FICHA TÉCNICA 1975

 

Carnavalesco     Jorge Fontoura
Diretor de Carnaval     ..............................................................
Diretor de Harmonia     ...............................................................
Diretor de Evolução     .............................................................
Diretor de Bateria     ................................................................
Puxador de Samba Enredo     ................................................................
Primeiro Casal de M.S. e P. B.     ................................................................
Segundo Casal de M.S. e P. B.     ................................................................
Resp. Comissão de Frente     ................................................................
Resp. Ala das Baianas     ................................................................
Resp. Ala das Crianças     ................................................................

 

SINOPSE 1975

Glória em Pedra Sabão (O Aleijadinho)

            Antonio Francisco Lisboa, nome do nosso maior escultor, apelidado de Aleijadinho pelo povo, devido à moléstia que sofreu e o deformou sem piedade, nasceu a 29 de agosto de 1738, no bairro de Bom Sucesso, na cidade de Ouro Preto, antiga capital da Província de Minas Gerais, chamada outrora Vila Rica, por causa do ouro que lhe forneceu a opulência.
            Era filho natural de Manoel Francisco Lisboa, afamado arquiteto português e de Isabel, uma escrava africana.
            O pai libertou-o no momento do batismo.
            Durante a infância, o Aleijadinho deve ter ouvido comentários sobre as perversidades de D. Pedro de Almeida, Governador luso. Contaram-lhe decerto a destruição bárbara, ordenada por ele, das choupanas situadas na crista do Morro de Ouro Preto, lugar onde se refugiavam os aguerridos escravos do Mestre de Campo, Pascoal da Silva Guimarães.
            Na adolescência, observou os descontentamentos, cada vez maiores, irrompidos no meio da massa, pela cobrança dos “quintos”, taxas obrigatórias que a colônia tinha de pagar ao Reino, os quais se tornaram intoleráveis em virtude da exaustão dos veios auríferos.
            O ouro, apesar de tudo, trouxe o progresso, pois incrementou o povoamento do oeste e do centro do nosso país, gerando uma constelação de cidade e vilas. Foi o ouro, além disso, o criador de um grande mercado de escravos, gado e tropas, que mais tarde facilitaria a implantação da lavoura de café no Vale do Paraíba e nas regiões fluminenses.
            Tarefa árdua, pontilhada de obstáculos, era a extração do ouro nos tabuleiros. Negros banhados de suor levavam o cascalho à cabeça, nas pequenas caixas chamadas “carumbes”. Em seguida se procedia à lavagem desse cascalho e a água, muitas vezes, atravessava uma extensão de léguas, descia pelas escarpas das montanhas, cortava os vales no bojo dos colossais aquedutos de madeira, chamados “bicames”.
            Este trabalho continuo produzia doenças e a mortalidade era bem alta entre os escravos.
            Para melhor suportar o trabalho e esquecer o infortúnio, os negros procuravam a companhia de “moça branca”, chamavam a cachaça!.
            O lisboeta Simão Ferreira Machado, assim descreveu, a majestade de Vila Rica.
            Nesta vila, habitam os homens de maior comércio, cujo tráfego excede, em comparação, o maior dos maiores homens de Portugal; a ela como porta se encaminham as grandiosas somas de ouro de todas as minas, para a Real Casa da Moeda; nela moram os homens de maiores letras, seculares e eclesiásticas; nela tem assento toda a nobreza e a força da milícia e, por situação da natureza, é cabeça de toda América e pela opulência das riquezas, a perola preciosa do Brasil.
            Desejo citar este belo soneto de Salomão Jorge, para podermos melhor compreender a alma de Antonio Francisco Lisboa:

“Minas Gerais, das garimpas altaneiras
E dos rios que sonham sob as pontes,
Das almas, com a terra, hospitaleira,
Braços abertos, largos horizontes.

Minas Gerais, das íngremes ladeiras
De Ouro Preto, da música das fontes,
E das igrejas patriarcais, mineiras,
Cheias de Deus, na solidão dos montes!

