FICHA TÉCNICA 1999

 

Carnavalesco     Gilberto Muniz 
Diretor de Carnaval     Jorginho Harmonia
Diretor de Harmonia     Jorginho Harmonia
Diretor de Evolução     Jorginho Harmonia
Diretor de Bateria     Mestre Cosme
Puxador de Samba Enredo     Ito Melodia
Primeiro Casal de M.S. e P. B.     Andréa e Tuninho do Porto da Pedra
Segundo Casal de M.S. e P. B.     Jane e Rogério
Resp. Comissão de Frente     Nino Giovanetti
Resp. Ala das Baianas     Sandra Maria Faria Trindade
Resp. Ala das Crianças     Silvia M. Mataini

 

SINOPSE 1999

E na farofa do confete tem limão tem serpentina...

Argumento - Justificativa:

            Com a proximidade de um novo milênio o G.R.E.S. UNIDOS DO PORTO DA PEDRA casa-se com a conveniência de elaborar um enredo que embora tenha base em fatos, porta sustento e sentido autoral, uma vez que o assunto tratado (o enredo) toma ficção e a fantasia como matéria-prima.
             Conta que um limão de cera magicamente se personifica e faz da seringa de latão uma espécie de “Nave espacial”, o seu transporte rumo de encontro ao tigre, emblema da nossa escola. No percurso revisita os flagrantes que dão corpo ao nosso carnaval revelando aspectos pertencentes ao mesmo (carnaval) que por mais íntimo que nos pareça muitas vezes são ignorados dentro do desdobramento dessa que é a nossa maior festa.
             O enredo assume projeção ensaística quando lança luz em momentos, que por muitas vezes sem ter o exato propósito, acabam por produzir elos que seqüenciados serviriam de alimento um para o outro. Daí o nome que o enredo recebe: “...E na farofa do confete tem limão, tem serpentina..”
             O confete chegou aqui exatamente para substituir o limão de cera, que em seu interior além de líquidos coloridos, muitas vezes servia de abrigo para urina. A serpentina, por sua vez com a tentativa de desempregar os bolinhos de farinhas de trigo que somando aos limões produziram a democrática “farofa do entrudo” que dentro da repressão cede lugar ao carnaval que chega importado da Europa, com seus discriminantes “ Bailes de Máscaras”, obrigando os mesmo economicamente favorecidos a reinventar sua catarse: os improvisados que de tão espontâneo carrega um “infinito universo” de tipos e personagens recebendo assim o incomum nome: “bloco de sujos”, que não só nutrem mais também entram na composição daquelas que viriam protagonizar o maior espetáculo da Terra: as escolas de samba. Dentro do progressivo desdobramento as escolas fizeram brotar um específico ofício: O CARNAVALESCO, responsável pelo seu aspecto plástico-ilustrativo.
             O limão de cera acaba por aterrizar, a bordo da seringa de latão, no solo vermelho e branco de São Gonçalo, precisamente no Porto da Pedra, em que encontra-se com o Tigre que faz a guarda do pavilhão local, símbolo da mais recente das grandes escolas de samba. Desse mesmo solo ainda assiste na “Banda Carmem Miranda”, (figura ícone do carnaval mundo afora) a reedição daquele que num momento anterior lhe dera origem e sustento: O ENTRUDO!

Abordagem:

            Não é nosso propósito fazer uma reconstituição da história do CARNAVAL, por essa razão, vamos unir dois extremos do CARNAVAL no país: Entrudo e Porto da Pedra.
             Fazermos uso de uma linguagem, quando não contemporânea, se mostra temporal, ainda que os caracteres “históricos” não estão impedidos de comparecerem, quando vindos da conseqüência de intenções inerentes ao tratamento oferecido a abordagem. Uma leitura clara, alegre e sobretudo envolvente.
             No campo das associações traçamos paralelas de fatos, citações e releituras que caminham na direção dos “quase sinônimos”, como:
             Comissão de Frente configurada num quarto elemento que representa o povo brasileiro (a partir das 3 raças): índio, branco e negro.
             Chegada do carnaval, festa da carne, compõe-se entre outros elementos de camisinha-de-vênus e óculos escuros no lugar da máscara, com a função de ocultar a identidade daqueles que planejam o exercício da “liberação carnavalesca”.
             As reformas européias que produziram a involuntária vinda da “família real” para o Brasil.
             O bloco de sujo, que é visto em nossos dias como um grande painel de tipos humanos retratando as pixações que sujam a Cidade com livre inspiração no universo de personagens de épocas distintas, sem o mesmo compromisso com um flagrante datado.
             Os aspectos de improviso, contidos no Zé Pereira, naturais da imprevisível comédia de “Lart”.
As grandes sociedades - Os tenentes do diabo. Em nosso tempo as “barbies” que alimentam os neurônios com a malhação nas academias de ginástica.
             O pierrot Europeu ao se transformar num personagem tropical, comparece como bananeira.
O arlequim nos losangos do abacaxi.
             E a colombina, a mistura das duas frutas já citadas, somadas a outras tantas também tropicais, numa salada de abrir qualquer apetite de alegria.
             A “Banda Carmem Miranda” com sua espontaneidade e inventividade recria atmosfera do Entrudo.
             E no carnaval do tigre a antecipada visão do 3° milênio, sintetiza a reinvenção autobiográfica e traça um flerte com o surreal.

Sinopse:

E do Entrudo

            Deve-se a faxina instalada por uma revolução “chamada” francesa a mesma que baniu com a dispendiosa corte e obviamente foi seguida e auxiliada pela “vassouras de canhões” de Napoleão Bonaparte, o mesmo líder que visava “enxugar” e dominar a Europa.
            Dentro desse ou daquele quadro de inquietações, incertezas e transformações, rococós de outras regiões vizinhas, não mais tendo espaço naquele território, trataram de buscar abrigo e alimento para os seus decadentes excessos. Um caso assim caracteriza uma determinada família (a “Real”), a mesma que no século XIX em nossas terras aportou na tentativa de aqui fixar o incabível. A bordo de sua travessia, exatamente em seu bojo, um componente que viria nos dar inumeráveis prazeres catárticos:

“O jogo do entrudo”

            O entrudo, festiva batalha de limão de cheiro, pós coloridos, ovos, frutas, jatos de água, farinha, enfim... tudo aquilo que compõe uma grande farofa. Aqui chegando eis que se deu o confronto do contraste. Explicando melhor: Olhos habituados com toda espécie de luxo da banda de lá (a “Europa”), depara-se com o exótico, retratado em base de costumes indígenas e africanos.
            Dentro da “obrigatoriedade das conveniências”, se fizeram todos receptivos e flagrantemente fundidos. Daí que o, nada inocente, entrudo adicionou a si, o caráter selvagem ainda existente e insistente nessas “anfitriãs” raças (índios e negros). O grau de violência do jogo inevitavelmente se acentuou, na verdade o que aqui se assistia e/ou fazia-se participar era a batalha em que o confete ensaiava sua futura forma dentro do limão de cera, e a serpentina, por sua vez, se fazia gestar na “farinha da farofa” (a de trigo). Essa guerra multicor, em seu desdobramento, assumiu teor tão miscigenado e conseqüentemente tão abrasileirado que acabou por ser proibido por “um tal” Decreto Lei. Mas como em toda catarse, a batalha acaba por invadir a casa da necessidade - O jogo do entrudo continuou cumprindo a seu calendário, acontecendo nos três dias precedentes à Quaresma, ainda que afastado do centro da cidade, que por muitas vezes contemplou a passagem do Zé Pereira, que sem destino e sem discriminação percorria com seu bumbo as diversas regiões de nossa cidade.

“Lá nos passos do Pereira”

