Anos Trinta, Vento
Sul - Vargas
"... e veio dos confins do mundo,
sibilando hinos e rufando tambores. Veio das esquinas do tempo, da
terra de nome santo, da terra de nome santo, cavalgando o “Vento Sul”.
Soberano
dos Pampas – bruxos de S. Borja mágico senhor das Planícies Douradas
(01) – do sangue das vinhas (02), das velhas missões
(03) tinha o poder da vida e aliança com a morte, com seu hálito
feiticeiro, palavra fácil e sabedoria divina, dominou o país dos mestiços
e se fez senhor de todas as coisas, apeou na cidade do Sol, Capital
Federal do Pindorama (04), atrelou seus ginetes de ferro no
Ídolo de Pedra (05), e fez do Palácio das Águias (06)
seu reduto de magias, fortaleza e alcova, onde sua corte de duendes,
ninfas, fadas e anjos desfrutavam do mesmo teto e proteção (07).
Com fluidos mágicos e poderes divinos fez surgir das víceras da terra
o gênio negro da viscosa seiva, submisso e servil a vomitar energia,
calor e luz (08), subiu aos domínios de Xangô, alio-se a Ogum
para com o ferro e fogo forjar o grande círculo (09) e dar
nova dimensão a nação – contra os inimigos e lançou suas legiões de
anjos negros e exércitos de Egum Guns (10).
Dominou os rebeldes tricolores que insatisfeitos com a grande união
sublevaram o estado dos homens de metal que marchavam sob a proteção
dos estandarte do Santo Apóstolo e das orações de Anhanguera (11).
Deu aos seus servos a seiva da amizade, ao seu povo o sono tranquilo
da segurança, o ouro do trabalho, a felicidade do sorriso, a proteção
da família.
Com o ABC das sabedorias (12), aliou-se aos jagunços encourados,
reis do norte para derrotar o mito do Escorpião Vermelho (13).
Dilacerou com espadas e esporas a verde serpente da traição (14).
Aos inimigos do seu povo deu a oportunidade da redenção ou a solidão
do exílio. Irmanou-se às nações livres e em outros mundos lançou contra
a trindade do mal seu exército de homens verdes (15) e as revoadas
dos Ícaros de Aço (16), ficando seu povo sob a protetora guarda
dos brancos guerreiros de Poisedom (17).
Sagrado Sangue – Acre Suor – lágrima de dor, glória aos vivos que
aqui retornaram. Gratidão da Pátria aos que no adeus se fizeram heróis.
A cada vitória conseguida, cada data histórica juntava-se ao povo
em arena pública para com ele, coberto pelo manto estrelar do pavilhão
celestial participar da procissão dos Ministros, festivo cortejo de
nobres vassalos a mais pura representação das tradições folclóricas
da nação (18).
As misturas dos sons do progresso, com seus gritos estridentes de
aço e concreto rasgavam pelos tempos as vestes da pátria e fecundavam
o seu fértil e desnudo ventre.
E o ouro parido do divino acasalamento cintilava ao sol das vitórias
(19), e a prata das desconfianças e traições era sepultada
no mausoléu dos desgraçados.
Até que nas sombras do etéreo, nas penumbras do infinito
cristalizou-se o dragão da tradição, que volatilizou seu hálito nefasto no sacro reduto
do velho mestre, e com as garras untadas de peçonhento veneno toca
o coração do mago senhor, cobrindo com negra mortalha a única parte
vulnerável do seu corpo (20).
Mortalmente ferido, vendo seu momento chegado roga aos deuses mestiços
que lhe dessem um legado, uma inspiradora mensagem que fosse protetora
pedra filosofal para o seu povo e seu reino (21).
E no adeus da saudade partiu para a eternidade mas sua carta testamento,
legado dos deuses sábios e vudus ficou pairando sobre a metrópole
do país dos mestiços em forma de protetora luz etéreo escuro, verbos
de bondade e pureza, bálsamo mágico contra o dragão da maldade. Mãos
e lenços agitados ao ar querendo deter o ocaso, mesmo sabendo ser
impossível para o tempo o destino, acena o pranto do derradeiro adeus
o povo a nação (22).
E o homem do destino cavalgando ginetes da asas de prata, retorna
ao poete de sua terra natal, para que no sagrado ritual do fim seja
por ela acolhido. E na esperança das verdades do livro santo repousa
o corpo inerte em silencioso sono, junto à luz e a verdade.
E nas madrugadas da história vive sua alma a ressureição dos profetas
para servir ao povo e a pátria.
.... Nada se cria,
Tudo se transforma.
