Um conto Tapajó-Madeira,
'Foliões' enfeitando a fauna brasileira
Justificativa do enredo
A Escola de Samba é um modelo social, pois a interação entre seus componentes parte apenas da vontade de se divertir, cantando e dançando. Ela tem o compromisso com o povo de levar a informação, cumprir seu dever institucional e fazer valer cada vez mais a cidadania.
A Foliões de Botafogo acredita que através do Desfile das Escolas de Samba, o Carnaval contribui para o quadro cultural do Brasil e, é com o compromisso de produzir conhecimento, sobretudo cultural no seio da sociedade, que o G.R.E.S. Foliões de Botafogo vem, com a interpretação de um conto indígena, partindo de suas tradições; colaborar, modestamente, na manutenção dos valores das culturas indígenas. Ademais, desejar, com esta contribuição, pagar um pouco a dívida histórica que temos para com os povos da floresta.
Revisitar, através de "Um Conto Tapajó- Madeira, Foliões Enfeitando a Fauna Brasileira", a sabedoria ancestral que é muito importante para nós , pois defendendo as culturas indígenas, estamos defendendo nossa identidade nacional
Carnaval é paixão, a Foliões é amor que irmanada com o povo indígena quer cada vez mais alto levantar a bandeira da educação, da cidadania, da informação, da cultura e da consciência política. Sabemos que ainda é muito pouco, mas temos a certeza que um dia poderemos comemorar a vitória de um mundo melhor.
Introdução:
Apresentar, através de um conto, a profunda capacidade de observação da natureza, com suas forças, e da vida, com suas múltiplas vicissitudes, a sabedoria indígena, tecida através da sintonia fina com o universo, mostrar como os animais adquiriram suas cores e formas, embelezando a fauna brasileira.
Os índios Cinta Larga (Matétamãe), da área cultural dos Tapajós -Madeira, contam uma estória que visa explicar o surgimento das cores e formas nos animais. E eles a contam ainda hoje:
Antigamente, os animais e os pássaros não eram bonitos nem coloridos. Por isso, pareciam tristes. Eles mesmos ficavam descontentes quando olhavam uns para os outros.
Vendo este estado de ânimo tão triste, o Grande
Espírito teve pena deles e se propôs a modificar essa situação. Plantou no meio da floresta uma árvore imponente e bela. Mas, no lugar das folhas, estavam nela os mais diferentes e coloridos objetos dependurados.
O Grande Espírito dispôs o seguinte: cada animal ou pássaro podia escolher o objeto e a cor que mais lhe agradasse. Todos acorreram a ver aquela árvore maravilhosa, que se sobressaía com sua copa por sobre todas as outras.
Os primeiros a chegar foram os macacos. O chefe deles pôs-se a olhar e logo decidiu:
- Quero aqueles raminhos curvos. Vamos usá-los como cauda para nos pendurar e nos segurar nas árvores. Cada macaco vai carregá-lo atrás, como os homens carregam o arco. Todos os demais gritaram: - Sim, queremos para nós aqueles raminhos curvos!
E, desde então, os macacos têm uma cauda encurvada e vigorosa, com a qual se seguram nas árvores e se orientam quando pulam de galho em galho.
Em seguida, vieram os passarinhos. Do alto, onde estavam voando, viram o arco-íris dependurado da árvore. Pegaram para si e o aplicaram ao corpo. E se encheram de cores multicolores, combinando assim todas elas, ora mais vermelha, ora mais amarela, ora mais lilás, ora mais azul.
A onça viu um vistoso manto preto dependurado de um galho. E pegou para si. Mas esse manto não foi suficiente para todas as onças. Por isso, existem hoje as onças pretas e as pintadas.
O gavião viu um mantinho branco. Apressou-se a vesti-lo. Por isso, ele tem esse capuz branco no seu pescoço.
O urubu preferiu um manto todo negro, que estava no outro lado daquela onça. Tomou para si e o vestiu. E até hoje todos os urubus são negros.
A arara se impressionou com o azul de macio mantinho que pendia de um ramo da árvore. Foi e se vestiu com ele. Por isso, ela se chama hoje
arara-azul.
O beija-flor esqueceu seu minúsculo tamanho e escolheu para si um bico grande, que lhe impedia de alçar vôo. Tinha uma voz grossa que provocava hilaridade dos outros pássaros. Por sua vez o
tucano escolheu cores vivas, amarelas e vermelhas para enfeitar seu papo, mas optou por um bico fino e comprido. Emitia uma voz tênue que destoava totalmente de seu tamanho. Todos caçoavam dele, o que aborrecia muito.
Daí o tucano propôs ao beija-flor:
- Vamos fazer unia troca que será vantajosa para nós dois. Você, beija-flor, me dá seu bico grande com a voz rouca e forte e eu lhe darei meu bico comprido e fino com a voz suave e tênue.
