FICHA TÉCNICA 2002

 

Carnavalesco     Max Lopes
Diretor de Carnaval     Percival Pires e Edson Marcos Gaspar de Andrade
Diretor de Harmonia     Olivério Ferreira (Xangô da Mangueira)
Diretor de Evolução     Olivério Ferreira (Xangô da Mangueira)
Diretor de Bateria     José Luis Custódio (Mestre Russo)
Puxador de Samba Enredo     José Bispo Clementino dos Santos (Jamelão)
Primeiro Casal de M.S. e P. B.     Marco Antônio Rodrigues (Marquinhos) e Giovana da Silva Justo
Segundo Casal de M.S. e P. B.     Ubiraci Lima de Oliveira (Birinha) e Elaine Fernanda Bispo
Resp. Comissão de Frente     Avelino Pacheco, Moacyr Barreto e Carlinhos de Jesus
Resp. Ala das Baianas     Neuci da Silva Gomes
Resp. Ala das Crianças     Helcy da Silva Gomes (Cici) e Dayse da Volta

 

SINOPSE 2002

        Brazil com Z é pra Cabra da Peste, Brasil com S é pra Nação do Nordeste

               É bala pra todo lado que Virgulino, cabra invocado, hoje acordou bem humorado. Não se avexe, meu irmão, não sinta medo nem aflição. É bala de coco, é melado, pro povo que fica dos lados e pro povo que vem atrás. A invasão é total, nunca se viu coisa igual – nem neste nem em outro carnaval. É índio, é branco, é negro e mulato, nessa festa sem recato que a Mangueira vem mostrar – nos autos da sua crença, meio de fé meio profano, tudo vida sem engano pro mundo se admirar.
               O conto que a gente canta é a história que o povo faz. É o samba que os males espanta dos cangaceiros da paz. No surdo sem resposta, do jeito que a gente gosta, vamos passar e sambar. Do sertão, no lombo do jegue, que o diabo nos carregue até a beira do mar.
               Quero dizer pro senhor, e sem medo de errar, que esta terra bendita, de sol e de seca, e de calor de rachar, é a mesma da rede de renda que embala da brisa que sopra no agreste:
               Brazil com Z é pra cabra da peste
               Brasil com S é nação do Nordeste

