FICHA TÉCNICA 1979

 

Carnavalesco     José Félix
Diretor de Carnaval     ..............................................................
Diretor de Harmonia     ...............................................................
Diretor de Evolução     .............................................................
Diretor de Bateria     ................................................................
Puxador de Samba Enredo     Fernando
Primeiro Casal de M.S. e P. B.     ................................................................
Segundo Casal de M.S. e P. B.     ................................................................
Resp. Comissão de Frente     ................................................................
Resp. Ala das Baianas     ................................................................
Resp. Ala das Crianças     ................................................................

 

SINOPSE 1979

A guerra do reino divino

A criação é um mistério permanente

          O artista do povo tira dos elementos que o circundam, do céu que o cobre, das matas que o cercam, dos mares e dos rios, dos bichos das coisas e da interação com os componentes do seu grupo social, o impulso da sua fantasia. É a inspiração, o artista primitivo ou a gente do povo anima forcas ocultas, multiplica-as em fantasmas, atribui-lhes poderes sobrenaturais e assim vai desdobrando mundos, nos quais encontra a explicação do que de outra maneira não pode compreender. Esses mundos, de terrores e maravilhas são de uma emoção, de uma sabedoria, de uma arte, de uma técnica,tosca e humilde, sem duvida, mas com uma vertigem de abstração tão violenta quanto a que impulsiona os vôos mais altos do gênio humano.

Renato Almeida
“A Inteligência do Folclore”

Apresentação:

          A Idade Média conheceu as gestas dos heróis, as façanhas dos cavaleiros, as epopéias das guerras, as lendas douradas. A poesia heróica é a primeira expressão literária. É a forma de exaltação, de entusiasmo e de divinização dos mais fortes e audaciosos, dos triunfadores. Nas manifestações populares, a poesia heróica transfigura a história, faz-se mito e lenda. A tradição oral em que se cria a lenda, e um sistema vivo e funcional. No início das nacionalidades, procura fixá-las e exalta feitos e heróis, tornando-os sobrenaturais, e eleva alguns a seres mitológicos.
          A lenda vive de dois planos - o real e o místico. Tem sempre um dado objetivo, histórico, fato sobre o qual se constrói. Pode ser um episódio, uma figura.
          O desaparecimento do corpo de El-Rei de Portugal Dom Sebastião, morto em combate com os bárbaros mouros na Batalha de Alcacerquebir, na África, deu origem a uma lenda. Muito ao gosto da gente simples do povo, foi perpetuada pela tradição oral, pelos cantadores, cegos das feiras do Nordeste, pelas modas-de-viola, impregnada da ingenuidade e do lirismo da Idade Média. Assim é a criação popular. Todas as narrativas venham de onde vierem, originem-se do simbolismo, da alucinação, do sonho ou da realidade o povo recebe, amolda, transforma, empresta-lhe traços de sua fé ou de suas superstições, modifica de lugar a lugar, de tempo a tempo, e lhes dá uma contextura que resiste, porque renova, na mente de cada época, o sentido maravilhoso da vida.
          “A Guerra do Reino Divino”, recolhida do folclore popular serve de enredo para o “teatro de samba” que a LINS IMPERIAL fará representar no carnaval de 1979.
          As palavras são nossas, a poesia é do povo.
          Viva Dom Sebastião!
          Viva o povo brasileiro.

Introdução:

          No ano fatídico de 1578, nas escaldantes areias da África, o Rei D. Sebastião trava um sangrento encontro com os mouros. Esta desastrosa luta ficou conhecida como: a Batalha de Alcacerquebir. A batalha foi brutal trazendo danosas conseqüências para Portugal. Todos os soldados portugueses pereceram. Um fato misterioso aconteceu: o corpo do Rei D. Sebastião não foi encontrado. Disto resultou na mente do povo uma crença estranha: até hoje espera–se a volta do Rei, o que se transformou numa lenda.
          Em 1878, precisamente três séculos depois da terrível batalha de Alcacerquebir em pleno sertão brasileiro, uma imensa multidão escuta piamente a voz do Beato que prega a volta de D. Sebastião. Todos crêem na profecia. Todos esperam desfrutar uma vida melhor com a chegada do seu soberano:
          - Aleluia, irmãos! Hoje se inicia o ano da volta. Nós os adeptos de El-Rei vamos preparar a sua corte, porque a sua vinda é certa. Já se passaram três séculos do cruel encantamento. Assim es tava escrito: depois de trezentos anos, o seu reino será restabelecido com todo o esplendor. Quando as nações brigarem entre si, dos céus surgirá D. Sebastião com todo o seu exército e o inimigo do seu povo será exterminado. Então haverá muita coisa nova na face da terra. Os poderosos serão esmagados, o espírito do Senhor dominará sobre tudo. Não haverá mais fome nem sofrimentos. O povo fiel será redimido! A corte celeste será instalada no sertão: Será o Rei no Divino!

