Chico Mendes, o arauto da natureza (Reedição do samba da Escola de 1991)
Justificativa:
O enredo da S.R.E.S. Lins Imperial para o carnaval de 2007, será "Chico Mendes – O arauto da natureza" esse enredo foi apresentado pela escola de samba no carnaval de 1991, o samba de enredo, é de autoria de João Banana, Serjão, Jorge Paulo e Tuca. em 1991 foi desenvolvido plasticamente por Ricardo Ferrador, Paulo Costa e Solange Almeida. Para o carnaval de
2007, a S.R.E.S.Lins Imperial cantará o mesmo samba de enredo de 1991, com o mesmo tema, sendo que o enredo terá um novo enfoque, tem uma nova sinopse, e um tratamento plástico atual, correspondente aos fatos que marcaram a época, e tudo que aconteceu nesses 16 anos. o enredo será apresentado em 4 partes, com 4 alegorias, 07 adereços de mão e 27 alas, um total de aproximadamente 1.200 desfilantes.
Sinopse:
O enredo é uma grande homenagem ao líder e seringueiro Francisco Alves Mendes Filho, que sempre defendeu a Amazônia, Chico como era chamado, sempre foi um homem de aspecto sombrio, cor morena e bigode robusto, teve uma infância pobre, como milhares de brasileiros excluídos, nativos da região Norte. Morou sempre em casa de madeira com piso de barro. Ainda criança, tornou-se seringueiro. Aprendeu a ler e escrever aos 24 anos de idade e vestiu seu primeiro terno aos 40 anos. Chico, sempre participou da fundação dos Sindicatos dos Trabalhadores Rurais de Brasiléia e Xapuri, além da fundação do Partido dos Trabalhadores do Acre e do Conselho Nacional dos Seringueiros e na formulação da proposta das reservas extrativista. Para os seringueiros, Chico, foi muito importante pois criou e ajudava no movimento chamado de “empates entre fazendeiros" (um movimento pacífico, que consiste em reunir grande número de seringueiros, trabalhadores rurais, índios e pescadores desarmados, com suas mulheres e filhos, dando-se as mãos no meio da selva ou na beira dos rios, a fim de impedir as derrubadas das árvores pôr peões dos fazendeiros e empresários gananciosos, que surgiam armados de foices, machados, motosserra e máquinas ). Chico sempre teve aceitação, entre os sindicalistas e índios da região Amazônica e conseguiu apoio internacional para a luta dos seringueiros e povos da Amazônia.
A primeira parte do enredo recebe o nome de “Amazônia – Um verdadeiro festival de cor ...”. Nessa parte, aparecerá a Floresta Amazônica com seu rico visual, ela continua a ser uma das maiores do planeta. Quanto à biodiversidade, não há floresta no mundo comparável a ela, com uma flora riquíssima - mais de 30 mil espécies de plantas, e uma das maiores faunas do mundo!. As fantasias nessa primeira parte representam a fauna da Amazônia, e a sua terra rica em frutos e pescas.
“Amazônia que verde encantador, Fauna tão linda, um verdadeiro festival de cor. Terra rica em frutos e pesca, Chico foi o mensageiro em defesa da floresta ...”
Francisco Alves Mendes Filho, seringueiro desde criança, dedicou praticamente toda a sua vida à defesa dos trabalhadores e povos da floresta. Chico Mendes, sempre foi líder e combatente das causas da região Amazônica, o seringueiro sempre lutou pela preservação das matas e direitos dos povos. Na segunda parte “Dando sequência a destruição”, mostraremos que o homem vem acabando com a nossa floresta e com toda vida existente na região. O assassinato de Chico Mendes, e a invasão da floresta serão apresentados nesse setor. Chico sempre lutou contra os invasores ( fazendeiros que desmatam e
destroem a Amazônia ), principalmente quando se deparava com o descaso dos grandes empresários e fazendeiros que, acobertados por forças governamentais, guiados pela opulência e pela ambição, enviavam seus empregados armados com motosserra, machados, facões e tratores para derrubar as árvores, provocar queimadas, sem sequer tomar conhecimento da dimensão da destruição que estavam provocando, não somente na fauna e na flora da região amazônica, mas em todo o ecossistema mundial. Todas essas intervenções humanas na Amazônia trouxeram diversos impactos sócio-ambientais graves como a poluição de rios, perda de biodiversidade, redução do potencial produtivo dos solos, erosão, perturbação de comunidades locais, destruição de sítios arqueológicos, desmatamento, queimadas, destruição e aculturação de povos indígenas, conflitos de fronteira, incremento do tráfico e do plantio de drogas. Na verdade a destruição da mata e a morte dos índios sempre existiu, desde a época do ciclo da borracha na Amazônia, mas só à partir de 1975 começa a nascer uma consciência para combater isso, Em 1977, o ecologista participou da fundação do Sindicato dos Trabalhadores Rurais de Xapuri sendo também eleito vereador pelo partido do Movimento Democrático Brasileiro (MDB). No ano de 1979, na Câmara Municipal de Xapuri, realizou-se um grande fórum de