Ceia aos Orixás
Em
alegria e quase em apoteose mística, a Escola de Samba Foliões de
Botafogo, homenageia Olorum e os seus Orixás, oferecendo uma ceia,
acompanhada em adobás, em preces rítmicas, dançando e sambando aos
sons de ingomas, invocando antes, Pomba-Gira, como se abrindo terreiro
na grande Avenida em festa.
Quando
falamos em “Ceia aos Orixás”, procuramos render uma sincera homenagem
aos Orixás, esforçando para alcançar o elo que liga os rituais africanos
à religião, que inegavelmente e comprovado por todos os recenseadores
havidos no Brasil e admitido até pelos líderes católicos e protestantes,
como o de maior número de adeptos.
O
presente enredo é baseado em profundos conhecedores do folclore brasileiro,
como Câmara Cascudo, Edson Carneiro, Guerreiro Ramos e outros estudiosos
no assunto.
A contribuição
da Umbanda, do Nagô, do Gege, do Omolokô na vida social de nossa terra
é fator preponderante como influência em nossa cultura, nossa religiosidade
e porque não dizer para o nosso progresso social, artístico e étnico.
O candomblé
tem como suas entidades ligação entre os homens e a divindade suprema
ou seja Olorum, entidades secundárias denominadas Orixás, para transmitir-lhes
às preces, os pedidos e as necessidades materiais ou espirituais.
Os Orixás
residem na África e são atraídos à terra, pelos cânticos (pontos)
pelo ritmo dos instrumentos próprios (atabaques, tambores, adejás,
agogôs, maracas, etc, ), que incorporam seres humanos denominados
“cavalos”, médiuns, preparados para esta função, falando e tomando
o aspecto que tiveram em vida.
Olorum,
também chamado o pai dos Deuses, não é representado por nenhuma figura,
é a divindade suprema para a qual se dirigem às divindades secundárias.
Cada Orixá
tem os seus ritmos e cantos próprios, bem como cores e vestes peculiares
a cada um deles, conforme a predominância da nação ou mesmo da especialidade
que se lhe atribui.
Salve
os Orixás: Oxalá, Xangô, Ogum, Oxóssi, Omulu, Exu, Yemanjá, Iansã,
Oxum, Anamburuku, Oxumaré, Iocô, Ifá, Beji. Salve Mutum-bá ou Mucaiu
e Ossanha.
Oxalá
é o chefe, o comandante, o primeiro Orixá. Simboliza as forças produtivas
da natureza. Também chamado Orixalá. Tem um caráter bissexual. Simboliza
a riqueza e a fecundidade. Sua cor é branca. Sua insígnia é um cajado
enfeitado com sininhos.
Xangô,
é o raio, o relâmpago, o trovão. É um dos mais conhecidos e prestigiados
Orixás dos candomblés. Rei Nagô é a divindade das tempestades, raios
e trovoadas, descargas elétricas da atmosfera.
Sua insígnia
ou fetiche é a pedra, a lança e a machadinha de duas faces. Suas cores
são o vermelho e o branco.
Ogum é
a luta, a guerra, a demanda. Sua cor, o azul profundo. Seu amuleto
um pedaço de ferro qualquer. Conhecido também como Deleh, é filho
de Yemanjá.
Oxossi,
é a mata, a casa e a tranqüilidade, a luta pela sobrevivência. Sua
insígnia ou fetiche é o arco e a flecha, rabo de boi e o polvarinho.
Suas cores são o verde e o amarelo.
Omulu,
é a peste, a doença e protege seus filhos dela. Conhecido ainda como
o Orixá da varíola. Na Bahia, chamam-no também de Obaluayê.
Veste–se
de palha e o seu amuleto é uma vassoura enfeitada de búzios. Suas
cores são o vermelho e o preto.
Exu
representa potências contrárias no homem. Pratica o bem e usa malefícios.
É o homem das encruzilhadas. Seu fetiche é uma massa de barro em que
os negros modelam uma cabeça onde incrustam conchas para representar
os olhos e a boca e ainda fragmentos de ferro e outros ornamentos.
Suas cores são o vermelho e o preto.
Yemanjá
domina os mares, a água salgada. e o oceano (Olokum). Mãe d’água.
É a mais prestigiada entidade feminina do candomblé. Também chamada
Janaina. É a mãe de todos os Orixás. Quem vive do mar e precisa de
seus produtos é o devoto de Yemanjá. Protege também os amorosos. Seu
fetiche é a concha do mar, a pedra marinha e traz também um leque.
Suas cores rituais são vermelho, azul escuro e cor de rosa.
Yansã
uma das mulheres de Xangô, domina os ventos e as tempestades. Deusa
do rio e das águas doces. Também chamada de Oiá. Suas cores são o
vermelho e branco.
