Arre égua! Hoje nós vamos pras comédias!
Muitas
e muitas vezes se falou sobre o Ceará, sobre Fortaleza,
sua cultura, histórias e estórias. Agora o G.R.E.S. Renascer de
Jacarepaguá se propõem a levar para a Av. Marquês de Sapucaí no
Carnaval de 2003 as estórias do povo cearense, as estórias vistas
pelos aspectos culturais de uma terra rica em cores e costumes.
Vamos
abrir as cortinas do Teatro de Humor Cearense.
Vamos
gritar para todos: ARRE ÉGUA! HOJE NOS VAMOS PRAS COMÉDIAS!
É
chegada a hora de homenagearmos a cultura popular, a cultura do
humor das ruas, bares e teatros do Ceará, e principalmente de sua
capital a Cidade de Fortaleza, a Capital do Humor do Brasil.
Grandes
nomes (como Tom Cavalcanti), expoentes da nossa cultura na arte
de fazer humor são filhos dessa terra, são gênios com criações caricatas
que nos fazem rir, são espelhos estereotipados da nossa gente e
cultura; uma gente descontraída e alegre que sabe que rir é o melhor
remédio, e a esses nomes, pra essa gente alegre, é que dedicamos
esse nosso carnaval.
A
alegria proposta ao nosso carnaval está desde o tema de enredo:
“ARRE ÉGUA! HOJE NOS VAMOS PRAS COMÉDIAS!”, já que segundo o Dicionário
Popular Cearense ARRE ÉGUA significa ALEGRIA, e HOJE NOS VAMOS PRAS
COMÉDIAS, significa UM PROGRAMA ALEGRE.
Vamos
levar junto com o Teatro de Humor Cearense e os humoristas de rua,
a cultura artesanal e folclórica do povo, o Teatro de Bonecos (de
Maranguape – terra natal de Chico Anysio), os Bonequinhos de Cariri,
os Santeiros de Canindé, o Boi - do – Ceará, o Maracatu, o Reisado,
as Festas Juninas, a Literatura de Cordel...
Uma
grande festa mambembe é o que nos propomos a mostrar; é a cultura
popular do Brasil.
O
Centro Cultural Dragão do Mar de Arte e Cultura, é considerado o
maior complexo turístico/cultural do Brasil, onde todas as formas
de arte encontram seu espaço e, é neste espaço que se realiza um
dos maiores festivais de cinema do país (O Festival de Cinema de
Fortaleza), daí termos também o humor cearense exposto no cinema,
no cinema de Renato Aragão – o Didi Mocó, cearense de Sobral.
Renato
Aragão como um os maiores humoristas do país, fez de seu humor e
de sua alegria o sonho cinematográfico de muita gente, entre seus
filmes de sucesso estão “Os Saltimbancos Trapalhões”, “Os Trapalhões
na Terra dos Monstros” e “O Trapalhão e o Mágico de Oroz”.
A
alegria que se iniciou no Teatro do Humor Cearense, se encerra na
aventura retirante dos humoristas do Ceará pelo Brasil afora, levando
nas bagagens a esperança de conquistar o país com a alegria e o
bom humor; e suas lembranças com o artesanato - suas rendas, garrafinhas
de areia... - e o colorido, sabor e cheiro de sua terra para matar
a saudade.
O
humor cearense não se pode guardar em um único estado e têm sim
é que se espalhar para uma nação.
É
patrimônio da nossa cultura!
Desenvolvimento:
1º
Setor: O teatro de bonecos
A
manipulação de bonecos aliada ao humorismo tem no Ceará o seu representante
numero um na pessoa de Augusto Bonequinho, que deu vida ao “Seu Enkenka”.
“Boneco Fulerage” conhecidos em todo o estado.
2º
Setor: As festas populares
O
folclore é outra grande atração do Ceará através das danças e folguedos
populares, o povo cearense expressa tradições e costumes, seja do litoral
ou sertão. São manifestações espontâneas, que tiveram origem da fusão
cultural do branco, do negro e do índio que lá habitaram.
Dentre as manifestações culturais e populares do Ceará se destacam:
-
Torèm:
Dança indígena originária dos descendentes dos Índios Tremenbé. O
Torém surgiu por volta do século XVIII no Ceará. É simples e imita
a fauna local. O espetáculo é de grande plasticidade.