Minas da Inconfidência, Aleijadinho
De Marilia chorando de saudade
Olhando, ao longe, às curvas do caminho

Minas entre dois céus, dois céus distantes;
Em cima, os astros pela imensidade,
Embaixo, ouro, esmeraldas e diamantes...!

            A capitania das Gerais, quando o Aleijadinho começou a alcançar a celebridade, achava-se depauperada.
            O ouro, o mágico ouro que dera para tudo, inclusive, para as fantásticas loucuras do excêntrico Barão de Catas Altas, que em seus banquetes célebres no Brasil inteiro, pois servia aos convidados almôndegas de ouro, usava castiçais de ouro, mandava colocar ferradura de ouro nos seus cavalos e do ricaço português João Fernandes de Oliveira, que desejando satisfazer uma das inúmeras vontades de sua amada, a caprichosa Chica da Silva, mandou construir no Bairro do Tijuco um lago enorme no qual fez colocar uma autentica galera, para em dias serenos, cheios de encantos, espairecer ao lado de sua amada, ia desaparecendo.
            D. João V, beato, esbanjou a largo o metal arrancado das entranhas de Minas. Queria se esmoler-mor do catolicismo.
            A plebe, a sacrificada e esquecida plebe, vingava-se compondo quadrinhas burlescas:

Nos tivemos cinco Reis
Todos chamados Joões
Os quatro valem milhões
O quinto nem cinco reis.

