FICHA TÉCNICA 1989 |
Carnavalesco | Luiz Fernando Reis e Flávio Tavares |
Diretor de Carnaval | .............................................................. |
Diretor de Harmonia | ............................................................... |
Diretor de Evolução | ............................................................. |
Diretor de Bateria | ................................................................ |
Puxador de Samba Enredo | Rixxa |
Primeiro Casal de M.S. e P. B. | ................................................................ |
Segundo Casal de M.S. e P. B. | ................................................................ |
Resp. Comissão de Frente | ................................................................ |
Resp. Ala das Baianas | ................................................................ |
Resp. Ala das Crianças | ................................................................ |
SINOPSE 1989 |
Salgueiro – Templo negro em tempo de consciência negra 1) Introdução: “Nem melhor, nem pior, apenas uma escola diferente”, essa frase define
muito bem o Salgueiro, sempre arrojado e marcante, original e atrevido,
verdadeiramente uma escola forte, livre e solta, comprometida com seu
tempo e nele pioneira, sempre surpreendente e inovadora, e é assim que
desejamos no carnaval de 1989, livre e soberana em seu estilo, transmitindo
liberdade e resistência. 2) Histórico: Nosso enredo basicamente se divide em duas partes, ou como queiram em dois quadros; que são:
1° Quadro: Salgueiro – Templo Negro Os expliquemos mais detalhadamente: 1° Quadro: Salgueiro – Templo Negro Como o próprio enredo título sugere retrataremos o Salgueiro, enquanto a escola pioneira, e a que mais fortemente emoldurou a temática africana, a temática negra, a negritude enfim. Ao todo foram nove enredos negros; os recordemos: 1957 – Navio Negreiro – Já se mostrando diferente vem o Salgueiro com o enredo “Navio Negreiro” – pioneiro na temática negra, apesar de seu personagem principal ter sido Castro Alves, autor do poema “espumas flutuantes”, já era uma livre abordagem da crueldade escravacionista. 1960 – Quilombo dos Palmares – Mesmo marcante em nossa história os quilombos nunca foram nela claramente abordados, e eis que o arrojado e pioneiro Salgueiro transforma em enredo, o maior e mais importante deles – o quilombo dos Palmares, pela primeira vez um negro – Zumbi – é personagem principal de um enredo, acontece aí o primeiro campeonato, se bem que com mais quatro escolas. 1963 – Chica da Silva – E volta o Salgueiro a ser ousado e diferente, nunca antes uma mulher havia sido tema-enredo, muito menos, uma mulher negra, alforriada e livre torna-se companheira do contador João Fernandes de Oliveira e fez história e fez enredo emocionante, sendo talvez o mais importante enredo do Salgueiro em todos os tempos, e finalmente acontece seu primeiro campeonato isolado, é também considerado um marco nas temáticas de carnaval. 1964 – Chico-rei – Descoberto os caminhos das Minas Gerais vai o Salgueiro em busca de outro negro, esse rei, feito escravo, porém pobre, que através do ouro que o acorrentava, alforria-se e alforria seus companheiros, grande enredo de um belíssimo samba-enredo e por apenas um ponto não acontece o bicampeonato. 1969 – Bahia de todos os deuses – E torna-se negro novamente o Salgueiro, não diretamente, mas falar em Bahia é falar em negritude, de berço negro, e nesse ano ele foi exuberante, foi insuperável, e o mínimo que poderia acontecer, aconteceu, era mais um campeonato salgueirense. 1971 – Festa para um rei negro – Voltando à temática negra, ao contar a visita de uma embaixada do Rei do Congo (Mani Congo) à corte do invasor holandês Maurício de Nassau em Pernambuco, reafirma-se a negra determinação do Salgueiro, novamente campeã, já aí o quinto carnaval da vermelho e branco. 1976 – Valongo – Após o bicampeonato 1974/1975, volta-se o Salgueiro a sua predestinação, o enredo africano, dessa vez contando o cais do Valongo, onde os negros recém chegados da mãe-África, aguardavam como mercadorias os leilões escravos, toda a saga do negro no Brasil é aí contada.
