FICHA TÉCNICA 1985

 

Carnavalesco     Edmundo Braga e Paulino Espírito Santo
Diretor de Carnaval     ..............................................................
Diretor de Harmonia     ...............................................................
Diretor de Evolução     .............................................................
Diretor de Bateria     ................................................................
Puxador de Samba Enredo     ................................................................
Primeiro Casal de M.S. e P. B.     ................................................................
Segundo Casal de M.S. e P. B.     ................................................................
Resp. Comissão de Frente     ................................................................
Resp. Ala das Baianas     ................................................................
Resp. Ala das Crianças     ................................................................

 

SINOPSE 1985

Anos Trinta, Vento Sul - Vargas

"... e veio dos confins do mundo, sibilando hinos e rufando tambores. Veio das esquinas do tempo, da terra de nome santo, da terra de nome santo, cavalgando o “Vento Sul”.

          Soberano dos Pampas – bruxos de S. Borja mágico senhor das Planícies Douradas (01) – do sangue das vinhas (02), das velhas missões (03) tinha o poder da vida e aliança com a morte, com seu hálito feiticeiro, palavra fácil e sabedoria divina, dominou o país dos mestiços e se fez senhor de todas as coisas, apeou na cidade do Sol, Capital Federal do Pindorama (04), atrelou seus ginetes de ferro no Ídolo de Pedra (05), e fez do Palácio das Águias (06) seu reduto de magias, fortaleza e alcova, onde sua corte de duendes, ninfas, fadas e anjos desfrutavam do mesmo teto e proteção (07).
          Com fluidos mágicos e poderes divinos fez surgir das víceras da terra o gênio negro da viscosa seiva, submisso e servil a vomitar energia, calor e luz (08), subiu aos domínios de Xangô, alio-se a Ogum para com o ferro e fogo forjar o grande círculo (09) e dar nova dimensão a nação – contra os inimigos e lançou suas legiões de anjos negros e exércitos de Egum Guns (10).
          Dominou os rebeldes tricolores que insatisfeitos com a grande união sublevaram o estado dos homens de metal que marchavam sob a proteção dos estandarte do Santo Apóstolo e das orações de Anhanguera (11).
          Deu aos seus servos a seiva da amizade, ao seu povo o sono tranquilo da segurança, o ouro do trabalho, a felicidade do sorriso, a proteção da família.
          Com o ABC das sabedorias (12), aliou-se aos jagunços encourados, reis do norte para derrotar o mito do Escorpião Vermelho (13).
          Dilacerou com espadas e esporas a verde serpente da traição (14).
          Aos inimigos do seu povo deu a oportunidade da redenção ou a solidão do exílio. Irmanou-se às nações livres e em outros mundos lançou contra a trindade do mal seu exército de homens verdes (15) e as revoadas dos Ícaros de Aço (16), ficando seu povo sob a protetora guarda dos brancos guerreiros de Poisedom (17).
          Sagrado Sangue – Acre Suor – lágrima de dor, glória aos vivos que aqui retornaram. Gratidão da Pátria aos que no adeus se fizeram heróis.
          A cada vitória conseguida, cada data histórica juntava-se ao povo em arena pública para com ele, coberto pelo manto estrelar do pavilhão celestial participar da procissão dos Ministros, festivo cortejo de nobres vassalos a mais pura representação das tradições folclóricas da nação (18).
          As misturas dos sons do progresso, com seus gritos estridentes de aço e concreto rasgavam pelos tempos as vestes da pátria e fecundavam o seu fértil e desnudo ventre.
          E o ouro parido do divino acasalamento cintilava ao sol das vitórias (19), e a prata das desconfianças e traições era sepultada no mausoléu dos desgraçados.
          Até que nas sombras do etéreo, nas penumbras do infinito cristalizou-se o dragão da tradição, que volatilizou seu hálito nefasto no sacro reduto do velho mestre, e com as garras untadas de peçonhento veneno toca o coração do mago senhor, cobrindo com negra mortalha a única parte vulnerável do seu corpo (20).
          Mortalmente ferido, vendo seu momento chegado roga aos deuses mestiços que lhe dessem um legado, uma inspiradora mensagem que fosse protetora pedra filosofal para o seu povo e seu reino (21).
          E no adeus da saudade partiu para a eternidade mas sua carta testamento, legado dos deuses sábios e vudus ficou pairando sobre a metrópole do país dos mestiços em forma de protetora luz etéreo escuro, verbos de bondade e pureza, bálsamo mágico contra o dragão da maldade. Mãos e lenços agitados ao ar querendo deter o ocaso, mesmo sabendo ser impossível para o tempo o destino, acena o pranto do derradeiro adeus o povo a nação (22).
          E o homem do destino cavalgando ginetes da asas de prata, retorna ao poete de sua terra natal, para que no sagrado ritual do fim seja por ela acolhido. E na esperança das verdades do livro santo repousa o corpo inerte em silencioso sono, junto à luz e a verdade.
          E nas madrugadas da história vive sua alma a ressureição dos profetas para servir ao povo e a pátria.

