Taí, eu fiz tudo
pra você gostar de mim
Justificativa:
No ano em que comemora 60 anos de existência o Império Serrano leva para a avenida a trajetória de Carmem Miranda, artista que tanto nos encantou. Nestes anos de glórias, de lutas e sobretudo de muita resistência o Império sempre se manteve ligado aos temas que contam a história do Brasil.
A própria história da nossa verde e branco, nascida em pleno contexto da redemocratização do país é um grito de liberdade, palavra imperiosa na sua conta, de escola de samba sem “dono”, aguerrida e elegante, sabedora do seu papel na história do samba e consciente de seu lugar e posição na cultura do nosso país.
E Taí Carmem Miranda, que fez tudo para que gostassem dela e conseguiu.Caiu no gosto popular quando o rádio ainda engatinhava, ela acertou em cheio. Carmem interpretou canções que pareciam complementar uma necessidade, já que preenchiam um espaço lúdico e vital que o povo brasileiro trazia consigo e sua arte trouxe à superfície.
Com seu apelo sensual, sua espontaneidade adquirida na vivência das ruas do centro do Rio de Janeiro, a voz de Carmem parecia portar a sua própria imagem, um fenômeno explosivo que “ bombou” nas ondas do rádio e se tornou a primeira cantora campeã de vendas de discos no Brasil.
Aos vinte anos já despontava sua estrela.Carmem firmou um repertório que se tornaria referência nacional. Foram canções que se fixaram no imaginário do brasileiro e são recorrentes nos nossos motivos de festa, de tristezas, de deboche e de exaltação, canções sem as quais o Brasil teria incompleta sua identidade.
A figura da baiana definitivamente associada à imagem de um Brasil ideal para uns ou pouco provável para outros, tornou-se uma marca. Marca de exportação em que Carmem imprime uma visão da Bahia, com o auxílio luxuoso de Dorival Caymmi e a formatação carioca que ela soube muito bem desenvolver, ganhando o mundo.
Mundo que se temperou como ela descreve com suas próprias palavras: Vou botar tempero no gosto e no “gôto” daquela boa gente(...).Nos meus números não vai faltar nada: canela, pimenta, dendê, cominho (...).Vou levando vatapá, caruru, mungunzá, balangandãs, acarajé(...).
E não contente com isso Carmem cutuca: “ E vão comigo seis baianas repenicadas, isto é, vou levar seis fantasias representando a gente do Bonfim... Mandei caprichar nesses trajes da nossa terra. Tenho feito tudo para que a música e a baiana sejam uma bomba por aquelas bandas.”
Carmem salta para outra esfera, o cinema americano, o mercado mundial, a política da boa vizinhança, dólares, dores, fama, solidão. Pagou um preço, mas não arredou o pé, seguiu em frente com um profissionalismo inegável sacolejando sempre nossos balangandãs e legitimando o “ samba” como música nacional, recebendo o merecido título de Embaixatriz do Samba.
E em matéria de samba o Império Serrano é soberano.Sempre irradiando canções, verdadeiras pérolas, patrimônio nosso que atravessa o tempo e se perpetua assim como as canções que Carmem Miranda eternizou.Daí o elo inevitável de duas forças que se complementam no cenário artístico nacional.
Império Serrano e Carmem Miranda mais uma vez unidos caminhando contra o vento dos modismos, a favor da beleza e das coisas genuínas, escrevendo mais uma página da história, elevando a alegria que alegoriza a vida e personagens decorrentes. Acenando para a estrela ascencionada que ela sempre foi e será, pleiteando agora que seu brilho possa refletir mais uma vez na coroa de nossa bandeira que tanto anseia por brilhar novamente, voltando ao lugar merecido no podium do mundo chamado samba.
Desenvolvimento:
Taí, eu fiz tudo
prá você gostar de mim. (A Era do Rádio)
Carmem se beneficiou do rádio, embora esse apenas engatinhasse e timidamente abria espaço para a música popular buscando um encontro com ouvintes. Dos 21 aos 29 anos, entre 1930 e 1939, fora a maior estrela brasileira do disco, do rádio, do cinema, dos palcos e dos cassinos e recordista em gravações.
Com sua incrível expressividade saltava das canções, tornando-se “ presente”, “ viva” para quem a ouvisse. Com ela o carnaval e o samba se tornaram símbolos de nosso país. Carmem descobrira a alegria brasileira. Em 1930, Taí (Pra Você Gostar de Mim) vendeu 35 mil discos em um ano! E em seis meses de carreira Carmem torna-se a “ Rainha do Rádio”.