1978 – Do yorubá à luz, a aurora dos deuses – dando continuidade a sua
negritude vem o Salgueiro falar dos orixás e a criação do mundo na visão
yorubana, pela primeira vez o protetor e padroeiro do morro do Salgueiro
e também da escola – Xangô – aparece na poesia de um samba-enredo da
escola. 1980 – No bailar dos ventos – Relampejou mas não choveu – Inicialmente o enredo seria sobre Lamartine Babo, mas de repente, como por força de Xangô, orixá da justiça e protetor do Salgueiro, fez-se justiça ao negro caminhar do salgueirense , e surge o último enredo africano da vermelho e branco, numa homenagem a Iansã. Por isso, com a ousadia característica do Salgueiro, e com a justiceira benção de pai Xangô, determinamos: Salgueiro – Templo Negro
Antes, porém, de mostrarmos a segunda parte do enredo, façamos uma rápida
reflexão sobre o título: Salgueiro – Templo Negro. Nos parece que não
somente o Acadêmicos do Salgueiro merece o título como também o próprio
morro do Salgueiro, que outrora fora um quilombo, refúgio de negros
fujões, leia-se: sedentos de liberdade, e hoje numa visão social é um
novo quilombo, por ser uma comunidade carente, predominantemente negra
e afastada pela elite branca e dominante, assim como outros morros e
favelas, e que ainda mantém viva, apesar de serem pequenas as manifestações,
resquícios tradicionais dos negros como o caxambu, o jongo e a folia
de reis. 2° Quadro: Salgueiro – Em tempo de consciência negra
Durante todo o ano de 1988, comemora-se o centenário da abolição da
escravatura, nos parece no entanto que esse momento é mais de reflexão,
é mais de conscientização do que propriamente de festividades, é tempo
de repassar esses 100 anos de abolição dentro de uma análise real, sem
falsos sentimentalismos, numa visão nua e crua de uma realidade negra
no Brasil; verdadeiramente o negro ainda não se libertou, ainda é preconceituado
e preterido e num dado sentido ainda é escravo de uma sociedade que
o alija de todo processo social, cultural, político e financeiro. E
ainda se diz que em nosso país não há preconceito racial, não há preconceito
de cor, e é triste reconhecer essa farsa, o preconceito não é nítido,
não é claro, ele vem escamoteado, não por palavras, mas por gestos e
atitudes que o torna mentiroso e hipócrita. E se assim não fosse não
existiria uma Lei, hoje tornada inafiançável, que pune o preconceito
racial. É triste afirmar: No Brasil há discriminação racial. 3) Abordagem do Enredo:
Um dos maiores líderes negros da humanidade foi o reverendo norte-americano
Martin Luther King que certa vez afirmou “Black is beautiful” – “O Negro
é belo”, e essa frase nos inspirará por todo o enredo, até mesmo nos
permitiremos aprofunda-la um pouco mais, o negro não só é belo, mas
também é rico, pomposo, forte, exuberante e fundamentalmente LIVRE,
e é nessa riqueza, nessa beleza e nessa liberdade que abordaremos nosso
enredo. As fantasias serão leves e ricas e trarão sempre a característica
africana, já que acreditamos que enquanto na África o negro ainda respirava
liberdade e por aqui só sentiu preconceito, evitaremos, inclusive a
figura do negro escravo servil e submisso, que tanto agrada à elite
dominante, optaremos por um negro forte, guerreiro. Resistente e livremente
africano. As alegorias serão coerentemente negras, criativas e pomposas,
belas e adequadamente ricas. E nosso samba enredo terá de ser marcante,
negro em essência, em poesia e negro em sua melodia, que fale do Salgueiro
– Templo Negro, e que aborde poeticamente, sem radicalismos ou submissão
a problemática negra, sem ranços ou rancores, mas que transmita, porém,
alegria, descontração e principalmente transmita-nos liberdade. Luiz Fernando Reis e Flávio Tavares |
SAMBA ENREDO 1989 | |
Enredo | Templo negro em tempo de consciência negra |
Compositores | Alaor Macedo, Helinho do Salgueiro, Arizão, Demá Chagas e Rubinho do Afro |
Livre ecoa o grito dessa
raça E traz na carta A chama ardente da abolição Oh! Que santuário de beleza Um congresso de beleza de raríssimo explendor Revivendo traços da história Estão vivos na memória Chica da Silva e Chico Rei Saravá os deuses da Bahia Nesse quilombo tem magia Xangô é nosso pai, é nosso rei Ô Zaziê, Ô Zaziá Vai, meu samba vai É baianas, o jongo e o caxambu
vamos rodar |