FICHA TÉCNICA 1994

 

Carnavalesco     Lucas Pinto
Diretor de Carnaval     ............................................................... 
Diretor de Harmonia     ...............................................................
Diretor de Evolução     ............................................................... 
Diretor de Bateria     ...............................................................
Puxador de Samba Enredo     ............................................................... 
Primeiro Casal de M.S. e P. B.     Ronaldinho e Ivone
Segundo Casal de M.S. e P. B.     ............................................................... 
Resp. Comissão de Frente     Renato
Resp. Ala das Baianas     ...............................................................
Resp. Ala das Crianças     ............................................................... 
Resp. Galeria de Velha Guarda     ................................................................

 

SINOPSE 1994

Os santos que a África não viu

Sinopse:

          Dentre as maiores manifestações vindas do passado histórico brasileiro, a umbanda retém o passado religioso dos cultos que se sincretizaram numa manifestação de fé viva e cultural de nosso povo. Existe no culto de umbanda, proveniente do catimbó, que reuniu os mais diversos tipos de fé, imigrantes neste continente e em especial do candomblé, a figura do conhecido malandro e popular chamado Zé Pelintra. Cantadores e repentistas do norte e nordeste, cantam em prosa e versos sua existência e certas passagens de sua vida. Aliado à figura do bom malandro, ele sobrevive até hoje na cabeça do sambista que tem nele um santo protetor, influenciando, inclusive na maneira de vestir-se. Os sambistas mantêm viva sua memória de repicador, prosador, bom malandro, sambista, capoeirista, rei da noite e protetor dos humildes que acreditam que, “apesar de tudo, nada está perdido”.
          “Sou Zé. Conhecido popularmente como Zé Pelintra, bom malandro, contador de história do meu povo e cantador daquilo que acredito que é verdadeiro. Um dos principais fundadores do catimbó brasileiro que gerou o que vocês conhecem de umbanda.
          Eu sou Zé, malandro de fé e fé no meu Ogum – Ogum Africano, o São Jorge guerreiro que protege a mim e a todo bom malandro existente. E eu vou contar pra vocês a história que eu sei, a meu modo de contar, desse meu santo de fé, Ogum guerreiro. Não  sei dizer quando isso aconteceu, mas sei que o comércio de escravo já era perseguido e condenado pelo mundo  afora, mas aqui no Brasil, ainda se mantinha a escravidão. Meu pai Ogum vivia numa África com um passado histórico, onde nele viveram faraós egípcios com seus cultos e divindades ligadas ao tempo, à natureza, à fauna é à flora. Nessa África também existiam reis árabes, sheiks do deserto, tuaregues, berberes, que cultuam uma fé islâmica. Eram reis ricos em ouro, em cultura e fé e meu pai Ogum também era rei nesse velho continente, numa África negra rica em ouro, minério, mistérios, cultura e arte. Seu povo era alegre e livre, viviam da agricultura, conheciam os metais, tinham suas próprias  crenças, sua cultura e arte própria. Por essa África negra sempre ecoaram os tambores, símbolo da nobreza de seus reis e potentados. Um dia, e eu não sei como, esses tambores começaram a emitir sons diferentes. Sons traidores que levaram meu pai Ogum a ser capturado e entregue à pirataria do comércio de escravos. Meu pai Ogum entregue a esse povo estranho que o jogou no porão de um navio negreiro, conhecido sugestivamente como tumbeiros que eram realmente túmulos móveis.
          Sem nenhuma norma de higiene, meu santo protetor foi jogado nesses porões infectos e com péssima alimentação. Muitos de seus irmãos negros sucumbiram no decorrer desta maldita viagem, quando não pela doença do sono, chamada de banzo, que os faziam delirar, pelas estórias que ouviam contar das embarcações que se enroscavam nos cabelos de Netuno e Sereias do Mar, monstros marinhos que atacavam os navios, destruindo-os e devastando toda a sua tripulação. Ele também viveu essa febre. Era um negro, um rei Ogum, um escravo atado às correntes deste navio negreiro que atravessou um oceano em direção a um continente desconhecido.
          Descarregado nas costas do Brasil como carga humana, meu pai foi parar nas mãos dos ciganos, responsáveis pelo comércio de escravos. Por eles meu pai Ogum foi bem tratado, pois valia bom peso em ouro, tinha conhecimento dos metais, da agricultura, era forte, tinha bons dentes (escolhia-se escravos como cavalos) e não era preguiçoso como os índios, donos da terra, que também estavam escravizados. Meu pai Ogum conviveu certo tempo com esses ciganos antes de ser comercializado. Aprendeu, como todo escravo que conviveu com os ciganos, o trato da cartomancia, a leitura da mão, a ver na bola de cristal e conhecer as estrelas (práticas até hoje mantidas nos terreiros de umbanda).
