Insone planeta insano
Apresentação:
Foi com
base nas novidades com as quais o GRES Leão De Nova Iguaçu emoldurou-se
para o próximo carnaval, que buscamos associar à chegada de uma diretoria
nova, uma ideologia nova e conseqüentemente a uma abordagem no mínimo
inusitada. Seja tanto no sentido estético, quanto no otimismo coletivo
que certamente nos move rumo à vitória.
Pedimos especial atenção as bases e aos contornos desse, que garantimos
ser o carnaval da grande guinada ansiosamente aguardada por toda comunidade
de Nova Iguaçu.
Entendemos que o nosso tempo, sobre tudo, o nosso carnaval carece de um
“olhar” mais contemporâneo e por isso mesmo menos previsível – Acreditamos
que aí resida o novo, por esse motivo não é nosso objetivo abordamos os
focos Históricos – Acadêmicos. Temos aqui por opção elegermos a diferença
que garanta a assinatura de todos nós. Desde já contamos com a cumplicidade,
apoio e participação de todos vocês.
Breve história de
Copacabana
Segundo uma antiga lenda uma dupla de baleias teria encalhado nas águas
de Copa, atraindo assim uma multidão de curiosos, dentre os quais, o Imperador
Pedro II. Para desapontamento de tantos expectadores, sabe-se que as tais
baleias não mais lá se encontravam. A fim de não perderem a viagem essa
mesma multidão permaneceu na praia para promover um piquenique que teria
durado 3 dias e 3 noites – Inaugurando a partir desse evento o envolvimento
da população carioca com a “futura princesinha do mar”.
É sabido que nos meados do século XVIII, uma imagem da Virgem Maria foi
mandada para o Rio e Janeiro (Presente do povo de Copacabana – Cidade
Porto Boliviano), cultuada no atual posto 6 acabou por dar nome ao “Bairro”.
É verdade que essa região (Copa) só foi reconhecida como bairro da cidade
a partir da abertura do túnel da Real Grandeza (atual túnel velho) a 6
de julho de 1892, mas é só no início do século XX que Copacabana é presenteada
com os primeiros bondes movidos à eletricidade. Dali por diante o então
Prefeito Pereira Passos inicia a construção da Av. Atlântica (1906), ornada
com a instalação do mais famoso calçadão em Mosaico, preto e branco, constituído
por pedras vindas de Portugal, com desenhos alusivos as ondas do mar.
Em 1910 o bairro já abrigava 20.000 moradores que exigiram da prefeitura
a construção de escolas, sanatórios, praças... Enfim, o embrião da metrópole
que mais tarde viria a se transformar na monstruosa BABEL.
Ai de ti, Copacabana
Rubem Braga
-
Ai
de ti, Copacabana, porque eu já fiz o sinal bem claro de que é chegada
a véspera de teu dia, e tu não viste; porém minha voz te abalará até as
entranhas.
-
Ai de ti, Copacabana,
porque a ti chamaram Princesa do Mar, e cingiram tua fonte com uma coroa
de mentiras; e deste risadas ébrias e vãs no seio da noite.
-
Já movi
o mar de uma parte e de outra parte, e suas ondas tomaram o Leme ao Arpoador,
e tu não viste este sinal; estás perdida e cega no meio de tuas iniqüidades
e de tua malícia.
-
Sem Leme, quem
te governará? Foste iníqua perante o oceano, e o oceano mandará sobre
ti a multidão de suas ondas.
-
Grandes
são teus edifícios de cimento, e eles se postam diante do mar qual alta
muralha desafiando o mar; mas eles se abaterão.
-
E os escuros
peixes nadarão nas tuas ruas e a vasa fétida das marés cobrirá tua face;
e o setentrião lançará as ondas sobre ti num referver de espumas qual
um banho de carneiros em pânico, até morder a aba de teus morros; e todas
as muralhas ruirão.
-
E os polvos
habitarão os teus porões e negras jamantas as tuas lojas de decorações;
e os meros se entocarão em tuas galerias, desde Menescal até Alaska.
-
Então quem especulará
sobre o metro quadrado de teu terreno? Pois na verdade não haverá terreno
algum.
-
Ai daqueles
que dormem em leitos de pau-marfim nas câmaras refrigeradas e desprezam
o vento e o ar do Senhor, e não obedecem á lei do verão.
-
Ai daqueles que passam em seus cadilaques buzinando alto, pois
não terão tanta pressa quando virem pela frente a hora da provocação.
-
Tuas
donzelas se estendem na areia e passam no corpo óleos odoríferos para
tostar a tez, e teus mancebos fazem das lambretas instrumentos de concupiscência.
-
Uivai, mancebos, e clamai, mocinhos, e rebolai-vos na cinza, porque
já se cumpriram vossos dias, e eu vos quebrantarei.
-
Ai de ti, Copacabana, porque os badejos e as garoupas estarão nos
poços de teus elevadores, e os meninos do morro, quando for chegado o
tempo das tainhas, jogarão tarrafas no Canal do Cantagalo; ou lançarão
suas linhas dos altos do Babilônia.
-
E os pequenos peixes que habitam o pequeno aquário de vidro serão
libertados para o número de suas gerações.
