Mangueira em tempo de folclore
Apresentação:
Ao
elaborar o seu enredo “MANGUEIRA EM TEMPO DE FOLCLORE”, a Escola de
Samba Estação Primeira de Mangueira preocupou-se, primeiro, em encontrar
a forma pela qual ele se mostrasse mais claro no desfile, de maneira
a que qualquer espectador entenda perfeitamente o que verá.
Eliminamos logo a idéia de dividi-lo segundo uma cronologia que, por
falta de informações mais amplas, acabaria por não corresponder a
verdade. Outro critério levado em conta e que abandonamos foi o de
apresentá-lo segundo as regiões brasileiras em que o folclore se desenvolve.
Qualquer pessoa com o mínimo de informações sobre o assunto sabe que
há um tal número de manifestações folclóricas existentes em mais de
uma região e, em cada uma à sua maneira — que a idéia também foi abandonada.
Partimos, então, para aquela que julgamos com o apoio de vários especialistas
– a mais correta: a divisão por raças. Para simplificar pelas três
raças que efetivamente contribuíram para a formação do folclore brasileiro:
o índio, o branco, e o negro. É claro que levamos em conta também
a miscigenação. Sobre a importância do assunto que a Estação Primeira de Mangueira
apresenta no carnaval de 1974 recorremos ao texto do maior nome do
estudo do folclore em nosso País, o escritor e antropólogo Luiz da
Câmara Cascudo. Do seu indispensável “Dicionário do Folclore Brasileiro”,
transcrevemos parte do verbete “Folclore”:
“É a cultura popular, tornada normativa pela tradição. Compreende
técnicas e processos utilitários que se valorizam numa ampliação emocional
além do ângulo do funcionamento racional. A mentalidade, móbil e plástica,
torna tradicional os dados recentes, integrando-os na mecânica assimiladora
do fato coletivo, como a imóvel enseada dá a ilusão de permanência
e estática, embora renovada na dinâmica das águas vivas. O folclore
inclui nos objetivos e fórmulas populares uma quarta dimensão, sensível
ao seu ambiente. Não apenas conserva, defende e mantém os padrões
imperturbáveis do entendimento e ação, mas remodela, refaz, ou abandona
elementos que se esvaziaram de motivos ou finalidades indispensáveis
a determinadas sequências ou “presença grupal”.
Desenvolvimento
do Enredo:
O Índio
A influência da cultura indígena faz-se sentir nítida em quase
todo o Brasil: na língua falada, no aproveitamento das plantas medicinais
e alimentares; no uso de instrumentos de pesca, nos rituais, na poesia
anônima tão comum na zona sertaneja, etc. As nossas lendas tratando
de animais, personagens das matas brasileiras e dos nossos rios –
tudo isso tem muito a ver com a contribuição indígena.
Assim é que na abertura da apresentação da Escola de Samba Estação
Primeira de Mangueira, temos o índio em suas manifestações com os
trajes apropriados para cada tipo de manifestação festiva, assim como
nas atividades guerreiras, na festa da “Puberdade”, sob a direção
do pajé ou Xamã, autoridade superior.
Em seguida, o esplendor da Amazônia, com os mistérios do “Inferno
Verde” e com o sonho do Eldorado, no qual o Sol e a Lua ocupam posição
de importância. Os pássaros, as plantas (inclusive a Vitória-Régia) e a figura lendária
de Iara surgem depois, antecedendo as Amazonas, as mulheres Guerreiras
– Icamiabas – vistas pelo viajante Orellana.
A parte indígena é encerrada com algumas demonstrações da sua influência
no folclore do Norte, Nordeste e em São Paulo (o Cordão do Bicho).
O Branco
A cultura portuguesa tem um papel importantíssimo na nossa formação
de um modo geral e no folclore brasileiro de modo particular. Daí
abordamos as conquistas marítimas e as lendas surgidas daquela fecunda
fase da história de Portugal, como a da Sereia Mulher que conduziu
os navegantes, a dança da marujada, e a Nau Catarineta que representa
um poema de lutas e combate sangrentos, transformado num bailado de
enredo dramático. As festas jesuínas referenciam ao nascimento do “Senhor” e a visita
dos Reis Magos produzem até hoje seus efeitos na. cultura brasileira
com as modificações próprias de cada região. São os autos populares,
com sua coreografia característica, representando, por exemplo, as
lutas religiosas entre Cristãos e Mouros.