          Com os ciganos, meu santo guerreiro teve os primeiros contatos com o catolicismo, conhecendo as imagens dos santos católicos que os ciganos usavam como talismãs, cobrindo-os de enfeites ao receberem as graças pedidas ou sendo desprezados, ou até mesmo recebendo castigo (a imagem posta de cabeça para baixo, decepando parte dela, quando as graças não eram recebidas).
          Mais tarde, meu santo Ogum foi vendido a um senhor para os trabalhos em sua fazenda. Lá, foi para as lavouras de cana e café. Dentro da senzala encontrou-se com outros negros, inclusive irmãos seus de tribo que o reconheceram como rei. Na senzala, esses negros velhos praticavam uma fé bem brasileira, que misturava além do culto africano malê, o culto dos pajés brasileiros, o catolicismo que sincretizava as imagens católicas aos orixás africanos numa fé misturada, chamada de catimbó ou macumba – um culto enraizado pelos cultos das tribos mandês e malês por meio dos quais já veio para cá impregnado da forte influência maometana. Eram conhecidos como grandes feiticeiros e de certa forma temidos, estando mesmo já incorporados ao dialeto brasileira da palavra mandinga no sentido de despacho, feitiço, coisa feita. Não trazendo consigo, como os árabes do deserto, um fio de barba do profeta, esses negros tinham talismãs – trechos das suratas do alcorão copiados em pedaços de papel e metidos num pequeno saco, pendurado no pescoço, mesclando ao hábito católico dos escapulários, ao hábito banto dos iteques ou até mesmo os muiraquitãs ameríndios. Esses breves atravessarão séculos. Afinal, quem não tem seu patuá [breve]?
          Meu santo padroeiro participou das festas populares brasileira como os moçambiques, festas de reisado. Foi coroado como rei no Brasil, dançou capoeira, exercitando seu corpo para a luta e manutenção física do corpo. Era inegável a importância desses pretos-velhos na perpetuação dos cultos afros no Brasil, mesmo que sincretizando a outra fé.
          Na senzala, meu pai Ogum, convivendo com os índios donos da terra, conheceu também a pajelança que se associava ao culto do catimbó pela identidade com o culto dos mortos promovido pelos feiticeiros africanos de igual efeito. O culto constituía-se em  aprisionar  a forças malignas junto aos pajés ou feiticeiros libertando seus crentes dos males que os afligiam (práticas existentes até hoje nas giras de cura promovidas pelos caboclos). Nas giras de caboclo, meu pai Ogum conheceu os bravos caboclos guerreiros que eram cultuados como deuses pelas suas provas de bravura e coragem. Entre tantos caboclos, Ogum conheceu os caboclos de pele-vermelha com forte influência ameríndia, como o caboclo Pena Branca, o Serra Negra e outros como o caboclo Jurema, importantes na iniciação ao culto dos candomblés de caboclo ou mesmo de umbanda que virá mais tarde a se formar nesta terra. Conheceu também Tupã, Deus Brasil, criado pelos jesuítas para a evangelização dos índios no Brasil e adotado por esses mesmos índios como o Deus do trovão. As lendas e estórias desses caboclos eram lindas e suas vidas tão cobertas de glórias que dos seus encantos meu pai Ogum se encantou em Ogum rompe-mato e passou dos cultos caboclo  ao lado desses bravos guerreiros.
          Em fevereiro, meu Ogum protetor participou das festas das águas em homenagem a uma deusa morena de corpo esguio e seios fartos de nome Yara, Janaína, também chamada de Iemanjá. Diferente fisicamente da Iemanjá africana, mas com as mesmas funções de mãe protetora de todos. A ela meu pai Ogum rendeu suas homenagens, foi à procissão das águas, conheceu Martim, pescador conhecido nas rodas de umbanda como “seu marinheiro”. Meio pássaro, meio peixe é um exu do mar, responsável por levar as mensagens do povo da terra ao povo do mar. Desse exu, meu Ogum guerreiro ouviu as lendas do mar, conheceu os seres do fundo do mar, sereias, ninfas e nereidas e dessas lendas, Ogum se encantou em Ogum sete-ondas, Ogum beira-mar.
          Participou também de uma festa que por muitos anos se perpetuará neste imenso Brasil – a festa dos santos gêmeos que acontece em setembro. Aqui conheceu um terceiro santo de nome Doum, tipicamente brasileiro. Sincretizado com os santos Cosme e Damião, esses três santos têm uma falange muito definida e independente com crianças de nomes populares como Mariazinha, Pedrinho, Joãozinho e outros. Essas crianças chamadas de beijadas lembram os erês africanos, porém com grandes diferenças, como, por exemplo, ao invés de gostarem de comidas de sal, nossas beijadas têm predileção por doces de guaraná, bebida típica dos índios brasileiros. Os brinquedos são verdadeiros talismãs para essas entidades que depositam neles os pedidos dos devotos dessas crianças que trabalham brincando e brincando promovem suas caridades afastando as mazelas daqueles, que em seu dia, oferecem sacos de doces e presentes às crianças que batem de porta em porta na intenção dos santos gêmeos. A esse Doum, cativou-se meu pai Ogum e foi de Doum, seu protetor nas cantigas dos santos gêmeos.

