FICHA TÉCNICA 2005

 

Carnavalesco     Cida Donato
Diretor de Carnaval     Jeferson Martins Lopes (Broto)
Diretor de Harmonia     Rogério S. Oliveira e Comissão de Carnaval
Diretor de Evolução     .............................................................
Diretor de Bateria     Pitácio, Robinho, Elias e Douglas
Puxador de Samba Enredo     Antônio Carlos "Fogueira"
Primeiro Casal de M.S. e P. B.     José Luiz e Maria Aparecida
Segundo Casal de M.S. e P. B.     Luana e Carlos Alberto
Resp. Comissão de Frente     Carla Veronica e Liliplisseia
Resp. Ala das Baianas     Vilma Ricardo
Resp. Ala das Crianças     Jorge Tampa, Emília e Pedrina

 

SINOPSE 2005

Mãe baiana: signo da africanidade carioca

Sinopse:

          O desfile das Escolas de Samba do Rio de Janeiro é o mais belo espetáculo do planeta, segundo os internautas, e mobiliza milhões de pessoas ano a ano. Tem, essa festa, a capacidade de atrair para si a atenção dos diversos olhares do mundo, face sua organização, beleza, originalidade e, acima de tudo, por se tratar de um espetáculo de cunho caracteristicamente popular. Todavia, por detrás do fenômeno do desfile, que acontece nos dias de carnaval, esconde-se a peculiaridade desse evento: a cultura do samba; é a partir dessa visão que conduziremos o presente trabalho: o samba, a africanidade carioca e a Mãe baiana.
          Ao pesquisarmos a Mãe baiana do carnaval, fomos, aos poucos, descobrindo aquilo que intuitivamente já sabíamos: é a Mãe baiana o marco da cultura negra na cidade do Rio de Janeiro. Para que possamos deixar claras as nossas intenções, vamos conduzir este resumo da mesma forma como conduzimos a nossa investigação, ou seja, passo a passo, indagando e tentando responder essas indagações.

Quem é a mãe baiana?

          A mãe baiana do carnaval carioca é, a princípio, uma personagem do desfile, cujos atributos são beleza, ternura, presença e afeto. A sua presença na festa, além da obrigatoriedade do regulamento, é uma necessidade da cultura do samba, dos sambistas e do próprio acontecimento. Embora muitas das baianas não tenham mais em sua pele as características da raça negra e muitas das vezes nenhuma relação de vida com a cultura do samba, ao se apresentarem em desfile, as suas imagens deixam-nos diante do fenômeno “baiana”, ou seja, um corpo que, ao ser possuído pela dança, pelo canto e pelo giro, impõe a presença de uma negritude carioca, fincada no solo da cidade do Rio de Janeiro através da resistência, da luta, da fé e da coragem da mulher negra recém liberta. Quando nos atentamos para a poética desse corpo, podemos perceber a presença de todas as mães, negras ou não, que lutaram e lutam por nosso povo. É neste sentido que abordamos essa mãe baiana enquanto um signo de uma cultura de resistência.

Por que a mãe baiana é um ícone cultural?

          A história nos mostra que a baiana do carnaval é uma personagem que resume em si, em seus gestos, costumes, indumentária, crenças e atitudes, os traços da identidade cultural da cidade do Rio de Janeiro. A Mãe Baiana preserva valores de ordem mítica, ou seja, a sua presença preserva e garante o ato sagrado do sambista. Neste sentido, a baiana do carnaval é um patrimônio cultural de uma cidade que cresceu e se fortaleceu por qualidades herdadas da cultura negra.

Como o enredo pretende fazer essa abordagem?

          Em primeiro lugar o enredo pretende mostrar a chegada das mães negras, pelas águas do oceano atlântico, ao Brasil e, posteriormente, ao Rio de Janeiro. Esse movimento migratório, somado à geografia e à política da cidade, propiciou o desenvolvimento de uma cultura afrobrasileira, permeada por características multiraciais, contudo, com fortes traços e predominância da cultura negra, resultando na cultura do samba e, posteriormente, das escolas de samba.
          Com esse movimento o Rio de Janeiro recebe os orixás, o axé, a capoeira, os santos negros, o candomblé, os ranchos de reis, entre outros. Nesse momento a mãe baiana está presente no papel da mulher que teve de reconstituir sua família a partir dos fragmentos que restaram de um regime escravocrata. As tias baianas, tais como tia Ciata, tia Bibiana, tia Perciliana, que, unidas, promoveram um movimento de resistência cultural e conseguiram africanizar uma cidade que, até então, tentava viver sob os moldes franceses.
          No segundo momento, o enredo deseja mostrar como essa cultura expandiu-se pela cidade, tornando impossível aos seus governantes separar negros e brancos, pobres e ricos, judeus e católicos, entre outros. Com a pergunta O que traz essa baiana? , este setor da escola mostrará o poder alquímico dessas mulheres que, necessitadas de trabalho, saíram às ruas com seus quitutes, com seus ungüentos, com suas rezas, com suas festividades, invadindo o cotidiano carioca, seduzindo a quem fosse tocado por sua magia.
          No terceiro momento, o enredo mostrará que, a partir desse movimento, provocado pelas mães baianas, a arte carioca e, posteriormente nacional, ganhará uma outra face, uma face brasileira, que será abraçada pelos modernistas Mário de Andrade, Cecília Meirelles e Tarsila do Amaral e se propagará pela Europa, dando ao país uma identidade artística própria, totalmente voltada aos valore nacionais. É nesse instante que o carnaval carioca, totalmente voltado à cultura do samba, se fortalece cada vez mais, selando com a cidade um pacto indissolúvel. A Mãe baiana se manifesta neste setor enquanto a poiesis do carnaval, aquela que, como musa, tal qual o samba da Império serrano cantou “... a musa se vestiu de verde e branco e do canto se fez canto

Cida Donato

 

SAMBA ENREDO                                                2005
Enredo     Mãe baiana, signo da africanidade carioca
Compositores     Jayme César, Ivani Ramos, Biscoito e Nilson Castro

Pelas águas de Iemanjá
Vieram negras guerreiras
Com os filhos da África
O navio negreiro chegou
Surgiu a crença, os rituais
O candomblé, a fé nos orixás
Saudades do seu chão
Trouxeram a tradição
Preces em devoção
A liberdade de um dia ecoou
Nas terras de São Salvador

É seu tempero traz proteção
Iguarias para seu prazer
Com aromas à enfeitiçar
Com tabuleiro vem oferecer

Ressoou o som do tambor
Na cultura brasileira é arte popular
Oh mãe! Da africanidade carioca
A Em Cima da Hora hoje evoca
O signo da força e do amor
Modernizar nossa raiz
É a negritude nesse meu país

Brilhará a chama dessa luz
Me conduz, um canto pela sua história
A mãe baiana é, divindade de fé
Hoje peço seu axé

(Pelas águas...)