1ª Parte – O Nordeste

          O Nordeste brasileiro é famoso pelas suas infindáveis secas. Inúmeros conflitos e muito sofrimento. É uma região habitada por gente simples, enfrentando a vida dura, a miséria. As raízes de suas crenças e costumes vãos até a Idade Média. Predominam sentimentos religiosos onde Deus e o Diabo, o bem e o mal, o misticismo, a miséria e a fortuna estão em luta permanente. A realidade e o sobrenatural coexistem. Enfim uma terra onde tudo pode acontecer. Nossa estória se passa na segunda metade do século passado, justamente num período de terrível estiagem. Há vários meses o Sol como unia imensa brasa, queima sem piedade, fulminando a Terra. A água some, a vegetação seca, os animais sofrem com a falta de pastagem e morrem. As fontes d’água escassas são a última esperança de sobrevivência da população. A morte é a companheira de todos os dias. O povo reza, faz penitência, porém nada adianta, os cemitérios cada dia ficando mais cheios e o Sol cada dia mais abrasador. Não há o menor sinal de chuva. A seca parece que não vai mais acabar. O povo se sente ameaçado. A grande catástrofe se aproxima. Agora só um milagre pode salvar. Eis que surge o Beato, um santo, um profeta um homem enviado para salvar. Em pouco tempo o Beato é seguido por grande multidão.
          - É chegada a hora. O Mestre e Senhor pede muita paciência. Arrependei-vos porque o fim está próximo e somente os bons ganharão a eternidade. O Senhor me enviou para vos guiar. Aleluia! O caminho da eternidade é tortuoso e cheio de espinhos. Quando a hora final é chegada os sinais serão visíveis, praga de gafanhoto cobrira o Sol e três dias de escuridão lançará a Terra nas trevas. Nos quatro pontos cardeais surgirão quatro anjos com tochas de fogo. A Terra arderá e será o fim! O filho do Mestre descerá dos céus, os mortos ressuscitarão. Aí o Senhor separará os bons dos maus. As casas, os povoados as aldeias ficam vazias. O povo segue o Beato.
          - O lugar santo está próximo. Lá o Senhor nos espera. Nós, o povo escolhido, teremos que nos purificar dos nossos pecados. Penitência! Penitência!

2ª Parte – O Reino Divino

          A fundação do reino é comemorada com muita alegria, durante vários dias. Armam-se barraquinhas, um palanque para se dançar o forró e o pau-de-sebo. Grupos folclóricos exibem os Caboclinhos, as Cavalhadas e o Bumba-meu-boi. A notícia se espalha rapidamente e de todas as partes chegam novos fiéis. Em pouco tempo eles somam vários milhares. A nova Meca toma corpo. Iniciam-se as construções. Começam a erguer um templo. O Beato revela-se um excelente dirigente e se ocupa pessoalmente da construção, do templo, centro principal da nova corte.
          Em pouco tempo surge na colina uma imensa e tosca igreja, símbolo da fé do rude sertanejo.
          A abertura do templo é concorridíssima. Todos comparecem. O Beato discursa:
          - Quando D. Sebastião descer dos céus deverá encontrar sua corte erguida, por isso vamos construir aqui neste deserto o Palácio Divino.
          Nele aguardaremos a vinda do nosso Rei. A partir de hoje se inicia oficialmente o Reino Divino. A nossa tarefa é preparar a vinda do nosso soberano. O trabalho é muito e o tempo é pouco.
          Entram os soldados majestosamente vestidos, as cornetas anunciam algo importante. O Beato é coroado e recebe o encargo de preparar a corte para El-Rei Dom Sebastião. Desfila a guarda de honra com a bandeira com os dois símbolos significando a união, da realeza e da plebe. O povo aplaude.
          - Irmãos, Alegrai vos Este é o acontecimento mais importante na história do Sebastianismo. Está fundado o Reino Divino! Aleluia! Aleluia!
          O ministro de El-Rei, o Beato é reverenciado pelos chefes da redondeza. O prestígio do novo império é logo reconhecido por todo o Sertão.