... Cosme, Damião
Damião, cadê Doum
Doum foi passear
No cavalo de Ogum

                   (Domínio Popular)

          Através dessas práticas religiosas o catimbó foi formando-se como uma religião forte e aos poucos ganhando fiéis adeptos que procuravam, nos conselhos experientes dos velhos escravos, soluções para as dificuldades de suas vidas. Essa seita cresceu e crescerá mais ainda rompendo barreiras dos preconceitos raciais. Ela se transforma em uma seita dividida em sete linhas e cada linha entregue a um orixá africano para a manutenção do culto na sua verdadeira raiz. Ela originará a umbanda brasileira e será a segunda maior religião deste país. Mais tarde, com a chegada de um espiritismo científico, defendido por Allan Kardec, apresentará a verdadeira imagem do orixá Exu, que, castigado pelo sincretismo vivera grande tempo comparada com a figura do diabo (figura que representa o mal). O espiritismo Kardecista viria despir os Exus das imagens demoníacas impostas a eles e os explicaria como o verdadeiro intermediário entre a terra e as divindades espirituais do plano superior.
          Passou-se, então, a vestir os Exus, daí para frente, com as roupas da época (1804 – 1869), como se pode constatar nas imagens dessas entidades vestindo capotes, cartolas (Exu Tranca Rua das Almas) ou vestidos de rendas como as demoiselles do século passado (Maria Padilha) com certo toque sensual, pois afinal Exu é o orixá da malineza, da sexualidade e aqui ele foi vivente e há provas de sua existência como eles mesmos dizem estar retratados sobre cavalos entregando por sobre os peitoris de varandas os lenços das demoiselles que agradecem sobre uma paisagem de lua cheia.
          Aqui o Exu típico brasileiro viveu como boêmio, malandros de bom coração ou donas de bordéis, não importa. Dama, cortesã, vagabundo, de vida pregressa duvidosa discutível, foi levado ao plano espiritual e estando lá, conheceu a verdade da caridade e do bem e passou a descer nos terreiros para a prática do bem e da caridade, como reparação da vida passada (explicação dada para os transes espirituais). Ogum compreendeu suas dores como rei e através de suas histórias encantou. Ogum de Ronda para que pudesse com eles vencer as batalhas que a eles fossem legadas cumprir e a partir daí, sob sua bandeira todos os Exus, trabalharão. E é justamente nesse ponto da historia em que me deparo com meu pai Ogum, meu santo padroeiro, meu São Jorge guerreiro que me cobre e me guia por ser um dos mais importante e antigo Exu brasileiro. Sou conhecido como Zé Pelintra – rei do catimbó. Vivi no Brasil, fui visto e conhecido no nordeste brasileiro; conheci a Lapa carioca, rodei nas rodas de samba. Boêmio, bom malandro, de andar balanceado, sou o próprio urubu malandro, carteador, repinicador, bom de capoeira, sou a figura viva do sambista. Sou jongueiro, conheço tudo de catimbó, da raiz de umbanda sou rezador, plantei raiz no Juremal e no solo brasileiro, e até hoje volto na imaginação simples, dos povos que acreditam que de tudo que haja, nada está sendo perdido totalmente”.

