O Mundo Melhor de Pixinguinha
O
enredo:
Há quem
pense que a presença do Departamento Cultural na Escola seja mais
uma sofisticação. Puro engano. Na Portela sua ação vem se fazendo
sentir cada vez com maior intensidade, dando contribuições de maior
importância. Engatinhando em Ilu-Ayê, ano passado, com PASÁRGADA-O
AMIGO DO REI, pôde dar um maior desenvolvimento ao seu trabalho. Tanto
que o enredo marcou. Ainda hoje se comenta sua beleza e concepção
e, sobretudo, a contribuição cultural que deu, ao encerrar, em moldes
populares, um dos mais belos e categóricos poemas da literatura brasileira
“VOU-ME EMBORA PRA PASÁRGADA”, de Manoel Bandeira. Este ano, trilhando
caminho idêntico, isto é, criando temas que pudessem levar algo de
sério ao público, fomos buscar na vida de um excepcional músico brasileiro,
reconhecido internacionalmente, PIXINGUINHA, elementos para a composição
de um enredo, ao mesmo nível do ano que passou.
Arte teatral integrada. Opera de rua. Arte efêmera, sui-generes, sem
igual no mundo inteiro que, em 80 minutos, é vivida por centenas e
milhares de pessoas e, do que foi sentido e visto, nada se repetirá.
E há de ser intensamente amado o que não será visto duas vezes.
O desfile de uma Escola de Samba é uma empresa estética que supõe
uma estratégia própria e que deve ser apresentada em termos gerais,
lúdicos. Mais tema que enredo. Uma sucessão de puras aparências. Diríamos
mesmo uma dança dramática, de caráter espetacular.
A elaboração do enredo de Escola de Samba é um gênero novo que inventou
seus próprios cânones e módulos. É uma arte integrada (teatro, música,
cenografia móvel, coreografia, pinturas, “script” e o rebolado essencial).
O que estamos chamando de “script” é a redação, se possível em prosa
poética, acessível em nível popular, isto é, pedagógica, do que vai
acontecer na passarela em 80 minutos – e jamais se repetirá.
No Departamento Cultural a produção é coletiva. O espírito de equipe
prevalece sobre a autoria individual. O enredo não tem dono. Nossa
jogada é pretender desmistificar a tradição narcisística que viciou
a cultura, tantas vezes falsificando seus fins e traindo sua missão
em favor de exibicionismo nominal e de recompensas extraculturais.
Com nível superior de elaboração teórica, o Departamento Cultural
revive, assim, a gratuidade do anonimato folclórico.
O G.R.E.S. PORTELA resolveu como enredo para o carnaval de 1974 prestar
um tributo de evocação e homenagem ao maior vulto da música Popular
Brasileira – PIXINGUINHA.
Vamos reviver toda uma série de acontecimentos que são a própria trajetória
evolutiva da música popular brasileira. Como disse o cronista Ary
Vasconcelos, em seu ‘Panorama da Música Popular Brasileira”: “Se você
tem 15 volumes para falar de toda música popular brasileira, fique
certo de que é pouco. Mas se dispõe de espaço de uma palavra, nem
tudo está perdido, escreva depressa: PIXINGUINHA.
Que outro nome, além de Pixinguinha – ele que é instrumentista, compositor,
orquestrador, chefe de orquestra e tudo isto de forma genial – poderia
realmente melhor representar a música popular brasileira de todos
os tempos”.
Ou ainda como asseverou o cronista, crítico e grande estudioso da
música popular brasileira, Lúcio Rangel, em sua obra “Sambistas e
Chorões”:
Em Alfredo Viana Jr., o Pixinguinha, devemos considerar o instrumentista,
o compositor, o orquestrador e o chefe de orquestra. Poderíamos, ainda,
acrescentar o cantor, se este não fosse tão pouco conhecido do público
em geral. Em todas as manifestações de sua arte Pixinguinha revelou-se
admirável, o que nos leva a afirmar, em toda a serenidade, estarmos
frente ao maior músico popular que tivemos em todas as épocas, mesmo
considerando a grandeza de um Ernesto Nazaré, de um Sinhô, ou de um
Noel Rosa.
Muitos outros depoimentos poderiam somar-se a esses que relembramos.
Todos eles são unânimes em reconhecer a figura genial de Pixinguinha.
Se teve no choro seu forte, como ele mesmo dizia: “E no choro que
me encontro mais e sabe porquê? Porque no choro somos obrigados a
fazer três partes musicais. No choro podemos dizer o que sentimos
e tudo fica melhor dividido: tem começo, meio e fim”; percorreu, no
entanto, todos os gêneros musicais, o samba, o partido-alto, o maxixe,
o tango, as músicas para revistas, filmes, operetas, etc..., sempre
com a mesma genialidade.
