FICHA TÉCNICA 1999

 

Carnavalesco     Etevaldo Brandão
Diretor de Carnaval     Jorge Moreira
Diretor de Harmonia     Paulo Maurício
Diretor de Evolução     Paulo Maurício
Diretor de Bateria     Alexandre Reis
Puxador de Samba Enredo     Jackson Martins
Primeiro Casal de M.S. e P. B.     Peixinho e Marcella Alves
Segundo Casal de M.S. e P. B.     Paulo Cesar (Batata) e Rosângela
Resp. Comissão de Frente     Jerônimo da Silva Patrocínio (Jerônimo)
Resp. Ala das Baianas     Dona Zilah Reis
Resp. Ala das Crianças     Não Possui

 

SINOPSE 1999

No universo da beleza, Mestre Pitanguy

Introdução:

            Consciente de sua reputação de Escola de vanguarda, já responsável pela elaboração e apresentação de uma memorável série de enredos polêmicos, iniciados na década de 80, a Caprichosos de Pilares decidiu aceitar um grande desafio para revolucionar os conceitos e dar nova " visão plástica " aos desfiles carnavalescos dos próximos anos.
            O enredo escolhido para o Carnaval que antecede a chegada do 3o Milênio – fato extremamente importante para a atual geração, poderá ser caracterizado como histórico, artístico, político e científico acima de tudo, mas não deixará de ser, também, místico e espiritual.
            Portanto, todos os temas, tradicionalmente utilizados para a concepção de enredos serão reunidos em um só, o que tornará o nosso trabalho diversificado, instigante, além de polêmico.
            O grau de "dificuldade da operação" começou pela necessidade de vencer a relutância do nosso homenageado, sempre relutando emprestar o seu nome, sua carreira, seu prestígio social, para a elaboração do enredo, o que só foi possível depois de vários apelos e questionamentos a respeito da sua reconhecida generosidade, liberalidade e nobreza de sentimentos, sempre voltado e disposto a colaborar com as manifestações de natureza popular.
            Para ser completamente retratada, nos mais diferentes assuntos, a obra do Mestre Pitanguy, pela sua extensão e magnitude, exigiria, pelo menos, dezenas de outros trabalhos carnavalescos. Entretanto, seguindo o exemplo do nosso homenageado, que não se detém diante de nenhum obstáculo, procuraremos, dentro das limitações e da relação tempo x espaço, e sem nenhum compromisso de analisar as questões acadêmicas, ressaltar o seu trabalho e sua importância dentro da respeitada e conceituada medicina plástica exercida em nosso País.

Desenvolvimento:

            A primeira criação artística, depois do próprio Universo, segundo registros bíblicos, foi a modelagem do Homem, a criatura do Criador, a partir do barro.
            O Grande Mestre, certamente, poderia realizar a sua inigualável obra, sem similar, com um simples aceno de mão, ou apenas a manifestação de um desejo. Mas seria pouco e a inspiração não seria notada, para a sua satisfação. Então, utilizou argila e modelou-a com as próprias mãos, para expressar o seu amor, carinho e preferência pela mais admirável das obras, transmitindo-lhe aparência, contornos, mobilidade, sentimentos e até mesmo o direito de ser semelhante ao seu Mestre Escultor. E ainda não satisfeito, reproduziu uma cópia, o gênero feminino e, conseqüentemente, a espécie humana.
            Depois de pronto e revisado, com aspecto físico definido, o Homem esperou milhares, talvez milhões de anos para evoluir e modificar seus hábitos de vestir. Então, passou a utilizar, além de peles, roupas de lã animal, primitivamente confeccionadas, sem nenhum estilo, ou capricho. Com novas roupas, garantindo maior liberdade de movimento, devido o feitio e conforto proporcionado pela lã, o Homem sentiu necessidade de dar maior atenção à aparência física, e procurou alinhar os cabelos, utilizando gordura de animais abatidos. Anos depois, com o auxílio de pedras afiadas nas extremidades passou a cortar o excesso de cabelo. Manifestava-se, assim, o sentimento da vaidade humana.
            Como em tudo existe um princípio, o nosso enredo começará com a Comissão de Frente, representada pelo "Homem de Barro", que deu origem à espécie, impossível de ser reproduzida, no máximo restaurada, com a permissão do seu Criador.
            Seguindo-se à Comissão de Frente, o magnífico e original Abre-Alas da Caprichosos de Pilares, segundo o ponto de vista da Escola, representará o sublime e jamais repetido momento da Criação do Mundo, com a presença dos principais elementos da natureza, ainda sem sofrer os prejuízos causados pelas inconseqüentes ações do Homem.
            Sob a frondosa vegetação, lindas mulheres se destacarão em meio ao denso nevoeiro, próprio da época da formação do mundo, segundo a inspiração dos nossos artistas.