A Orêrê Aiê Orixá Loman
Iá Ochê Egbeji Orêrê, Aiê.

          Tradução: No mundo, nada está oculto de Deus.

Lucas Pinto

Roteiro do desfile:

Comissão de Frente
          A Comissão de frente da Grande Rio veste-se como o conhecido e popular Zé Pilintra (malandro que caracteriza a figura do sambista), envergando sobre os ombros a noite que lhe pertence para contar a estória de seu santo de fé OGUM, sincretizado no Brasil na figura de São Jorge. Através dessa linda estória espera-se dar documento e conhecimento de como esse OGUM conheceu a Umbanda Brasileira derivada do catimbó, uma fé que começou no Nordeste somando em si a mistura dos cultos ciganos, católicos, indígenas, africanos, e que, posteriormente, criou as suas próprias imagens e cultos.

Carro 1 – Abre-Alas
          1 – Carla Reis, A Preferida do Zé
          2 -  Almir Guineto, Zé Pilintra

          O carro Abre-Alas apresenta-se cercado de pandeiros – instrumento usado pelo repentista Zé Pilintra para contar a estória de seu santo de fé. A Coroa “Ducal” (Duque de Caxias) projeta-se acima do centro do carro (um enorme pandeiro sobre o qual estende-se a bandeira raiada da Agremiação), sob a Coroa Ducal, uma coroa Africana cujos ponteiros são feitos com negros e negras que conduzem em suas mãos o Pavilhão da Grande Rio.
          Tendo em vista que o enredo é com temática africana, a Coroa foi revestida em palha com flores ornamentais executadas em buchas de banho e detalhes em corda de sisal valorizada por espelhos, os trevos receberam tratamento carnavalesco de luxo, sendo revestidos de paetês e espelhos. No fundo nota-se a cor azul não pertencente à agremiação, mas a OGUM que domina a cor azul em sua linhagem africana e a quem se refere o malandro Zé.
          Esse OGUM está retratado nas esculturas no fundo do carro, carregando em suas mãos três gigantescos platôs. Convêm explicar que OGUM na África, veste a cor azul e na Umbanda suas cores são verde, o vermelho e o branco. Como efeito de movimento e luz, a Coroa giratória traz o nome da agremiação em neon, os pandeiros possuem lâmpadas em seqüencial dando movimento às palinetes.

Setor 1 – África Culturaç – “África misteriosa África”

          Seu Zé conta que Ogum, o seu santo de fé, nasceu e até certa época viveu numa África rica, onde seus antepassados também eram ricos em seus potentados, convivendo política, social e culturalmente com outros povos desse mesmo continente. Nessa mesma África onde Ogum nasceu, também viveram os faraós do Egito, os árabes, os sheiks do deserto, conhecidos como Tuaregues, e os Berberes responsáveis pela infiltração do Islamismo por toda a África, influenciando inclusive os próprios cultos africanos.

  • Ala Arco-Íris – Egípcios

  • Ala Rio das Flores – Árabes

  • Ala Drag – Tuaregues

  • Ala Três Rios – Bérberes

  • Frente do carro – 2 Passistas

Carro 2 – África Cultural

          A Alegoria dividida em quatro partes apresenta os quatro povos mais influentes na história do continente africano. Tendo ao centro um platô aparado por quatro chifres que projeta-se mais alto, conduzindo a representação de um chefe africano.

1 – Nego – Chefe Africano
2 – Eduardo Luís Mariano – Faraó
3 – Carla Faial – Princesa Árabe
4 –Idalino Alves, Dadá – Sheik do Deserto
5 – Jorge Medeiros Moreira – Chefe Berbere

Setor 2 - “... magia, no rufar de seus tambores se fez reinar...”

          A África negra, rica em toda sua extensão, abrigava várias tribos africanas e seus potentados, que eram representados por seus atabaques. Aí também viveu o santo guerreiro de seu Zé – Ogum.
          Uma tribo rica em arte, cultura, crença e força.