Como quer que se analise a sua obra, ressaltará sempre o sentido de
eternidade e vanguarda de sua música, sempre atualíssima.
Na realização cênica do enredo, tratada como ópera de rua, reviveremos
no samba-de-enredo, nas fantasias, nas alegorias, nos adereços, na
coreografia processional e na consciência do tema todo um mosaico
de acontecimentos, no qual a figura genial de Pixinguinha é o testemunho
de toda uma epopéia musical.
O enredo está dividido em três partes, intimamente interligadas, o
Mundo Melhor de Pixinguinha, num variado espetáculo audiovisual.
A primeira parte é o PRIMEIRO ANDAMENTO ou
O SURGIMENTO DE UM GÊNIO.
Vai desde o nascimento de Alfredo da Rocha Viana Jr., O Pixinguinha,
a 23 de abril de 1898, seu tempo de criança, até a formação dos oito
Batutas, quando fez a música popular brasileira entrar nos salões
e daí se projetar internacionalmente.
A segunda parte é OUTROS TEMPOS ou Esplendor do Artista.
Nesta parte vemos toda uma seqüência de fatos que culmina com a explosão
para a glória. São as excursões pelo Brasil e depois ao exterior,
Paris. Sua participação no centenário. A feira de amostras, etc...,
etc..., até as apresentações nos cassinos.
A terceira parte, este HOMEM É UM POEMA ou UM RECONHECIMENTO E UMA
HOMENAGEM tem todo um sentido de exaltação à sua figura, à sua obra.
Começa com a formação de velha-guarda, prossegue através da produção
de sua obra musical para cinemas, apresentações diversas e termina
com uma série de homenagens que recebeu e que também nós da Portela
lhe rendemos.
PIXINGUINHA foi eminentemente um chorão, por isso o enredo possui
uma fantasia básica que identifica o tema, O Chorão. Nas diversas
partes da Escola nós veremos os chapéus de palha, os coletes e as
gravatinhas.
PIXINGUINHA, enquanto viveu, jamais parou de compor. Mais de mil composições,
pautas, discos, gravações. Centenas ainda permanecem inéditas.
- Quando estive no Hospital fiz uma canção. Um dia a enfermeira chegou
com a bandeja da refeição e disse: “Manda Brasa.” Foi pra já. Peguei
no lápis e fiz “MANDA BRASA”. Ia fazer exames, subia e descia de elevador.
Compus NO ELEVADOR. Vontade de deixar o hospital: Vou Pra Casa. –
cantava Pixinguinha.
Nós da Portela humildemente retiramos o chapéu de palha para saudar
o gênio brasileiro de todos os tempos, Pixinguinha.
Lá vem Portela
Com PIXINGUINHA em seu Altar
E o altar de Escola é o samba
Que a gente faz
E na rua vem cantar...
O Desfile:
1ª Parte: O
surgimento de um gênio (ou "O primeiro andamento")
A Portela abre o seu desfile carinhosamente. Uma gigantesca águia
– o símbolo da Escola – em posição de vôo carrega, através de uma
carreta presa ao bico, o globo terrestre – O MUNDO MELHOR DE PIXINGUINHA.
O mundo todo azul vem girando e tem por cima um menino – PIZINDIM,
menino bom no dialeto africano da avó de Pixinguinha – tocando flauta.
Aos lados diversas liras iluminadas – o símbolo da música e por baixo
um pandeiro – o símbolo do samba – dão complementação ao carro Sambando
e desenvolvendo graciosos movimentos, aos lados e à frente do carro,
o grupo abre-alas. Eles completam o carro abre-alas. Vendo-os ao longe,
suas belíssimas fantasias lembram espumas do mar, espraiando num maravilhoso
vai e vem. Eles fazem uma saudação ao público em nome do gênio Pixinguinha.
Logo depois, a comissão de frente. Quinze belas e deslumbrantes mulatas,
com fantasias que lembram as deusas, trazendo às mãos liras.
Esta é a apresentação da Escola. Logo a seguir vem a primeira parte.
Nada de dísticos, nada de cartazes. Os acontecimentos vêm fluindo,
num esclarecimento de fatos maravilhosos que marcaram a vida de Pixinguinha.
O começo é a ala das crianças – Os Pizindins. Elas vêm fantasiadas
de chorões. Pixinguinha foi eminentemente um chorão. Por isso iniciamos
com este tipo de fantasia que será repetido, em sua essência, em todo
transcurso da Escola. Chapéus de palha, colete, gravatinha e uma flauta
na mão. Tijolo é o comandante das crianças. Ele estará orientando
a coreografia delas. A ala desfila com liberdade, levando afiadíssimo
o samba no gogó, usando apenas algumas marcações e movimento, de acordo
com o tempo do samba. Atrás delas vêm as avós africanas, uma homenagem
à avó africana de Pixinguinha. Alguns destaques representando as tias
baianas: Tia Ciata, tia Emerenciana. E depois a tradicional ala das
baianas (100 componentes). Este ano as baianas vêm na primeira parte.