               Cabra da peste é o que não faltava nos tempos de ocupação. Era francês, holandês, tudo de olho neste torrão. De invasão em invasão, e para cada expedição, um brado sempre surgia – o da nossa reação. Um quilombo a cada dia era a nossa garantia pros cabras arrepiar. Um Zumbi e mil Palmares para cada Calabar.
               Nomes havia muitos para mesma a situação. Revolta, levante, guerra, balaiada e revolução. Negro
sabre, branco espada, índio tacape, flecha e facão. Era sangue pra todo lado, numa só conjuração, contra a tal de opressão. Gente simples morria mais, como soe acontecer. Pobres mascates, e até alfaiates entravam na guerra sem saber. Em nome da liberdade, quantas vidas se perdeu!
               E a patuléia sofrida, ante tanta atrocidade se indagava da verdade: cadê o meu? Cadê o meu?
               A paga vem do céu, se cantava em romaria. Naqueles tempos bicudos, os da Guerra de Canudos, os parias de admiravam do sermão daquele guia. Deus é paz ele dizia, e mais vidas consumia, dia e noite, noite e dia. A História nunca provou se era santo ou embusteiro. Só se sabe que tinha o nome de Antônio Conselheiro.
               Entre causos e crendices, lendas e mitos não faltavam. Seres da mata ou filhos da água, eles sempre assombrava. È boitatá, cabra de fogo, e do ipupiara não há quem esqueça, Lobisomem da lua cheia, atrás da mula sem cabeça.
               Contra o fogo do dragão e pra espantar assombração, em nome da boa navegação até hoje é tradição e o velho Chico não perdoa: não afunda que trouxer uma carranca bem na proa.
               O auto do povo é isso: sua fé e seu pecado. Na dança e no canto quem gira chega dando seu recado – na festa do bumba-meu-boi e na folia do reisado.
               Nas cores das pastorinhas, o azul e o encarnado. Rei Congo bate o tambor, é maracatu sim senhor, com o luxo se seus adornos, muitos brilho e muita cor. Mamulengos de bonecos, João Redondo é nosso herói. Dos marujos no fandango da chegança sem destino – todos no mesmo balaio do folclore nordestino.
               A festa do povo se faz no forró e no mercado. Se ensina desde menino que a arte de Vitalino tem barro misturado com baião e com xaxado. No cesto e no traçado, como em todo o artesanato e no chão simples da rua que a vida chega pra se mostrar. Se como, se bebe, se dança, a vida é uma festança em cada feira popular.
               A renda do bilro cativa quem passa pra namorar e come um doce chamado Cartola, esse nome tão familiar. Comida pra todo gosto, pro mais fino paladar. Galinha de cabidela, macaxeira e abará. Carne de sol, caruru, acarajé e mungunzá. Sem falar do mais famoso, o irresistível vatapá.
Mestre Lua já ensaia na sanfona e no gogó que o baião precisa dois, mas se gruda vira um só. Rosto colado, abraço apertado, peito suado, separa mais não. Coxa com coxa, o sangue fervendo, não há quem resista a tal tentação. Solto é o frevo, cada um pro seu lado de passo marcado e sombrinha na mão. Já o coco rasgado, se dança de lado parece quadrilha que nem São João.
               A alegria do povo, que nunca se finda, explode de novo nas ruas de Olinda. Boneco que sabe e que desce ladeira não há quem não entre na tal brincadeira. È como na Barra, na praia e na praia e na praça: a Bahia se enlaça em tal ferveção que a gente só pensa em vestir a mortalha, e em volta do trio se acaba no cordão.
               Se tudo na vida dessa gente sofrida tem tantas origens, e tal profusão, no auto da fé sua sina repete o painel variado da religião. Deus é um só, mas não é pouco, pra tanto barroco no altar do Senhor. A crença é que muda conforme s estuda o jeito de ver seu papel salvador. Muita igreja, tanto santo, e ainda tem um pra canonizar: meu Padim Padre Ciço, pastor do sertão, a glória de um povo que sabe rezar.
               Sucede que a fé tem lá seus mistérios. O tal sincretismo, mistura sagrada, faz da reza um canto, e de cada pai de santo o seu babalorixá. Sarava! Salve Iemanjá, rainha das águas, das flores ao mar! Minha prece, no entanto, em louvor ao teu encanto sobe aos céus pra te agradar. Água de cheiro na escada, samba de roda, batucada, meu Senhor olhai por mim. A Bahia engalanada está em festa dedicada à lavagem do Bonfim.
               Tanta vida, tanta história, que não foge da memória a fonte de tanta beleza. È a terra, é a gente, é tudo aquilo que Deus criou e que se chama Natureza. Essa dádiva encantada, para o amor predestinada, é a terra prometida. O Nordeste, essa magia, agora prenuncia a riqueza repetida. É hora de retornança, do retirante voltante, a procissão invertida.
Abre os braços, Virgulino, vou cumprir o meu destino e volta pro meu sertão. Me dá um abraço, cabra invocado, deixa a tristeza de lado que eu levo paz no coração. O Nordeste agora é outro, tem progresso e tem riqueza, sem contar aquela beleza do aceno amigo no cais. Nordestino como eu tudo sonha, tudo pode - pau de arara, nunca mais!

Max Lopes

 

SAMBA ENREDO                                                2002
Enredo     Brasil com Z é prá cabra da peste,Brasil com S é prá nação do Nordeste
Compositores     Amendoim e Lequinho

Mangueira encanta
E canta a história que o povo faz
Vem mostrar a nação do valente sertão
De guerras e de sonhos imortais
A cada invasão, uma reação
Prá cada expedição, um brado surgia
Brilhou o sol no sertão
A luz de um novo dia
Lendas e crendices, mistérios que vem ao luar
No velho Chico naveguei, com meu cantar

No canto e na dança
No pecado ou na fé, vou seguir no arrasta pé
Deixa o povo aplaudir
Ao som da sanfona
Vou descendo a ladeira, com o trio da Mangueira
''Doce Cartola'' sua alma está aqui

Padim, Padre Ciço faça chover alegria
Prá que cada gota seja o pão de cada dia
Jogo flores ao mar prá saudar Iemanjá
E na lavagem do Bonfim eu peço axé
Terra encantada, tão predestinada
Tua beleza não tem fim
Brasil, no coração eu levo paz
Pau de Arara nunca mais

Vou invadir o Nordeste, sou cabra da peste
Sou Mangueira
No forró, no xaxado os filhos do chão rachado
Vêm com a Estação Primeira