FICHA TÉCNICA 2000

 

Carnavalesco     Jorge Cunha
Diretor de Carnaval     Nelson Cornélio de Souza
Diretor de Harmonia     Hércules Caruso
Diretor de Evolução     Déo
Diretor de Bateria     Marquinhos
Puxador de Samba Enredo     Nego Martins
Primeiro Casal de M.S. e P. B.     Peninha & Kátia Kour
Segundo Casal de M.S. e P. B.     Pablo & Elaine Vicente
Resp. Comissão de Frente     Liis Monteiro
Resp. Ala das Baianas     Alice Gomes
Resp. Ala das Crianças     Conceição

 

SINOPSE 2000

Envergo, mas não quebro

               Não poderia ser mais instigante e apropriado para simbolizar a resistência que a ESTÁCIO SE SÁ vem enfrentando para superar a dificuldade, comparada à travessia de um precipício, equilibrando-se sobre um fio, com a ajuda da energia dos Amigos, que amam e não abandonam e de uma única vara de bambu. Uma verdadeira demonstração de coragem e persistência para chegar ao outro lado, sem cair no rio infestado de piranhas e crocodilos, dependendo do trecho.
               A ESTÁCIO DE SÁ é assim mesmo! Enverga, mas não quebra, apesar de já Ter sido levada até o chão. Sentiu o cheiro da terra, sacudiu a poeira e não quebrou. E também não será desta vez!..
               Mostraremos essa disposição e valor, ressurgindo das cinzas, com as cabeças erguidas, corpos retos, sem curvatura, como o bambu, resistente ao raio, fogo e erosão. Nada o subjuga, a não ser a mão do homem para transformá-lo em belíssimos objetos de arte e diversão, como poderá ser visto à medida que a ESTÁCIO passar.
               A ESTÁCIO já está com a pipa no alto e não adianta mandinga nem cerol...

ENVERGO, MAS NÃO QUEBRO

               Milhões de pessoas no mundo recorrem todos os dias ao bambu, utilizando-o no trabalho, para construir habitações, cozinhar, caçar, para fins musicais, cuidar da higiene pessoal, na alimentação, diversão ou apenas como fonte de inspiração...
               Daí, podemos avaliar a enorme importância dessa planta, que o homem ocidental ainda hoje não conhece bem.
               Abordamos o bambu sobre vários aspectos, atendendo ao seu interesse simbólico, artístico e cultural.
               Nativo da Ásia, África e América, somente no séc. XVIII é que o bambu foi introduzido na Europa.
               Ao descobrir o Brasil, os portugueses perceberam que os nativos conheciam e utilizavam o bambu, os lusitanos trouxeram para o Brasil, mudas de espécies exóticas de outras terras, principalmente da Índia, que se aclimataram muito bem aqui.
Uma delas, é o bambu-gigante ou bambu balde, considerado o maior do mundo. Quando adulto pode atingir 45m de altura. Outro bastante conhecido é o Bambu-Brasil, originário da Índia.
               O bambu é a planta que cresce mais rápido que as demais, chegando a um metro por dia. Depois, dentro de cada espécie, chega a viver mais de 150 anos.
Uma das maiores plantações no Brasil, encontra-se no Maranhão e se destina a fabricação de papel do tipo cartão, especial para embalagens.
               Por tudo isso, podemos descrever o bambu como uma planta carregada de cultura, cuja utilidade e funções, se revelaram essenciais na vida de milhões de homens, espalhados por diversos pontos do mundo.
               Na China, não eram apenas os pincéis dos calígrafos que eram feitos de bambu, também as pequenas placas que recebiam as tintas se obtinham da mesma planta. Os primeiros livros foram compostos com finas placas de bambu.
               No período pré-Inca, uma tribo de pescadores usavam um tipo de embarcação chamado “Cavalitos de Totora” que até hoje no Peru, na cidade de Pimentel, funciona como um tipo alternativo para a pesca. Os “Cavalitos de Totora” são feitos com fardos de bambu ou taquara.
               No Japão, há mais de 2000 anos atrás, um general amarrou-se a uma pipa e voou à noite sobre um campo militar inimigo dizendo ser a morte e que todos deveriam fugir daquele local. Assim venceu a batalha. Aquela pipa, como as de hoje, foi construída com varas de bambu.
               No Japão, a arte fervilha de referencias ao bambu. No cerimonial do chá, que se desenvolveu sobretudo ao longo do séc. XV, o bambu ocupa um lugar de maior destaque. Dele se obtém utensílios indispensáveis à preparação da bebida, como uma espécie de vassoura de cana fundida, em 120 lâminas, com a qual se bate o chá. Este lento, e ritualizado cerimonial permite que os participantes reencontrem a harmonia que une os seres vivos e os elementos; o equilíbrio e a paz interior.
               A palavra bambu tem origem no Oriente, provavelmente no idioma falado na Malásia. Trata-se de uma riqueza vegetal nem sempre percebida pelos menos alentos. Porém, alguns inventores puderam encontrar nele o fio da meada para a solução de algum problema.
               O americano Thomas Alva Edison, por exemplo, conseguiu o extraordinário feito, para época, de acender a primeira lâmpada elétrica, usando filamentos de carvão de bambu.
               Outro inventor, o brasileiro Alberto Santos Dumont, também utilizou o bambu para dar forma ao 14Bis.
               Até o famoso Taj-Mahal, que um nobre indiano, Shah Jahan mandou construir no séc. XVII, para servir de túmulo para a mulher amada, tem parte da estrutura feita de bambu.
               A Cantora, instrumentista e pesquisadora brasileira de sons, Badi Assad, talvez inspirada na observação minuciosa do bambu, tem incorporado ao seu trabalho muita pesquisa com instrumentos feitos desse vegetal, como flauta, o tambor ou a maraca.
               A utilização do bambu é infinita, e apenas citaremos algumas:

  • vara de pescar
  • pipas
  • balaios
  • cercas
  • cortinas
  • vara equilibrista
  • finos acabamentos em talheres
  • lanternas
  • móveis de sala
  • sombrinhas
  • prateleiras
  • leques
  • cabides
  • espetos p/ churrasco.

               Uma variada gama de produtos e utensílios domésticos é obtida do bambu devido a sua resistência e manejo fácil.
               Os povos Orientais, costumam usar o broto do bambu na culinária, como saladas ou acompanhando outros pratos, sendo também usado como remédio.
               Os Ursos Panda se alimentam quase exclusivamente de folhas tenras e brotos de bambus. O simbolismo do bambu é muito grande para vários povos.
               Para os chineses simboliza humildade e modéstia, juventude e velhice, uma clara referência aos caules que, novos e velhos de vários anos, têm um aspecto totalmente idêntico.
               Os vietnamitas consideram o bambu “Irmão do Homem”.
               No Japão, integra o grupo dos “Três amigos” (ameixeira, pinheiro, bambu) presente em todas as decorações de festas do Ano Novo. Representa, juntamente com a ameixeira, a orquídea e o crisântemo, “ as 4 plantas nobres”.
               Na Indonésia, recorre-se ao bambu particularmente nas cerimônias religiosas de cremação.
               Nas religiões afro-brasileiras, Oyá, a “Deusa dos Ventos” e “Senhora dos Eguns” (mortos), recebe suas oferendas em frondosos bambuzais.
               Dentre os budistas, é designado por a “Benção de Buda”. O próprio Buda ao pressentir a chegada da morte, teria se retirado para um bosque de bambus.
               Pela versatilidade desta planta, faremos o enredo do nosso carnaval, onde ela também estará presente nas armações dos chamados “Boneco do Germano” ou nas armações das fantasias de ala e em nossas festas juninas.
               Nada mais justo do que esta homenagem para a planta que existe há milhões de anos e quem sabe será o cereal do terceiro milênio e, por isso, nos envergamos perante toda a sua simplicidade e magnitude.

Jorge Cunha

 

SAMBA ENREDO                                                2000
Enredo     Envergo, mas não quebro
Compositores     Gílio, Ricardo, Russo, Carlinhos Tizil, J. Araújo e Dominguinhos do Estácio
Lá vou eu
Com a Estácio de Sá na avenida
De vermelho-e-branco colorir seu carnaval
Balançar a Sapucaí
Sou a planta mais formosa
Que a natureza cultivou, com amor
Diferente, tão bela
E a mão do homem modelou

Sou a lança do índio pra caçar
A pipa está no alto, vem brincar
No arraial pra alegrar eu vou
Vou enfeitar

E no Japão
Na cerimônia do chá estou
Trazendo paz ao seu interior
Equilíbrio e harmonia
No Taj-mahal o templo do amor
Irmão do homem eu sou
Na alegria ou na tristeza
Oyá, oyá ôôô me fiz palco de suas oferendas
Oh! Quanto esplendor!
Na decoração dei um toque sutil
Na culinária o sabor seduziu
O meu som vai ecoar, ecoar

Eu balancei mas não cai
Envergo, mas não quebro, que legal!
Virei enredo, minha vida é história
E poesia neste carnaval