            Mestiço, pardo escuro, pertencendo a uma casta considerada inferior, olhada com desprezo, apareceu-nos como o símbolo do homem brasileiro, desprovido de dogmas e preconceitos raciais, contrario a escravidão e amante da sua liberdade.
            Vários fatores de ordem psicológica, cooperaram para essa indisciplina : a cor do mestiço, a doença, e, talvez o despotismo dos Governadores.
            Apesar de tudo, não se deu por vencido, pois soube vingar-se, legando a posteridade uma arte barroca que paira, nas mais altas regiões da beleza!
            Que tem o Aleijadinho com o triunfo eucarístico? Na verdade , sob certos aspectos, nada, pois na época era uma criancinha de uns 2 a 3 anos.
            Segundo o relato do escritor português Simão Ferreira, aditado a pedido dos irmãos Pretos da Irmandade de Nossa Senhora do Rosário, o triunfo eucarístico, foi à transferência do Sacramento Eucarístico, num grande aparato do templo de Nossa Senhora do Rosário para o templo de Nossa Senhora do Pilar.
            É impossível resumir em poucas linhas, essa procissão única em nossa história. Não há lembranças que visse o Brasil e nem consta que se fizesse na América, ato de maior grandeza...!
            Os folguedos participaram com diversos mascarados anunciando aos sons de ressonantes trombetas e fogos de artifício, o futuro desfile.
            Antes, duas bandeiras de damasco carmesim foram hasteadas, na frente da igreja do Rosário e do Pilar.
            Na manhã do dia da procissão, as ruas de Vila Rica, despertaram floridas repletas de damascos e sedas.
            Entre o absoluto respeito do povo, celebrou-se missa, oficiada a dois coros de música, de cujos ministros a riqueza dos paramentos dava gosto aos olhos, devoção aos corações !!
            Após esse ritual, o cortejo saiu da Igreja do rosário, precedido de três danças: uma de turcos e cristãos, outra de romeiros e a terceira de músicos. Estes envergando sedas fulgurantes, possuíam dos carros de pintura singular.
            O veículo menor transportava uma cobra artificial, enquanto o segundo, o maior, continha um mecanismo esférico que escondia um cavaleiro !
            Quando o mecanismo se escancarava, o cavaleiro, de súbito, aprecia montado a cabeça de serpente...
            Em seguida vinham a cavalo as figuras alegóricas dos quatro ventos.
            Depois dos quatro ventos, aparecia a fama.
            Após, vinha a figura representativa de Ouro Preto, a qual dava o ar de sua graça, cintilando num turbante tão rico “que não se via nele mais que ouro e diamante”!!
            Desfilavam em seguida personagens que simbolizavam os sete planetas.
            Vinham a seguir, representantes de diversas irmandades.
            E só então, depois desse cortejo, cercado de pompa e grandiosidade, idêntico aos que existem nos fantásticos contos de “Mil e Uma Noites” é que surgia o Divino Sacramento Eucarístico, debaixo de um palio carmesim, e, atrás desse palio, como desfecho aristocrático é que vinham as autoridades da época.
            Após a benção, houve seis dias de divertimentos em que o povo dançou, comeu e bebeu, assistindo sermões, cavalhadas, touradas, fogos de artifício e teatro ao ar livre.
            O triunfo eucarístico, deve ser considerado como a maior festa, que houve em todo o período colonial, um autentico retrato da opulência da sociedade de Vila Rica e do prestigio da religião.
            O Aleijadinho, obteve os seus conhecimentos de desenho, arquitetura e escultura, na escola prática do seu pai, Manoel Francisco Lisboa, mestre das obras reais na capitania de Minas, durante o governo de Gomes Freire.
            O segundo mestre de Aleijadinho, foi o abridor de cunhos da Casa de Fundição de Ouro de Vila Rica, João Gomes Batista, de nome lusitano de nascimento e membro de tradicional família de artistas.
            O terceiro mestre de Aleijadinho, da mesma nacionalidade dos outros dois, chama-se Francisco Xavier de Brito, que exercia a profissão de ornamentista e no Rio de Janeiro trabalhou na Igreja da Ordem da Penitência.
            Antonio Francisco Lisboa, recebeu também as benéficas lições dos franciscanos e de outros religiosos. Nas suas obras em cedro, evidenciam a presença do estilo gótico e bizantino.
            Os franciscanos devem ter lhe emprestado grande auxilio, cedendo as obras sacras, como a obra de Vitruvio, o “livro das Horas” e a “Bíblia”, que constituíram os textos inspiradores de sua arte espiritual.
            É tão preponderante, a supremacia da religião na obra do mestiço, que não descobrimos quase nenhum trabalho de sua autoria, destituído de caráter sagrado.
Não se pode negar a forte e marcante influência religiosa na arte de Aleijadinho. A arte no Brasil cresceu e brilhou sob a proteção da Igreja.
            Na vida de Aleijadinho, temos alguns fatos interessantes, dos quais cumpre-nos assinalar um deles: “O General Dom Bernardo José de Lorena, Governador da Capitania, mandou chamar o Aleijadinho, para que ele executasse uma estatua de São Jorge. A imagem do Santo deveria sair a cavalo pelas ruas de Vila Rica, no dia da procissão de “Corpus Christi”. Meio a contra gosto, de mau humor, após muitas instâncias, Antonio Francisco Lisboa foi ao palácio. Logo que o avistou, o Coronel José Romão,, ajudante de ordens, disse recuando:
            Homem feio: Homem feio.
            O escultor, ante esta acolhida nada lisonjeira, perguntou de modo áspero, fazendo menção de retirar-se:
            É para isso que Sua Excelência me ordenou que aqui viesse?
            Nisto apareceu à figura cordata, bonachona de Dom Bernardo José de Lorena, que procurou acalmar-lhe os nervos. Depois passou a informá-lo como precisava ser feita a estatua: apresentaria o tamanho natural de um homem. Querendo dar o melhor exemplo, indicou José Romão. Os olhos de Aleijadinho cintilaram. Uma feliz idéia de vingança acudiu ao seu cérebro. E com ar displicente, encarando o ajudante de Ordens saiu sorrindo sacudindo a cabeça.
            A imagem de São Jorge, uma vez pronta, saiu à rua e o povo de Vila Rica, no meio de enormes gostosas gargalhadas, divertiu-se bastante ao vê-la na procissão.
            É que a fisionomia do Coronel José Romão se achava reproduzida, de maneira cômica, na estatua...!
            Tanto assim que, de imediato, uma quadrinha se tornou conhecida:

O São Jorge que ali vai,
Com ares de santarrão,
Não é São Jorge nem nada
É o alferes Zé Romão.