            Ocupando a antiga residência do exilado entrudo, o carnaval da elegância que Pereira Passos (o então Prefeito da Maravilhosa Cidade) em seus anseios de satisfação importou de lá (da mesma e já citada Europa). O que teria sido esse carnaval?... Ora, um carnaval de suntuosidade, um carnaval de elegância e inegável imponência, mas um carnaval pensado e reservado para os economicamente favorecidos. Fosse pela paralisante beleza dos corsos, pela magia dos disfarces dos bailes mascarados que acabavam por encontrar as já “ancoradas” grandes sociedades, tais como: Tenente do Diabo, Fenianos e Democráticos, portadores de indiscutível exuberância.
            Nas variações nominais recebidas pelos blocos, lá se vão os cordões, ranchos préstitos de toda espécie abrigando de acordo com as respectivas nomenclaturas o impacto contido no luxo (dos Ranchos) até a espontaneidade e improviso peculiares dos alternativos blocos de sujos.
            Na periferia da cidade, populares foliões teciam o avesso da ordem, limitados aos bairros das redondezas, nutrindo-se nos morros e favelas para onde o samba subia, entrou, se enraizou, cresceu e pouco a pouco ocupou o que lhe era de direito: O centro de todas as atenções, independente do palco - Praça Onze - Rio Branco - Presidente Vargas até a definitiva Marquês de Sapucaí.
            Deixem que o samba conduza vocês. “Deixa Falar” a Mangueira, “Sai Como Pode”, a Portela, o Salgueiro, o Império Serrano e outras mais... Venham, pois o povo chama pelo brilho de vocês. Seja para exorcizar os males e as tristezas ou mesmo para viver a ilusão de que a Quarta-feira não chegará.
Essa criança, autenticamente brasileira, de nome Escola de Samba, se transformou num gigante que da extensão dos seus domínios carrega vultosas contribuições recebidas da delirante criatividade de seus sonhadores (os carnavalescos) que de suas viagens espaciais trazem para terra firme, momentos de envolventes e inesquecíveis expressões.
            Ainda passando pelas ruas de agora vê-se o misto de um jogo, seria ele o Entrudo, que na verdade é o Zé Pereira? ... Ou, quem sabe, um baile mascarado?... Seria aquele limão um confete? Ou aquele confete um limão? - Um Rancho, um Bloco ou... As razões da existência do oxigênio que mantém aceso o carnaval de rua estão certamente vivendo no nosso inconsciente coletivo.

“Do Porto da Pedra”

            Nasci em moldura emblemática, reúno poeticamente um tanto do todo artesanal da história que as Escolas desde o seu surgimento vêm escrevendo e derramando por onde passam e pela infinita estrada pela qual ainda passarão. Tão criança e já tão adulta trago o mais preciso sinal que o Novo Tempo incumbe de anunciar que:
            Essa festa jamais terá fim.
            E esse ano não será igual àquele que passou.

Gilberto Muniz

Bibliografia:

  • Cabral, Sérgio (AS ESCOLAS DE SAMBA DO RJ)

  • Moraes, Eneida (HISTÓRIAS DO CARNAVAL CARIOCA)

  • Jota, Efegê (FIGURAS E COISAS DO CARNAVAL)

  • Sebe, José Carlos (CARNAVAL, CARNAVAIS)

  • Ventura, Zuenir/Laredando, Cassio (O RIO DE J. CARLOS)

  • Moura, Roberto (TIA CIATA E A PEQUENA ÁFRICA NO RJ)

  • Bollow, Patrice (A MORAL DA MÁSCARA)

  • Bretos, Luiz Navas (A GUERRA DE RUAS)

Referências:

  • Basquiat, traços de uma vida (filme)

  • Ligações Perigosas

 

SAMBA ENREDO                                                1999
Enredo     E na farofa do confete tem limão, tem serpentina...
Compositores     Osvaldo Barba, Heron, Manoelzinho Madrugada, Laudelino, Evaldo, Soares, Aloisio e Helvécio Sabiá
Veio... de uma Europa inconstante
A guerra predominante
Expulsou a realeza (que navegou)
Que navegou na incerteza do destino

Chega ao meu país menino
Reinado pela beleza (Terra Brasil)
Ô Terra Brasil anfitrião de várias raças
Onde o limão serviu de graça
Nas brincadeiras do entrudo
Nessa alegria popular
O Zé Pereira vai passar

Nesta farofa eu vou
Lançar perfume, amor
Jogas confetes nesta festa que ficou

O carnaval da "burguesia"
Discriminando assim os foliões
Ranchos e sociedades
Tomam conta da cidade
Lá se foram os cordões
Mas o morro resistiu
E no samba fez escola
E o toque do artista
Ao mundo encantou
E a minha escola tão linda
Encanta nesta festa multicor

Bate forte coração (é só paixão)
Porto da Pedra me alucina (Que emoção!)
E na farofa do confete
Tem limão, tem serpentina