  • Ala Tuiuiu – A dança das tribos]

  • Ala Oiamatamba – A raiz D'Ogum

  • Ala das Baianas – Arte e cultura

  • Ala Paulo 10 – Reis africanos

  • Ala Raízes – A força de um povo

  • Frente do carro – 2 Passistas

Carro 3 – África Negra

          A alegoria n° 3 denominada África Negra apresenta uma cenografia de fauna e flora africana. O carro é todo executado em espuma. A pintura de arte transforma essa mesma espuma em pedra e árvores. Folhagens de nylon e etaflon dão aspectos da floresta cerrada da região onde viviam essas tribos. Ao fundo, três atabaques (rum, remi e lê), representam o símbolo do potentado dos chefes africanos (quanto maiores os atabaques, maior o domínio da tribo). Um dispositivo de água cria na alegoria a idéia de um lago, onde uma mulher negra toma banho numa cachoeira. As esculturas da fauna são em isopor, e tem as dimensões verdadeiras dos animais representados.

1 – Destaque Central – Jurandir – Fantasia: Ogum Africano
2 – Semi-Destaques – Paulo André e Roberto – Fantasias: Príncipes Africanos
3 – Destaque da Cachoeira – Ana Cristina Guinle – Fantasia: Mistério Africano
4 – Destaque do Lago – Ana Beatriz (Modelo) – Fantasia: Princesa Africana

Setor 3 - A viagem

“... raiz que se alastrou por esse imenso Brasil
terra dos santos que ela não viu.
Da negra terra é lei,
vem o meu negro rei,
Ogum de fé que neste solo se encantou...”

          Aprisionado e jogado num navio negreiro, Ogum atravessa o Oceano Atlântico nos porões infectos de um tumbeiro. Ogum ouve as lendas que os capatazes contam no intuito de inibir qualquer rebelião. Sofrendo do banzo, a doença do sono, Ogum delira em pesadelos, vendo o navio enroscar-se nos cabelos de Netunos e Sereias, e sendo atacado por estranhos seres do mar.

  • Ala Amor à arte – Polvos e cavalos marinhos

  • Ala Alô alô Santa Rosa – Jacarés do Nilo

  • Ala da Comunidade – Netuno e sereias

  • Ala Guerreiros D'Ogum – Caranguejos

  • Ala do Bira – Peixes das profundezas

4° Carro – Navio Negreiro – “A viagem”

          A alegoria n° 4 apresenta um momento de tormenta, onde um navio com negros escravizados luta contra um ataque de sereias, Netuno e seres do mar. É o próprio delírio da febre do banzo que o santo de fé de Seu Zé sofreu na travessia do Oceano.

1 – Destaque Central – Simone – Fantasia: O Canto Tentador da Sereia
2 – Destaque Lateral – Eduardo Gonçalves – Fantasia: Monstro Marinho
3 – Destaque Lateral – J. Moraes – Fantasia: Monstro Marinho

Setor 4 - “no mercado de ciganos lhe venderam ao senhor. Do tumbeiro à senzala seu lamento ecoou”

          Desembarcados em solo brasileiro, o negro Ogum é entregue aos ciganos, que irão vendê-lo aos senhores de engenho.
          Enquanto isso, ele irá viver junto aos ciganos e adquirirá alguns costumes. Identifica-se com a cartomancia e a quiromancia. Observará que o elemento fogo é tão importante em seu culto como nos cultos africanos, receberá as primeiras informações do catolicismo, através da catequização que vem sofrendo os ciganos.

  • Ala Amigos da Grande Rio – Cultura cigana

  • Ala Nobre – Sincretismo

  • 1° Casal de Mestre-Sala e Porta-Bandeira – Ronaldinho e Ivone
    Fantasia: O sincretismo religioso

  • Rei da bateria: Zé Reinaldo – Coreógrafo

  • Bateria: A Bateria representa o sincretismo de fé dos santos africanos com os santos católicos.

  • Carro de som

  • Ala de Passistas

  • Ala da Comunidade – Pirâmides

  • Ala Saracuruna – Cartomancia

Carro 5 – Ciganos

          O Carro n° 5 – Fetiches Ciganos – apresenta uma enorme fogueira com componentes usando roupas inspiradas nas vedas de fogo, numa homenagem do destino e seus pontos chaves. Foram absolvidas pelos negros e integradas à fé da umbanda (prática até hoje executada nos terreiros de umbanda). As cartas de reis, valete e damas, que em sua maioria definem nas cartomantes de umbanda a identificação do orixá regendo o consulente. A bola de cristal, símbolo da adivinhação (um paralelo com os búzios africanos).