Primeira Enfermaria:

            Já no limiar da Antigüidade a Criatura Humana passou a se interessar e a cultuar a forma física, a aparência e a se comparar, disfarçadamente, com o seu semelhante. Quando insatisfeitos recorriam às tintas preparadas à base de carvão vegetal para realçar o contorno dos olhos, e de raízes vermelhas para realçar o formato das faces.
            Na Grécia Antiga a vaidade feminina era latente e os Homens, querendo agradá-las, mostravam-lhes esculturas magníficas e as comparavam às mesmas em elegância e beleza.
            O aperfeiçoamento das esculturas e pinturas paralelamente ao respeito do povo pelas coisas espirituais, provocou o aparecimento de várias divindades, uma delas Afrodite, a digna representante da beleza.
            Até nos gestos a beleza era cultuada. Os cidadãos gregos não demonstravam o menor sinal de deselegância em público ou em ambientes privados. Por isso explica-se o uso da Harpa como instrumento musical, devido o seu manuseio exigir movimentos delicados, compatíveis com os padrões de beleza, requinte e elegância da época.
            Focalizando esse período da História, lembramos de Helena de Tróia, que o simples olhar estremecia os corações masculinos, devido a concentração da mais pura, radiante e instigante forma de beleza nas maçãs do seu rosto, de sua boca sedutora, enfim, estaremos lembrando e falando de Helena de Tróia, simplesmente Helena, a conquistadora dos corações indomáveis.
            Considerando que a vaidade não é característica feminina, mas de toda a espécie, os homens gregos também procuraram, assim como os de hoje, exercer o direito de melhorar a aparência física, praticando esportes e toda forma de embelezamento do corpo, e criaram, para ser seguido, como exemplo, a esbelta figura de Apolo, que também virá da Grécia, a convite, para participar do desfile de 1999 e, segundo soubemos, só retornará após o desfile do Sábado das Campeãs, porque vaidoso como é gostará de se apresentar duas vezes neste Carnaval.

Segunda Enfermaria:

            A beleza não tem fronteiras nem distingue cor, sexo ou condição social. É um direito de todos, especialmente do gênero feminino, habitante de qualquer extremo da Terra.
            As orientais são exigentes quando se trata, principalmente, de beleza e requinte. Além dos esforços para preservar a beleza dentro dos próprios conceitos, as mães orientais, particularmente as Japonesas, obrigam as suas filhas a suportarem, até a adolescência, calçados menores, para evitar o crescimento dos pés. A inobservância desse costume qualifica a mãe como omissa e descompromissada com o ritual da beleza que muitas vezes, vai além do santuário do corpo. Isso explica também a profusão de artísticas e delicadas lanternas, enfeitando e iluminando os ambientes domésticos, porque a mulher oriental considera que a organização e o bom aspecto do lar é uma extensão da sua beleza e personalidade.
            Nem mesmo as coloridas sombrinhas, complemento inseparável das orientais, deixarão de ser mostradas pelas lindíssimas mulheres da Escola, que vão utilizá-las, como escudo, para exercitar a curiosidade masculina, sempre a procura do belo, do excitante, do inesquecível, como será o desfile da nossa Escola neste penúltimo carnaval do milênio.
            As primitivas imagens de Buda e Shiva, o primeiro pela tranqüilidade facial e a segunda pelo exótico, que na maioria das vezes é belo quando não é grotesco nem agressivo, ainda hoje são reproduzidas por artistas de diferentes nacionalidades, apreciadores do exótico, também como forma de beleza.