Apresentamos também o Reisado, muito difundido no nordeste, com seus
pastores, foliões, palhaços, a representação do Divino, a Estrela
Guia. Seguem-se os bailes ou fandangos, apresentando o Bambaquerê do Rio
Grande do Sul, vindo a seguir as festas do mês de junho: os balões,
as bandeirinhas, os trajes típicos.
O Negro
Se bem que a Escravidão
Negra constitui uma mancha na história
da humanidade, ela tem no Brasil também um papel importantíssimo através
da cultura trazida pelos negros africanos que aqui tomou uma forma
genuinamente brasileira. Abrimos esta parte mostrando as primeiras tentativas de liberdade
dos negros, quando escravos fugitivos se agrupavam nos Quilombos e
lá lutavam por preservar todos os seus valores. Destacamos o Quilombo
dos Palmares e seu chefe Ganga-Zumba. A presença de reis africanos é uma constante nas várias manifestações
de origem negra no folclore brasileiro. O Maracatu é uma delas: as
danças das casas de fazendeiros no Brasil Central também, assim como
as congadas. Na parte referente à contribuição negra ao folclore brasileiro, a
Estação Primeira de Mangueira achou por bem incluir as lendas do Negrinho
do Pastoreio e do Saci Pererê, ambas ligadas ao elemento escravo. Não poderia faltar o elemento religioso, do qual o Candomblé talvez
seja a sua mais significativa expressão. E nesse capítulo, sobressai
ainda o sincretismo religioso resultante da mistura da crença de brancos
e negros e que se tomou a forma mais brasileira de se amar ao “Senhor”.
Outro capítulo marcante da contribuição negra: a Capoeira, proibida
no século passado no Rio de Janeiro e que se desenvolveu livremente
na Bahia. A sua dança e os seus instrumentos (o berimbau, o caxixi
e o reco-reco) estão presentes neste desfile. O Bumba-meu-Boi, o resultado da soma de elementos brancos e negros
encerra o capítulo referente a contribuição negra ao folclore brasileiro. Escolhemos o carnaval como festa que reúne mais elementos do folclore
e que é a soma da contribuição de todas as raças que integram o nosso
povo. E a riqueza plástica que o carnaval possui
permitiu um belo fecho
para o nosso desfile: as suas fantasias e alegorias os seus personagens
como o Zé Pereira, o corso o mestre-sala e a porta-bandeira, as máscaras,
os estandartes e os agrupamentos carnavalescos, os ranchos, os blocos
e as escolas de samba. E nestas se inclui com honra e modéstia a ESTAÇÃO
PRIMEIRA DE MANGUEIRA. Num misto de herança variada com a literatura oral, a escrita onde
a de Cordel retrata simploriamente os acontecimentos, o enlevo da
música, seu arrebatamento, e sua alegria dançando de norte a sul do
país, o folclore fertiliza o sentimento cívico, dirige a instrução,
ensina, exemplifica, emociona e estimula o cultivo das Artes e Ciências,
num incentivo patriótico. Pensando nesta abrangência o GRÊMIO RECREATIVO ESCOLA DE SAMBA ESTAÇÃO
PRIMEIRA DE MANGUEIRA oferece o espetáculo de seu desfile a tradição
popular.
A Diretoria
Bibliografia:
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Luiz da Câmara Cascudo: Dicionário do folclore brasileiro
-
Edson Carneiro: Dinâmica do folclore, Sabedoria Popular
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José Ribeiro: O Brasil no folclore
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João Ribeiro: O folclore
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Sérgio T. Macedo: Formação do Brasil
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Mello Moraes Filho: Festas e tradições populares do Brasil
-
Eneida: História do Carnaval
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Coleção Rhodia: Lendas
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Cadernos de números 1 à 10 M. E. C. Campanha de defesa do folclore.