.... Nada se cria,
Tudo se transforma.

Edmundo Braga e Paulino Espírito Santo

Glossário:

01) Os trigais do sul
02) As vinhas do sul (plantação de uva e fabricação de vinhos)
03) Cidade Arqueológica dos índios e missionários
04) Cidade heróica de São Sebastião do Rio de Janeiro
05) O Obelisco – Monumento comemorativo de abertura da Avenida Central
06) Palácio do Catete
07) Os ministros e políticos ligados ao governo
08) Prospecção e descoberta do petróleo na Bahia
09) Criação da Siderúrgica Nacional (Volta Redonda)
10) A polícia política – Gregório Fortunato
11) A Revolução Paulista de 1932
12) A criação de ministérios – as escolas profissionalizantes – o progresso
13) Intentona Comunidade de 1935
14) Intentona Integralista – 1938
15) O exército (Força Expedicionária Brasileira) – II Guerra Mundial
16) A Força Aérea Brasileira – II Guerra Mundial
17) A Marinha de Guerra do Brasil – II Guerra Mundial
18) A parada da raça – comemoração cívica do Estado Novo
19) A troca da moeda de mil reis para cruzeiro – o valor do dinheiro
20) O suicídio de Vargas
21) A carta testamento
22) O funeral-despedida e enterro em São Borja – Rio Grande do Sul

Getúlio Vargas:

          Filho do estancieiro Manuel do Nascimento Vargas e Dona Cândida Dornelles Vargas, nasceu Getúlio Dornelles Vargas em 19 de abril de 1883, em São Borja, RS(já na fronteira com a Argentina). O pai que combatera na Guerra do Paraguai e fora Prefeito da cidade apoiava a autocracia estadual de Júlio de Castilhos e seu sucessor Borges de Medeiros.
          Em 1889, com 15 anos de idade, assenta praça no 6° Batalhão de Infantaria. Promovido a 2° sargento, obtém autorização do Ministério da Guerra para matricular-se na Escola de Cadetes do Rio Pardo, aonde antes não pudera ingressar, por carência de vagas. Desligado da escola por envolvimento com outros cadetes em atos de insubordinação, incorpora-se, com soldado raso, no 25° Batalhão de Infantaria sediado na capital gaúcha. Reservista, matricula-se na Faculdade de Direito de Porto Alegre, bacharelando-se em Ciências Jurídicas e Sociais em 1907, foi orador da sua turma.
          Estudante, filia-se ao Bloco Acadêmicos Castilhista e exercita-se no jornalismo. Advogado em 1908 é nomeado promotor público e logo eleito deputado estadual e sucessivamente, federal tornando-se líder de sua bancada na Câmara Alta, iniciando assim sua invejável carreira política, encerrada com o suicídio em 24 de agosto de 1954. Case-se em 1911, o futuro grande estadista, com Darcy Sarmento Vargas, falecida quatorze anos após ele, em 1968.

