FICHA TÉCNICA 2000

 

Carnavalesco     Max Lopes
Diretor de Carnaval     Milton Perácio
Diretor de Harmonia     Dirceu Vieira da Silva
Diretor de Evolução     Dirceu Vieira da Silva e Milton Perácio
Diretor de Bateria     Mestre Odilon
Puxador de Samba Enredo     Edson Marcondes (Nêgo)
Primeiro Casal de M.S. e P. B.     Reinaldo Teixeira (Ronaldinho) e Verônica Barbosa Limeira
Segundo Casal de M.S. e P. B.     Márcio Luis Fonseca da Costa e Squel Jorgea Ferreira da Silva (Squel)
Resp. Comissão de Frente     Regina Sauer
Resp. Ala das Baianas     Marilene e Regina
Resp. Ala das Crianças     Maria Helena e Sema

 

SINOPSE 2000

CARNAVAL À VISTA!

Nunca Fomos Catequizados, fizemos Carnaval

            Antes dos desbravadores navegantes europeus desembarcarem em solo brasileiro, o Brasil já encontrava-se habitado pelos índios. Na época do descobrimento, várias pessoas deixaram notícias a respeito do modo de vida dos aborígines, embora algumas informações até hoje não tenham sido obtidas. Nunca se soube ao certo de onde teriam vindo nem como e quando eles surgiram.
            Lendárias magias explicam o surgimento dos "descobertos". Segundo os indígenas amazonenses, Tupã, deus supremo, pai de todos os homens, mandou que Coaraci - princípio materno – desse origem a todas as coisas: rios, fauna diversa, flora verdejante, terra fértil de deliciosos frutos e bons ares. Um lugar muito agradável, prazeroso, deleitante. Coaraci criou também a primeira icamiaba "a sem marido" até então solitária vagando por este verdadeiro paraíso tropical.
            Tupã decidiu portanto, povoar aquela deslumbrante região enviando da tribo celestial um índio guerreiro sobre uma estrela colorida brilhante, a qual pousou no coração da América do Sul. No luminoso astro continha todos os segredos das magias encantadas, com as quais todas as tribos terrestres deveriam se proteger dos maus espíritos, por isso, foi guiada por uma legião de curubins tocando suas flautas encantadas anunciando a chegada do guerreiro, formador – juntamente com a amazona errante – da civilização "brasilíndia".
            No paradisíaco brasilis nossa gente vivia feliz. Além de donos da terra os primeiros brasileiros possuíam uma alma festiva: cantavam, dançavam enfeitavam-se deixando transparecer a euforia que a todos nós é peculiar. Bastante criativos, utilizavam materiais coletados na natureza para confeccionarem utensílios ornamentais; pintavam seus corpos com óleo de pequi; tocavam instrumentos como a aruá (flauta) e a maraca. Convidavam tribos vizinhas para celebrar os deuses da mata, da água, dos ares, pois adoravam uma "folia" em grupo. De fato os índios foram autênticos precursores dos foliões atuais. Receberam os desbravadores navegantes ao melhor estilo tupiniquim, demonstrando através de atos sua predisposição à carnavalescos inatos.
            Na ocasião da primeira missa rezada pelo frei Henrique, o padre pôs-se em uma cadeira alta pregando solene sermão. Durante a pregação, os índios, na praia, tocavam buzinas começando a pular e a dançar... Um gaiteiro português foi festejar com eles tomando-os pela mão; todos riam alegremente dançando alucinados ao som contagiante da gaita.
            Com os povos da floresta começa nossa pré-história. Essa gente sem malícia, bem humorada, amante da liberdade, arautos da felicidade, jamais se deixaria catequizar. Lutaram sem trégua por seus direitos unindo-se como na Confederação dos Tamoios, uma das organizações indígenas mais fortes na guerra contra os escravizadores portugueses. Naquele tempo índio já queria apito e se não desse...
            E o cordão cada vez aumentava mais. Após enfrentarem os fantásticos mitos acerca do alto mar que descrevia terríveis monstros marinhos, sereias sedutoras, colunas de fogo, enormes redemoinhos; os portugueses aportaram em Cabrália a 22 de abril de 1500. Cabral com sua comitiva levou ao conhecimento do velho mundo relatos inusitados de uma terra pitoresca, que só depois de 30 anos foi colonizada.
            Pelo velho Chico (Rio São Francisco) adentro as caravelas e os brancos portugueses assistiam margeando de terras baianas à Sergipe os batuques chocalhantes, de índios Tupis Guaranis.
            O Carnaval no Brasil-colônia foi introduzido pelos lusitanos. O primeiro festejo realizou-se em 1641, quando o governador Correia de Sá e Benevides promoveu uma série de festas para comemorar a subida ao trono de D. João IV. Esse carnaval contou com corridas de argolinhas, combates simulados, desfile de blocos fantasiados e mascarados. A partir daí, a folia momesca não mais parou.