3ª Parte – A Guerra do Reino Divino

          Em pleno meio-dia o céu escureceu. Enormes bolas de fogo caíram sobre o Reino Divino. Quando tudo ardia sob as imensas chamas, o mais terrível aconteceu, raios e trovões cortaram o firmamento e no meio de tudo surgiram a Besta-Fera e seus asseclas. Foi o fim do Reino.
          O Beato ferido concitava a multidão.
          - Irmãos não percam a esperança. Este revés nada significa. El-Rei virá breve e nada pode impedi-lo. Isto talvez não passe de uma prova de fé para ver se realmente o merecemos. Irmãos, a vinda dele está próxima. Meu Deus, será? É ele!
          E dentre os escombros do Reino, sob um clarão de luz, surge em uniforme de combate D. Sebastião. O Beato vai saudá-lo.
          - Mestre, mestre, nós sabíamos que virias para salvar o teu povo. Perdoa-nos, não fomos fortes bastante. O inimigo nos abateu. Porém agora será diferente.
          - Beato, vejo que cheguei atrasado, mas o povo será vigiado.
          A notícia da chegada de Dom Sebastião faz com que os sobreviventes que estavam escondidos retornem às ruínas da cidade santa.
          Há um grande júbilo.
          Todos crêem que o milagre aconteceu. El-Rei chegou.
          O Beato assim que termina de narrar ao Rei os fatos acontecidos falece em seus braços. A multidão já e grande.
          - Vingança! Guerra! Viva o nosso Rei!
          - Será a guerra! A guerra do Reino Divino!
          Empunhando a espada real o Rei parte para a guerra da vingança.
          - Vingança! Matemos os infiéis! O Reino do povo é chegado.
          A caminhada é longa, novos soldados engrossam as fileiras do exército divino. A figura majestosa do comandante empolga a multidão.
          - Atenção o inimigo foi encontrado.
          - Soldados o sangue dos inocentes clama vingança!
          - Atenção! Avançar por Deus!
          - A vitória será do povo fiel!
          Mais uma vez as nuvens negras começam a encobrir o Sol. A escuridão total se aproxima.
          - Avancemos, a Besta-Fera hoje morrerá!
          A catástrofe se repete.
          O campo de batalha se enche de mortos. Não se sabe quem foram os vencidos.
          Novamente o corpo de Dom Sebastião desaparece.
          A lenda continua na mente do povo. Fica a esperança...

Bibliografia

  • A Guerra do Reino Divino – Jô Oliveira

  • A inteligência do folclore – Renato Almeida

  • Literatura Oral – Luis da Câmara Cascudo

  • Estudos de Folclore – Artur Ramos

  • ABC do folclore – Rossini Tavares de Lima

  • Tradições populares – Amadeu Amaral

  • Através dos folclores – Gustavo Barroso

  • Pesquisa de folclore – Edson Carneiro

  • Geografia dos mitos brasileiros – Luis da Câmara Cascudo

  • Dinâmica do folclore – Edson Carneiro

  • Dicionário de folclore brasileiro – Luis da Câmara Cascudo

  • Curso de folclore – Aires da Mata Machado Filho

  • Romance tradicional do Brasil – Joaquim Ribeiro e Wilson Rodrigues

 

SAMBA ENREDO                                                1979
Enredo     A guerra do Reino Divino
Compositores     Antero Marques e João de Oliveira

Ô ô ô Senhor!
Mandai para nós o Salvador
Rogava em pleno Reino Divino
O povo nordestino sofredor

Toda gente do Nordeste brasileiro
Querendo se livrar do sofrimento
Do sol que a queimava o ano inteiro
Sem lhe dar trégua um só momento
Se apegou a crença de um beato obstinado
Na busca do milagre salvação
Com a vinda do seu mestre esperado
O poderoso Dom Sebastião

Ô ô ô Senhor!
Mandai para nós o Salvador
Rogava em pleno Reino Divino
O povo nordestino sofredor

Dom Sebastião
Lendário Rei de Portugal
Que desapareceu misteriosamente
Numa batalha campal
Viria para começar a Guerra
De combate a Besta-Fera
Que trazia maldição
Aquela gente tanta reza proferiu
Até que tu dia o Rei surgiu

E a Guerra começou
Oh que horror!
Mas tão logo terminou
Nada restou
Ninguém sabe, ninguém viu
Mas novamente o Rei sumiu
A Guerra do Reino Divino de acabou
Somente a esperança restou