Luiz Carlos Prestes, o Cavaleiro da
Esperança
Considerações:
O
simples fato de Pablo Neruda. admirável príncipe das letras. não pertencente
a nenhum povo, mas a toda humanidade, ter declamado um poema em homenagem
ao brasileiro LUIZ CARLOS PRESTES e, posteriormente, Charles Chaplin
e Groucho Marx, antológicas expressões da cinematografia mundial, também
terem manifestado simpatia pelo grande líder, numa época em que a sociedade
emergia de um conflito mundial e atravessava um período negro, com receio
de emitir opiniões, é razão suficiente para o G.R.E.S. ACADÊMICOS DO
GRANDE RIO, em pleno gozo de seus direitos de liberdade de pensamento
e expressão, conceber, realizar e apresentar no Carnaval de 1998, coincidentemente
no ano do l° centenário do nascimento de PRESTES, um enredo que poderá
ser considerado a vanguarda de tudo que os historiadores do próximo
milênio registrarão nas páginas da Memória da Nação a respeito da epopéia
realizada por esse brasileiro, comparativamente superior aos feitos
de dois outros grandes comandantes militares - Annibal e Alexandre -
que também se inscreveram na História, com suas marchas memoráveis.
O
inusitado enredo que o G.R.E.S. ACADEMICOS DO GRANDE RIO apresentará
na maior festa popular do mundo, mostrará uma história de amor, determinação
e esperança. Serão focalizados trechos da vida heróica e sofrida de
um brasileiro que amou e se dedicou à sua Pátria. Retrataremos um homem
que se manteve de frente para o seu povo. Considerou e respeitou os
pequenos trabalhadores e seus grandes empregadores.
O
tamanho do seu amor abrangia as propriedades sem distinção de ricos
ou pobres, o complexo fabril, os campos produtivos, as instituições
militares, eclesiásticas e familiar, enfim, o próprio homem que é o
rei e o centro de todas as questões.
Com
este enredo, o G.R.E.S. ACADÊMICOS DO GRANDE RIO não pretende aumentar
nenhum curriculum acadêmico, consciente de que. apesar da lembrança
das datas, poderá ocorrer pequenos equívocos, mas isso não comprometerá
o perfeito entendimento desse período da História.
Feitas
essas considerações, deliberou a nossa Escola de Samba, dentro do seu
estilo irreverente, mas comprometida com a verdade e motivos patrióticos,
colaborar com o inevitável processo de resgate da memória dessa ilustre
figura da História do Brasil e, para justificar a escolha, mostrará
durante a sua apresentação, sem qualquer maquiagem dos fatos, o seu
caráter e a determinação, baseando a concepção e a plástica do tema
em fatos incontestáveis, deixando para o público assistente, cientistas
políticos, estudantes, órgãos de imprensa e, principalmente, o Emérito
Corpo de Julgadores, a emissão de opiniões e conceitos.
É
oportuno registrar que seria impossível seqüenciar todos os acontecimentos
dispostos na exata cronologia e semelhança dos fatos, devido a ótica
de cada um dos historiadores a respeito da obra de LUIZ CARLOS PRESTES.
Faz-se
necessário, antes do relato do conteúdo do enredo, pela emoção que transmite,
a transcrição adaptada de uma parte colhida aleatoriamente de um maravilhoso
trabalho literário que fez parte do álbum confeccionado em sua homenagem,
por ocasião das Comemorações do 30° Aniversário de Fundação do PCB.
“Seu
nome, reproduzido em ecos, corria sobre os campos e montanhas. Inspirava
lendas e canções de entusiasmo e patriotismo, transmitindo esperança
e dignidade aos aflitos e injustiçados.”
Naquele tempo, como ainda hoje, a hipocrisia e debochada propaganda
de massificação da necessidade do conformismo e resignação, idealizada
pelos falsos heróis, beneficiários da sistemática guerra contra a humanidade,
determinou a avalanche da impetuosa força da paz, que só terminará no
Final dos Tempos.
Este
enredo é de fundamental importância, inteiramente voltado para a abertura
de novas fontes de conhecimento da sociedade contemporânea a qual convidamos
para utilizar sua energia e coragem a serviço da pacificação. da felicidade
e bem estar dos povos, objetivo final dos homens rotulados de “Defensores
da Paz”.
Desenvolvimento:
Em
1898, precisamente no dia 03 de janeiro, na cidade gaúcha de Porto Alegre,
nascia mais uma grande figura da nossa História. Filho de um oficial
do Exército, logo manifestou vocação para seguir a carreira militar
e durante a sua passagem pela Academia de Realengo destacou-se como
excelente matemático, e sendo de formação liberal jamais recusou dividir
os conhecimentos dessa ciência exata com os seus companheiros. Naquela
época já demonstrava espírito de solidariedade, atitude que conservou
durante todos os acontecimentos em que esteve envolvido ao longo dos
anos.