            Os séculos XVII e XVIII caracterizaram-se por vários conflitos separatistas contra o regime colonial que começava declinar mediante conspirações: Inconfidência Mineira, Conjuração Carioca, Conjuração Baiana, todas cruelmente sufocadas. Em 1808, a Família Real chega ao Brasil sendo recebida com muita festa. Mais tarde, com a independência proclamada (1822), entre vivas e explosões de fogos, milhares de pessoas se acotovelavam nas janelas enfeitadas para assistir ao extraordinário acontecimento: D. Pedro I era aclamado Imperador; nascia a monarquia imperial.
            Foi no segundo império que o Brasil conheceu relativo progresso. A navegação a vapor acelerou os contatos entre as principais cidades brasileiras. As mulheres e os homens da elite acompanhavam os acontecimentos na Europa, vestindo-se à moda francesa. Charretes puxadas por cavalos e dirigidas por cocheiros fardados, enchiam as ruas do Rio, compondo assim, um belo cenário com direito a palacetes, residências suntuosas construídas pelos aristocráticos barões do café.
            As recepções promovidas pelo Imperador agitavam a vida social da nobreza. Mas era o carnaval, um divertimento popular as vezes violento, que sacudia a Corte Real. O entrudo (Herança de Portugal), predominava nas brincadeiras carnavalescas da época. Jogava-se água, farinha-do-reino, fuligem, cal, pó-de-sapato, empapando os transeuntes. Altos personagens do império se divertiam jogando ovos podres e talos de hortaliças nas pessoas. A empolgação era tanta, que até o animadíssimo imperador D. Pedro II gostava de atirar limões-de-cheiro e bacias de água nos nobres freqüentadores da Quinta da Boa Vista, Rio de Janeiro. No começo do século XIX, a "molhaça" foi substituída por confetes e serpentinas e lança-perfumes. Porém o espírito das "batalhas" ainda sobrevive nas bisnagas de água usadas pelas crianças.
            Por volta de 1846, o sapateiro português José Nogueira (o Zé Pereira) introduziu o bombo no carnaval brasileiro, saindo as ruas centrais do Rio em barulhento cortejo, tomando conta da cidade fazendo maior sucesso.
            Batuque no terreiro sinhá não quer. Originários da África, os negros eram trazidos à colônia para trabalhar arduamente nas lavouras de cana dos Senhores de Engenho. Trabalharam também nos cafezais dos ricos imperadores do café. Durante esse período histórico, em nenhum momento os africanos aceitaram passivamente a condição de submissos. Fugiam continuamente das fazendas, refugiando-se nos quilombos, dentre eles, Palmares merece relevante destaque por ter sido o maior, mais organizado, abrigando-se nele qualquer indivíduo injustiçado pelo sistema vigente: índios, holandeses, portugueses etc., todos convivendo em perfeita harmonia.
            Severamente proibidos de manifestar os hábitos culturais africanos, os escravos tiveram suas festas profanas associadas ao catolicismo. A coroação dos Reis Negros (reisado), a invenção dos maracatus originou-se da festividade católica de Nossa Senhora do Rosário, na qual mucamos adornados saíam em procissão sacudindo chocalhos e entoando cânticos. O culto religioso na senzala reverenciava os orixás embalando as noites festivas dos negros com muito batuque, cantos e danças. Os quilombos tentavam reproduzir a paisagem exótica da África, com animais artesanalmente esculpidos. A cadência forte dos tambores ecoava pelos ares convidando todos os habitantes da localidade a participarem das apresentações de capoeira, danças nativas como o samba os lunduns, jongos etc. Os terreiros de macumba pós abolição mantiveram a batucada gostosa dos atabaques, as danças e a capoeira que emprestou seus movimentos para os mestres-salas das atuais escolas de samba.
            A marca da cultura africana em nosso carnaval, está sem dúvidas, na musicalidade, nos ritmos, também na composição grupal de foliões. Nos anos dourados das sociedades, houve uma proliferação extraordinária de agremiações carnavalescas populares. Os cordões organizados passaram a existir, entre eles a sociedade "triunfo dos Cucubins" composta de negros fantasiados de índios tocando instrumentos primitivos, homens alegres comemorando a liberdade concedida pela abolição. Esses foram os responsáveis pela consolidação do costume de se fantasiar durante o carnaval.
