FICHA TÉCNICA 1976

 

Carnavalesco     Jorge Fontoura
Diretor de Carnaval     ..............................................................
Diretor de Harmonia     ...............................................................
Diretor de Evolução     .............................................................
Diretor de Bateria     ................................................................
Puxador de Samba Enredo     ................................................................
Primeiro Casal de M.S. e P. B.     ................................................................
Segundo Casal de M.S. e P. B.     ................................................................
Resp. Comissão de Frente     ................................................................
Resp. Ala das Baianas     ................................................................
Resp. Ala das Crianças     ................................................................

 

SINOPSE 1976

A Festa do Bonfim

          Deve-se ao Capitão de Mar e Guerra Teodósio Rodrigues de Faria, português que se radicara na cidade de Salvador - o início do culto ao Senhor do Bonfim. Marcou-o a entronização da imagem trazida de Portugal na Igreja N.S. da Penha de França, na ponta da península de Itapagipe em 1745.
          Nove anos depois e pela festa de São João, inaugurou-se no outeiro que tomou o nome da milagrosa divindade a igreja de sua devoção. Era diferente da atual. Não tinha, na fachada, as duas portas laterais hoje existentes nem, tampouco, obras de talho, ornatos, que tanto a embelezam nos dias presentes.
          O admirável retábulo da capela-mor data de 18l4 de autoria de Antonio Joaquim dos Santos. Quatro anos depois, Franco Velasco executou a pintura do teto e dos painéis dos altares.
          De 1837, são os painéis da sacristia pintados por José Teófilo de Jesus.
          O relógio da torre dos sinos - feito na Bahia – é de 1848.
          Em 1863 e por doação de um ex-juiz da Irmandade o negociante português comendador José Pinto Rodrigues da Costa - fez o adro da igreja cercado pelo extenso gradil de ferro que o serralheiro Feliciano José artisticamente executou.
          Finalmente em 24 de Junho de 1923 - mais de um século e meio depois de erguida – D. Miguel de Lima Valverde procedeu a solene sagração da mais popular das igrejas baianas.
          Depois do Natal com os lindos presépios, os Magos e as folhagens de pitangueira; depois dos Reis, com ternos e ranchos no Largo da Lapinha; decorre a Festa do Bonfim, que lembra a do Círio de Nazaré - no Pará e a da Penha de outros tempos, no Rio de Janeiro.
          Desde o começo do ano a Igreja do Senhor do Bonfim - erguida num~gracioso calvário coberto de edificações de relva - enche-se de flores e de cânticos, de incenso e de luzes para as novenas ao milagroso, Senhor.
          No Brasil, a vestimenta regionalista da Bahia está na “Baiana” de bata rendada e no Gaúcho, o chapelão e as bombachas.
          Mas a “Baiana” tem a primazia.
          Internacionalizou-se, através a grande Carmen Miranda.
          As “Baianas” tem as suas batas com minguadas mangas que cobrem as axilas – deixa-lhe o colo nu. E essa bata trabalhada em renda de crivo, afunila-se na cintura sob a compressão de duas ou três anáguas a tufar a larga saia de roda.
          Nos pés, arrastam delicadas chinelas bordadas a ouro, deixando metade dos pés descalços. Do ombro esquerdo pende o Pano da Costa de listas multicores.
          Na cabeça nada mais do que o torso.
          Essa indumentária de aparente simplicidade, empresta a “Baiana”, uma graça característica.
Esse, o traje. Agora os adornos.
          Colares de grossas contas e rosários de contas miúdas sobre o rendado das batas. No alto do braço esquerdo larga pulseira de ouro. Nos pulsos, bolas de ouro e voltas de búzios da Costa. Nas orelhas as argolas ou brincos de coral.
          Depois vem o Barangandam ou Balangandam, que é uma peça de prata em forma de argola, que - de uma corrente em torno do pescoço - pende até o meio das costas. Nessa argola estão pendurados uma porção de amuletos; pequenos cilindros com pós milagrosos e madeiras santas; orações, anéis, figas, cachos de cabelos, dentes de crianças, búzios e moedas; presas de besouro, corações, cinzas e ancoras; bonequinhas simbolizando São Crispim, São Cipriano. São Cosme e São Damião; o canguê - amuleto contra o mau olhado; cola amarga e favas de olho de cabra que afugentem espíritos perturbadores; pequeninas contas agrupadas em estiletes guarnecidos de rosas de prata.
          As conchas pretas e roxas representam Omulú (São Lázaro), as brancas, Oxalá (Senhor do Bonfim); cor coral, azuis ou verdes Ogum (Santo Antonio); vermelhas Xangô (São Jerônimo); douradas ou prateadas, Oxum (Nossa Senhora das Candeias); amarelas, Nanã (Sant’Ana); brancas-miudinhas, Iemanjá (Nossa Senhora da Conceição).
          Além do Balangandam há a Penca - suspensa na cintura pelas alças passadas numa corrente de prata, fechada por uma chave do mesmo metal.
          Na Penca estão:

  • A Figa, o mais comum dos amuletos, obrigatoriamente usada contra doenças, desastres e mau olhado.

  • Pau de Angola - encastoado em prata, favorável a longevidade.

  • Cilindros, com arruda, guiné e manjericão - contra a má sorte.

  • O Sino ou Duplo Sino – o Adjá - próprio do candomblé.

  • O Cajado, a Tartaruga, assim como a Aranha, o Porco, o Trevo, o Corcunda, os Triângulos Mágicos, as palavras Agha e Aoun, são fetiches de bom augúrio.

  • O Coração, quer dizer amor.

  • O Cachorro é o emblema da fidelidade e evoca São Lázaro e São Jorge, tal como o Carneiro lembra São Jerônimo.

  • As Mãos Dadas significam amizade.

  • A Lua representa São Jorge.

  • A Pomba lembra os mártires, tornados Santos,

  • A Romã representa o gênero humano em todo o seu esplendor e miséria.

  • A Chave sugere o tabernáculo ou o oratório, mas a Chave de Figa vale como talismã para fechar o corpo de todos os males.

  • A Ferradura atrai a felicidade.

  • O Galo é a representação de todos os Santos.

  • O Caranguejo, Omulú (São Lázaro).

  • O Boi é Omulú Moço (São Isidoro).

  • O Veado, tal como a Espada, é Oxalá guerreiro e caçador (São Jorge).

  • A Faca é o símbolo de Ogum (Santo Antonio).

  • As Uvas representam Oxum que é Nossa Senhora das Candeias.

  • O Caju, o Abacaxi, e o Milho, lembram ainda São Jerônimo.

  • A Moringa ou Moringue evoca São Cosme e São Damião.

  • A Palmatória é o símbolo da Nanã (Sant ‘Ana) e o Sol de Oxumaré que é São Bartolomeu.

  • O Burro simboliza Xangô (São Jerônimo).

  • O Tambor, o Pandeiro, as Moedas e os Peixes, também representam cerimônias dos terreiros.

          Não é de estranhar assim, é claro, que ao lado de grande beleza ornamental do quadro da lavagem do adro de Igreja do Senhor do Bonfim, não há como esquecer também que o baiano pode ser sincero em qualquer pólo oposto do seu espírito religioso, seja no culto ao Senhor do Bonfim, seja na sua fé em Yemanjá - Rainha do Mar.

Novenas de Bonfim!