debates entre as lideranças sindicais, populares e religiosas, liderado pôr Chico Mendes. Com esse evento, constituiu-se, um motivo suficiente para que ele fosse acusado de subversão, passando a sofrer torturas e ameaças de morte. Em 1980, juntamente com Luís Inácio Lula da Silva, Chico Mendes fundou o Partido dos Trabalhadores (PT), no Estado do Acre, realizou comícios e levantes populares, com o objetivo de conscientizar os trabalhadores sobre a defesa de seus direitos. A partir dessa data organizam-se os primeiros sindicatos rurais juntamente com um trabalho da Igreja Católica, mas tudo ocorre muito lentamente. Nessa época o inimigo maior era a polícia contratada pôr fazendeiros, e nesse período ocorreram muitas prisões e pancadarias, de pessoas que lutavam para ajudar os povos oprimidos da região. Em 1985, o Conselho Nacional dos Seringueiros pôr iniciativa do sindicato, já que até aquele momento viviam uma luta isolada, (sem respaldo até mesmo do movimento sindical , onde todos estavam mais preocupados com seus problemas regionais ), começam a se organizar, e conseguem um encontro
em Brasília. No Encontro Nacional dos Seringueiros, que contou com observadores nacionais e estrangeiros, começou a crescer essa consciência de aliança. “O objetivo do invasor era a especulação: “Desmatavam 2 mil ha. de floresta virgem, plantavam 1 mil ha. de pastagem e assim não tinha mais como o seringueiro viver.”- Dizia Chico. Em janeiro de 1987, Chico e os sindicalistas conseguem a visita de uma comissão da ONU que acompanhou de perto o confronto dos fazendeiros contra os defensores do desmatamento. Eles denunciaram que esse desmatamento era resultado dos projetos financiados pelos bancos internacionais. Com isso a ONU e as entidades ambientalistas americanas convidaram Chico e outros sindicalistas para participar de uma reunião do BID em Miami, em março de 1987. Assim, no dia 2 de abril de 1987, o banco resolveu suspender o resto do desembolso para o asfaltamento da estrada. Isso aconteceu porque as entidades ambientalistas tinham um poder muito grande junto ao banco e conseguiram sensibilizar o Congresso americano. Nesse mesmo ano ele foi o primeiro brasileiro a receber o prêmio Global 500 das Nações Unidas, em Londres. No ano seguinte foi convidado a participar da reunião do Banco Interamericano de Desenvolvimento, e nessa reunião do Bird, ele convenceu os conselheiros do banco a suspender os financiamentos para a construção de uma grande rodovia no Acre, argumentando que sem as devidas precauções ambientais a iniciativa seria um atentado à floresta, aos seringueiros e aos índios. Esse foi um ponto político muito importante no avanço do Conselho Nacional dos Seringueiros e na proposta dos índios. Pôr esses e outros atos, Chico Mendes sempre foi muito ameaçado. Durante todo o ano de 1988, Chico Mendes sofreu ameaças de morte e perseguições por parte de pessoas ligadas a partidos políticos e organizações clandestinas destinadas a exploração desregrada da região.
Chico Mendes, denunciou, gritou e lutou, pelas causas da Amazônia, e foi pôr isso que foi assassinado, aos 44 anos, em sua casa na pequena cidade de Xapuri, no Acre, no dia 22 de dezembro de 1988. Sua morte deixou muita saudade, indignação e pranto, mas repercutiu em defesa da Amazônia e dos povos da floresta.
“... Os invasores pôr ambição Calaram Chico, dando sequência a destruição ...”
A terceira parte do enredo, “Kararaô – A natureza inteira despertou”. Nela faremos uma divertida brincadeira com o fato do homem há anos destruir e maltratar a floresta. Então Kalapalos ( MT ), Kamaiurás ( MT), Xicrins ( PA), Kaxinawás (AC), Kaiapós – Kararaôs ( AM ), e todas as tribos indígenas se juntam com a fauna e com a flora da Amazônia, e começam uma “caça ao homem invasor”. As plantas vitória- régias erguem suas lanças contra o maldoso e ganancioso invasor ( peões contratados pôr fazendeiros e empresários ), jacarés se tornam caçadores e prendem o homem invasor, insetos se armam e enxotam o branco, tatus combatentes com couraças duras, enfrentam o mal, aracnídeos e botos cor de rosa se armam e libertam a natureza da Amazônia, desses homens destruidores. E por fim, todos unidos expulsam o invasor da Amazônia, é um momento de revolta da natureza – talvez, esse seria, um sonho de Chico Mendes. Isso tudo é uma criação e imaginação do artista carnavalesco, uma brincadeira divertida de como seria a revolta da natureza, fauna e flora, juntas contra os invasores que derrubam as matas e provocam as queimadas na Amazônia. Nessa parte, do enredo as fantasias dos bichos da Amazônia se tornam “soldados”, “lutadores”, “guerreiros”, que caçam e expulsam o homem invasor das matas da Amazônia. Tudo é claro, é uma grande brincadeira de carnaval, mas como seria bom para a natureza se isso realmente fosse verdade...
