Sou Amigo do Rei
Sinopse:
Carlos
Magno, Rei da França, no inicio do período medieval, tornou-se uma
lenda, sendo seus feitos de bravura, cantados em festas, que se tornaram
muito famosas.
O ideal medieval era a honra, a bravura, a justiça. Isto é, a admiração
e dedicação a idéias de grande dignidade.
A história de Carlos Magno e dos cavaleiros que o acompanhavam em
suas aventuras, chamados de “pares” (os Dozes Pares de França). Foi
sendo desenvolvida pela imaginação de seus autores e tornou-se tema
de inúmeros versos, canções e livros.
Ele e seus pares, ou nobres que o acompanhavam, são personagens cantados
pelo menestréis e cancioneiros.
E nesta evolução, chegou-se a um livro muito popular no Brasil. Não
havia casa do interior, em que as pessoas não o tivessem lido. Difundido
desde o século XVIII, “a História do Imperador Carlos Magno e dos
Doze Pares de França e a Cruel Batalha, que teve Oliveros com Ferrabras.
Rei de Alexandria e filho, do grande Almirante Balão”, marcava as
aventuras do rei Carlos Magno, em luta contra os mouros, cujo chefe
era Balão, pai de Floripes e Ferrabras.
Havia a luta do bem contra o mal, supostamente os mouros, pois os
anjos protegiam os cristão e os diabos, ajudavam os muçulmanos.
Ora, no Brasil, este livro tão conhecido, deu origem a festas folclóricas
e folguedos, contando histórias heróicas, de batalha e amores tão
nobres.
Os Congos, Congadas ou Congados, folguedo popular que, feito durante
o ano todo, em várias regiões do Brasil, e que tem início com a coroação
do Rei Congo, sendo um auto popular conta, através da representação,
a luta de Carlos Magno aos Doze Pares de França, contra o gigante
Ferrabras e os personagens são extraídos do livro sobre Carlos Mango.
As Caleiras ou TaIeiras, espécie de Congada, também, em algumas regiões,
utilizam-se da representação da mesma história.
Outra manifestação popular, baseado neste tema, são as cavalhadas,
sendo a de Pirenópolis, uma das mais famosas, em que, em torneio equestre,
representa-se a luta de cristão contra os mouros, sendo os cavaleiros
em números de doze, e levando os cristãos, o emblema da cruz, enquanto
que os muçulmanos, são representados pela lua crescente.
Esses folguedos são representados em praças publicas ou em pátios,
de fronte das igrejas, tal qual na Idade Média.
A influencia da história do Rei Carlos Magno não se estendeu apenas
as manifestações folclóricas, a literatura de Cordel. Esta influencia
vai mais além. “A Pedra do Reino”, romance armorial-popular brasileiro,
de Ariano Suassuna, trata de uma visão sertaneja do fenômeno medieval
.
Dom Pedro Dinis Quaderna ( personagem da história), é o herdeiro da
coroa real, a verdadeira, no sertão nordestino. Notamos uma grande
mistura de símbolo no seu romance epopéico, em que ele mesmo diz em
certos trechos:
“Meu sonho sempre foi o der ser um daqueles grande senhores. Cangaceiros
e Príncipes que apareciam no folhetos”.
Destes folhetos havia dois que sempre me impressionaram muito, eram
a “História de Carlos Magno e os Doze Pares de França” e “O Rei orgulhoso
na hora da refeição”.
Os vintes e quatro cavaleiros que iam tomar parte na cavalhada estavam
lá. Entreguei a todos as roupas, os mantos, as selas, as lanças e
demais apetrechos de boniteza.
Os zodíacos, as cartas de baralho, bandeiras, brasões, santos com
cruzes e crescentes eram insígnias de minha monarquia.
A saga dos homens parecia-me agora, como uma cavalgada, bem organizada,
realizada por Reis, Valetes, Rainhas, Peões e Bispos, montados a cavalos
na cavalgada bela, e bandeiras.
Essa cavalhada do mundo, do qual Deus era o chefe, rei e cruzado.
Por isso, o mundo era como um sertão glorioso. Esse sertão não era
somente o sertão que todo mundo via, mas o reino que eu sonhava, cheio
de cavalos e cavaleiros, de frutas vermelhas de mandacaru, reluzentes
como estrelas, estrelas de metal ostentadas nos estandartes cavalhadas
ou nos chapéus dos Vaqueiros e Cangaceiros, Fidalgos de minha casa
real.
O sertão selvagem, duro e pedregoso vira o Reino da Pedra do Reino
e enche-se de Condes e Princesas encantadas. Eles vestidos como os
Pares de França da Cavalhada e elas, Rainha de auto-guerreiros.
O tabuleiro sertanejo vira um enorme Tabuleiro de Xadrez ou Mesa de
Baralho, dourado pelo Sol.
Havia cavalhada exatamente aqui, no Reino do Sertão e no Reino da
Normandia.
Os heróis, Carlos Magno e os Doze Pares de França, vivem, amam e combatem
no Brasil.
Rosa Magalhães
Bibliografia Consultada:
-
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-
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Rossini Tavares de Lima et Alli – Campanha de Defesa do Folclore –
1969.
-
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-
Folclore Brasileiro – São Paulo – de Hélio Damante –
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-
Revista Geográfica Universal -
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-
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Revista Quatro Rodas – artigo Três Dias na Idade Média em
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-
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páginas 341 a 355
– Antologia do Folclore Brasileiro – Pellegrini Filho.
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Literatura de Cordel - A História de Carlos Magno e os Doze Pares
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-
Cinco Livros do Povo -
Câmara Cascudo - páginas 441 a 447.
-
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Amadeu Amaral.
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As Congadas no Brasil –
páginas 11 à 20/63 a 64 /72 à 80/133 à 155
Biblioteca Amadeu Amaral.
-
Os Pares de França – Edison Carneiro –
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Amadeu Amaral.
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Caderno de Folclore –
nº 4 – Jaieira – Beatriz G. Dantas – 1976.
-
Romance d’ A Pedra do Reino – Ariano
Suassuna – Editora Jose Olympio
– 1976.
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