          De todos os cantos da cidade, gente acorre a assisti-las.
          Nesse tempo - tão distante já! O Reverendo Padre Teixeira entre o beija-mão dos fiéis e o repicar dos sinos, oferecia as crianças passando-lhe a mão pelos cabelos - lindas gravuras religiosas.
          Iniciavam-se as rezas e os crentes curvavam os joelhos. Era a hora dar graças pedidas a divindade.
          Os fiéis pagavam as suas promessas subindo a ladeira de joelhos e chegados a sacristia entregavam ao zelador longas velas de cera. Uma das salas do templo é reservada as provas dos milagres do Nosso Senhor do Bonfim.
          Popular é a tela, representando um pedreiro que a restaurar a torre da Igreja, projetou-se no espaço! Despejar-se-ia no lajedo não fora ter evocado o Senhor do Bonfim nessa hora do desespero. E quase não sofreu, foi um verdadeiro milagre.
          A lavagem do Bonfim é uma festa católica de data móvel, que se realiza por volta do dia 15 de janeiro.
          Muito já se escreveu a respeito desta festa, que é o espetáculo feiticista mais completo do Brasil.
          A “Festa do Bonfim” se reveste do maior brilho, oferecendo um interesse todo especial por ser na Bahia a caldeira onde se fundem as religiões Gêge e Nagô da África com a católica; pois o “Senhor do Bonfim” é o mesmo que o ser “Oxalá” dos povos africanos.
          Na Igreja da Conceição da Praia, localizada em frente ao Mercado Modelo reúnem-se os devotos em caminhões e carroças com arcos de bambu enfeitados com guirlandas de flores naturais e de papel colorido, vestindo as suas melhores roupas, geralmente brancas e chapéus de palha da mesma cor. Em alguns caminhões vão as bandas de música tocando sem parar.
          Um alegre burburinho vem já do Largo onde se movimentam graciosamente as ‘baianas” que vão tomar parte da romaria, quase todas de idade avançada, bem curtidas na lida do fogão do acarajé, bolinhos de tapioca, pé de moleque, cocadas, cuscús e bolo de milho.
          Quando as “baianas” se reúnem para a romaria elas vão ricamente trajadas com os balangandans ou barangandans e de pencas de ouro e de prata. Misturam-se os torsos, que parecem um pedaço de jardim que vai na alto, pairando sobre elas numa leveza de véus desfraldados de sutil névoa branca, do mais belo efeito. Como são alias altamente decorativas todos de roupas duma brancura resplandecente, com as suas vastas saias de duro engomado, que dão a um no gingar do passo, no algo das chinelinhas de finos saltos, o ondular de outras grandes flores.
          À cabeça carregam, ritualmente, grandes vasos com flores ou “água de cheiro”, coroadas de leves pendões de flores brancas, que chamam de “sorriso de Maria”, que levam com grande elegância, nos ombros ou sobre a cabeça. As flores mais procuradas e usadas, são as angélicas.
          As “baianas” vão a pé, na frente acompanhadas pelos aguadeiros de Itapagipe, conduzindo barris sobre o dorso dos jericos enfeitados - que levam ao templo a água suficiente a lavagem do adro e dos degraus da Igreja, entoando cânticos de acordo com a seita ou o “Orixá” que pertencem.
          Em tudo há o mesmo ar de festa, a reminiscência daquela contagiante animação que levava outrora de reboque com as “baianas” toda a população do bairro até a colina sagrada.
          Partindo o cortejo, perto das 10 horas da manhã, põem-se todos em movimento e é admirável o garbo com que partem aquelas mulheres de mais de meio século de Idade, Por toda a parte, além das calçadas, as ruas por onde passam, novos adeptos vão se incorporando e ao chegar na colina do Bonfim, o número de pessoas é enorme, formando uma multidão que canta, dança e entoa canções.
          A chegada a Igreja de “Nosso Senhor do Bonfim” é precedida por fogos de artifício e gritos de alegria.
          Diante do templo, aos pés da larga escadaria de vários de graus param todos - de repente há um grande silêncio na Praça sobe então modulado e grave no ar tranquilo, a comovente oração de “Nosso Senhor do Bonfim”.
          Todos cantam e é de nova a alma religiosa aflorando do mais profundo de cada um a completa dissipação de qualquer vaidade alheia.
          Ao término da oração, as “baianas” comumente as filhas de santo das nações africanas de Kelú, Alaketa e Angola em grupos de cinco ou seis, vão subindo majestosamente os degraus, ao ritmo das ladainhas e cantos cheios de promessas.
          A brancura das flores e das suas vestes, numa vibração de braços e de mãos, traça então no ar o gesto antigo da lavagem, derramando com grande graça, no adro e nos degraus, a água de seus jarros com água perfumada e as flores são espalhadas na porta da Igreja; ao mesmo tempo em que outras “baianas” agitam no ar as vassourinhas simbólicas que carregam.
          Terminada e lavagem, começam as vendas nas barraquinhas de doces e comidas típicas, geralmente muito gostosas e feitas pelas próprias “baianas” do Senhor do Bonfim.
          Vende-se tudo e há danças nos jardins fronteiros a Igreja, que se estendem durante toda à noite e duram geralmente três dias.
          Antigamente estas manifestações eram feitas no interior da própria igreja, mas o clero, condenou esta demonstração de religiosidade, considerando-a pagã; assim hoje elas se limitam ao adro e a sua escadaria.
          Passados dois dias, noite de sábado – a Festa dos Ternos.
          Os ternos! - gritam de todos os cantos e para se ver melhor o povo procura os lugares mais altos para assistirem a passagem da charanga, tocando um baião, tendo a frente o porta-estandarte cheio de malabarismo nos seus passos o gingando com uma destreza espetacular, manejando o seu pavilhão triunfal.
          E, ao som do maxixe que a charanga do bloco ataca, os festejeiros vestidos a caráter, terno branco impecável, camisa de meia aberta ao peito, cartola brilhando, dançam sem parar, tocando os seus violões e cavaquinhos, tangendo os pandeiros e maracás, vão desfilando como um bloco de carnaval.
          E assim vem, um depois do outro, no mesmo jeito, todos os “ternos”; os principais “ternos” que desfilam são: “Terno da Primavera”, o “Pideo”, o “Arigofe”, o “Sol do Oriente”, os “Batutas”, o “Bacural” e o da “Lira Chorosa”, a entoar as suas canções, levando seus estandartes cheios de medalhas de ouro, assim como, outros troféus conquistados nos concursos populares.
          E, chega segunda-feira do Bonfim! Algo de paganismo se vê então nos festejos de Itapagipe. Depois da romaria e da missa, os homens com fitas nos chapéus, nos cabelos e na cintura, agitando ramos verdes vão a Ribeira... Há também tocadores de violão, cavaquinhos, flautas, clarinetes, harmônicas, pandeiros e chocalhos.
          A música sobe a altura e os cantadores entre constantes paradas nos botequins do caminho cantarolam em plenos pulmões:

Eu não era assim
Eu não era assim
Três dias de Reis
Segunda-feira de Bonfim!!!

          Na Ribeira para matar a sede e tirar a fome, encontram muita comida com azeite de dendê e muitos abacaxis, melancias e cajus.
          No adro da Igreja de Nosso Senhor do Bonfim, coretos com bandas de música a tocar dobrados, crianças nas quermesses e o povo a beber nas barracas.
          À noite - para o povo aglomerado no Largo e numa apoteose à Festa, que o templo todo iluminado santifica os fogos de artifício de lágrimas a desmanchar-se na altura em estrelas de todas as cores.
          O elemento africano aí estava; cada tribo se exibia conforme seu estilo de dança e contorna, sem esquecer o Angola, que de argolinha na orelha e ao som do berimbau, praticam proezas jogando capoeira.
          Tudo isso forma a “baiana”, essa “baiana” que há séculos não sai da moda e que com cantiga ou sem cantiga - tem graça como ninguém.

Resumo do enredo:

          Erguida sobre a colina sagrada, nos confins da Península de Itapagipe, a Igreja do Bonfim, templo de Oxalá, é o grande palco do sincretismo da Bahia. Nascida da devoção do militar português Teodósio Rodrigues de Farias, levou mais de meio século a sua construção, terminada, nos primeiros anos do século dezenove. É uma grande igreja branca, de interior modesto, inferior aos grandes monumentos religiosos que se erguem na antiga cidade. Nas suas paredes encerram os mistérios da alma mística da  Bahia. Sua sala dos milagres é testemunha poderosa dos feitos insuperáveis do padroeiro. Aí se realiza a maior festa religiosa e popular dessa terra, a “Festa do Bonfim”, tradição que vem desde o século dezessete, com data móvel e igual serventia para os devotos de Oxalá, o deus da criação. Ela se prolonga por toda a semana que antecede o segundo domingo após as Festas de Reis, mas a quinta-feira da Lavagem do Bonfim é o Dia Maior. Em carroças enfeitadas, mães e filhas-de-santo deixam a porta da Igreja de Nossa Senhora da Conceição da Praia, outro bastião sincretista da Bahia, sobre as cabeças vasos de barro contendo água, perfumes e flores. A procissão atravessa meia cidade, mas a cidade inteira parece acompanha-la ou esperar pela sua chegada na Ladeira e na Praça do Bonfim.
          Já funcionam as barracas de comidas típicas, de batidas e bebidas de toda sorte, os tabuleiros das baianas, todo o comércio das festas de largo. E a lavagem, cerimônia de origens remotas, acontece em um festival de cores, perfumes, batuque, cânticos e danças afro-brasileiras. À noite, centenas de lâmpadas iluminam o templo e a colina, multidões de devotos enchem a igreja e as barraquinhas, juntam à devoção a proximidade do carnaval, o que certamente concorre para redobrar-lhes à alegria.

Jorge Fontoura

 

SAMBA ENREDO                                                1976
Enredo     Festa do Bonfim
Compositores     ???
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