O que é que a
baiana tem?
Antes de migrar para indústria do disco, para o rádio e o cinema e tornar-se canção popular nacional, a música popular carioca passou pelo reduto das casas das tias baianas. A presença da baiana torna-se constante na vida da cidade. Invadem os bailes do Teatro Municipal do Rio e segundo a própria Carmem (...) marinheiros e baianas eram fantasias proibidas por serem vulgares demais. Mas Carmem através do cinema norte-americano abre espaço para popularizar a figura da baiana em nosso carnaval.
Cassino da Urca
No sobe e desce das orquestras sempre a tocar, emolduradas pelo clima Art-Decó e cercada de blak-ties (traje obrigatório nos sábados), regados a champanhe grátis e ornamentado por orquídeas, assim era o clima dos cassinos. Carmem cantou em vários deles, mas foi no Cassino da Urca que ela marcou época e alçou vôo para América.
“To Broadway from South American Way”
Seis minutos no palco da revista “Streets of Paris” foi o que Carmem precisou para conquistar a Broadway. O sucesso alcançado nos night clubs de Nova York foi o passaporte natural para o cinema e as televisões dos EUA .Carmem torna-se a personalidade brasileira que invade esse universo e lidera um seleto grupo de destaque em Hollywood onde realizou cerca de 14 filmes.
“Yes, nós temos o
samba!”
Carmem era o exemplo de alegria, otimismo e felicidade transbordantes preconizados no carnaval, na festa permanente. Ainda hoje quando se fala de Brasil no exterior ela é lembrada e o samba vem de carona provando que não há ditames quando se quer expressar um povo, uma nação.
O samba é a “cola” que nos une, que nos “ linka” com outras nações e é capaz de transcodificar o que há de mais genuíno em nossa essência luminosa que quando “ toca” , faz brilhar o coração de quem possa apreciá-lo e ouvi-lo. “O pandeiro do samba, tamborim de bamba” continuará a ecoar em todas a épocas em nosso imaginário, em nossos corações.
Que assim seja!
Márcia Lavia e Renato Lage
Roteiro do desfile:
1º Setor: A era do rádio |
Nº |
Nome da Fantasia |
Nome da ala |
Descrição |
Responsável pela ala |
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Comissão de Frente |
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1º Casal de Mestre Sala e Porta
Bandeira: Figuras tradicionais do carnaval |
1 |
Pierrô |
Comunidade |
Alusiva à marcha Pierrô apaixonado |
Departamento de Carnaval |
1ª Alegoria: A
Era do Rádio
Carro em estilo art déco, que reúne elementos da
época de ouro do rádio: o gramofone, o disco 78 rpm e o
aparelho de rádio.
Principais destaques: Neste carro Carmen Miranda será
representada pela atriz Miriam Pérsia, que desfilou como uma
das figurações de Carmen em 1972 e nestes 36 anos nunca
deixou de desfilar na escola. Esta é a forma de homenagear
sua constante participação na agremiação. |
2 |
Arlequim |
Quem sabe sou eu |
Figuras tradicionais do carnaval |
Lívia Menezes |
3 |
Balance |
Ala dos Devotos |
Alusiva à marcha do mesmo nome, gravada por Carmen |
Inês Valença |
4 |
Alô Alô Carnaval |
Ala das Crianças |
A alegria das marchinas carnavalescas-l |
Maria Célia |
5 |
Piratas |
Heróis da Liberdade |
Alusiva à marcha Pirata da Perna de Pau |
Cosme Dantas |
6 |
Cantores do Rádio |
Ala das Feras |
Alusiva à marcha do mesmo nome, gravada por Carmen |
Eulina da Costa |
2º Setor: O que é que a
baiana tem? |
7 |
O que é que a baiana tem? |
Ala das Baianas |
Homenagem à Bahia |
D. Eni |
2ª Alegoria: O
que é que a baiana tem
Carro alusivo ao estereótipo criado por Carmen
Miranda sobre a figura da tradicional baiana, que a
acompanhou durante toda a sua trajetória artística. Ele traz
todos os elementos representativos da Bahia, na arquitetura,
na religião, na cultura, como homenagem ao estado do Brasil
que nos legou as mais caras tradições de ancestralidade.
Nele Carmen Miranda será representada por um gigantesco
busto em escultura de Poggi, um dos mais renomados artistas
do carnaval carioca.