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Arthur Ramos:Estudos do folk-lore
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Amadeus Moraes: Tradições populares
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M. Diegues Júnior: Culturas no Brasil
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BH - de Curt Lange: As danças coletivas publicadas no período colonial
– revista barroco n.01.
Alegorias:
1) ABRE-ALAS: Símbolo tradicional do G. R. E. S. ESTAÇÃO PRIMEIRA
DE MANGUEIRA. 2) Carro n° 1 – A Cultura através das Raças – e a Lenda das Amazonas.
3) Carro n° 2 – Desenvolvimento da cultura nacional. 4) Carro n° 3 – Motivos folclóricos.
Adereços:
1) Máscaras Indígenas; 2) Floresta Dourada 3) As Amazonas (Lanças); 4) Festa do Divino; 5) Os pescadores; 6) Maracatu; 7) O Carnaval.
Roteiro do Desfile:
Fase n° 1 – O Folclore indígena no Brasil
1) Comissão de frente: Baianas típicas
Abre Alas 2) As Máscaras Indígenas: Ala dos Hippyes 3) Guerreiros Indígenas:Ala dos Hippyes - (destaque) Marta e Filhas 4) As Índias: Conjunto Índias 5) O Iniciado (destaque): Luiz Carlos 6) Pagés: Ala dos Hippyes 7) Os Grandes Sacerdotes (figuras enredo): Laerte e Reginaldo 8) O Pássaro de Ouro (destaque):Edith Lanusse 9) Floresta Dourada: Ala Comigo Ninguém Pode 10) Borboletas douradas: Ilza e Mariléia 11) A Ilusão Verde (figuras enredo): Ana 12) A Ilusão Verde: Ala das Caprichosas 13) As Pedras Verdes (figuras enredo):Enir Barbosa e Terezinha
O Lago da Lua 14) Iara Mãe-D’Água (destaque): Ilma 15) As Vitórias-Régias: Ala Garotas do Rio 16) Garça Rosa (destaque): Terezoca 17) Rainha das Amazonas (destaque): Léa Santana 18) As Amazonas: Grupo “As Mirabulantes”
Fase n° 2 – O Folclore branco no Brasil
O Mar 19) As Espumas Mar: Ala do Embalo 20) Passistas: Suely e as Acadêmicas 21) As Sereias: Ala Deixa Falar 22) Os Descobridores: Alas dos Príncipes e Embaixadores 23) Passistas: Grupo Vai com força 24) Nau Cataríneta: Ala dos Duques 25) Marinheiros: Ala dos Jornaleiros
A Chegança 26) Cristãos e Mouros: Ala dos Nobres; 27) Reizados (destaques): Masculino Edson – Galego Feminino Estrela de Belém: Natalina C. Branco 28) Cortejo: Ala dos Aliados 29) Cortejo: Ala dos Baianas granfinas 30) Cortejo: Ala dos Funcionários 31) Cortejo: Ala dos Fidalgos 32) Cortejo: Ala dos Invencíveis 33) Folias de Reis: Representação autêntica – Mangedouras de Mangueira 34) Folia do Divino: Ala Nós Somos Assim e Granfinos (destaque): Wanda 35) Bambaquerê: Ala dos Turistas 36) Passistas: Grupo “Os Bambas” 37) Gaúchos:Ala dos Brasões 38) Gaúchas: Ala das Brasinhas 39) Passistas: Conjunto “É isso aí Bicho” 40) Festas Juninas: Alas Meninas da Praia e Metidas à bacana 41) Passistas: Trio Nina e Roxinha 42) Fogos de Artifícios: destaque: Elenir 43) Caipiras: Grupo “Xuxu beleza” (masculino) 44) As Bandeirinhas: Grupo “Xuxu beleza” (Feminino) 45) Passistas: Conjunto Pandeiros no Samba. 46) As Bandeirinhas:(figura de enredo): Sílvia Regina 47) Delegado: Hélio Gomes 48) Os Balões: Ala da Corte, Ala Princezinhas e Ala Deixa Comigo (figura de enredo): Wanda e Maria Helena 49) Os Balões: Conjunto “Vem comígo que vai se dar bem” 50) Convidados: Solange – Marilene 51) Passistas: Neide, Ana, Ceci, Irene e outras