Dotado
de incomum inteligência, passou a estudar e se interessar pelo curso
da política nacional para compreender a situação sócio-econômica do
Brasil, acabando por reconhecer que o País encontrava-se fora dos padrões
e que alguma providência deveria ser tomada em favor da classe menos
assistida - o PROLETARIADO.
Ao
final da grande revolução realizada na Rússia, em outubro de 1917, que
chamou a atenção mundial, os dirigentes do grupo vitorioso ocuparam
o poder. Inspirados por esse acontecimento, anos depois, líderes brasileiros,
fundaram o partido formado por homens do povo, e até ai tudo corria
bem. Enquanto isso, Prestes estudava e se tomava um teórico.
Os
acontecimentos despertaram a atenção de um pequeno mas atuante grupo,
frontalmente contrário a nova força emergente da política nacional.
Assim, aproveitaram-se do movimento armado de 05 de Julho de 1922, iniciado
no Forte de Copacabana, no Rio de Janeiro, conhecido como os “18 do
Forte”, para depredarem a sede da nova organização política.
Esse
movimento, realizado por 18 idealistas, pode ser inserido na história
dos movimentos militares ocorridos em todo o mundo, como o mais insólito,
sem precedentes, só possível acontecer no bairro de Copacabana, ainda
hoje o mais boêmio e instigante pelo tamanho das realizações, verdadeiro
feudo do imponderável e da utopia.
Outro
movimento, também de grande repercussão, é oportuno lembrar, porém menos
preocupante - A SEMANA DE ARTE MODERNA - era deflagrado em 1922. Mesmo
apreensivo, face aos acontecimentos políticos, o povo visitava os salões
de exposições, para apreciar objetos de arte e quadros assinados por
artistas de renome internacional, o que serviu para aliviar as tensões.
Com
cautela, o povo organizava bailes nos grandes clubes e chás beneficentes.
Enfim, o tempo era de modernismo e a sociedade burguesa aproveitava
as delícias da “Bela Época”, enfeitada por lindas e elegantes mulheres,
as “melindrosas”, de saudosa lembrança, apesar da efervescência do período.
Seguidos
desentendimentos e posicionamentos radicais de lideranças contribuíram
para a organização do segundo levante, exatamente no dia 05 de julho
de 1924, dois anos depois.
A
situação crescia de intensidade, obrigando a interferência pessoal de
Prestes, em Santo Ângelo, Rio Grande do Sul, em outubro do mesmo ano,
quando demonstrou a sua liderança e definição política, chefiando uma
força de dois mil homens na Região Missioneira. Continuando à frente
dos revolucionários, inúmeras vezes viu-se cercado por tropas do Governo,
superiores em número e melhor equipadas. Comprovando a sua posição de
matemático e estrategista, identificou o ponto vulnerável existente
no anel envolvente das forças contrárias e investiu sobre elas, travando
e vencendo o combate de Ramada, no dia em que completou 26 anos de idade.
As
tropas revolucionárias eram predestinadas a grandes vitórias. Fustigadas
pelas forças de um outro respeitado Chefe Militar, o Cel. Claudino Nunes
Pereira, os revolucionários executaram um surpreendente e audacioso
movimento para aliviar a pressão exercida sobre os companheiros, tomando
o inesperado acesso que conduzia à região de Foz do Iguaçu, deixando
as forças que fechavam o anel frente uma da outra, fazendo parecer que
se defrontavam com o oponente, o que causou um violento combate com
perda considerável nas duas forças do Governo.
Apenas
para ilustrar este enredo, sem qualquer tentativa de formar opiniões
ou concluir pelos erros ou acertos de Luiz Carlos Prestes, lembramos
que ele protagonizou uma das maiores e inesquecíveis páginas da História
Militar Mundial. À frente da sua Coluna realizou constantes deslocamentos,
percorrendo a maior distância que a história registra, aproximadamente,
36 mil quilômetros, impondo sucessivas derrotas a mais de uma dezena
de generais, auxiliados por “coronéis” do interior, que chegaram a formar
uma força de 100 mil homens para confrontar com a Coluna Prestes.
Historicamente,
todos os grandes movimentos, independentemente dos erros ou acertos,
produzem resultados. No caso da Coluna Prestes serviu para retirar o
imenso manto que encobria o Brasil. Os seus seguidores, nascidos nos
centros mais adiantados, passaram a conhecer a verdadeira realidade.
Viram, diante de si, o Brasil que desconheciam. Encontraram um povo
sem qualquer identidade e benefícios, explorado pela minoria detentora
da terra -não se sabe adquirida de quem - e dos meios de produção.