Carta “O legado da morte”:

          Deixo à senha dos meus inimigos o legados da minha morte.
          Levo o pesar de não haver pedido, por este bom e generoso povo brasileiro e, principalmente, pelos mais necessitados, todo o bem que pretendia.
          A mentira, a calúnia, as mais torpes invencionices foram geradas pela marginalidade de rancorosos e gratuitos inimigos, numa publicidade dirigida, sistemática e escandalosa.
          Acrescente-se a franqueza de amigos que não me defenderam nas posições que ocuparam, a felonia de hipócritas e traidores a quem beneficiei com honras e mercês e a insensibilidade moral de sicários que entreguei à justiça, contribuindo todos para criar um falso ambiente na opinião pública do país, contra a minha pessoa.
          Se a simples renúncia ao posto a que fui elevado pelo sufrágio do povo me permitisse viver esquecido e tranquilo no chão da Pátria, de bom grado renunciaria. Mas tal renúncia daria apenas ensejo para com mais fúria perseguirem-me e humilharem-me. Querem destruir-me a qualquer preço. Tornei-me perigoso do dia e as castas privilegiadas. Velho e cansado, preferi ir prestar contas ao Senhor, não de crimes que não cometi, mas de poderosos interesses que contrariei, ora porque se opunham aos próprios interesses nacionais, ora porque exploravam, impiedosamente aos pobres e ao humildes, só Deus sabe das minhas amarguras e sofrimentos, que o sangue de um inocente sirva para aplacar a ira dos fariseus.
          Agradeço aos que de perto ou de longe trouxeram-me o conforto de sua amizade.
          A resposta do povo virá mais tarde.

Ass. Getúlio Vargas

Momentos:

Segundo suas próprias palavras:

“O problema não era renunciar
mas sair do Catete com honra”.

Getúlio Vargas

“Ao ódio respondo com perdão”.
Getúlio Vargas

“Serenamente dou o primeiro passo
no caminho da eternidade e saio
da vida para entrar na história”.

Getúlio Vargas

“Agradeço aos que de perto ou de longe
trouxeram-me o conforto de sua amizade
a resposta do povo virá mais tarde...”

Getúlio Vargas

3 de novembro de 1930 - começa a era Vargas...

“Um novo, claro Brasil surge, indeciso da pólvora”.
Drumond

“Soberano estado novo pai dos pobres ...
Nenhum dos cidadões que assistiram aquele
Espetáculo poderá te-lo esquecido. No amplexo
Daquela multidão em meio frenesi
Coletivo, alguém bradou: Nós queremos
GE-TÚ-LIO. A multidão como nunca São Paulo
Vira igual, repetia, nós queremos GETÚLIO."

Paulo N. Filho

... e muito mais

Apoio Bibliográfico:

  • Getúlio Vargas – Coleção Memória Nacional – II

  • Vargas – Pensamento Político Brasileiro – Hélio Silva

  • Nosso Século – Editora Abril – 1930/1945

  • História do Brasil – Gustavo Barroso – Editora Brasil – América

  • Nova História – Adhemar M. Marques/Ricardo M. Faria

  • Os últimos dias de Vargas – Carlos H. Cony

  • Revista Manchete

  • Museu da República

 

SAMBA ENREDO                                                1985
Enredo     Anos trinta, vento sul - Vargas
Compositores     Bala, Jorge Melodia e Jorge Moreira
Soprando forte do Sul
Um ciclone feiticeiro
Venta pelos anos trinta
E traz Vargas, o mago justiceiro
Veio cumprir nobre missão
E mudar o destino da nossa nação
No palácio...
No palácio das Águias foi o senhor
Levantando o povo, trabalhador
Do solo fez jorrar o negro ouro
E a usina do aço, transformou em tesouro

Ô, ô, ô, ô Getúlio Vargas
O guerreiro vencedor

Apagou a chama da rebeldia
E afirmou a nossa soberania
Deu vida à justiça social
Criou leis trabalhistas
E a tranqüilidade nacional
Com punho forte e decisão
Esmagou a trama da traição
Mandou nossos heróis além mar
Para as forças do mal derrotar
Na fantasia do folclore do nosso povo
Festejava as vitórias no Estado Novo
Pensando no progresso da nação
Fez a moeda subir de cotação
Sucumbiu após a sanha traiçoeira
E da carta derradeira
O povo fez sua bandeira

Rufam os tambores do Salgueiro
Exaltando Vargas
O grande estadista brasileiro