“Kararaô, o grito forte do índio ecoou ... Kararaô, a natureza inteira despertou ...”
A última parte do enredo, “Chico vive – O arauto da Natureza” – Arauto é o responsável em declarar a paz, faremos uma grande homenagem ao arauto Chico Mendes, e a outros atuais arautos da natureza. Grandes personalidades que marcaram as suas trajetórias de vida defendendo a natureza, serão lembrados nessa parte do enredo. Não podemos deixar de prestar uma homenagem à missionária Dorothy Stand, que foi covardemente assassinada com seis tiros na cidade de Anapu, no Oeste do Pará, no dia 12 de fevereiro de 2005,. Dorothy vivia há mais de 30 anos na região da Transamazônica e defendia os direitos de trabalhadores rurais contra os interesses de fazendeiros e grileiros da região, hoje Irmã Dorothy Stand é um arauto da natureza – aquele que é responsável em declarar a paz. Outros nomes eleitos pela Lins Imperial, serão apresentados durante o desfile, e convidados a participar dessa homenagem a Chico Mendes.
“Voa pássaro da paz, voa livre vai mostrar ... Que essa área verde existe para o mundo respirar...”
Uma sociedade mais justa e pacífica, com respeito ao meio ambiente e aos povos da floresta, foi isso que Chico Mendes sempre acreditou. Hoje, a causa dele é lembrada pôr várias ongs, e projetos governamentais, fazendo com que a sua imagem jamais se apague. Estabelecer um ambiente de paz é o primeiro passo para garantir um futuro sustentável para a floresta e seus habitantes. Chega de sangue no chão da floresta. Chico vive entre nós! Chico Mendes, foi morto pôr Darci Alves Pereira, filho de Darly Alves da Silva, fazendeiros, proprietários de 30 mil hectares de terras em Xapuri (188 quilômetros a sudoeste de Rio Branco), no Acre. Darci Alves Pereira assassinou Chico Mendes com uma espingarda de cano longo: Acostumado a caçar, principalmente onça, ele confessaria depois que atirou como quem atira numa caça, ‘porque não dá tempo de mirar.” Chico deixou mulher, Ilzamar Mendes, e dois filhos Elenira Mendes e Sandino Mendes Após o assassinato de Chico Mendes, se juntaram mais de trinta entidades sindicalistas, religiosas, políticas, de direitos humanos e ambientalistas para formar o "Comitê Chico Mendes". Eles exigiram providências e através de articulação nacional e internacional botaram pressão nos órgãos oficiais para que o crime seja punido. No de 1990, os fazendeiros Darly e Darcy Alves da Silva foram considerados culpados do assassinato e condenados a 19 anos de reclusão. Em 1993 eles escaparam da prisão e foram novamente capitados em 1996. Em 30 de maio de 1999, completaram 8 anos, 10 meses e 6 dias de pena cumprida, e foram soltos pela justiça brasileira. Os assassinos passam a gozar da liberdade não de direito, mas de fato, porque assim eles o conseguiram, infelizmente é assim que funciona no nosso país, fica a tristeza da família e de todos aqueles que gostariam de ver criminosos e assassinos daquela natureza atrás das grades, quem sabe um dia seja feita a verdadeira justiça no Brasil .
O caso Chico Mendes despertou pela primeira vez a atenção internacional para os problemas dos seringueiros. Através do assassinato, Chico Mendes tornou-se mais uma vez representante dos muitos outros moradores da floresta assassinados, desapossados ou ameaçados. A visão de Chico Mendes, bastante abrangente, permitiu a formação de alianças - dentro e fora do Brasil - com movimentos e tendências ambientalistas e deu uma dimensão, até então não vivenciada, à luta dos povos da floresta, ou seja um verdadeiro arauto. Chico Mendes, foi agraciado, pela ONU, em 1987, com o Prêmio Global 500 pôr seu trabalho em defesa da Amazônia.
A S.R.E.S. Lins Imperial, conta o enredo sobre Chico Mendes, brasileiro de corpo e alma, e o verdadeiro arauto da Amazônia. A Escola de Samba, resgata a idéia de contar a saga de Chico, sua luta em defesa da floresta. No dia do desfile, todos lembrarão que é extremamente importante preservar a natureza e defender os direitos dos povos da floresta, Chico estará vivo entre nós nesse dia, e com a Escola de Samba Lins Imperial na Marquês de Sapucaí. Com certeza toda “avenida dos desfiles” se conscientizará, e verá que a luta continua, não podemos deixar que destruam as nossas riquezas naturais, não podemos deixar que acabem com a nossa Amazônia, e enquanto existir a lembrança, com certeza Chico, sempre estará entre nós!
"Se descesse um enviado dos céus e me garantisse que minha morte iria fortalecer nossa luta, até que valeria a pena. Mas a experiência nos ensina o contrário. Então eu quero viver. Ato público e enterro numeroso não salvarão
a Amazônia.
Quero Viver." Chico Mendes (1944 -1988)
“Quanta maldade é ver, o homem destruir, O que hoje encanta a Sapucaí”
Eduardo Gonçalves |