O beija-flor, a princípio, não queria de jeito nenhum. Mas como não conseguia erguer vôo devido ao peso do bico, acabou por aceitar. Triunfou o bom-senso.
Desde então, o tucano tem o bico grande e a voz forte e o beija-flor o bico fino e longo e voz suave.
E assim vieram de todos os lados outros bichos, cada qual escolhendo a cor e forma de enfeite que mais lhes agradasse.
No final, sobrou apenas um pequeno ramo esgalhado e algumas cascas grandes de nozes. O
veado tomou o raminho esgalhado para enfeitar sua cabeça. Por isso, ele tem os chifres em forma de galhos. E a
tartaruga, que demorou a chegar, teve que se contentar com as cascas de nozes, que ela habilmente soube ajeitar por sobre as costas, fazendo para si como um telhado.
Desta forma, o Grande Espírito contentou a todos. Cada qual escolheu o que mais lhe agradou, se fez diferente dos outros e criou a variedade bela de toda a corrente da vida.
Hoje, nesta festa que irradia felicidade, "Foliões", cantando e sambando, mostram este conto sapiencial, descobrindo mil razões para viver melhor, todos juntos, em plena harmonia: índio, fauna e flora, como uma grande família, na mesma Aldeia Comum., generosa e bela, o
planeta Terra.
Sinopse:
Os
índios Cinta Larga (Matétamãe) da área cultural do Tapajós-Madeira,
contam a estória: Estória cheia de poesia, quando os animais e pássaros
não eram bonitos nem coloridos, descontentes viviam na floresta.
Mas, no meio da floresta, surge uma luz divina, o GRANDE ESPÍRITO,
o criador, propondo mudar a situação. E o que fez? Plantou uma árvore
encantada, imponente e bela no meio da floresta, para que todos os
animais e pássaros pudessem se colorir e enfeitar, embelezando COM
ALEGRIA assim a fauna brasileira.
"Sou índio Cinta Larga, agora vou contar... uma estória... Você
pode ou não acreditar... É sabedoria indígena ancestral... e o 'FOLIÕES'
abrilhantando o
carnaval.
Lá, no seio da floresta, viviam animais que não conseguem se olhar...
pois não eram bonitos e, nada tinham para se enfeitar. Eis, que surge
o GRANDE ESPÍRITO num momento de magia e lampejo divinal, planta uma
imponente e bela árvore... para modificar a situação. Mas, no lugar
das folhas... Presentes coloridos, veio ofertar... Presença feita
de mistério e encanto magistral, fez com que cada animal e ave escolhessem
aquilo que mais lhes agradassem...
Foi um corre pra cá... foi um corre pra lá... Para que todos pudessem
se embelezar...
Com raminhos curvos o macaco se encantou, transformou em cauda para
de galho em galho de pendurar.
Voando ruma a árvore, os passarinhos observaram um arco-íris de beleza
sem igual, pegaram as cores para si, colorindo a natureza cheios de
penas multicores...
E assim... foram chegando vários animais... onças, gaviões, urubus,
arara (AZUL) para poderem se enfeitar e, num diálogo se travou, a
troca de bicos entre o tucano e o beija-flor... papagaios, cobras,
peixes (ganharam suas variadas cores com os objetos coloridos que
no rio caíram), jacarés, veados, tartarugas, a fauna em geral... vibram,
na floresta com tanta beleza, agora harmonizados: com os índios e
a flora brasileira...
Desta forma, o GRANDE ESPÍRITO contentou a todos. Cada qual escolheu
o que mais lhe agradou, se fez diferente dos outros e criou a variedade
bela de toda a corrente da vida.
Maurício Soares e Mário Fernando Pires
Roteiro do desfile:
1° Setor: Animais sem cores e formas
-
Comissão de Frente: Índios Cinta Larga vem contar
-
Ala 1: Fauna entristecida
-
Carro Abre-Alas “O grande espírito”
2° Setor: Fauna enfeitada
-
Ala 2: Macacos (Ala das crianças)
-
Ala 3: Passarinhos (Ala das baianas)
-
Ala 4: Onças
-
Ala 5: Gaviões
-
Ala 6: Urubus
-
Ala 7: Arara Azul
-
1° casal de mestre-sala e porta-bandeira: Beija-Flor
e Tucano
3° Setor: Outros animais...
-
Ala 8: Bateria: papagaios
-
Ala dos passistas: Cobras
-
Ala 9: Peixes D'Água Doce
-
Ala 10: Jacarés
-
2° casal mestre-sala e porta-bandeira: Equilíbrio Ecológico
-
Ala 12: Vitória Régia
-
Ala 11: Índios em harmonia com a fauna e flora
-
2° Carro: Fauna e flora exuberante
|