            Abram alas para as colombinas. Grandes correntes migratórias desaguaram no Brasil depois da extinção do tráfico negreiro (1850). A maior parte dos estrangeiros foram trabalhar nas fazendas de café. Outros vieram espontaneamente instalando-se nas cidades. Aí abriram lojas, padarias, armazéns, pequenas indústrias... Muitos ocuparam terras designadas pelo governo, especialmente Santa Catarina e Rio Grande do Sul. Para lá foram sobretudo italianos e alemães, onde deixaram traços profundos nos aspectos culturais do povo sulista.
            Representantes de uma riqueza cultural deslumbrante os imigrantes acabaram incorporando suas tradições carnavalescas aos folguedos aqui existentes. Por iniciativa de uma italiana, foi realizado em 1840 o primeiro baile de máscaras, totalmente copiados por inúmeros outros de maiores repercussões. Os bailes públicos também invadiram lugares mais acessíveis ao povo, não só os salões burgueses.
            Quantos sorrisos! Quanta alegria! São mais de mil palhaços no salão, Arlequins procuravam encantar as Colombinas, no meio da multidão. O aparecimento desses bailes influenciou bastante a participação de mulheres no carnaval. Festa que antes era para negros e mestiços; moça de família não entrava na massa de foliões. Agora, a festança estava delicada, colorida, com confetes, serpentinas, as damas elitistas poderiam ser acolhidas.
            Herdamos dos germânicos a prática de "bebemorarmos" com muitas doses de cerveja este dia de folia. Para muitos, a bebida é o combustível do desabafo popular; permite-nos cantar nossas dores e alegrias; retirar do rosto a máscara; o disfarce, revelando-nos tal qual como realmente somos interiormente.
            Século XX: a praça é do povo e o povo quer sambar. A queda da monarquia possibilitou a implantação da república (1889). Anos seguintes, novidades curiosas transformariam o começo do século XX: carros que andavam sem precisar ser puxados por cavalos. Lâmpadas sem gás nem pavio. Aparelhos para conversar com pessoas a longa distância. Outros para tirar retratos perfeitos como um espelho. Uma tela mágica onde são projetadas imagens de pessoas, bichos, coisas etc.
            As cidades modernizaram-se entre fortes contrastes sociais, fazendo a camada pobre da população reagir contra as precárias condições de sobrevivência, deixando-se levar pelas pregações de "beatos" que lhes acendiam a esperança de melhores dias. Outros partiam para o saque de fazendas, roubos de gado, juntando-se aos líderes cangaceiros.
            Apesar de tudo, as massas populares se divertiam. Os brasileiros assistiam a caminhada da nação rumo à modernidade, enquanto registravam definitivamente o perfil hereditário – resultado da aglutinação de raças - de nunca se curvarem ante a opressão. Da década de 30 em diante, nas ruas e nos salões o carnaval oficializava-se, ganhava brilho, mais vida com as reminiscências de um passado glorioso. Algumas músicas carnavalescas daquele momento se tornaram imortais como "Linda Morena", "Mamãe eu Quero", "Pierrô Apaixonado", "A Jardineira", "Saudades da Amélia"... O prestígio da nossa folia ganhou dimensão internacional sobre tudo a que acontece no Rio, Bahia e Recife. Recife tem algo do banzo africano, guardando muitas lembranças dos antigos escravos. Em meio a efervescência das ruas, junta-se a alegria européia com o frenesi do frevo genuinamente pernambucano. Na Bahia o axé consegue arrastar uma multidão de pessoas atrás do trio elétrico. No Rio, a consagração apoteótica. Um show de cores delirantes, tecnologia, história e muita cultura nas engrenagens que produzem o maior espetáculo da terra: o desfile das escolas de samba. Nascida de reuniões ou "numa roda de célebres amigos bambas", este evento contou com várias manifestações de diferentes origens.
            Brasil 2000 são outros 500. As grandes navegações lançadas ao mar cinco séculos atrás, revelaram ao mundo um tesouro preciosíssimo escondido por entre as florestas, protegido por mistérios mágicos, belezas naturais sem igual, águas cristalinas, que neste final de século início de uma nova Era; necessita repintar sua aquarela na tentativa de solucionar problemas básicos: saúde, educação, moradia, etc. Para tal, precisamos recolonizar nosso chão e confiar na determinação desse povo ricamente dotado de motivos folclóricos, de talentos criador, inspirações musicais. É preciso lutar para garantir nosso espaço no ambiente futurista do mundo moderno; colocar nas mãos dos índios os botões da informática, ao lado deles venham os Arlequins, Pierrôs e Colombinas, nossos irmãos africanos, os "carnalizadores" portugueses. Todos que aqui chegaram forjando história, fazendo folia na eufórica fraternidade do reinado de momo. Criadores do imenso bloco multiracial chamado Brasil, o país do Carnaval.