-
Por que rezais em vossos templos, fariseus de Copacabana, e levais
flores para Iemanjá no meio da noite? Acaso eu não conheço a multidão
de vossos pecados?
-
Antes de te perder eu agravarei a tua demência – ai de ti, Copacabana!
Os gentios de teus morros descerão uivando sobre ti, e os canhões de teu
próprio Forte se voltarão contra teu corpo, e troarão; mas a água salgada
levará milênios para levar os teus pecados de um só verão.
-
E tu, Oscar, filho de Ornstein, ouve a minha ordem: reserva para Iemanjá
os mais espaçosos aposentos de teu palácio, porque ali, entre algas, ela
habitará.
-
E no Petit Club os siris comerão cabeças de homens fritas na casca;
e Sacha, o homem-rã, tocará piano submarino para fantasmas de mulheres
silenciosas e verdes, cujos nomes passaram muitos anos nas colunas dos
cronistas, no tempo em que havia colunas e cronistas.
-
Pois grande foi a tua vaidade, Copacabana, e fundo foram as tuas mazelas;
já se incendiou, o Vogue, e não viste o sinal, e já mandei tragar as areias
do leme e ainda não vês o sinal. Pois o fogo e a água te consumirão.
-
A rapina de teus mercadores e a libação de teus perdidos; e a ostentação
da hetaira do Posto Cinco, em cujos diamantes se coagularam as lágrimas
de mil meninas miseráveis – tudo passará.
-
Assim qual escuro alfanje a nadadeira dos imensos cações passará ao
lado de tuas antenas de televisão; porém muitos peixes morrerão por se
banharem no uísque falsificado de teus bares.
-
Pinta-te qual mulher pública e colocar todas as tuas jóias, e aviva
o verniz de tuas unhas e canta a tua última canção pecaminosa, pois em
verdade é tarde para a prece; e que estremeça o teu corpo fino e cheio
de máculas, desde o Edifício Olinda até a sede dos Marimbas porque eis
que sobre ele vai a minha fúria, e o destruirá. Canta a tua última canção,
Copacabana!
Rio, janeiro, 1958
Conceituação
Se o no entendimento geral da população terrestre, Copacabana nasceu e
cresceu dentro dos moldes de um bairro convencional; dentro do nosso enredo,
procuramos focar, de forma “alegoria”, o seu crescimento desordenado,
o seu involuntário descontrole pluralizado.
A fim
atender aos mais diversos tipos humanos abrigados por este “bairro”, defendemos
que Copa se flagra transfigurada “BABEL” – onde encontramos um sem número
de tribos urbanas, uma fauna humana de multiplicação alem de acelerada.
Dentro da mistura do que percebemos ser belo e ao mesmo tempo caótico,
reconhecemos no “BABÉLICO”, o surgimento de uma enfermidade contraída
pelo, até então, “bairro”: “A INSÔNIA” que no decorrer do tempo “rouba”
desse território a sua “SANIDADE”.
Do ponto de vista do paradoxo é reconhecido que ali – em Copacabana –
a vida é auto-suficiente, uma vez que nesse lugar a existência é independente,
é autônoma. Servida de todos os recursos e facilidades que fazem com que
vejamos-na em forma de “PLANETA”. Planeta este que perdeu a capacidade
de “DORMIR” e por essa mesma razão acabou por ENLOUQUECER.
Respaldados nesse “fenômeno” apresentamos: Insone
planeta insano
Sinopse:
Segundo conta a fantasia sabe-se que uma esfinge (leão) protegia com ameaçador
enigma, uma nova Babel (Copacabana). Ai daquele que não o decifre; imediatamente
será devorado pela cidade transfigurada em PLANETA que se constitui adotando
as mais diversas contradições.
Tida como o 10º PLANETA do sistema solar, essa Babel, foi festejada por
todos os componentes do espaço sideral (asteróides, estrelas, meteoritos...).
De vida independente, sabe-se que essa Babel acaba por enlouquecer pelo
fato de ser portadora de insônia crônica. Não dormindo passa a viver em
eterno eclipse, abrigando em si um múltiplo painel de tipos humanos, das
tribos, mais antagônicas: população bizarra, excêntrica, zoológica, alternativa,
jovem, velha, rica, pobre, operário do comércio de ilusões etc...
Tratando das inúmeras faces desse planeta, não é de se estranhar que neste
mesmo lugar, no dia 31 de dezembro assiste-se saindo do mar um préstito
de sereias e tritões anunciando uma das mais reverenciadas festas do universo
– A passagem do Ano Novo –onde a mais diversa fauna marinha se confunde
com fiéis em reverencia a Iemanjá.
Setores:
-
Babel contemporânea (transfigurada em
Planeta)
Leão esfinge (decifra-me ou te devoro)
Sistema solar em festa, com surgimento do 10º PANETA
(O insano que não dorme).
-
A Beleza e o Caos contrastes
estéticos
-
A Fauna Humana,
Tribos Urbanas Antagônicas,
Sob o eterno Eclipse
-
Prazer, comércio e clandestinidade.
-
Festa de Iemanjá
(Préstito de Tritões e Sereias).
Mauro Quintaes e Gilberto Muniz
|