A lenda das sereias,
mistérios do mar (Reedição do samba da escola de 1976)
Justificativa:
O mar sempre exerceu sobre o
ser humano o sentimento de medo e de fascínio. Sempre permaneceu
como um convite à contemplação ou ao impulso para a aventura. Do mar
nascem histórias e lendas, mitos que povoaram a imaginação e deram à
vida o sentido da beleza, da conquista e do arrebatamento diante do
grande mistério. Mar, misterioso mar. O que faz o
Império te cantar? Mais uma vez, empurrados pela força
das águas, nós abraçamos este mundo líquido em constante movimento.
Tocados pelo que o mar mostra na sua superfície azul e
pelo que o mar esconde em seu quintal profundo. Aqui está nossa
reverência. Conchas e peixes, sereias e tesouros, mitos e crenças,
tudo vem dar à praia. Nas ondas, nos casos, na prosa enredada dos
pescadores. Mistérios que vêm à luz. A inconstância do
mar é a inconstância do homem. Fluxo e refluxo, movimento das marés,
tormenta e calmaria, tal e qual em nossas vidas se alteram os
humores. Navegar é abrir caminhos, romper fronteiras,
ganhar espaço. O Império Serrano, com leme e timão, vai a favor da
correnteza, segue o destino das águas em busca do porto seguro, seu
lugar merecido. A releitura do enredo “A Lenda das
Sereias e os Mistérios do Mar” conduz a nau imperiana por um
universo de encanto e beleza, elemento que se une ao momento
favorável que o Império Serrano vive. A garra e o
ímpeto de seus componentes, somados à força e à presença que o mar
representa, serão com certeza a combinação perfeita para uma
navegação segura, rumo a um carnaval vitorioso. Alcemos as velas
ao mar...
Histórico do Enredo:
O Império Serrano abraça o mar
e se deixa levar por ele, insondável e misterioso, em uma viagem
vibrante que, através de mitos, lendas e tesouros escondidos e
personagens históricos, revela com graça suas belezas naturais.
Na visão do mar primordial destaca-se a figura do deus
Netuno, soberano das águas, temido e adorado, protetor dos
navegantes ou causador de naufrágios. A ele se creditam os sonhos de
bonança ou os pesadelos de tempestade. No alto de seu carro, puxado
por cavalos marinhos, aparece imponente, símbolo da poderosa energia
do mar, nem sempre ao alcance da inteira compreensão do homem.
Mar, verde mar, serena cor da esperança, estandarte do
Império Serrano... Beira do mar, noite de lua cheia,
afloram histórias de peixes e de sereias. São seres trazidos pelas
águas, vivos na voz dos pescadores, que se encantam com a visão das
princesas do mar, suas belezas, seus tesouros, seus dotes de pérolas
e o que há nele da força sedutora da mulher. Somos
gratos ao mar. Nas nossas horas de lazer, nos dias de descanso sob o
sol, atraídos por ele, nos mergulhos que nos refrescam o corpo e
renovam a alma. Em uma eterna reverência aos ousados
navegantes portugueses e suas conquistas de além-mar, a marujada se
faz presente. E seguindo o lema Ad sumus (Aqui estamos), a bateria
imperiana abre caminho para a corte engalanada seguir rumo ao mar
encantado. Domínio dos castelos de areia e suas figuras
imaginárias. Nele os cardumes se movimentam conforme o ritmo das
águas, e dessa dança submarina, verdadeiro baile das espécies,
saltam peixes-voadores em suas visitas à superfície, o
peixe-pescador em seu tempo de espera, o peixe-dragão com sua beleza
imponente e o cavalo-marinho como um ser de outro mundo. Viva a
imaginação! O mar esconde um reino sob as águas...
Em um mergulho mais profundo, lá onde nascem os corais,
entramos no reino da delicadeza, universo para ser contemplado e nos
extasiar com tantas variedades de espécies, onde anêmonas e peixes
de todas as cores formam uma aquarela divina. É a beleza profunda
transmitindo quietude, matéria da qual são feitos os sonhos.
E o sonho é sem fim. Como uma estrela-do-mar se
movimentando lentamente, como o segredo guardado numa concha,
símbolo da fecundidade e da origem da vida. Os mitos
são como os sonhos, sempre têm algo a dizer ao nosso coração, mas se
apresentam com linguagem própria, num mundo bem diferente do nosso.
Por isso nos parecem tão mágicos e ao mesmo tempo tão familiares.
Conforme descrição de Fernando Pinto, autor da versão
original do enredo, em 1976, “A Lenda das Sereias Rainhas do Mar”,
Iemanjá, nas suas principais representações, aparecerá na encenação
como é vista mitologicamente, em figura de sereia, rainha do mar, e
o desenrolar do desfile em quase todos os segmentos tem sua ação no
fundo do mar, sua morada. Em todo o litoral brasileiro,
Iemanjá é conhecida por muitos outros nomes. Uns são simples
variantes, como, por exemplo: Janaína, Dona Janaína, Dona Maria.
Outros, no entanto, têm origem, história e representação visual
diferentes entre si: Inaê, Marabô, Caiala, etc. Entretanto, todas
são sereias na forma e têm em comum a condição mitológica de rainhas
do mar. Vamos então saudar Iemanjá na passagem do ano!
É meia-noite à beira-mar, ali entregamos nossas oferendas: pentes,
perfumes, colares, laços de fita, sabonetes, todos os itens de
beleza, prazer e capricho de uma moça vaidosa. Neste dia renovamos
nossas forças e lançamos ao mar nossas tristezas e decepções para
que sejam levados para bem longe de nossas vidas em troca de pedidos
e desejos a alcançar. Onda que leva o passado e traz o futuro,
segundo a vontade da sereia Iemanjá, rainha e soberana do mar.
Mar sempre eterno, como eterna é a nossa esperança...
Márcia Lage |