Bibliografia:

  • Enciclopédia Barsa
    Consultoria Editorial Ltda. 1993.
  • Enciclopédia Britânica.
  • Real Gabinete Português de Leitura Portuguesa.
    Recife – Pernambuco.
  • A História de um Povo. (sociedade brasileira, império e república) Azevedo e Daros.2 São Paulo: FTD, 1988.
    TÍTULO: NUNCA FOMOS CATEQUIZADOS. FIZEMOS FOI CARNAVAL.
    Fragmento do Manifesto Antropófago – Mário de Andrade.

            TEMA: 500 Anos do Descobrimento do Brasil, numa visão carnavalesca e histórica. Da reunião de diversas raças nasce o povo brasileiro, cada qual com sua cultura colaborando para invenção deste, que sem sombra de dúvidas é o maior e melhor carnaval do mundo: o carnaval brasileiro.

Max Lopes

 

SAMBA ENREDO                                                2000
Enredo     Carnaval à vista
Compositores     Pedrinho Messias, José Mendonça e Mingau
Naveguei e cheguei
Bons ventos me trouxeram d'além-mar
Monstros marinhos, tempestades vieram pra me assustar
Ao chegar, festeja o dono da terra
Fui rezar, Primeira Missa e esse solo abençoar

Na Brasilindia melodia curumins
Terra Brasilis e o seu cantar feliz
Toca gaiteiro e espanta a tristeza
Que a festa é tupiniquim e portuguesa
E o cordão que não parava de aumentar
Quem vem pra conhecer, já não quer mais voltar
Margeando o Chico eu vou
Ouvindo a batucada de Sergipe

Bate bumbo, bate Zé Pereira
E sambando venha quem vier
Se deixar eu canto a noite inteira
Mas batuque no terreiro, meu sinhô não quer

Verdade
Se tornou realidade
Enfim o carnaval da liberdade
Pega o tambor, me leva que eu quero ir
Amor vem fazer sorrir

Abram alas Grande Rio vem aí, vem brindar
Lança-perfume pois o baile já vai começar
A praça é nossa e o povo quer sambar

Desperta Brasil!
Eu quero é paz, tristeza nunca mais
Se alguém cuidar da juventude
Oh, pátria mãe gentil
Outros 500 serão nos anos 2000