1 – Destaque Principal – Wilma – Cigana

Setor 5

“Plantou caiana, socou café
Pilou dendê, pra benzer filho de fé
E no culto de male
Preto velho catimbó” ...

          Vendido ao senhor, conta seu Zé, meu santo guerreiro vai trabalhar nas lavouras, e ao chegar na senzala encontra-se com outros negros, até mesmo os de sua tribo que vieram antes dele. Ao entrar na senzala, é reconhecido como rei pelo seu povo e será coroado nas folias e festas populares, conhecerá as igrejas construídas por eles próprios para o culto do sincretismo que adotaram para manter viva as suas raízes.
          Dentro da senzala, Ogum encontra um culto novo, calcado nas origens africanas, porém misturados a outros cultos, como a pajelança e o catolicismo, esse novo culto denominado catimbó, é praticado e orientado pelos pretos velhos mandingueiros, responsáveis pela perpetuação da fé e temidos pelos brancos.

  • Ala Ojuobá axé – Escravos no trabalho

  • Ala da Comunidade – Festas populares

  • Ala da Comunidade -  Folias e Reisados

  • Ala Folia de Reis

  • Ala Capoeira

  • Ala Jongo

  • Ala das Baianas – Pretas-Velhas

Carro 6  – Pretos Velhos

          O Carro n° 6 mostra o aspecto do negro em seu trabalho na lavoura.
          É importante observar que foram colocadas na alegoria esculturas de negros trabalhando e outros com fantasias ao invés de figuras vivas. Tal colocação é proposital no intuito de fazer-se observar a essência desse povo que sonhava com a liberdade, pois a mão que empunha o facão no movimento do corte da cana é a mesma que empunha a espada nas congadas e maculelês. O pé que pisa o chão duro na lavoura é o mesmo que dança nas festas populares. No centro do carro, a reprodução de um púlpito de igreja mostra a arte que brotava na cabeça e nas mãos desse povo embrutecido pela escravidão, que construíam as igrejas para o culto dos santos sincretizados. Ao fundo, três gigantescas baianas rodam com as coroas de folia, na representação da coroação de um rei africano, escravo no Brasil. A partir deste setor, Ogum começará a encontrar entidades de naturalidade brasileira, cultuadas pelos negros, como os próprios  pretos velhos.

Destaques Principais:

  • Hércules dos Santos -  Fantasia: Ogum Coroado

  • Elenice – Fantasia: Folia

Setor 6 - “De um povo morenado conheceu caboclo bravo fascinado por Tupã”

          Eram também escravos nessa senzala, os índios, os donos da terra. Porém muito preguiçosos para o trabalho, eles cultuavam os mortos e possuíam seus feiticeiros. Esses rituais vieram a se somar ao catimbó, com o nome de fira de caboclos.
          Aí, Ogum conhecerá as lendas de grandes guerreiros, bravos caciques que são adotados e adorados como deuses, e dessas lendas Ogum se regozija e encanta-se em Ogum Rompe Mato, passando a baixar nas giras de caboclos, ladeados por esses grandes guerreiros, como: Seu Águia Branda, Pena Branca, Tupinambá, Juremas e outros. Conhecerá Tupã, deus do Brasil – um santo criado pelos jesuítas para doutrinação dos índios brasileiros. Conhecerá também as caboclas tapuias da raiz do Juremal e que até hoje trabalham na linha de Zé Pilintra.

  • Ala dos cadetes – Caboclos Amerindus

  • Ala Vira vira – Caboclos Jurema

  • Ala Oba oba – Tupã Deus do Brasil

  • Ala Sem preconceito – Ogum Rompe Mato

  • Ala Gatos e lagartos – Feiticeiros

Carro 7 – Pajelança

          Confeccionado em sua maioria em palha, o Carro n° 7 é um panteon em homenagem ao índio, dono da terra e aos caboclos, entidades puramente brasileiras sem nenhuma raiz africana. A alegoria é guardada por dois feiticeiros com roupas de pajelança. Sobre um enorme cocar, Tupã, Deus do Brasil e do Trovão é guardado por uma legião de caboclas tapuias que pulam da mata virgem.

