FICHA TÉCNICA 1970

 

Carnavalesco     Fernando Pamplona
Diretor de Carnaval     ..............................................................
Diretor de Harmonia     ...............................................................
Diretor de Evolução     .............................................................
Diretor de Bateria     ................................................................
Puxador de Samba Enredo     ................................................................
Primeiro Casal de M.S. e P. B.     ................................................................
Segundo Casal de M.S. e P. B.     ................................................................
Resp. Comissão de Frente     ................................................................
Resp. Ala das Baianas     ................................................................
Resp. Ala das Crianças     ................................................................

 

SINOPSE 1970

Praça Onze, Carioca da Gema

          Os ACADÊMICOS pedem licença, ao som seus tamborins e, na base do ronco da cuíca, apresentam seu assunto “CARIOCA DA GEMA” numa empolgação à Praça 11.
          O “Abre-Alas”, porta-bandeiras e mestre-sala simbolizando todas as escolas, abre o desfile cuja comissão de frente mostra os pilantras de todos os tempos.
          No tempo da onça, pregões, o divino da Igreja de Santana, a chegada do negro, o aglomerado nortista dominando o baiano, barafunda geral, abrem o jogo!
          Substituindo o tradicional desfile cronológico, o Salgueiro castiga o “TEMA” para mostrar, abertamente, do jeito que pode, o milagre do casamento religioso, social, racial e da cultura de todas as raças que fizeram o Brasil, país único, magistralmente sintetizado no complexo cultural que explodiu na Praça 11.
          Tocando o peito e continuando e continuando o cortejo, diz o que pode:
          Diz do divino, dos butécos, da sinuca, da pilantragem, do nascimento do samba, da malandragem, do tempo das melindrosas, das casas coloniais, dos primeiros desfile, da sacanagem, vadiagem, cidade largada, solta, livre, sua gente e seu jeito, té logo!
          Prá acaba o assunto, diz do “CARIOCA DA GEMA” que apesar de tudo, trabalha paca!
          O resto é com as pastoras e com o povo que certamente cantará:

Abre a Roda meninada
Que o Samba Virou BATUCADA!

Senhor Juiz da Comissão de Frente:

          Tempos houve que incorporamos a comissão de frente ao enredo, com riscos (figurinos) da época. Hoje, preferimos apresentá-la como COMISSÃO DE FRENTE, mesmo, semelhante ao malandros de todos os tempos.
          A diferença é que NOSSA, comissão não é feita de bolha d’água nem de coroa paralítico, a NOSSA -, SAMBA mesmo, diz no pé!

Senhor Juiz de Enredo:

          O SALGUEIRO que sempre castigou, como manda o figurino, o seguimento do enredo, não só nos figurinos mas também no desfile, resolveu que esmiuçar esta dança que estava prejudicando a empolgação do Samba.
          A gente vai castigar o TEMA e não o ENREDO!
          MOSTRAMOS UMA Praça 11 – Carioca da gema sem nomes e sem DATAS. NADA DE HISTÓRIAS e muito de expressão, VIDA em vez de morte, LIBERDADE enfim!
          Temos a certeza de que o cortejo e o samba mostram a nossa vontade de glorificar o maior centro de cultura popular do Brasil – PRAÇA 11 – CARIOCA DA GEMA, hoje não mais lugar, não mais geografia, porém espírito salpicado no Brasil inteiro!
          Praça 11, hoje, está na Presidente Vargas, em São Paulo, Porto Alegre, Recife e até nos palcos da Europa. Praça 11 não morreu.
          Jamais, Praça 11 é o BRASIL Vivo! E viva a Pilantragem!
          Castiga Simona!

Senhor Juiz de Alegoria:

          Prá começo de conversa somos contra essa tal de Alegoria em Escola em Escola de Samba.
          Quando passa um carro não há, dança nem cantos. Fora isto é uma rebarba que apanhamos das “Grandes Sociedades” e seus terríveis ornatos e bonecos de papelão imitando a vida.
          Já que está no regulamento, tacamos ficha e sendo de fora do SAMBA o fazemos na base da gozação, muito carnavalesco aliás!
          Quem quiser que tope a parada!
          Como alegórico com boneco de papelão e de coração fingindo escultura, nunca mesmo!

Senhor Juiz de Figurino:

          Em 1960 o Salgueiro resolveu “vestir” todas as pessoas que rasgavam a avenida e inovou, enfeitando, como faz até hoje, inclusive os carregadores que outras escolas ainda trazem “à paisana”.
          Nosso risco sempre foi certinho.
          Este ano o papo é livre!
          Procuramos acabar com o “DESTAQUE” fantasia rica própria para o Teatro Municipal, para desfile e não para o Samba. Possa um mulher dura, que engoliu um cabo de vassoura e ADEUS SAMBA, EMPOLGAÇÃO, etc...
          O Salgueiro é a menor e mais pobre das 4 grandes. Desta maneira tira da cabeça o que não pode tirar do bolso, não podendo competir com Carlos Machado e muito menos com o “Foliberger” nos paetês e vidrilhos, usa a bossa da costura com o triunfo das nossas cores. VERMELHO, BRANCO E XANGÔ !

