FICHA TÉCNICA 1975

 

Carnavalesco     ------------------------------------------------------
Diretor de Carnaval     ..............................................................
Diretor de Harmonia     ...............................................................
Diretor de Evolução     .............................................................
Diretor de Bateria     ................................................................
Puxador de Samba Enredo     ................................................................
Primeiro Casal de M.S. e P. B.     ................................................................
Segundo Casal de M.S. e P. B.     ................................................................
Resp. Comissão de Frente     ................................................................
Resp. Ala das Baianas     ................................................................
Resp. Ala das Crianças     ................................................................

 

SINOPSE 1975

A Festa do Círio de Nazaré

Introdução:

          Carnaval é festa, é alegria, é o povo na rua, é o canto e o passo dos Sambistas, em toda pujança, na representação maior dos folguedos dedicados a Momo.
          Como uma força estranha que envolve homens, mulheres e crianças, em frenéticos requebros de danças contorcidas, a festa carnavalesca tem suas raízes nos cultos da antiguidade, apresentando-se em nossa terra como uma demonstração do comportamento humano com características diversas das de outras plagas, sendo motivo maior de comunicação e união de massas.
          Ainda que seja uma festa profana, o Carnaval precede em tempo certo à Quaresma, estando inserido no Calendário Católico e constituído pelos três dias, imediatamente anteriores à imposição das Cinzas, que marcam o início do período de meditação cristã.
          Sem dúvida alguma, é na apresentação das Escolas de Samba o ponto alto do Carnaval, quando cada agremiação desfilante, através de um enredo, leva às ruas, num espetáculo sadio de empolgação e alegria, a História, o Folclore, personagens de destaque e os temas religiosos e sócio-culturais do povo, exaltando-os todos, numa demonstração de apreço artístico e cultural.
          Parece mesmo que o Desfile do Samba é um sistema que procura combinar os princípios de vários sistemas, através um sincretismo, no qual: a realidade histórica se emparelha com as raízes lendárias e os elementos pagãos se ladeiam ao culto popular cristão, como se fora uma representação ecumênica do sentimento popular e religioso do brasileiro.
          Nada melhor, portanto, do que uma festa do povo mostrada a outros povos, na mais popular de todas as festividades.

Razões Históricas:

          Celebrada todos os anos, em outubro, em Belém do Pará, há quase dois séculos, A Festa do Círio de Nazaré é uma manifestação sócio-cultural, de cunho religioso, cuja abertura tem lugar em triunfal romaria matinal – O Círio – com contagiantes festejos nazarenos, seguidos pelas noites feéricas do arraial, ocasião em que as preces dos romeiros se casam às músicas dos carrilhões famosos da Basílica onde é venerada a Santa Padroeira, num comovente hino de amor, como canta o poeta paraense Corrêa Pinto:

“Belém! Verde Belém!
Terra onde um povo, unido pela fé,
cultua, em sua berlinda senhoril,
a Virgem-Mãe, Virgem de Nazaré,
na procissão mais bela do Brasil!”

Origem e Lendas:

          Como todos os grandes acontecimentos que influenciaram poderosamente na história do Brasil, também a devoção a Nossa Senhora de Nazaré, iniciada em Portugal, se envolve em algumas lendas graciosas e fascinantes.
          Foi ao tempo do imortal Rei de Portugal, Afonso Henrique, que o seu irmão Alcaide de Porto de Mos, Dom Fuas Roupinho, durante uma caçada, num momento de morte iminente, invocou a Santa Virgem da lapa, sendo salvo milagrosamente, e como reconhecimento mandou erguer-lhe uma igreja, no lugar da lapa, a que o povo chamou a Capela da Memória, construída em 1182.
          No Brasil, a devoção à Senhora de Nazaré já existia, quando em certo dia do ano de 1700, um caboclo de nome Plácido, quando cortava lenha, encontrou a imagem da Virgem dentro de um nicho no meio da selva, construindo no ponto do encontro uma choupana em sua honra, dando início à veneração em Belém.