1 – Destaque Principal – Danilo – Fantasia: Tupã, Deus do Brasil
2 – Destaque do Centro – Ritalo – Fantasia: Ogum Rompe Mato -1° encanto de Ogum
3 – Sobre os feiticeiros – Fantasia : Cabocla Jurema (Débora) e Caboclo Tupinambá (Carlinhos de Oxossi)
4 – Nos cestos laterais – Roberto Pinheiro e Zezé – Fantasia: Feiticeiros
5 – Cabocla – Cristina Mortágua

Setor 7

“Iara no rio
Sereia no mar
É Janaína que seduz com seu cantar”

          Ogum também participou da festa das águas e conheceu uma deusa de nome Iara, Janaína, senhora também chamada de Iemanjá, muito diferente fisicamente da Iemanjá africana, porém com os mesmos atributos que lhe são conferidos como mãe do mundo. Ogum conheceu também Martin Pescador, conhecido popularmente como Seu Marinheiro – uma entidade dos mares brasileiros, meio Exu, meio pássaro, meio peixe, meio gente. Ele é responsável por enviar as mensagens do povo da terra aos povos do mar. De Seu Marinheiro, o santo de fé de seu Zé, ouviu contar lendas maravilhosas de sereias e nereidas, participou das festas das águas das procissões de barcos que, maravilhado, Ogum encantou-se em Ogum Beira-Mar, Ogum Sete Ondas e com eles passou a fazer parte dessa legião de santos brasileiros.

  • Ala Comigo ninguém pode – Procissão das águas

  • Ala da Comunidade – Martin pescador

  • Ala das Baianinhas – Iemanjá – Iara – Janaína

  • Ala Vem comigo que a gente arma – Ogum Beira Mar

Carro 8 – Iemanjá

          O Carro n° 8 apresenta um séquito de carruagens de conchas puxadas por golfinhos, que deslizando sobre as ondas vem trazendo Iemanjá, que tem aos seus pés um mar repleto de presentes. A imagem cenográfica da alegoria define a essência do sentimento contido em cada fiel que na virada do ano ou no dia 2 de fevereiro corre ao litoral brasileiro a fim de reverenciar Iemanjá e a ela oferecer presentes em agradecimento às graças alcançadas durante o ano.

1 – Destaque Principal – Sonia Lima – Iemanjá
2 – Destaque – Ricardo Aquino – Ogum Beira-Mar – 2° encanto de Ogum
3 – Destaque – Valdice – Sereia
4 – Destaque – Rina Moura – Sereia
5 -  Destaque – Andreia Guerra – Sereia

Setor 8

          Ogum participou também das festas em homenagem aos santos gêmeos Cosme e Damião, de influência européia, e um terceiro santo de nome Doum, tipicamente brasileiro. Essas crianças, embora associadas aos santos mabaças africanos, são totalmente diferentes, a começar por dispensarem obrigações com comida de sal, e em seu lugar aceitando sacos de doces oferecidos a eles em altares ou em jardins, no dia 27 de setembro. Donos de falange muito forte, essas crianças têm nomes comuns, como Pedrinho, Mariazinha, Joãozinho, têm nos brinquedos seus maiores talismãs inclusive sendo o preferido de Doum, o Cavalinho Platiplanto, pois nesse brinquedo Doum imagina-se cavalgando no cavalo de Ogum, como diz a cantiga de Umbanda:

“Cosme Damião
Damião cadê Doum
Doum foi passear no cavalo de Ogum”

  • Ala da Comunidade – Caruru de Erê

  • Ala das Crianças – Talismãs

  • Ala das Crianças – Doum

Carro 9  - Festas de Cosme, Damião e Doum

          O Carro  n° 9 é composto com algodão doce, pirulito, bolas, guaraná, brinquedos e bandeirinhas. É nesse clima que acontecem as festas de Cosme e Damião e Doum. Decorado em material sintético, a alegoria apresenta a escultura de crianças brincando, grandes caixas de música e, ao fundo, a 12 metros de altura, a figura simbólica de Doum brincando no cavalo de Ogum, aqui já totalmente sincretizado a figura de São Jorge Guerreiro.