Oxum,
Orixá dos rios e das fontes, filha de Yemanjá; o seu fetiche é uma
pedra marinha ou um leque de latão, chamado de abedê, com uma estrela
branca no centro. Sua cor é o amarelo ouro.
Anamburuku
é o mais velho dos três Orixás da água. O mesmo que Nanaburuku, Nanã,
Oua, Ouanã. Seu fetiche é uma espada e pequena vassoura de palha enfeitada
de búzios. É o Orixá da chuva. Cores branco e azul escuro.
Oxum-Maré,
Oxu Mauré, Ochumaré, é o Orixá do arco-íris, ocupado em levar água
da terra para o palácio de Xangô. Cores verde e alaranjado.
Ossanha,
também chamada Ossãe, Ossanhi e Ossain é uma Orixá; é uma deusa, é
um Orixá feminino, deusa das folhas, da flora universal. Basta nos
lembrarmos que depois de consultar, sobre determinado filho de fé
que se o deseja fazer, temos que apelar para Ossanha e ver que plantas
e que folhas devem entrar no ariaxé e no amaci ou bori do filho que
se quer iniciar.
Passemos
em revista as plantas a serem empregadas a um filho que tem deficiência
de eliminação renal, que tem o aparelho digestivo retardado nas suas
atividades funcionais, o sistema nervoso alterado, levando-o a irritações
fáceis; o coração deficiente na impulsão e recolhimento do sangue
que banha o organismo e que volta a ser revitalizado.
Passados
estas circunstancias pela nossa mente, reflitamos: quem nos indica
ou intui esta serie interminável de folhas que curam ? Nos primórdios
dos tempos da infância dos Candomblés em que livros aprendiam os Babalaô
a eficácia dos diuréticos Cabelo de milho, raiz de sapê, quebra-pedra,
parietaria? E os estimuladores do fluxo biliar como o gervão-roxo;
erva–tostão, boldo e caferana que foram aprovados pela Medicina? Que
espécie de terapêutica estranha que há séculos nos enviava a aplicação
da flor da colônia ou cardamono como excepcional nos males do estômago?
E a flor do sabugueiro aplicada na cura do sarampo, desde o inicio
de seu ciclo evolutivo? Não. Convençamos-nos que a. deusa da flora
não pode ficar a margem sob pena de termos que baixar a cabeça a um
número sem conta de invenções de onde podem surgir e levar-nos a tristezas
infindas.
De
qualquer modo, queiram ou não queiram, Ossanha como dominadora da
flora, da folhagem é quem nos permite chegar ao poder curativo das
plantas que conhecemos por indicação dela; a eficácia medicamentosa
e a aplicação dessas plantas não somente nas enfermidades mas também
para dar-nos o suco, o sumo de que precisa o nosso corpo,na adaptação
das células mediúnicas para a facilidade de comunicação de Orixás
e entidades outras.
O fetiche
de Ossanha é composto de sete setas de ferro com as pontas para o
ar. No centro tem um pássaro deitado.
Observações: É importante não
se citarem os nomes pelos quais os Orixás são conhecidos. O que se
pode admitir, desde que não seja possível de outra forma é que se
use a interjeição correspondente a cada entidade.
Olurum,
pode ser saudado como “Oba-Oyô”. Oxalá, tem por saudação “0i babá”
ou “onibabá”. Xangô pode ser invocado por “caô cabi encide”, podendo-se
dizer só “Caô”. Ogum, “guarú ninfá”. Oxossi , como “Oke”. Omulu, por
“Eleguá”. Yemanjá, como “adô ou adofiaba”. Yansã, como “Oiá”. Oxum,
como “Alodê ou Oia”. Ananburucu, “Salúba ou bubú”. Keto-Angola – Gege–Nagô.
Igexá-Nações de cultos africanos ou melhor nações de Candomblé. Adobás
– Cumprimentos que se fazem dentro dos rituais. Ingomas – tambor para
alguns, atabaques para outros, nomenclatura variáve1 de acordo com
as Nações. Mucuin – Benção (Angola). Mutumbá - Benção (Keto).
Deixamos
para finalizar em linhas gerais, os dias da semana consagrados aos
Orixás:
Domingo
– Todos os Orixás;
Segunda
– Exú e Obaluaiê (Omulu);
Terça
– Nanã e Oxum Maré;
Quarta
– Xangô e Yansã
Quinta
– Ogum e Oxossi;
Sexta
– Oxalá
Sábado
– Yemanjá e Oxum.
Todos
os ritmos africanos se enquadram dentro do ritmo sincopado, binário
do samba.
Jorge Fontoura
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