Elas que são a nata, a raiz da Escola e têm a responsabilidade de
manter o clima de impacto que a abertura proporciona.
Velhos Chorões
A velha guarda (40 componentes) fantasiados de velhos chorões complementam
as baianas. Eles são os antigos sambistas e vêm simbolizando os músicos
que freqüentavam a pensão Viana. A seguir a ala Vai Como Pode (130
componentes), prosseguem o clima os Chorões. Representando o rancho
Filhas da Jardineira, ao qual Pixinguinha ainda com calças curtas
pertenceu, vem a ala Macunaíma (com 100 componentes).
A Boemia
Os caprichosos, uma ala com 40 componentes, representam o restaurante
La Concha – garçons e garçonetes.
Agora o primeiro CARRO
ALEGÓRICO. Seu tema é o Surgimento de um Gênio.
Nele, a deusa da música abençoando um menino que sobe em sua direção
– o gênio Pixinguinha. Cavalos alados (mitológicos) e o chafariz da
Praça 15 (fixando o gênio nesta cidade) mil luzes, brilho em profusão
e complementos diversos.
A ala dos impecáveis faz o Teatro Rio Branco, bem como a ala Jovem
Flu. Eles formam
um grupamento de cerca de 100 sambistas. Os Supremos mostram a Lapa.
A Ala das Novidades forma o bloco do Caxangá, pelo qual Pixinguinha
tudo largava, para desfilar. São 100 figuras de sambistas. Os Kabuletês
(30 componentes) simbolizam o Cine Palais. A sala de espera. O público.
Os cadetes, uma ala pequena mas muito bem representada vem como maestros.
Depois 2 destaques: Bolinha e Odila. O tema deles é PIXINGUINHA. Ambos
homenageiam PIXINGUINHA com suas fantasias.
Um grupo de alas – Intimidade, Panteras, Show da Portela, Feliz Natal;
Nós e Elas e Harmonia – que formam grupamento de cerca de 200, dão
aquele toque necessário ao enredo, os Chorões.
A Festa da Penha
A festa da Penha tem seus momentos de glória. Super-freqüentada ela
ainda representa um calendário importante no divertimento do carioca.
Com suas barracas, vendedores, rodas de samba, um mundo de gente passeando,
também tinha, em Pixinguinha, um adepto constante. Por isso ela vem
representada por destaques e alas. Dalva dos Santos, Rosemary Santana,
Rosemilde Santana, Aldacyr Albergaria, Nilza Trindade, Wilmar Motta
e alas Alô, Alô Madureira, Paulo Afonso Garcia, Pés de Ouro.
A Corte
Quando da visita do Rei e da Rainha da Bélgica, em 1920, PIXINGUINHA
foi convidado especialmente para fazer apresentações para eles.
No enredo eles vêm representados por Waldemir P. Silva – O Rei da
Bélgica e Irene Praça – a Rainha da Bélgica, juntamente com seu séquito,
a ala dos Lordes, os destaques Sra. Florestam, Célia, Cleuza, Ana
Apolinária, Maria Aparecida, Neir dos Santos, Lea S. De Silva e ala
do Silêncio.
Fechando esta a primeira parte temos a ala Feitiço das Dendecas (15)
e Calçadas (80) fazendo o teatro-revista e os nossos 2° mestre-sala
e 2ª porta bandeira.
2ª Parte: Esplendor do
Artista
Outros Tempos
A segunda parte se inicia com as excursões do grupo formado por Pixinguinha.
É a subida para a Glória, o esplendor do artista.
Assim temos a ala Bigode do Nozinho (60 componentes) com viagem à
Bahia; a ala dos Cafonas (50 componentes) com viagem a Pernambuco;
a ala Dragões da Aristocracia (40 componentes) com viagem a São Paulo.
Um destaque, a Sra. Caetano faz viagem a Minas juntamente com a ala
Rodapé (50 componentes).
Os destaques Jorge da Rocha, Maximiniano J. Cruz, Jorge Santana fazem
os Batutas.
Depois duas alas continuam marcando o enredo com chorões – ala do
China (100 componentes) e Águia de Ouro (30 componentes).
Uma dupla show Cléia e Edinaldo fazem os bailarinos Gaby e Duque,
que se tornaram famosos na Europa, dançando o maxixe.
E mostrando toda pujança e luxo da Boite Assírius duas alas Guanabarinas
e Dez Mais.
Paris
Cidade-luz. A primeira excursão de um grupo de músicos ao exterior.