O Culto

          Várias foram as edificações em honra da Virgem, após a primeira ermida construída pelo caboclo Plácido, difundindo-se a crença na Santa de tal maneira que o notório e crescente número de graças alcançadas produziu até um profundo desenvolvimento no então arraial de Nazaré, cuja terceira igreja concluída em 1838 passou à categoria de paróquia.
          A quarta edificação já possuía a categoria de igreja Matriz, mas pela afluência cada vez maior dos inúmeros fiéis, pela dignidade do culto e pelos progressos do lugar, que se transformou na nova cidade de Belém, reclamou a consolidação de uma igreja que realmente fizesse honra à Virgem, a qual foi construída então com a economia do povo e elevada à categoria de Basílica, a 19 de julho de 1923, constituindo-se numa das mais belas obras artesanais do gênero.

Primeiro Círio

          Segundo a história, foi o então governador do Grão-Pará, Dom Francisco de Souza Coutinho, quem determinou que a partir de 1793 fossem prestadas à Virgem as maiores homenagens possíveis, nascendo do entusiasmo daquele fidalgo a grande procissão que se transformou num dos maiores espetáculos de fé em nossos tempos.
          O próprio governador se fez presente à primeira procissão integrada por muitos índios e índias, participando ainda, do cortejo, legisladores, cavaleiros, fidalgos, brancos e cafuzos, além da soldadesca.
          Determinou ainda o governador a criação de uma grande, em meio aos festejos, sendo inaugurada naquele ano de 1793 uma exposição de todos os produtos agrícolas e industriais paraenses e, durante uma semana de festas, o arraial esteve cheio de barracas de palha onde se encontravam cacau, guaraná, mandioca, urucum, cerâmica marajoara, tabaco, redes de fio, pirarucu salgado, cestos, esteiras, cordas, cipós e uma infinidades de quinquilharias e bebidas produzidas em todas as regiões vizinhas.

As Inovações

          Até 1855, foram várias as inovações introduzidas no Círio, o qual, a partir de então, passou a ser realizado no mês de outubro.
          Segundo alguns autores, em 1885, à hora da procissão, transbordou a baia de Guajará, tendo os diretores da festa tido a idéia de mandar pas­sar uma grande corta em torno da Berlinda da Santa, a fim de que os fiéis a puxassem, para vencer o atoleiro que se formara nas cercanias do mercado de Ver-o-Peso.
          Suprimida durante certo período, em 11-10-1931 – a Corda – a mais forte tradição do Círio, foi restabelecida, sendo puxada por uma comissão de quarenta pessoas. Atualmente, contudo, ela é muito mais extensa do que aquela, sendo carregada por milhares de devotos pagadores de promessas.
O período áureo da festa foi a partir de 1938, devendo-se a Felix Rocque, um paraense de espírito dinâmico e verve teatral, a montagem dos teatros do arraial de Nazaré e pelos quais passaram nomes famosos como: Beatriz Costa, Orlando Silva, Jararaca e Ratinho, Moreira da Silva, Dercy Gonçalves, Gilda de Abreu e Vicente Celestino, Ângela Maria, Colé, Aurora Miranda, Carlos Galhardo, Emilinha Borba, Elizete Cardoso e muitos outros.
          Atualmente, no arraial, além do comércio o mais variado, funcionam também um parque de diversões com carrossel, roda-gigante e casa de horrores, barracas de cachorro-quente e pratos e bebidas típicas, como o tacacá e o açaí, programando-se ainda a apresentação de espetáculos de arte, com conjuntos folclóricos, tudo isso aliado ao espírito hospitaleiro do paraense que tudo faz para agradar às centenas de milhares de romeiros que acorrem a Belém.

