Uma rua chamada Brasil
Um
jovem brasileiro, aventureiro como todos os jovens, após muitos sacrifícios
e dificuldades (principalmente para obter o visto de turista), finalmente
chega a cidade de Nova York, cheio de sonhos e ilusões, pretendendo
estabelecer-se e ganhar muitos dólares.
Em sua cabeça traz ainda os super-heróis, que durante tanto tempo emolduraram
o seu desejo de chegar até a “Grande Maçã”, como a ilha de Manhattan
é conhecida. A imigração foi um pesadelo que agora tenta esquecer, pois
o nosso personagem já está na Rua 46, ponto inicial para uma “Nova Vida”.
Na Rua 46 encontrou muitos outros brasileiros: mineiros recém chegados,
barulhentos turistas, “muambeiros” amadores e profissionais. Deparou-se
com os bem sucedidos lojistas, bebeu guaraná e tomou cafezinho. Leu
jornais para saber das últimas notícias. E o inconfundível cheiro de
uma feijoada o atraiu a um restaurante brasileiro.
Logo deixou o jeito de turista e começou a executar diversas funções
na luta pela sobrevivência: engraxate, “babá de cachorro”, entregador
de flores e lavador de carro. Tudo valia para juntar alguns dólares.
Enquanto isso, o tempo ia passando e ele aproveita os momentos de folga
para explorar a cidade que nunca dorme.
A vizinha Rua 47, grande centro joalheiro, onde o brilho dos diamantes
ofusca a vista dos passantes, encantou o nosso brasileirinho.
Na 5ª Avenida conheceu o coração da cidade, repleto de elegantes lojas
e enormes limusines; visitou a Catedral de São Patrício, onde emocionou-se.
Viu-se admirado com a altura dos edifícios, o vai e vem dos pedestres
e dos táxis amarelos. No “Rockfeler Center” deslumbrou-se com a estátua
de Prometheus.
Foi encontrado “quase” falando inglês, vendendo cachorro-quente em meio
aos efervescentes e enormes letreiros do Time-Square, centro dos principais
teatros do mundo, que exibem “Os Gatos”, “Os Miseráveis”, “Victor e
Victoria”, “A Bela e a Fera”, “Rei Leão”, “Titanic” e muitos outros
espetáculos que atraem multidões.
A cidade de Nova Iorque com todos os seus aspectos exóticos e cosmopolita,
já faz parte do cotidiano de nosso “herói”, que viveu mais uma experiência,
desta vez trabalhando como garçom em um bar no bairro boêmio: o “Village”.
Ouviu o melhor “JAZZ” do mundo e não assustou com os mais estranhos
penteados e vestimentas que viu passar, nem tampouco com a “galera”
gay. Achou engraçado quando lhe perguntaram se ele era afro-brasileiro,
pois lá chamam os “moreninhos” de afro-americanos.
Seguindo a sua trajetória fomos até o bairro Chinês, repleto de curiosidades,
onde o encontramos tentando fritar pastel para um mau humorado oriental.
Ao lado encontra-se a “Pequena-Itália”, um conjunto de ruas que retratam
o calor do povo italiano, uma chance para mais um aprendiz de “fazedor
de pizza”, que já sabemos quem é.
Neste conjunto de emoções há sempre um sentido de fraternidade. São
os “Spanos”, que estendem as mãos para os irmãos brasileiros. Juntos,
Panamenhos, Cubanos, Mexicanos, Porto-Riquenhos, todos os latinos se
confraternizam pelas ruas de Nova York.
Em fevereiro o frio é mais forte e o “Central Park” veste-se todo de
branco. Um mágico cenário envolvendo desconhecidos príncipes e princesas,
que passeiam em carruagens forradas de pele. Os galhos das árvores transformados
em cristal, rivalizam-se com os lustres do imponente Hotel Plaza, localizado
bem a sua frente.
Nosso jovem é então surpreendido por uma carta que chega do Brasil,
ainda “quentinha” dos raios de sol. Vem falando da praia, do verão e
do Carnaval!... Aí é demais!...
Descobriu então, que o inglês não tem a palavra saudade. O jeito foi
pegar o avião e voltar correndo para o Brasil.
Aqui, no morro da Serrinha, sua mãe, uma simpática baiana lhe aguardava
pronta para cobri-lo de verde e prata e transformá-lo no mais garboso
mestre-sala.
Emocionado ele recorda seu Império Serrano “Dando uma de Carmem Miranda
“, que como ele viveu nos Estados Unidos, sem contudo perder sua brasilidade.
Sonhando com a vitória, reverencia sua Bandeira, na certeza, que seu
lugar é aqui!
Mario Borriello *
* Eu que também já fui jovem aventureiro, vivendo fora do meu país, dedico
este trabalho àqueles que tem coragem de sair e lutar, e principalmente
aos que tem coragem de sair, lutar e voltar!
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