Edmundo Braga e Paulino Espírito Santo
Glossário:
01) Os trigais do sul
02) As vinhas do sul (plantação de uva e fabricação de vinhos)
03) Cidade Arqueológica dos índios e missionários
04) Cidade heróica de São Sebastião do Rio de Janeiro
05) O Obelisco – Monumento comemorativo de abertura da Avenida Central
06) Palácio do Catete
07) Os ministros e políticos ligados ao governo
08) Prospecção e descoberta do petróleo na Bahia
09) Criação da Siderúrgica Nacional (Volta Redonda)
10) A polícia política – Gregório Fortunato
11) A Revolução Paulista de 1932
12) A criação de ministérios – as escolas profissionalizantes – o
progresso
13) Intentona Comunidade de 1935
14) Intentona Integralista – 1938
15) O exército (Força Expedicionária Brasileira) – II Guerra Mundial
16) A Força Aérea Brasileira – II Guerra Mundial
17) A Marinha de Guerra do Brasil – II Guerra Mundial
18) A parada da raça – comemoração cívica do Estado Novo
19) A troca da moeda de mil reis para cruzeiro – o valor do dinheiro
20) O suicídio de Vargas
21) A carta testamento
22) O funeral-despedida e enterro em São Borja – Rio Grande do Sul
Getúlio Vargas:
Filho do
estancieiro Manuel do Nascimento Vargas e Dona Cândida Dornelles
Vargas, nasceu Getúlio Dornelles Vargas em 19 de abril de 1883, em
São Borja, RS(já na fronteira com a Argentina). O pai que combatera
na Guerra do Paraguai e fora Prefeito da cidade apoiava a autocracia
estadual de Júlio de Castilhos e seu sucessor Borges de Medeiros.
Em 1889, com 15 anos de idade, assenta praça no 6° Batalhão de Infantaria.
Promovido a 2° sargento, obtém autorização do Ministério da Guerra
para matricular-se na Escola de Cadetes do Rio Pardo, aonde antes
não pudera ingressar, por carência de vagas. Desligado da escola por
envolvimento com outros cadetes em atos de insubordinação, incorpora-se,
com soldado raso, no 25° Batalhão de Infantaria sediado na capital
gaúcha. Reservista, matricula-se na Faculdade de Direito de Porto
Alegre, bacharelando-se em Ciências Jurídicas e Sociais em 1907, foi
orador da sua turma.
Estudante, filia-se ao Bloco Acadêmicos Castilhista e exercita-se
no jornalismo. Advogado em 1908 é nomeado promotor público e logo
eleito deputado estadual e sucessivamente, federal tornando-se líder
de sua bancada na Câmara Alta, iniciando assim sua invejável carreira
política, encerrada com o suicídio em 24 de agosto de 1954. Case-se
em 1911, o futuro grande estadista, com Darcy Sarmento Vargas, falecida
quatorze anos após ele, em 1968.
Carta “O legado da morte”:
Deixo à senha dos meus inimigos o legados da minha morte.
Levo o pesar de não haver pedido, por este bom e generoso povo brasileiro
e, principalmente, pelos mais necessitados, todo o bem que pretendia.
A mentira, a calúnia, as mais torpes invencionices foram geradas pela
marginalidade de rancorosos e gratuitos inimigos, numa publicidade
dirigida, sistemática e escandalosa.
Acrescente-se a franqueza de amigos que não me defenderam nas posições
que ocuparam, a felonia de hipócritas e traidores a quem beneficiei
com honras e mercês e a insensibilidade moral de sicários que entreguei
à justiça, contribuindo todos para criar um falso ambiente na opinião
pública do país, contra a minha pessoa.
Se a simples renúncia ao posto a que fui elevado pelo sufrágio do
povo me permitisse viver esquecido e tranquilo no chão da Pátria,
de bom grado renunciaria. Mas tal renúncia daria apenas ensejo para
com mais fúria perseguirem-me e humilharem-me. Querem destruir-me
a qualquer preço. Tornei-me perigoso do dia e as castas privilegiadas.
Velho e cansado, preferi ir prestar contas ao Senhor, não de crimes
que não cometi, mas de poderosos interesses que contrariei, ora porque
se opunham aos próprios interesses nacionais, ora porque exploravam,
impiedosamente aos pobres e ao humildes, só Deus sabe das minhas amarguras
e sofrimentos, que o sangue de um inocente sirva para aplacar a ira
dos fariseus.
Agradeço aos que de perto ou de longe trouxeram-me o conforto de sua
amizade.
A resposta do povo virá mais tarde.
Ass. Getúlio Vargas
Momentos:
Segundo suas próprias palavras:
“O problema não era renunciar
mas sair do Catete com honra”.
Getúlio Vargas
“Ao ódio respondo com perdão”.
Getúlio Vargas
“Serenamente dou o primeiro passo
no caminho da eternidade e saio
da vida para entrar na história”.
Getúlio Vargas
“Agradeço aos que de perto ou de longe
trouxeram-me o conforto de sua amizade
a resposta do povo virá mais tarde...”
Getúlio Vargas
3 de novembro de 1930 -
começa a era Vargas...
“Um novo, claro Brasil surge, indeciso da pólvora”.
Drumond
“Soberano estado novo pai dos pobres ...
Nenhum dos cidadões que assistiram aquele
Espetáculo poderá te-lo esquecido. No amplexo
Daquela multidão em meio frenesi
Coletivo, alguém bradou: Nós queremos
GE-TÚ-LIO. A multidão como nunca São Paulo
Vira igual, repetia, nós queremos GETÚLIO."
Paulo N. Filho
... e muito mais
Apoio Bibliográfico:
-
Getúlio
Vargas – Coleção Memória Nacional – II
-
Vargas – Pensamento Político Brasileiro – Hélio Silva
-
Nosso
Século – Editora Abril – 1930/1945
-
História
do Brasil – Gustavo Barroso – Editora Brasil – América
-
Nova
História – Adhemar M. Marques/Ricardo M. Faria
-
Os
últimos dias de Vargas – Carlos H. Cony
-
Revista
Manchete
-
Museu
da República
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