Principais destaques: Não há.
Os elementos de composição são todos jovens
componentes do Império Serrano, oriundos do Morro da
Serrinha, seu berço. |
8 |
Balangandãs |
Ala Ricca |
Alusiva a um dos elementos mais importantes do clima baiano de Carmen |
Ricardo Wandeveld |
9 |
Lavagem do Bonfim |
Ala das Baianinhas |
Baianinha curta, uma tradição da escola |
Bruno Teté |
10 |
Senhor do Bonfim |
Balanço e Alegria |
|
Walter Paraná |
11 |
Candomblé |
Bateria |
Representação de Ogun, orixá protetor do Império Serrano |
Mestre Átila |
3º Setor: Cassino da
Urca |
12 |
É de trampolim |
Comigo Ninguém Pode |
Contém elementos dos jogos deazar praticados nos cassinos |
Marly da Costa |
13 |
Trinca |
Sente a diferença |
Mistura de jogos de azar e espetáculo |
Tereza Cerqueira |
3ª Alegoria:
Cassino da Urca
Mostrará o luxo e o esplendor dos cassinos,
principal vitrine dos grandes artistas da época. Homenagem
ao palco dos primeiros sucessos de Carmen no show-business.
Principais destaques: Ana Cristina, representando Carmen em
traje de baiana, que a imortalizou. |
14 |
Quadra |
Ala dos Remédios |
Mistura de jogos de azar e espetáculo |
Jorge dos Remédios |
15 |
Coristas |
Quem Quiser Pode Vir |
Representa os tradicionais coristas dos shows em Cassinos |
Reinaldo Fernandes |
4º Setor: In South
American Way |
16 |
Broadway |
|
Representa o esplendor da Broadway |
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17 |
Ruas de Paris |
Família Imperial |
Homenagem à música Streets of Paris, sucesso fulminante de Carmen no exterior |
Sérgio Roberto Costa |
18 |
Paducah |
A Noite é Nossa |
Inspirado no traje usado pelo Bando da Lua no filme do mesmo nome |
Maurício Costa |
2º Casal de Mestre Sala e Porta
Bandeira: “Eu fui às touradas em Madri” |
19 |
Touradas em Madri |
Quem Não é Não se Mistura |
Alusiva à marchinha do mesmo nome |
Marivaldo |
4ª Alegoria: In
South American Way
Alusivo à carreira internacional de Carmen
Miranda, o carro apresenta características do luxo dos
espetáculos da Broadway. |
20 |
Mamãe eu quero |
Ala do Grilo |
Alusiva à marchinha do mesmo nome |
Dulcinéa Ribeiro |
5º Setor: Yes, nós
somos o samba! |
21 |
Imperianos |
Vila da Penha |
Homenagem à escola que homenageou a Pequena Notável em 1972 |
Humberto Carneiro |
22 |
Banda de Ipanema |
Amizade |
Jurema Batista |
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221 |
Grupo Embaixada das Caricatas |
Embaixada das Caricatas |
Fantasia livre, em homenagem ao apreço da comunidade gay à Pequena Notável |
Adagoberto |
23 |
Raízes da África |
Ala Coreografada da Serrinha |
Homenagem à negritude, marca distintiva do Império Serrano |
Gerson Tavares |
24 |
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Ala dos Compositores |
Homenagem à elegância imperiana |
Chupeta |
5ª Alegoria:
Yes, nós temos o samba
Carro tropicalista, onde o símbolo da escola – a
coroa – se mistura aos balangandãs, guias, frutas e outros
elementos de brasilidade, inserindo o Império Serrano no
clima desta segunda homenagem à grande cantora, dando início
às comemorações do centenário de seu nascimento.
Principais destaques: Paulo Santi, representando o Carnaval.
Grandes baluartes do Império Serrano emprestarão seu
prestígio a esta homenagem. |
25 |
|
Velha Guarda |
Homenagem à tradição imperiana |
Sr. Mazinho |
Bibliografia:
-
CASTRO, Ruy. Carmen. S. Paulo: Companhia das Letras, 2005.
-
CARDOSO Jùnior, Abel. Carmen Miranda, a cantora do Brasil.
Sorocaba: Edição particular, 1978.
-
NASSER, David. A vida trepidante de Carmen Miranda. 2. ed. Rio de
Janeiro: Ed. O Cruzeiro, 1966.
Agradecimentos especiais ao Museu Carmen Miranda, pela consulta ao
acervo e orientação. |