacional, como o Guarani, o Cruzeiro do Sul, Iracema, Garimpeiro e o Caçador e Diamantes, realizados em 1915 e 1935.
          Franco Zampari, desejoso de instalar em São Paulo um estúdio semelhante aos de Hollywood, fundou em 1049 a Cia. Cinematográfica Vera Cruz. Em seus cinco anos de existência, produziu O Caiçara, de Adolpho Celi e O Cangaceiro, de Lima Barreto entre uma vintena de filmes.
          Igino Bonfiglioli, italiano radicado em Belo Horizonte, foi o pioneiro do cinema mineiro.
          Filho de um romano, amacio Mazzaropi nasceu no tradicional gueto dos italianos em São Paulo, a Barra Funda. Estrelou e dirigiu vários filmes de enorme sucesso popular, mas seu maior êxito foi ”Uma Pistola Para Djeca”, de 1970, paródia dos “Western Spaghetti” italiano, e maior bilhete da história do cinema nacional até aquele ano.

O Circo

          Antiga tradição italiana, o circo, tal como é conhecido hoje, é fruto da evolução dos antigos espetáculos públicos realizados no Coliseu de Roma. O palhaço, personagem mais antigo do teatro italiano faz a alegria de adultos e crianças. Ele chegou ao Brasil no Século XIX e nunca mais saiu de cena. Algumas das companhias mais conhecidas pertencem a italianos: Orlando Orfei, Gran Bartollo Circo etc.

O Carnaval

          Festa mais popular do Brasil tem seu nome derivado da palavra italiana Carnevale. De Veneza herdamos a tradição do baile de máscaras e a batalha de confetes. Pierrôs, arlequins e colombinas dão charme especial aos bailes e cortejos carnavalesco. E nesse reino anarquista de Mono, a única lei á a da liberdade e da alegria, que faz pulsar mais forte o corações salgueirense.
          Abram alas que o Salgueiro vai passar!

Fábio Borges

 

SAMBA ENREDO                                                1996
Enredo     Anarquistas sim, mas nem todos
Compositores     Márcio Paiva, Adauto Magalha, Eduardo Dias e Quinho
Hoje eu vou cantar, me acabar nessa canção...
Meu Salgueiro em festa vem mostrar
A influência de uma civilização
Do sonho, nasce a realidade
Em cada chão de uma cidade
Em cada praça, em cada mão
Itália fonte da civilidade
Da cultura e da religião
Com sua fé, conquistou a multidão
Num momento tão divino
O vinho tem a sua tradição
O imigrante veio em busca de riqueza
A colônia virou mito
Nessa terra brasileira

Se liga meu bem
Vem nessa também
O Salgueiro faz a massa e não tem pra ninguém

A princesa
Com a sua união
Trouxe a arte
Pra delírio da nação
O teatro e o cinema
O sindicato para a profissão
Com o circo a magia
Carnaval é alegria
Sacode, meu povão

A nossa emoção
Tá solta no ar
Vem meu amor se acabar
O meu coração
Não vai agüentar
Ver essa galera delirar