-
Festa Junina:
Tão popular que há um Festival de Quadrilhas no Pólo do Alagadiço
com apresentações de 140 apresentações de quadrilhas. Representa o
casamento caipira sempre com musicas regionais, como o baião e o xote
e outras que lembram os Santos (Antônio, João e Pedro).
A
batalha do profano
A
religiosidade no Ceará é outro elemento de força na cultura loca. Não
são poucas as manifestações de humor que brincam com o elemento profano.
Nas brigas entre céu e inferno, o cearense constrói suas personagens e
piadas. Acho que a resposta pode vir da religiosidade de um povo que ri
das suas próprias características e costumes.
Beatas,
padres e santos são ‘as vezes, alvos das “mangações” – Vemos a presença
do que chamamos opostos bipolares – bem, mal – sagrado e profano – céu
e inferno – lixo e luxo – riqueza e pobreza.
Povo
religioso que invoca o “baixo corporal” e o apelo ao sexo para construir
suas piadas e xistos. Também temos diversas manifestações folclóricas
de fundo religioso presentes nas festas.
Para
os séqüitos de que festas populares não se devem misturar com religião,
o estado lhes apresentam ricas manifestações populares, cheias de alegrias
e com conteúdo histórico e religioso. Em destaque temos:
-
O boi-do-Ceará:
Auto em drama pastoril, que por tradição é representado durante
o período natalino, como sobrevivência das festividades cristãs medievais,
em que o culto ao boi se fazia em homenagem ao nascimento de Cristo.
No Cariri é acompanhado por banda cabaçal (*).
-
Reisado:
De origem ibérica, é caracterizada por um grupo de pessoas que
se reúnem para cantar e louvar o nascimento de Cristo. Os praticantes
personificam a historia dos gladiadores romanos, dos três Reis Magos
e a perseguição aos cristãos. O enredo mais autentico é registrado
em Juazeiro do Norte.
-
Pastoril:
Festa de origem portuguesa, onde “pastores” vestidos de azul
e encarnado, se apresentam diante do presépio em atitude de louvor
ao Menino Jesus.
(*) – Banda Cabaçal também chamada Banda de Couro é o conjunto musical
mais típico no interior cearense, especialmente na região do Cariri. Originou-se
no meio dos escravos africano mais se desenvolveu e adquiriu peculiaridades
próprias entre o povo do Cariri. Também com influências indígenas no uso
de alguns instrumentos, a banda é composta por quatro elementos tocando
zabumba, pífaros e uma caixa.
3º Setor: Centro
Dragão do Mar de arte e cultura - Cine Ceará
O Centro Dragão
do Mar de Arte e Cultura, localizado na cidade de Fortaleza é considerado
um dos maiores centros de cultura do país, local da concentração de todas
as formas de arte com teatros, cinemas, livrarias, planetário, etc. ..
No
final do mês de junho e inicio de julho ocorre no Cine Ceará, um dos maiores
festivais de cinema do pais, com projeção internacional. Durante o festival
em que a maioria dos filmes é exibido nos cinemas do Dragão do Mar, vemos
suas salas e a cidade de Fortaleza (pólo do festival) lotada por turista,
moradores locais e principalmente por admiradores da sétima arte que aportam
em Fortaleza com câmeras nas mãos e muitas idéias na cabeça. O Ceará aliás,
serviu de locação para filmes como “Bela Donna” de Bruno Barreto, além
de produção de cineastas locais.
Centro
Dragão do Mar de arte e cultura - O humor cearense no cinema nacional
Renato
Aragão, um dos maiores humoristas do país, cearense de Sobral é, também
um dos maiores cineastas brasileiros, seus filmes fizeram a história de
gerações por décadas, inclusive nas mais difíceis para a sétima arte nacional.
Na
memória de homens, mulheres, jovens e adolescentes e até da nova geração
de crianças, as estórias contadas e ou recriadas por Renato Aragão nos
levaram a fantasias e sonhos que acalentamos até hoje
Entre
seus filmes de maior sucesso estão:
-
Os
saltimbancos trapalhões: Funcionários humildes, os amigos Didi,
Dedé, Mussum e Zacarias transformam-se na principal atração do Circo
Bartholo graças à capacidade que possuem de fazer o publico rir. Por
isso enfrentam a oposição do mágico Assis Satã e a ganância de Barão,
dono do Circo.