Os
contatos diretos com a população sofredora do País, fazia crer que a
Coluna marchava no caminho certo. A medida que penetrava no sertão e
encontrava novos núcleos recebia mensagens silenciosas transmitidas
pelos olhares, suplicando para que não depusessem as armas enquanto
medidas radicais não modificassem completamente aquela indisfarçável
verdade. Entretanto, o empreendimento suplantava a capacidade e a resistência
humana. A reflexão, o bom senso e as circunstâncias, levaram os Comandantes
da Coluna à compreensão de que seria insensatez prolongar a marcha com
a finalidade de substituir homens no poder, quando o importante seria
modificar o sistema vigente em todo o País e isso exigiria uma marcha
equivalente em distância, a várias voltas em torno da Terra, para atingir
a sua finalidade. Mais eficiente que a luta armada, seria conscientizar
o Homem para usar o pensamento como arma, e isso, certamente, levaria
a uma solução sensata.
A
Coluna Prestes, apesar de tudo, continuou a sua marcha vitoriosa de
outubro de 1924 até fevereiro de 1927, quando ingressou na Bolívia,
obtendo asilo político.
Este
foi um tempo tranqüilo e sereno da vida de Prestes, até por uma questão
de respeito ao País que lhe concedeu asilo.
A
convivência com aquele povo deu-lhe um maior conhecimento e maturidade.
Mesmo à distância, preocupava-se com a situação brasileira e na oportunidade
em que esteve em Buenos Aires, em maio de 1930, lançou um manifesto
que causou extraordinária repercussão entre as massas proletárias do
País.
A
elaboração literária do texto, demonstrou que o autor, além de excelente
estrategista, também era profundo conhecedor da política, da sensibilidade
humana, das suas fraquezas, ambições e egoísmo.
Em
1931, passou pela União Soviética decidido a observar e estudar a essência
do socialismo, tomando-se um teórico, e os seus conhecimentos foram
empregados no Brasil.
No
ano de 1934, o acontecimento de maior significado, a feroz reação de
Vargas contra as massas populares, obrigou a filiação de Prestes no
PCB. O alistamento garantiu ao partido a adesão do maior líder da América,
dando novo e decisivo impulso ao processo revolucionário brasileiro.
Treze
anos depois do movimento dos “18 do Forte”, mais uma vez levanta, simbolicamente,
a bandeira do social-liberalismo, opondo-se à ditadura fascista que
tentava liquidar os últimos direitos democráticos do povo brasileiro.
De um lado, o integralismo como vanguarda da opressão. De outro, todos
os participantes da Aliança Nacional Libertadora, defendendo o direito
de livre pensamento e terra para o povo produzir.
O
desdobramento da situação obrigou Prestes, mais uma vez, a se colocar
à frente de um movimento armado.
Inteiramente
alheia ao direito do povo escolher seu próprio destino, ideologia e
filosofia de vida, a força reacionária fascista, autorizada por Vargas,
atira-se contra o símbolo da liberdade - Quartel da Praia Vermelha -
iniciando um bombardeio sem precedentes, nas guerras civis brasileiras.
A derrota imposta aos partidários da aliança, encerrou o ciclo dos movimentos
armados liderados por Luiz Carlos Prestes, dando início ao movimento
do pensamento.
O
aniquilamento da revolução de 1935, encorajou a ditadura atirar-se contra
os remanescentes do levante, chegando até onde se encontravam Prestes
e sua corajosa mulher Olga.
A serenidade e a altivez com que se apresentou diante dos agentes da
temida Polícia Especial de Vargas, comprovou que atrás de um grande
homem, sempre caminha uma grande mulher. Olga foi uma heroína, e as
gerações futuras, menos intoxicadas pelo confuso sistema político brasileiro,
resgatarão a sua memória e colocarão o seu nome na Galeria das Heroínas
deste País.
O
tempo decorrido, da prisão, até 18 de abril de 1945, data da libertação
de Prestes, foi de total sofrimento. Qualquer outro mortal, por mais
resistente e acostumado a fortes emoções seria aniquilado. No caso de
Prestes, serviu para rotulá-lo como o “Cavaleiro da Esperança”.
Dentre
os grande golpes sofridos, certamente, o que pôs à prova a sua capacidade
de resignação foi a humilhante deportação de Olga para a Alemanha Nazista,
sem qualquer crime cometido, devido apenas à sua origem judia, culminando
com a sua morte, na câmara de gás em 1942.
Ainda
em 1945, deu prova da sua popularidade, obtendo nas urnas a maior votação
registrada em toda a história política do país, para um mandato de Senador.