            O São Jorge de Aleijadinho desfilava, outrora, na procissão de “Corpus Christi”, uma das mais faustosas de Ouro Preto e que era promovida pela Casa da Câmara, hoje, encontra-se no Museu dos Inconfidentes em Ouro Preto.
            Na véspera da procissão, Vila Rica amanhecia risonha com as ruas embandeiradas e cobertas de flores.
            A imagem do santo, antes da missa na Matriz do Pilar, saia da Casa da Câmara montada num ginete, seguida pelo Oficial Alferes um menino a cavalo, que era o Anjo da Guarda, e pela colorida escolta de honra, composta de quatro estribeiros e de um piquete, cujos animais enfeitados de laços e fitas, marchavam de modo garboso com os seus cascos prateados.
            O oficial Alferes, trajando à romana, carregava a espada e lança de prata, enquanto o menino tinha um turbante recamado de pedrarias.
            Também o Senhor Governador e as altas autoridades, magníficas nos seus uniformes, tomavam parte na procissão.
            São Jorge, entre alas do povo, descia a Rua Direita, indo passar em revista as tropas perfiladas desde o Largo da Matriz até a Rua São José.
            Finda a missa solene, na Igreja do Pilar, os sinos repicavam, estrugiam as descargas dos mosquetes, os batalhões apresentavam armas e, num ritmo compassado, soberbo, a procissão movimentava-se.
            À frente, de lança em riste, com os seus cabelos cacheados, o seu chapéu de plumas, sobraçando o pequenino escudo, São Jorge recebia as ovações da multidão e a continência das tropas.
            Depois que o santo regressava da Matriz de N. S. da Conceição de Antonio Dias, os batalhões formados no Morro de Santa Quitéria, em ordem de parada, prestavam-lhe às honras de General.
            Os soldados, encerrada a procissão, recolhiam-se aos seus quartéis e São Jorge entrava na Casa da Câmara, onde permanecia até as festividades de “Corpus Christi” do ano seguinte.
            Aleijadinho é o ser que vive nas igrejas barrocas entregue ao sonho obsessivo da criação artística e cinzelar, em suave e submissa pedra azulada, imagens risonhas e trêfegas de querubins.
            O lugar em que Aleijadinho deixou a maior quantidade de obras foi onde nasceu: Ouro Preto.

  • Planta da Igreja de São Francisco de Assis.

  • Talha e escultura de frontispício em pedra sabão .

  • Os dois púlpitos em pedra sabão.

  • O chafariz da eucaristia em pedra sabão.

  • Anjos do Altar Mor.

  • Imagens das Três Pessoas da Santíssima Trindade.

  • Talha e escultural alusiva à ressurreição de Cristo, no altar mor

  • A figura do cordeiro sobre o Sacrário.

  • Escultural do teto da capela mor

  • Obras na Igreja de Nossa Senhora do Carmo.

  • Obras na Capela São Miguel e Almas, também chamada Bom Jesus das Cabeças.

  • O chafariz conhecido como Marilia e Dirceu.

            Na igreja das Mercês de Cima, atribuem ao Aleijadinho a seguinte obra:

  • O frontispício de pedra sabão mostrando Nossa Senhora a abençoar, com o manto aberto, os escravos mouros.

            Na igreja de Nossa Senhora do Rosário dos Pretos, fez a cabeça da figura de Santa Helena.
            Na capela de São Miguel das Almas, fez a imagem de São Miguel Arcanjo e a opulenta porta de estética com o friso do purgatório em pedra sabão.
            Na matriz de Nossa Senhora do Pilar, narra a tradição que o Aleijadinho fez o oratório da sacristia e a imagem de Nossa senhora do Rosário.
            Também lhe pertencem, no mesmo templo, os riscos e a figura de Deus Padre.
            São conservados, no museu da Inconfidência, antigo Paço Municipal outros trabalhos do escultor, como a estatua de São Jorge, o altar da Fazendo da Serra Negra, quatro figuras de presépio, uma imagem de Cristo flagelado e duas imagens de Nossa Senhora.
            A estatua de Boa Samaritana, que ornamenta os jardins suspensos da Mansão dos Lages.
            Divulgando a história a Chico Rei, diz que ele incumbiu ao Aleijadinho de executar, para a Irmandade dos Homens Negros do Alto da Cruz, em ouro Preto, a igreja e a imagem de Santa Efigênia (princesa do remoto reino da Núbia).
            Lembrando Aleijadinho evocamos Vila Rica. São dois seres ligados intimamente.
            Mas fala ao nosso espírito, de modo mais expressivo, este soneto de Manuel Bandeira:

Ouro Branco ! Ouro Preto ! Ouro Podre! De cada
Ribeirão trepidante e de cada recosto
Da montanha o metal rolou na cascalhada
Para o Fausto Del-Rei, para a gloria do imposto

Que resta do esplendor de outrora? Quase nada:
Pedras...templos que são fantasmas ao sol-posto
Esta agencia postal era a Casa de Entrada...
Este escombro foi um solar... Cinza e desgosto !

O bandeirante decaiu – é funcionário
Ultimo sabedor da crônica estupenda,
Chico Diogo escarnece o último visionário

E avulta apenas, quando a noite de mansinho
Vem, na pedra sabão, lavrada como renda,
Sombra descomunal, a mão do Aleijadinho !

            Na cidade de Mariana, executou na capela de São Francisco de Assis o majestoso frontispício em pedra sabão, ornamentado de elegantes relevos, em cujo alto se divisa uma cruz estrelada e na parte inferior, três formosas cabeças de anjinhos, que constitui uma das mais delicadas jóias da nossa arte barroca.
            Os púlpitos foram executados com tal capricho, que parecem suspensos no ar, carregados por querubins.
            Na quinta do palácio Episcopal de Mariana, vamos encontrar uma fonte de pedra sabão, talhada pelo Aleijadinho. É um inestimável trabalho artístico, representando o encantador episodio no qual Jesus, com fino perfil judaico, junto do poço de Jacó, debaixo de uma tamareira em flor prega à Samaritana uma daquelas puras lições de bondade.
            A mulher, muito atenta, descansa o cântaro sobre os rebordos da fonte e parece ouvir, a imorredoura verdade da Palavra Divina:
“Mas aquele que beber da água que eu lhe der nunca terá sede, porque a água que eu lhe der fará nele uma fonte que brota para a vida eterna”.
            O portal da igreja de Nossa Senhora do Carmo, também feito pelo Aleijadinho.
            Na cidade mineira de Sabará, em companhia de artistas famosos da época, como Francisco Vieira Lemos e Joaquim Gonçalves da Rocha, construíram a Igreja de Nossa Senhora do Carmo, no sitio chamado Cruz das Almas.
            São da sua lavra, no referido templo, as armas e detalhes do frontispício, às imagens de São João da Cruz e São Simão Stock, bem como os baixos relevos dos dois púlpitos, os Atlantes com suas colunas, o gradil torneado de Jacarandá, a pia batismal de pedra sabão e o cedro coberto de ouro do altar mor.
            Em são João Del Rey, atribuem ao Aleijadinho, diversas obras nas Igrejas de Nossa Senhora do Carmo e de São Francisco de Assis.
            A Igreja de São Francisco de Assis está situada na encosta do Morro do Bonfim e segundo o Professor Robert Smith, da Universidade da Pensilvânia ela é, talvez, o  mais belo edifício colonial do nosso país.
            Em São João Del Rey, conforme uma narrativa popular, se achava outra imagem  de São Bom Jesus, toda de madeira da lavra do Aleijadinho.
            Os fieis da cidade de Campanha, que eram fervorosos adeptos dessa imagem, iniciaram um movimento para obtê-la.
            Dirigiram diversos pedidos aos sacerdotes são-joainenses, responsáveis pela relíquia. Os apelos foram infrutíferos.
            Então resolveram empregar a força. E, certo dia, um grupo de fieis, com muita dificuldade, arrebatou a escultura. Depois de caminhar um mês a cavalo, São Bom Jesus deu entrada em Campanha.
            Lenda ou verdade, o fato é que uma imagem de madeira, representando o Bom Jesus, enobrece o altar mor da Igreja Matriz desta piedosa cidade mineira, a qual as sextas-feiras santas, sai em procissão.
            Em Congonhas do Campo, a Irmandade  do Bom Jesus, encarregou no ano de 1766, ao Aleijadinho, de esculpir as estatuas dos Passos da Via Sacra em madeira, em numero de sessenta e seis.
            E lá encontram distribuídas em seis capelas, representados – num tamanho quase natural, trabalhos no cedro-rosa, as figuras que tomaram parte na tragédia do Calvário, os Apóstolos, a Virgem, Maria Madalena, Verônica,os ladrões e os soldados que foram pintados em cores vivas por Manoel da Costa Atayde.
            Uma das obras primas do Aleijadinho é Jesus, olhando para o céu com uma expressão tão cheia de misticismo que chega a nos comover.
            Prontas às figuras dos Passos da Via Sacra, firmou novo contrato para esculpir as estatuas dos Profetas.
            Eça de Queiros escreveu que as religiões só podem sobreviver através da arte, pois esta é a única capaz de dar eternidade aos deuses,oferecendo-lhes a forma. O Aleijadinho, arrancando os granulosos blocos de pedra sabão suas criações cheias de energia, insuflou novo e cálido sopro de vida aos milenares profetas do Velho Testamento: Isaias, Amós, Joel, Abdias, Daniel, Jeremias, Naúm, Oséias, Jonas, Habacuque, Ezequiel, Baruque, ganharam dupla imortalidade: a que vem narrada nas Santas Escrituras e a que se acha esculpido no adro do Santuário de Bom Jesus de Matosinhos, em Congonhas do Campo.
            Na feitura dessas obras de arte, teve ajuda alem dos escravos que o acompanhavam como ajudantes, chamados Agostinho, Mauricio e Januário, o canteiro Tomás de Maia que transportava e preparava os blocos de pedra sabão, a fim de suavizar a labuta do mestre.
            Plantados no topo de uma colina, recortados contra a luz do firmamento, distribuídos sobre as amuradas do adro, os Profetas fornecem a impressão de que se encontram num estado de transe, sob o efeito de visões apocalípticas, e o que não se discute é o impacto que todos sentem quando contemplam essas figuras de pedra sabão azulada.
            Com a linda  poesia de Jamil Almansur Haddad, finalizamos a biografia do Aleijadinho:

“Fulgura-lhe o escopro nas mãos sem dedos
Uma dor terrível como tempestade lhe dilacera o corpo
Rola em rutila corrente,
Fosforescente,
O seu sangue.
E o sangue cora,
De um vermelho rútilo de aurora,
As estatuas que ele esculpi.

Ao Moises apocalíptico suplicou Miguel: Parla !
As estatuas lavradas em pedra sabão, implorou Antonio Francisco Lisboa: Vive !

Meu sangue jorra
Na ânsia dolorida
De insuflar à pedra a palpitação
Misteriosa da vida.
Jorram-lhe as lagrimas
Para ver se pode nascer na pedra
A fonte tormentosa do pranto.
Calou-se
E em Ouro Preto, Congonhas, Mariana e São João Del Rey, os santos, que eram silenciosos, começaram a rezar...”

Jorge Fontoura

 

SAMBA ENREDO                                                1975
Enredo     Glória em pedra-sabão
Compositores     Adelcio de Carvalho e Paulo Gaspar (Salim)

Quanta grandeza
Em Vila Rica no tempo colonial
O talento do artista
Os cortejos das procissões
A fidalguia, com sua nobreza
As lindas noites de seresta
O ouro lavrado nos ribeirões

Louvor
Ao artista escultor
A arte barroca deitou sua devoção
Glória em pedra sabão

Antonio Francisco Lisboa,
“O Aleijadinho”
vive ainda em suas obras imortais,
ouvindo em suas igrejas
em coro os anjos a rezar
No chafariz da fonte
Admirando Marilia e Dirceu a amar
Nas estátuas dos profetas que parecem
Bradar a palavra de Deus

Glória
A quem da arte fez a vida
E eternamente viverá
Nos jardins de Minas Gerais