Se todos fossem iguais a você – Tom Jobim

            Uma grande declaração de amor ao Rio de Janeiro. Esta será a entrada da Mangueira na Avenida. A cidade que é para Antônio Carlos Jobim um antigo e grande caso de amor, desde que compôs com Billy Blanco a Sinfonia do Rio de Janeiro (“Rio de Janeiro / que eu sempre hei de amar / Rio de Janeiro / a montanha, o sol e o mar...”). O compositor redescobrindo e cantando sua terra de uma janela de avião (“Minha alma canta / Vejo o Rio de Janeiro”) ou olhando de sua casa para o Corcovado (“Da janela vê-se o Corcovado / o Redentor, que lindo”). O Rio de Tom é o da beleza exuberante, do canto dos pássaros, a cidade de Copacabana, Ipanema, das noites, dos bares onde ganhou a vida e que freqüenta com prazer.
            O amor, o sorriso e a flor. O Beco das Garrafas, onde o Tom Jobim dos anos 50 varava madrugadas, e onde outros compositores e instrumentistas experimentavam novos acordes, novas harmonias, fazendo surgir a Bossa Nova. A Mangueira abraça a todos que fizeram o movimento na figura de Tom. Jovens que fizeram um dos mais importantes movimento da música brasileira, que atravessou fronteiras e se impôs internacionalmente, levando o samba para outras terras. A Bossa Nova de belíssimas canções.
            Então, a escola traz as musas de Tom: Tereza da Praia, Dindi, Garota de lpanema, Lígia, Luiza, Bebel, Ana Luiza. Mulheres de sonho, lindíssimas, cheias de graça. E as musas vivas, reais, não poderiam faltar: Nara, Silvinha Telles, Dolores Duran, Maysa, Elizeth Cardoso, Elis. Além dos ídolos de Tom: Villa-Lobos, Pixinguinha, Custódio Mesquita. E seus parceiros, como Vinícius de Moraes, Newton Mendonça.
            E o Tom Jobim, parceiro de Vinicius, autor de canções para o filme Orfeu do Carnaval. Do amor de Eurídice e Orfeu, no morro da Mangueira, saem canções antológicas, como Se Todos Fossem Iguais a Você. E com A Felicidade do mesmo filme, que em 1959 ganhou o Oscar de melhor filme estrangeiro e a Palma de Ouro do Festival de Cannes, Tom ficou internacionalmente conhecido, sendo gravado por Sinatra, Stan Getz, EIla Fitzgerald e muitos outros. O sucesso lá fora obriga o compositor a morar no Rio e no exterior. Nos Estados Unidos, ele é considerado um dos compositores mais importantes do século. Lá, ele também compõe, sem deixar de cantar a sua terra, o seu antigo amor, o Rio de Janeiro. O Brasil.
            Está chovendo na roseira. São as águas de março, fechando o verão, é o vôo imponente do urubu, é o sabiá. São as matas, os pássaros, os bichos, as flores, os peixes, o matita perê, o boto. Tom vê a natureza sempre de forma alegre, cheia de vida, pipas no céu, gaiolas abertas. E a sua carreira, iniciada em bares e boates, prossegue clara, transparente, cantando a felicidade de viver.

Ilvamar Magalhães