1 – Destaque Central – Tatiana – Fantasia – Algodão Doce
2 – Ricardo Gomes – Fantasia – Sorvetes
3 – Silvia – Fantasia – Pirulitos
4 – Maurício Alves – Fantasia – Cata-Ventos
5 – Rose Bombom – Fantasia – Balas de Coco

Setor 9

“Correu gira pelo norte
Capoeira azar ou sorte
O nordeste conheceu”

            Neste setor, o santo de fé de Zé depara-se com o próprio Zé, observa que Exu está tão escravizado quanto ele, pois quando do sincretismo, a ele só restou a visão católica da tentação e para que não se perdesse o culto a Exu, este aceitou carregar sobre si essa figura demoníaca aproveitando-se inclusive dessa mesma figura para afastar de si os incrédulos. Mais tarde, com a chegada de um espiritismo científico defendido por Allan Kardec, Exu seria explicado como verdadeiro intermediário entre o plano terrestre e o plano espiritual. Passará então a usar roupas de época, porém com certa sensualidade, pois Exu domina a sexualidade.
            Ogum ao ver tanta discriminação com essa entidade que, ao invés de ser tratado como Deus é tratado como Diabo,compadece-se e encanta-se no Ogum de Ronda e a partir daí passa a presidir sobre sua bandeira verde, vermelha e branca, a giras de Exu.

  • Ala dos Compositores – Tributo à Kardec

  • Escolinha de Mestre-Sala e Porta-Bandeira

  • 3° Casal de Mestre-Sala e Porta-Bandeira - Rodrigo e Cintia

  • Retorno da Bateria

  • Carro de Som

  • 2° Casal de Mestre-Sala e Porta-Bandeira: Serginho e Graciléia

  • Ala da Comunidade – Exu escravizado

  • Ala dos Artistas – Tranca Rua - Rua Padilha

  • Ala Jovens Unidos – Zé Pilintra

  • Ala Hoje eu sou feliz – Ogum de Ronda

Carro 10 – Rei da noite

“Quem sou eu
Quem sou eu
Tenho corpo fechado
Rei da noite sou mais eu...”

            O último carro é um tributo à noite, o espaço temporal que o malandro Zé ocupa com todos os Exus. Vaidade, festas, luxo, beleza e sensualidade são quesitos importantes, retratados nesse carro que apresenta um palácio em grande festa. No universo da alegoria o agradecimento franco, sincero, humilde desse malandro ao mundo do samba por manter sempre viva a imagem e as raízes africanas no Brasil.

Destaques Principais:
1 – Carla Vilas Gomes – Padilha
2 – Paulo 10 – Pilintra
3 – Cosme A. Andrade – Ogum de Ronda – 3° encanto

Semi-Destaques:
4 – Eunice Barbosa – Pomba Gira
5 – Delza Oliveira – Pomba Gira
6 – Cintia e Valadão – Pomba Gira e Exu
7 – Centro da Pista de Dança – Romildo representante da figura de Zé Pilintra na Grande Rio

Composições:
Turma da Shusma – Reis da Noite

  • Ala Velha Guarda – Reis da noite

Última mensagem:

            A Velha Guarda, símbolo do sambista vitorioso, da tradição, da raiz e do simples, agradece a toda Marquês de Sapucaí a receptividade desse enredo que, em todo momento, tentou dignificar a imagem da umbanda brasileira na figura de uma das mais importantes entidades vivas desta fé brasileira. Zé Pilintra.

 

SAMBA ENREDO                                                1994
Enredo     Os santos que a África não viu
Compositores     Mais Velho, Rocco Filho, Roxidiê, Helinho 107, Marquinhos e Pipoca
África.... Misteriosa África
Magia, no rufar dos seus tambores se fez reinar
Raiz que se alastrou, por esse imenso Brasil
Terra dos santos que ela não viu
Da negra terra é lei
Veio o meu negro rei
Ogum de fé que neste solo se encantou
No mercado os ciganos lhe venderam ao senhor
Do tumbeiro à senzala seu lamento ecoou

Plantou caiana
Socou café
Pilou dendê
Pra benzer filho de fé

(E no culto de malê)

Viu no culto de malê (malê, malê)
Preto velho catimbó (catimbó)
De um povo morenado
Conheceu caboclo bravo
Fascinado por Tupã... (Yara)
Yara no rio, sereia no mar
É Janaína que seduz com seu cantar
Correu gira pelo norte
Capoeira azar ou sorte
No Nordeste conheceu
Quem viveu na boemia
Malandragem, valentia e até hoje não morreu
Eu sou jongueiro baiana
Sapucaí eu vou passar
E a Grande Rio vem comigo, saravá

Quem sou eu... Quem sou eu?
Tenho o corpo fechado
Rei na noite sou mais eu!!!