Apresentação:

          Para melhor desenvolvimento do empolgante tema, a Unidos de São Carlos apresenta seu festivo enredo dividido em duas partes, mostrando através de suas alegorias os símbolos mais marcantes do evento, tendo nos figurantes de destaque, inseridos no contexto, os personagens ou o simbolismo relacionado à festividade, enquanto que por meio de inúmeras alas são representados os tipos característicos encontrados no passar do Círio pelos séculos.
          A primeira parte mostra O Círio, que é a manifestação de cunho religioso da festa, orgulho dos paraenses e particularmente da população de Belém, constituída pela procissão dos romeiros, na qual a imagem pequenina da Virgem de Nazaré é conduzida numa Berlinda, desde a Catedral até sua Basílica.
          Na segunda parte é mostrado O Arraial, parte profana da tradicional festa do Norte do Brasil, representado pelos brinquedos, diversões e comércio, além das apresentações artísticas feitas nas instalações armadas na praça, onde se situa a igreja em que se venera a Santa e para onde acorrem todas as noites, durante duas semanas, milhares de pessoas.

  • O abre-alas - Artística concepção, simbolizando a Capela da Memória erigida pelo fidalgo português Dom Fuas Roupinho, da qual saem dois anjos anunciando o milagre que deu origem à veneração da Santa.

  • A Comissão de Frente - Constituída por quinze pagens, cada um conduzindo um círio, simbolizando a quinzena de festas realizada em Belém há quase dois séculos.

  • Dom Fuas Roupinho - Figura de destaque, representando o Alcaide de Porto de Mós, irmão do imortal Rei de Portugal Afonso Henrique, que sendo devoto da Virgem e em agradecimento por sua salvação, mandou erguer a primeira Capela em homenagem à Madona.

  • Grupo português - Caracterizado e dançando o “Vira”, simboliza o entrelaçamento histórico com a terra portuguesa onde se iniciou a devoção à Senhora de Nazaré.

  • Plácido - Figura de destaque, representando o caboclo que encontrou a pequenina imagem da Santa, no nicho da selva, junto ao igarapé Murutucu e iniciou o culto da Virgem em Belém do Pará.

  • Esplendor nativo - Figura de destaque, apresentada em meio a alas de índios e índias, simbolizando a beleza da selva amazônica que há dois séculos era grandemente habitada por tribos indígenas, muitas das quais participaram dos primeiros Círios.

  • O governador - Figura de destaque, representando a autoridade máxima do Grão-Pará e Rio Negro o Capitão-de-Fragata e Grão-Cavaleiro de Malta, Dom Francisco de Souza Coutinho, que em 1793 determinou a realização do 1° Círio e da 1ª Feira de Produtos Paraenses.

  • Anunciação - Figura de destaque, simbolizando o arauto que deu notícia ao povo, das determinações do governo, para que todo o ano se realizasse a grande festividade em Belém do Pará.

  • O Círio - Figura de destaque, simbolizando a beleza exuberante da festa máxima do Norte do Brasil.

  • Autoridades - Grupo constituído pela velha guarda da escola, simbolizando as autoridades constituídas que todos os anos desfilam por ocasião do Círio.

  • Pagadores de promessa - Ala concebida para simbolizar aqueles que em pagamento de uma graça alcançada se apresentam durante o Círio segurando a tradicional e enorme Corda que contorna a Berlinda.

  • A berlinda - Artística alegoria, concebida como réplica, representativa em simbolismo, daquela lindíssima carruagem onde é conduzida a imagem da Virgem durante a procissão dos romeiros, representados pela ala dos Laçadores de Marajó.

  • Ver-o-Peso - Alegorias de mão, simbolizando o tradicional mercado onde atracam centenas de saveiros, colorindo com suas velas e mastros enfeitados o local onde se concentram peregrinos de todos os pontos, para assistir a bela passagem do Círio.

  • Espocar de fogos - Figura de destaque, em homenagem aos Estivadores de Belém, que todos os anos realizam um espetáculo pirotécnico de rara beleza, seguida pela ala dos Fogueteiros.

  • Felix Rocque - Estandarte em homenagem àquele paraense de verve teatral e espírito artístico, que imprimiu grande alegria ao arraial de Nazaré, criando os teatros onde se apresentaram famosos artistas do cenário brasileiro.

