E agora garçom, pode trazer a saideira...
"Eu fui aluno do Antenor Nascente. E ele dizia: "Eu sei que ruim é o certo, mas ruim é uma palavra muito feia. Eu digo rúim, porque sujeito que comete uma ruindade é rúim, porque, se ele for ruim, ele está pedindo desculpa, ruíiiiim". É o mesmo de boemia e boêmia. O sujeito que gosta da boêmia vai dormir às 10 horas da noite. A boêmia é uma coisa esticada, boemíiiiia."
Mário Lago
Justificativa:
Este enredo irá contar uma rápida história da Boêmia Carioca, dando destaque aos diferentes locais que marcaram cada etapa de sua evolução.
Através de alegorias e alas será apresentado um pouco da evolução da boemia desde o início do século XX até os dias de hoje.
O enfoque principal será mostrar que a vida boêmia sempre esteve presente na cultura carioca, atravessando várias décadas e sofrendo transformações que influenciaram, de maneira marcante, várias gerações nas suas mais diferentes formas na arte da comunicação.
Sinopse:
A vida boêmia carioca só começa efetivamente no início do século XX quando da reforma do Prefeito Pereira Passos que pretendia fazer do Rio de Janeiro a "Paris Tropical", abandonando a fisionomia de uma cidade marcada por traços coloniais, fazendo uma remodelação não só arquitetônica como também nos meios de transportes e de costumes. Era dada a partida para a modernização do Rio que passa a ter lugares especiais para a boemia.
Os cafés e confeitarias passam a ser locais da moda. A Confeitaria Colombo passou a ter todo aspecto "art-noveou" que marcava a arquitetura e decoração parisiense.Todo final de tarde, lá se encontravam as senhoras e moças de famílias emergentes. Ao anoitecer, o público mudava e então chegavam os homens que estavam saindo de seus escritórios. Temos aí, portanto, o "happy-hour" do início do século.
A boêmia se expande para outros lugares do centro. Agora é a Praça Onze que irradia sua comunicação boêmia. Aparece um novo ritmo o samba. Nos terreiros das tias baianas as festas são animadas pelo ritmo do jovem samba. Era a boemia com um casamento perfeito: o samba e a cerveja devido a proximidade de uma fábrica de cerveja.
O Rio passa a ser o próprio lugar para a agitação e, do Centro acabaram fazendo da Lapa o reduto maior da boemia com seus malandros, artistas, prostitutas e travestis. Podemos dizer que era a elite com o submundo, uma verdadeira mata tropical. Era o "bairro do pecado" como se referiam as autoridades da época que perseguiam sua gente boêmia e marginal.
Entre 1937/1945, intervenções urbanas atingiram a área da boemia, particularmente na Lapa e na Praça Onze. A recuperação da boemia viria com a transferência para as boates em Copacabana que era um território boêmio diferente. Os freqüentadores eram a nata da sociedade e da intelectualidade, o high-society, os cronistas da imprensa, a turma da música popular e refúgio para solitários. Este cotidiano noturno era vivenciado dentro dos bares, restaurantes e boates onde existia uma atmosfera ideal. A cadência mais tradicional do samba começou a ser substituída pelo samba canção, mais lento, abolerado e centrado na temática da dor-de-cotovelo.
A cidade continua a crescer e a boemia passa por diferentes momentos e influências. Os cariocas acabam elegendo novos ambientes para suas agitações. Está instalada a era da Bossa Nova. É a boemia intelectual onde os barzinhos proliferam e a batida do violão vai rasgando a madrugada. É "bacana" ver o sol nascer. A Garota de Ipanema é reverenciada. O malandro mudou de ares. O velho malandro deu lugar aos músicos e poetas que registraram a boemia em livros e músicas, sempre sob a inspiração de muito chopp e whisky.
O Baixo Leblon está na moda. É o novo ponto de encontro. A geração de 70 fazia muvuca ali no Baixo Leblon. O Baixo Leblon representava o convívio de tribos diferentes. O hábito noturno já contava mais fortemente com a presença das mulheres. A mulher boêmia entrava cada vez mais madrugada adentro. É a boemia da Zona Sul. Época áurea do dancin days.
A cidade se agigantou. A boemia leva sua comunicação aos subúrbios. Os espaços de boemia se multiplicam. Surgem casas de show, rodas de pagode e barzinhos de voz e violão. Começam a aparecer lugares dedicados ao melhor da samba e do choro carioca. O forró invade a noite. Há lugar para o pop da moda, um funk ou um hip hop. Na boemia carioca há lugar para todas as tribos, existindo todo um linguajar típico para cada grupo. É a diversidade cultural. Há lugar para encontros e desencontros, amores e desilusões. É a vida que continua em cada amanhecer.
E agora, garçom pode trazer a saideira.
Autora: Regina Passaes
Desenvolvimento: Comissão de Carnaval |