“Uma vez Flamengo...”
Final
do século XIX, a praia do Flamengo era também chamada praia da Carioca,
ponto preferido dos pitorescos banhistas da “belle époque “. Eram
os anos dos primeiros “rowings” no Pavilhão de Regatas de Botafogo,
grandes acontecimentos sociais a que o público acorria elegantemente
vestido, cavalheiros com fraques e cartolas, as damas desfilando seus
grandes chapéus emplumados e cobrindo o rosto com leves “voilletes”.
Alguns jovens remadores do bairro realizam um sonho carinhosamente
acalentado e fundam o Grupo de Regatas do Flamengo, de estatuto, diretoria
e bandeira azul - “como o céu da Guanabara” - e ouro - “para lembrar
nossas riquezas”. Logo se trocaram estas cores pelo vermelho e preto
e o nome para Clube de Regatas do Flamengo.
Já nos primeiros anos do nosso século, o Flamengo e o Fluminense eram
chamados “clubes-irmãos”, pois vários dos remadores rubro-negros jogavam
futebol pelo tricolor: eram os chamados “fla-flus”. Em 1911, vários
atletas deixam o pó-de-arroz e criam o departamento de futebol do
Flamengo. O uniforme original, quadriculado em vermelho e preto, ganhou
o apelido de “papagaio-de-vintém” e foi substituído em 1912 por uma
camisa de listras intercaladas por frisos brancos. Esta camisa, a
“cobra-coral”, também teve vida curta: em 1916 instituiu-se o uniforme
rubro-negro definitivo, a camisa que joga sozinha, marca de glórias
e conquistas.
O futebol é mais que uma paixão, é o motor das massas e o Flamengo
é o celeiro de craques, muitos vindos da vizinha Praia do Pinto, surgidos
das peladas que são a própria infância do moleque da favela. E pensar
que todos os ídolos rubro-negros foram uma vez moleques, correndo
atrás de bolas de meias em campos de terras, ruas de paralelepípedos.
Assim foi com Domingos da Guia, Fio Maravilha, Biguá, Zizinho, o inesquecível
“Diamante Negro” Leônidas da Silva e – talvez o maior de todos – o
“Galinho de Ouro” Zico, nascido em Quintino, criado na Gávea.
O Flamengo é berço de atletas vitoriosos, que carregam para sempre
a marca do campeão rubro-negro. Atletas como a inesquecível corredora
Erika Lopes, a “Gazela Negra”; o carismático Bernard, inventor do,
saque “Jornada nas Estrelas”, e todos os ídolos do vôlei; os eternos
campeões do basquete, sob a estrela de Togo Rena Soares, o “Mestre
Kanela”; os semideuses das piscinas: Ligia Cordovil, Piedade Coutinho
e Rômulo Arantes. E ainda urna enorme constelação, estrelas em inúmeros
esportes olímpicos, campeões de terra e mar, das quadras e piscinas.
Todas as conquistas, títulos e vitórias são conseqüências de uma dedicação
superior, um amor sublime pelo Rubro-Negro. Assim se explica porque
o Flamengo é o único clube pentacampeão brasileiro de futebol; porque
o Flamengo venceu tantos campeonatos em países distantes, trouxe tantos
troféus, como a Taça Carranza conquistada na Espanha; porque o Flamengo
foi o primeiro clube brasileiro a se sagrar Campeão do Mundo na Terra
do Sol Nascente. O exemplo maior desse amor foi a campanha deflagrada
no início dos anos 40 por um grupo de ilustres flamenguistas, que
resultou na conquista do primeiro tricampeonato carioca. O grupo,
que contava com a participação de Ary Barroso e José Lins do Rego,
entre outros, recebeu a alcunha de Dragão Negro.
Flamengo que movimenta multidões, clube das massas, inspiração de
poetas que tentaram traduzir o que não cabe em palavras. O “Mais Querido
do Brasil”, alegria da galera, alegria dos geraldinos e arquibaldos,
que tomam o Maracanã aos domingos, em apaixonada contrição, quase
um êxtase; que jogam com o time, que sofrem, exigem, fazem a festa
da vitória com muito samba e cerveja, uma explosão de emoções. A maior
torcida do mundo, pura devoção, estrelas maiores do espetáculo do
futebol.
No carnaval, o Baile do Vermelho e Preto, a festa mais quente do Flamengo,
ou melhor, o auge de festa que dura o ano inteiro, nos estádios e
ginásios, nos bares, nas ruas, em todas os cantos da cidade. A folia
rubro-negra é perene, é um estado eterno de arrebatamento.
Na Sapucaí, nossa bandeira vermelha e branca será uma passarela, território
livre onde desfilarão as bandeiras dos outros clubes, um grande abraço
que todo o Brasil, neste dia, gostaria de dar no Mengo. FELIZ ANIVERSÁRIO!!
“Uma vez Flamengo...
Flamengo até morrer”.
Carnavalesco: Mario Borriello
Pesquisa e Texto: Marlo Giannotti
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