  • Luxo e riqueza - Figura de destaque, representando a pompa e a riqueza da arte cênica que desfilou algumas décadas no arraial de Nazaré.

  • Coreto - Artística concepção, em homenagem simbólica a todos os conjuntos musicais que se apresentaram pelos inúmeros coretos encontrados em Belém e que por muitos anos foram a alegria dos romeiros.

  • Gaioleiro - Figura de destaque, seguida pela ala dos Gaioleiros, representativa dos vendedores de pássaros e outras espécies animais.

  • Mascate do arraial - Figura de destaque, seguida pelas alas do Papa-Vento e dos Vendedores de Buriti, representando as centenas de vendedores de quinquilharias, encontrados em Belém à época do Círio.

  • Louvação ao nascente - Figura de destaque, simbolizando a alvorada do segundo domingo de outubro em que começa a grande Festa do Pará.

  • Glorificação celestial - Figura de destaque, simbolizando a beleza do céu paraense, nas noites festivas do arraial de Nazaré.

  • O carrossel - Alegoria que sintetiza a representação dos diversos brinquedos existentes no parque montado no arraial e que é a alegria maior das crianças.

  • Os horrorosos - Grupo mascarado, representativo das figuras encontradas na Casa dos Horrores montada no arraial.

  • Tacacazeiros - Ala representativa dos vendedores de tacacá, cujas carrocinhas são pontos de atração turística, seguidos pelas barraquinhas de comidas e bebidas típicas da região.

  • Grupo de carimbó - Conjunto folclórico do Norte, mostrando o ritmo quente da região na sua melhor representação original.

  • A rainha do cheiro - Figura de destaque, liderando a ala do Cheiro, apresentando o aroma paraense contido nas raízes e ervas perfumadas da Amazônia como o Patichulim, o Cheiro-Cheiroso, a Priprioca e outras.

  • A basílica - Alegoria de fecho, simbolizando a fachada monumental da igreja famosa de Belém, onde se venera a Santa, que todos os anos cativa milhares de romeiros de todas as regiões.

 

Pesquisa bibliográfica:

  • Arthur Vianna – Tratado existente no Museu Goeldi, em Belém do Pará

  • Eidorfe Moreira – Visão Geo-Social do Círio

  • Padre Florêncio Dubois – A devoção à Virgem de Nazaré

  • Ernesto Cruz – História do Pará

  • Carlos Rocque – Caderno Especial – “A Província do Pará”, de 13-10-74

  • A Voz de Nazaré – Número Especial (História da Devoção a N. S. de Nazaré em Belém do Pará)

  • O Estadão – Suplemento de Turismo de 6-10-74

  • Coletânea do Serviço de Defesa do Folclore

  • O Círio de Nazaré 1974 – Programa da Festa

 

SAMBA ENREDO                                                1975
Enredo     Festa do Círio de Nazaré
Compositores     Aderbal Moreira, Dario Marciano e Nilo Esmera Mendes
No mês de outubro
Em Belém do Pará
São dias de alegria e muita fé
Começa com intensa romaria matinal

O Círio de Nazaré
Que maravilha a procissão
E como é linda a Santa em sua berlinda
E o romeiro a implorar
Pedindo a Dona em oração
Para lhe ajudar

(Oh! Virgem)
Oh! Virgem Santa
Olhai por nós
Olhai por nós
Oh! Virgem Santa
Pois precisamos de paz

Em torno da Matriz
As barraquinhas com seus pregoeiros
Moças e senhoras do lugar
Três vestidos fazem pra se apresentar
Tem o circo dos horrores
Berro-Boi, Roda Gigante
As crianças se divertem
Em seu mundo fascinante
E o vendeiro de iguarias a pronunciar
Comidas típicas do Estado do Pará

Tem pato no tucupi
Muçuã e tacacá
Maniçoba e tucumã
Açaí e aluá

(No mês)