O Império do Divino
Sinopse
"Santo Anjo do Senhor, meu zeloso guardador,
Já que a ti me confiou a piedade divina,
sempre me rege, guarda, protege e ilumina."
Lá vem
meu Império! Celebrando a religiosidade brasileira. Exaltando das
páginas da história, viva na memória, no tempo que não se alcança,
a fé e a esperança. A
saga de um povo fiel e devoto, que crê num 'Deus' infinito e santo,
que lava as dores e enxuga o pranto.
Império Divino, baluartes, um destino... foliões, beatos, romeiros,
povo brasileiro. Em nome de Deus, anda pelos caminhos da fé. Fé que
explica o sentido da vida e faz aceitar a morte. Sem perder o norte,
apresenta uma
história fervorosa: a das tradições das festas religiosas.
Pomba branca, asceta e mística. Santidade que o povo purifica... Rogai
por nós... Põe-te a voar, mostra a glória desse povo que vive a rezar.
Redenção! Goza o povo, de um amor à divina celebração. Para tudo aquilo
que Deus criou, um louvor ao teu encanto, de joelhos ou de pé o povo
se realiza nos autos da fé. Faz da crença uma confiança obstinada,
ruas e casas são enfeitadas... Olhai por nós... e faz dessa reza um
canto, pra celebrar o Divino Espírito Santo.
"O Divino Espírito Santo
Hoje vem nos visitar
Vem pedir-vos uma esmola
Pro seu Império enfeitar"
Fé e pecado, tudo entoado num ritmo sagrado. É o cortejo real dos
filhos do congado. É maracatu que chega pra dar o seu recado, batendo
tambor sob o luxo de seus bordados, sem choro e sem dor, com adereços
e muita cor.
Brilha no céu a estrela-guia. Feito magia, nas cores da folia, uma
nobre gente. Três Reis Magos peregrinaram lá das bandas do Oriente,
sob a régia um destino: anunciar o nascimento do Deus menino.
Vem a Quaresma, depois do carnaval, o silêncio e a penitência lembram
a saga pentecostal. Quem vê não se espanta, iluminado fica, acende
e se encanta com o
fogaréu da Semana Santa; a adoração à cruz, da missionária tradição
do corpo de Jesus.
A fé é estendida. Tapetes ressaltam as cores da vida. Em oração saio
em procissão, Corpus Christi, minha crença, minha devoção...
Gente sofrida, que tudo que tem na vida é o sacrifício da promessa
cumprida.
Beatos que seguem em romaria, seja noite, seja dia, fazendo das palavras
sua guia... numa terra abençoada de um misticismo religioso, de um
'deus' de carne
e osso: Padim Padre Ciço. Vem gente de tudo que é canto, devoto, promesseiro,
romeiro, pedir a bênção do tal pastor de Juazeiro.
De um jeito ou de outro a fé acompanha este povo. Vende de tudo um
bocado: santinhos, amuletos, oração. Isso tudo pra ganhar um trocado
e viver em comunhão.
Gente pro que der e vier, gente abençoada por uma manifestação de
fé, sagrada e profana, é o Círio de Nazaré. Uma procissão de forte
simbologia, representada pela corda, a ligação entre a Santa e seu
povo em romaria.
Quem já viu sabe o que é. São os folguedos populares no auto da fé.
É a alma engalanada de um país inteiro, celeiro cultural do folclore
brasileiro.
Cavalhada,
moçambique, festas dedicadas a São Benedito e ao reino
lendário de Nossa Senhora do Rosário. É folguedo pra cá, é folguedo
pra lá, salve os festejos do boi-bumbá. Caboclinhos, guerreiros, 'santo
pecado' na festa do
bumba-meu-boi e na cantoria do reisado.
"Meu São Benedito
Cabelo de véu
Me leva a esses anjos
Me entrega o céu!"
De passo marcado, cantando em louvação é brincadeira de quadrilha
de São João.
Da festa indígena, trago na força da lança a esperança de que existe
um Deus entre nós. É o mito e a dança dos índios Caiapós. A chegança,
dos marujos do fandango vai completando a festança... Trovadores,
repentistas, violeiros tocam animando os terreiros, tudo sem distinção,
mas só tem uma questão: que todos tenham fé no coração.
A festa do negro se faz no congado onde o rei e a rainha do Congo
são coroados.
É canto e dança pra todo lado, olubajé é o seu legado. Ensina desde
criança o axé, a força da umbanda e a gira do candomblé. Salve a rainha
do mar, Iemanjá, e o encanto das Águas de Oxalá! É água-de-cheiro,
é batuque que não tem fim, salve Nosso Senhor do Bonfim!
"São Jorge, filho amado de Deus Pai, socorrei-me...
...Com o fogo do Espírito Santo, iluminai-me"
Império, tu és minha raiz, o meu cantar, a minha diretriz. Império
de um santo guerreiro, de imperadores divinos, homens que nasceram
sublimes e crentes, devotos a um manto de amor doce e clemente. É
verde e branco a cor do teu canto... Aqui estendemos nossos olhares
à sua infinita grandeza, fonte de tanta beleza; fazemos desses divinos
imperadores um samba, uma oração!
Vem, meu Império, do batuque negro a cada coração, com seu estandarte
exaltar a arte... acender as luzes da imaginação, desse encontro mágico
e universal,
chamado carnaval. Traz a alegria do samba no pé, aqui tu és o Divino,
aqui tu és um auto da fé.
Império Divino, olhai por nós...
Divino Império, rogai por nós...
Amém.
Paulo
Menezes
Texto: Marcos Roza
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