-
Os trapalhões
no auto da compadecida: Na pequena cidade de Taperoá, João Grilo
(Renato Aragão) e Chicó (Dedé) vivem armando confusões, afrontando
o poder religioso. Mussum é um sacristão humilde e Zacarias, o padeiro
da cidade, sempre traído pela mulher. Todos vivem sob os demando do
bispo, do padre e do major. Quando o cangaceiro Severino mato todos,
um julgamento no céu coloca-os diante de Deus e Virgem Maria. João
Grilo aproveita e negocia uma maneira de voltar à vida.
4º
Setor: O humorista retirante - Lembranças do Ceará
Terminamos
nossa viagem cultural pelo Ceará com a viagem do retirante que leva consigo
a saudade de sua terra em artesanato e lembranças.
“... Oindo pra terra,
Seu berço, seu lar,
Aquele nortista partido de pena,
De longe inda acena,
Adeus, Ceará!...”
Trecho do poema “A
triste Partida"
Patativa do Assaré (**)
Entre
as lembranças que carrega consigo o humorista retirante em sua conquista
do país está uma mostra do artesanato local.
Fruto
da mais genuína manifestação popular, o artesanato ainda guarda características
de seus primeiros artesões, os índios que habitavam o território cearense
no período pré-colonial. De lá para cá as técnicas foram passadas de pai
para filho.
Entre
as técnicas artesanais usadas no estado destacam-se: as rendas, as cestarias
e o trançado, a cerâmica (utilitária e lúdica), as redes (tecelagem),
utensílios de couro (sandálias, alpargatas, ...) e os imaginários (imagens
de santos e ex-votos).
Ainda
em suas lembranças estão a literatura de cordel, típica do Ceará, os jangadeiros
e as garrafinhas de areia.
Algumas
clássicas da literatura de cordel:
A
chegada de Lampião ao inferno
“ Um
cabra de Lampião
Por nome Pilão Deitado
Que morreu numa trincheira
Em certo tempo passado
Agora pelo sertão
Anda correndo visão
Fazendo mal-assombrado
E foi quem trouxe a noticia
Que viu Lampião chegar
O inferno nesse dia
Faltou pouco pra virar
Incendiou-se o mercado
Morreu tanto cão queimado
Que faz pena até contar ...”
Autor José Pacheco
da Rocha
Assim
era São Francisco
"Tendo
por base a história
Leitores vos narrarei
A VIDA DE SÃO FRANCISCO
Tal como eu pesquisei
São cristalinas passagens
Que a forma de versos dei
São Francisco era pobre
Mas vivia bem feliz
Um “nada” no seu surrão
Sempre desejou e quis
Não fique a amealhar cobre
Pois isso a torna infeliz ...”
Autor: Gonzaga
Vieira
A
gangao de rabo e seu defloramento
“ Leitor
se não se enfadar
Desta minha narração
Leia a vida desse ente
Nascido lá no sertão
Foi o cabra mais sem sorte
Dessa nossa geração
Pois ele desde pequeno
Sempre teve muito azar
Já na escola apanhava
Quase deixou de estudar
E só conheceu mulher
Porque foi ao lupanar ...”
Autor Anevaldo
Viana Lima
As
peculiaridades dessa terra são a formula para nosso carnaval, retratar
a saga do humor saído do nordeste brasileiro e conquistando todo o país.
Vamos
então brindar o publico que estará nos brindando na Marquês de Sapucaí,
com um espetáculo de cor alegria e culturalmente falando rico, de estórias
e histórias.
(**) Patativa
do Assaré poeta e compositor cearense, nasceu em 1909 perdeu a visão do
olho direito ainda na fase da dentição, desde os oito anos, praticamente
em todos os dias (com exceção do período de cinco meses em que esteve
no Pará), sempre trabalhou na roça para ajudar a sustentar a família –
sua mãe e mais quatro irmãos, órfão de pai. Com treze pra quatorze anos
começou a escrever versinhos, aos dezesseis comprou uma viola e começou
a cantar de improviso. Nunca fez de sua amada (a poesia) profissão, sempre
tendo cantado, glosado e recitado quando alguém lhe convidava.
Ricardo Costa e Wagner
Gonçalves |