A Império da Tijuca é
doce, mas não é mole não!
Originária da
Índia, a cana-de-açúcar é a planta que fornece maior percentagem de
Sacarose, o chamado açúcar de cana. Sua utilização no Oriente, provavelmente
na forma de xarope, era relacionada muitas vezes à religiosidade e
data da mais remota antiguidade.
Conhecido na Europa desde as Cruzadas, a introdução da cana-de-açúcar
no Ocidente deve-se às invasões árabes na Península Ibérica, onde
seu domínio perdurou por quase oitocentos anos, tendo os mouros iniciado
o cultivo na região de Andaluzia. Os árabes desenvolvem o processo
de cristalização do xarope de cana.
Rapidamente caiu no gosto europeu e, ganhando importância de especiaria
fez a alegria do paladar e a riqueza dos comerciantes. Veneza obtinha
o monopólio do comércio do açúcar oriental e descobriu uma forma de
refiná-lo, dando a ele a fama de "ouro branco". Mas depois de
várias tentativas de cultivar a cana-de-açúcar continuou a necessidade
européia de importar o açúcar do oriente, pois a planta não se adapta
ao frio.
Com a expansão marítima, o descobrimento do Novo Mundo permitiria
um extraordinário aumento das áreas de cultura da cana. As primeiras
mudas chegaram ao Brasil vindas da Ilha da Madeira dando início a
nossa fama de Zulkerland - a terra do açúcar (como nos chamariam mais
tarde os holandeses).
De olho no nosso "doce" os Holandeses invadiram Pernambuco, onde
estabeleceram seu domínio comercial e cultural. Nomearam como governador-geral
o conde João Maurício de Nassau, que empreendeu uma grande reforma
na vida da colônia: privilegiou os senhores de engenho, concebeu liberdade
religiosa, remodelou e urbanizou cidades, criou a capital Mauricéia
(ou Cidade Maurícia), trouxe missões artísticas, científicas e sanitárias,
entre muitas outras ações; embalados pela influência do folclore europeu
sobre as várias culturas aqui presentes que gerou belas Cavalhadas,
vistosos Reisados e Pastoris, majestosas Congadas e Maracatus.
O sistema açucareiro aristocratizou o branco em senhor e transformou
a casa de pedra em Casa Grande, dividindo homens, suas habitações
e a própria paisagem. A agroindústria açucareira foi base de nossa
economia. No Rio de Janeiro floresceu a chamada "Costa Doce",
tendo na região de Campos dos Goytacazes seu desenvolvimento principal.
Tempo dos bangüês, dos mocambos, sinhás e sinhazinhas, escravos e
mucamas, lavouras e moendas...
O açúcar tem gosto de infância, lembrança e referência para momentos
felizes. Qual criança nunca fantasiou um mundo açucarado repleto de
bolos, balas, chocolates e sorvetes? Um verdadeiro "Reino dos Doces"
como o idealizado no famoso balé "O Quebra-Nozes", de Tchaikovsky.
Um grande "sonho", sem trocadilhos, para as crianças e muitos
adultos também.
E por falar em trocadilho o sempre espirituoso Aparício Torelly, o
nosso mitológico Barão de Itararé, certa vez indagado sobre sua opinião
a este balé, disparou sem pestanejar: "- É Bom para nós, mas ruim
para noz..."
O açúcar fez e faz parte da formação do povo brasileiro, adoçando
nossa história e nos dando energia para conquistar e saborear o doce
gostinho da vitória!
Jack Vasconcelos
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