Fase n° 3 – O Folclore negro no Brasil
52) Destaques Africanas: Cotinha e Beth. 53) As máscaras africanas: Ala dos Seresteiros 54) Passistas: Quarteto Abaeté (Dalvanês, Cristina, Mary e Vera Lúcia) 55) Quilombos Africanos: Ala Sambrasa e Grupo Inflamáveis 56) Quilombolas: Alas Só Vai Quem Pode e Intocáveis
57) Passistas: Ziza e seu Conjunto
Congadas 58) Rainha Ginga: Doralíce 59) Os Nobres: Ala dos Barões
Maracatu 60) Rei do Maracatu: Nilson 61) Rainha do Maracatu: Maria Ramos 62) Guarda-sol do Maracatu: Bolinha 63) Dama da Boneca: Neuza Maria 64) Cortejo: Ala Baianas Destacadas 65) Dama (figura de enredo): Margarida 66) Continuação do cortejo: Alas Esforçados, Firmeza e Reis 67) Guerreiros: Conjunto “O Problema é seu” 68) 2° Casal de Mestre-Sala e Porta-Bandeira: Robertinho e Mocinha
As Carapinhas Douradas 69) Rainha (destaque): Wanda Ferreira Chico Rei: Wilson 70) Carapinhas Douradas: Alas Caçulinhas e Depois eu Digo 71) Saci Pererê (Figura de enredo): Virgílio 72) Saci Pererê: Grupo infantil 73) Fetiches: Ala Ninguém é de Ninguém 74) Passistas: Grupo “Em Cima da Hora”
Candomblé 75) Rei do Candomblé na Festa dos Deuses Africanos: Tuninho D’Oxossi
e seu grupo Folclórico 76) Atabaques Autênticos 77) Conjunto de Baianas tradicionais: As Baianas de Mangueira 78) Lavagem do Bomfim: (destaque): Lourdes Salada 79) Afoché: Conjunto Filhos de Gandhy 80) Capoeiras: Mestre .Leopoldino e seu grupo
Negrinho do Pastoreio 81) Fada Madrinha: Ilca 82) Negrinho do Pastoreio: Conjunto infantil 83) As Carrancas: Grupo “Olímpico” 84) Pescadores: Grupo “Olímpico” 86) Passistas: Gargalhada, Rosemary e os Pagodeíros 87) As Rendeiras: Grupo “Eles e Elas” 88) Nordestinos: Grupo “Eles e Elas”
Bumba-meu-Boi 89) O Boi: Orlando 90) Vaqueiros: Ala Chove e não molha 91) 1° Casal de Mestre-Sala e Porta-Bandeira: Rouxinho e Neide
Fase n°4 – O Folclore brasileiro – A manifestação estética
sonora da nova raça
O Carnaval 92) Zé Pereira: (figura de enredo): José Gonçalves 93) O Carnaval: (destaque):Zinha 94) A Folia:Ala das Mimosas 95) Rainha Mestiça:Vera Lúcia 96) Passistas: Os Endiabrados (Gigi, Moysés, Gilson e Indio) 97) A Burrinha: Baratino 98) Melindrosas: Ala Deixa isso prá lá 99) Baile de Máscaras: (destaque): Maria Aparecida 100) O Samba: Alas das Moderninhas e É com nós mesmo 101) O Samba: Conjunto Miro show (figura de enredo):Elvia Soares Frevo:Pás Douradas 102) Carnaval de flores:Ala, das Impossíveis 103) Passistas: Os Cariocas 74 (Edinho, Boneco, Vaninha, Geraldo Mano
Filho e Sônia) 104) Baianirihas e Malandrinhos: Representação Infantil Destaque mirim: Luzinete Figueiredo 105) Passistas: Conjunto show-74 – Níninha 106) O Corso: Ala da Balança, Ala das Boêmias (figurinos variados) 107) Passistas: Sanrítimo 67 – Anik Malvil 108) Passistas: Os Pandeiros de Ouro 109) Ala da Bateria 110) Balanas da Bateria 111) Rainha e Princesas da Bateria 112) Ala dos Compositores 113) Setor de Harmonia: Ala dos Boêmios e Ala dos Periquitos 114) Diretoria
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