Senhor Juiz de Evolução:

          Desde o centenário que o Salgueiro, verificando o quanto é desagradável ao povo, imprensa e juizes, o desfile de uma escola “amarrada, fazendo com que, durante mais de duas horas todo o mundo ouça o mesmo samba e veja as mesmas cores enchendo o saco, resolveu desfilar acelerado, dizendo no pé, seus espaços enormes entre as alas e os terríveis destaques, sem exibição desnecessária e acabando com a coreografia-bastarda que tanto desvirtua a verdadeira evolução. O negócio é “espantando o boi” e “dizendo no pé” com a devida malemolência, como manda o figurino da autenticidade.
          Alegria ao máximo sem encher o saco!

Senhor Juiz de Bateria:

          As baterias estão se transformando em “bandas marciais”e é inevitável.
          O jeito é não deixar a cuíca desaparecer e a nossa cuíca será ouvida, com certeza!
          No carnaval passa o grande Juiz de bateria nos deu nota baixa alegando que nossa bateria estava “forte demais”.
          Lembramos que batemos para uma escola desfilar com quase 2.000 pessoas e deste modo uma bateria tem que ser o mais “forte possível”.
          Não nos exibimos para o Juiz, particularmente, se o fizéssemos, o faríamos dentro de um estúdio. Acontece que temos que dar ritmo a 2kms. de gente sambando.
          Que o juiz leve isto em consideração!

Senhor Juiz de Harmonia:

          O samba está “cantando", será cantado e o povo que tá de olho cantará conosco numa harmonia perfeita em função de um samba simples, porém autentico, livre, sobre um tema e não escravizado a um enredo.
          Procuramos nos dirigir ao “Partido-Alto”. Como as Escolas desfilavam antigamente (estribilho cantando por todos e a segunda tirada de improviso.
          O resto, NA HORA É QUE SE VE!

Senhor Juiz de Conjunto e Senhores Juízes de Desfile:

          Para nós, conjunto e desfile é o equilíbrio resultante de todos os quesitos que compõem o julgamento. Da Comissão e Frente à Bateria passando pelos figurinos, etc. o Salgueiro, é uma Escola ÚNICA, perfeitamente harmonizada, impossível de desmembrar partes e que procura ser um conjunto,uma só unidade, vinculando (e cumprindo) todos os elementos numa só idéia. Enredo, Samba, Alegoria, Figurino, Evolução, etc..
          Compare o que apresentamos como resultado total com o anacronismo e “brique-à-braque” que algumas escolas mostram.

Senhor Juiz de Coreografia:

          A coreografia do Mestre-sala e da porta-bandeira, herança dos porta-estandartes dos ranchos e seus trejeitos, é vitalizado em nossa Academia pelo virtuosíssimo da juventude dentro da malemolência do Samba.

Senhor Juiz do Samba (Melodia):

          No ano passado enterramos o Samba-enredo e chutamos o Samba-tema, livremente criado!
          Quase todas as Escolas nos imitaram. Pensamos, depois de uma porção de anos, que o samba-enredo e sua histórias ou estória botava os compositores a fazer sempre “letras-sobrando” e sobra o quase dizer dá-se um jeitinho através de “la-ra-r-as” ou “ô-ô-ôs” buscando uma sinuosa saída. Quase sempre terminando o quilométrico samba, com tema melódico diferente do início. É facílimo verificar: independente de sua vontade, o compositor produzir verdadeiras operas – trechos lindos entremeados de “enche-linguiça”.
          Aé está portando o nosso samba: simples, livre, sem preocupação melódica nem letra com correção gramatical para agradar a juiz quadrado.
          Lembrando e apenas lembrando, o partido-alto da década de 30, somente pretendemos empolgar, brincar PACA, e animar o povo que nos assiste e participar, cumprindo assim a verdadeira missão carnavalesca, sem pretender concorrer à festivais de maracanãzinho que disputam não um carnaval, mas uma acirrada luta por vendagem de disco.

 

SAMBA ENREDO                                                1970
Enredo     Praça Onze, carioca da Gema
Compositores     Duduca e Romildo Souza Bastos
És carioca da gema,
digna de um poema,
Ó Praça Onze,
eterna capital
do nosso samba brasileiro,
tradição do carnaval.
Nas madrugadas em festas,
boêmios esqueciam serestas
para compor com um grupo de batuqueiros
iluminados pela luz de candeeiros.
Tia Ciata,
que era bamba pra valer,
não desprezava um pagode
antes do dia amanhecer.

Oi, abre a roda, meninada,
que o samba virou batucada.
Pau pau-pereira
pau pereira ingratidão
todo pau o vento leva
só o pau-pereira não