Enquanto exercia o mandato, durante o governo de sua Excia., o Senhor
Marechal Dutra, o PCB foi declarado ilegal, ocasionando a sua cassação
e uma nova prisão. Doze anos depois as manifestações populares repercutem,
garantindo a revogação da prisão e o seu retorno às atividades políticas.
A
marcha da vida, por mais amarga que seja, as vezes permite momentos
de felicidade. Um dos poucos vividos por PRESTES, foi o casamento com
MARIA, em segunda núpcias, na década de 50. Frutos dessa união ainda
vivem, e um deles, LUIZ, na qualidade de convidado especial, receberá
em nome do pai, durante a marcha da Grande Rio, no Carnaval/98, as justas
homenagens dos brasileiros.
Outro
movimento, a Revolução Musical, não armada, porém mais barulhenta, codinome
TROPICALISMO, iniciado na década de 60, foi precursor da revolução artística
musical dos dias de hoje.
Por
ter alterado o comportamento e as tradições do povo brasileiro, da mesma
forma que a COLUNA PRESTES, medidas as proporções, o movimento será
lembrado pela característica revolucionária através da música, de reivindicações
da atuante e politizada juventude brasileira de hoje, os respeitáveis
senhores de amanhã.
A
Marcha de agora. a inexorável do tempo. chega até o ano de 1964, quando
irrompeu um movimento em todo o país, que afastou várias lideranças
do quadro político nacional. Sem qualquer alternativa, Prestes optou
pela clandestinidade e foi condenado à revelia.
Em
1971, obtém asilo e viaja para a União Soviética, passando, também,
segundo notícias veiculadas, pela República Popular da China, sendo
agraciado com uma condecoração do Governo daquela República, fato que
foi amplamente divulgado por toda a imprensa mundial. Apenas no Brasil
poucas pessoas ficaram sabendo da distinção que foi conferida ao Capitão
brasileiro LUIZ CARLOS PRESTES. Oito anos depois é anistiado e retorna
ao Brasil. No ano seguinte, as negociações partidárias acabam por exclui-lo
do PCB.
Neste
mesmo ano, a 07 de março deixa o mundo físico e ingressa no espiritual,
transferindo para a posteridade, como legado, o tesouro que representa
o título que mereceu em vida: “CAVALEIRO DA ESPERANÇA”.
Depois
de demorado processo, no começo da década de 90, recebeu do Governo
Brasileiro o posto de Coronel, que exerceu, em verdade, em toda a sua
vida.
Indiscutivelmente,
a vida de Luiz Carlos Prestes, marcou um período da História do Brasil
e no ano do primeiro centenário de nascimento, receberá a maior homenagem
que pode ser prestada a uma figura de expressão brasileira, - a declaração
de amor e respeito através do desfile de uma Escola de Samba - representada
por 4 mil companheiros de marcha, no maior palco linear do mundo, para
a maior platéia, considerando-se também as transmissões das televisões
para o País e para o exterior.
No
simbólico “Programa do Espetáculo”, será proposto a público, a título
de colaboração para a evolução da característica dof desfiles, a seguinte
questão marcando cada um dos assistentes, a resposta que encontrar na
própria consciência, depois da leitura das considerações finais:
Os
fatos ocorridos na União Soviética, no início da década de 90, culminando
primeiramente com a chamada “Queda do Muro de Berlim” e, mais recentemente,
a divisão territorial, cultural e política do Grande Gigante, nos obriga
a fazer urna única indagação! Se pudéssemos recuar no tempo, teria valido
a pena organizar a Coluna e os demais movimentos armados, relacionados
com a era Prestes? Essa é a questão!
O
objetivo da Escola, mais que opinar ou fazer história, é prestar homenagem
a um Homem de cuja obra não nos atrevemos emitir qualquer opinião. Os
seus atos serão justificados ou não, conforme já dissemos, pelos historiadores
do próximo milênio.
De
nossa parte, os episódios serão abordados, de modo irreverente, típico
do Carnaval, sem qualquer paixão, apenas indagando para a orientação
da própria comunidade, dos meios políticos e culturais, que nos darão
a honra de apreciar o mérito do nosso trabalho, se é lícito ao homem,
nos dias atuais, participar de qualquer movimento que não seja da palavra
e da razão.
Os
tempos do brandir das armas, já vão distantes. A moderna sociedade brasileira,
menos beligerante, porém melhor armada espiritualmente, deve fazer da
mesa de negociações, preferencialmente redonda, para que ninguém ocupe
lugar de destaque, o campo para confronto de idéias, do qual ninguém
deverá se afastar apregoando vitória, menosprezando o oponente, que
se declarar disposto a aceitar a proposta mais sensata e que resulte
em beneficio de ambos os lados, qualquer que seja a característica da
MARCHA, que tiver de ser realizada de DUQUE DE CAXIAS até a MARQUÊS
DE SAPUCAÍ.