Um destaque representa Paris – Beki Klabin. Uma ala, a dos Universitários
(100 componentes), dão o estilo francês com moças e rapazes sambando.
Depois, ainda em continuação ao clima de Paris, o grupo Paris.
O segundo carro alegórico é o Cabaret Scherazade. Lá vemos apresentando-se
num palco giratório com um deslumbrante cenário, os Batutas que, naquela
cidade, se apresentaram com sete integrantes.
Dois destaques – Pedrinho e Wanda – abrem o show do Cabaret Scherazade.
A ala do Conde (100 componentes) faz este cabaret e após, ainda com
Scherazade, os destaques Aílton de Souza, Antônio F. Santos, Marly
Albino Silva, Didi e Haroldo Reis.
Fazendo a revista Bataclan as alas Maravilha (30 integrantes) e Isa
da Viola (20 integrantes).
Feira de Amostras
Por ocasião do centenário do Brasil foi organizada uma grande feira
de amostras. Pixinguinha e seu grupo lá se exibiu. Os destaques Milu
e Mauro simbolizam a feira de amostra. A ala Divino Mestre também
faz o tema.
Para mostrar a companhia negra de revista, na qual Pixinguinha tocava
com sua orquestra no teatro Rialto e no qual conheceu Albertina de
Souza, a Jandira Aimoré, com quem veio a se casar, temos os destaques
Lucy Nogueira, Tereza, Jacy, Marivalda, Marsília e Tereza T. B, que
faz Jandira Aimoré. As alas acadêmicas da Portela (50 componentes)
e Estamos Aí, Bicho (30 componentes) representam a Cia. Negra.
Outra vez marcando o enredo com o tema chorões as alas Príncipes,
Jovem, Quem Não É, Não se Mistura, Fidalgos e Secretas.
A ala Majestade (40 componentes) faz a viagem à Argentina.
A ala Corações Unidos da Portela faz os escravos da guarda-velha.
Ela representa a origem da guarda-velha, que depois se transformou
em velha-guarda.
E fechando a 2ª parte a ala Florentina, com cassino, tendo à sua frente
Dona Ester, que faz a Carmem Miranda e, após, os 1° mestre-sala e
1ª porta-bandeira.
3ª Parte:
Homem é um poema (ou Um reconhecimento e uma homenagem)
Este homem é um poema
A terceira parte se inicia com a ala Tema e Avanço (30 componentes)
encerrando a velha-guarda. Depois a ala Chova ou Faça Sol fazendo
a boite Casablanca, o show produzido por Zilca Ribeiro, o samba nasce
no coração.
À frente da ala Paulete Silva, como vedete do show. A seguir uma série
de vedetes, a ala Carmem Miranda (30 componentes).
A ala Niterói (30 componentes) com o show da Boite Casablanca.
Outras alas de chorões: os Esquilos, Liberdade, Adeptos, Transas,
Conjunto Guanabarinos, Embrasados, Essa É Diferente.
O destaque Zélia como musa.
A ala Os Boêmios faz o bar do Gouveia. “Todos os dias vou ao Gouveia.
E porque o apartamento fica vazio. Então você sabe. Vou pra lá. Encontro
amigos. Bato papo”, dizia Pixinguinha.
A ala Hippie vem desenvolvendo os feirantes de Água de Meninos, uma
cena do filme ‘O Sol Sobre a Lama”.
As alas dos Estudantes, Inimitáveis, Jambetes, Filhos da Águia com
o tema Rua Pixinguinha. São fantasias livres comemorando o fato.
Agora o 3° carro alegórico. Homenagem a Pixinguinha. Uma gigantesca
rosa se abre e aparece o busto de Pixinguinha. Luzes em profusão.
Enfeites.
Destaques e alas com o tema Rosas: Shirley, Azucrinados, Grupo de
floristas, grupo Marlene Oliveira.
A ala Magnatas homenageia a Escola Pixinguinha. Outro grupo de chorões
Aquários, Mil, Carinhoso, Mocotó, Mistério, Chacrinha, Amigos do Samba.
O destaque Vilma Nascimento com uma luxuosa e original fantasia, o
cisne, presta uma homenagem singela ao gênio Pixinguinha, faz o mundo
melhor de Pixinguinha.
Fechando a Escola a ala do Donga com seus 170 integrantes, com fantasia
livre, homenagem a Pixinguinha.
A bateria não tem posição fixa. Vem com 200 integrantes, fantasiados
de chorões. A regência é do Mestre Cinco.
O 1° mestre-sala é o internacional Bagdá, exímio bailarino. A 1ª porta-bandeira
é a campeoníssima Irene, com seu porte de rainha, completa sambista.
Os compositores fantasiados de chorões ajudam a harmonia.
No comando supremo da Escola, o grande Natal e sua diretoria.
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