Terceira Enfermaria:

            A cor vermelha sempre mereceu preferência para o realce da beleza facial, corporal, de roupas e objetos pessoais dos povos antigos, lembrando os Assírios, Egípcios, Vikings, Romanos, Ciganos e, mais recentemente, os Incas.
            As mulheres pertencentes a esses povos eram demasiadamente vaidosas e o dever de se manterem belas, dentro das limitações, era uma das obrigações domésticas. Seus cabelos eram penteados a cada mudança de lua. Algumas até arriscavam lavar as cabeças quando a quantidade de água disponível permitia esse luxo.
            Essa carência, no entanto, não afetava Cleópatra, a vaidosa Rainha do Egito, dona da maior coleção de espelhos e que também dispunha de toda a água do Nilo para hidratar e conservar a sua pele, cor e sabor de mel, mesmo que tivesse de sacrificar o povo para manter a sua beleza real.
            Mas, a julgar pelas informações e estampas, nenhum povo admirava mais a cor vermelha do que os índios do Hemisfério Norte. Aparentavam arrogância mas, na verdade, eram vaidosos, como são os nossos excelentes ritmistas. Por isso, esse setor da Escola será inteiramente vermelho, inclusive a nossa Bateria, que vestirá uma fantasia inédita, extremamente vistosa, como merecem as nossas competentes "chocalhetes ", Marcia, Dayse, Lazuli, Janaína, Cristina, Elaine, Maria Fernanda e a simpática Nilza, entre tantas outras bonitas, charmosas e elegantes, escolhidas para representar o elenco feminino da Caprichosos.

Quarta Enfermaria:

            As mulheres africanas, reconhecidamente, são as mais vaidosas, e que mais procuram realçar a silhueta física exibindo trajes estampados com seis ou mais cores fortes e variadas. O trato da beleza facial também exige cuidado máximo e dependendo da região o rosto recebe pintura discreta ou berrante. De qualquer forma, pelas características dos povos, mesmo quando a pintura é mais acentuada não deixa de ser admirada.
            A imensidão do território africano atravessa inúmeros paralelos geográficos. Os povos e etnias que habitam essas regiões mantém uma convivência que resulta na miscigenação das raças, provocando o aparecimento de pessoas bonitas, diferentes na maioria das vezes, porque combinam a beleza e a característica física de duas raças e, conseqüentemente, mais um motivo para a vaidade humana.
            Além da vaidade pode-se também constatar a sensibilidade e a espiritualidade das mulheres africanas quando manifestam devoção por uma entidade feminina extremamente elegante e orgulhosa de sua beleza, conhecida por Oshun, e para comprovar que as mulheres da Caprichosos,também são espiritualizadas e bonitas, desfilarão com a mesma nobreza e beleza dessa entidade, da maneira que foi reproduzida e exposta por Caribé, num estabelecimento bancário, em Salvador.
            Ao Homem, na condição de Criatura, foi concedido permissão para se cuidar, conservar-se em bom estado, até mesmo exibir vistosos ornamentos, tudo isso sem alterar ou agredir o seu corpo - a obra perfeita, máxima e inigualável do Criador, um santuário, verdadeiramente.
            Procurando e exigindo sempre mais, cada uma das Criaturas se sentiu maravilhosa, incomparável, e passou a se ver mais bela do que as demais, surgindo, assim, o culto à beleza desmedida, insaciável e presunçosa.
            Lenda ou realidade, o fato é que uma delas, que chamaremos Narcizo, esmerou tanto no apuro e ostentação da aparência física que até as referências pessoais a respeito do seu aspecto e beleza já não eram mais convincentes. Precisava de mais garantias, de certeza absoluta, para tranqüilizar o seu ego.
            Obcecado pela vontade de possuir o mais lindo dos rostos, passou a confiar nas respostas dadas pela imagem que só ele via refletida em um espelho, quando perguntava: - Sou ou não o mais belo ? Invariavelmente, a voz que ele imaginava ouvir do interior do espelho, satisfazia a sua vaidade, e todos os Narcizos, que desfilarão neste Setor da Escola também ouvirão a voz dos próprios espelhos mágicos, garantindo que cada um é mais belo dentro de si, comparativamente com a sua dignidade e sensibilidade pessoal.

Quinta Enfermaria:

            Manifestando sua extrema bondade, o Divino Mestre, para satisfazer a todos, em boa hora, decidiu se fazer presente, através das milagrosas mãos, competência e conhecimento científico do imortal IVO PITANGUY, expressão máxima da medicina plástica, brasileiro de nascimento e cidadão do mundo, por adoção.
            Então concedeu ao nosso homenageado o direito de se colocar ao lado de outros grandes benfeitores da Humanidade com a realização de um trabalho que será eternamente lembrado por todos os brasileiros e, mesmo que recuse referências elogiosas, por excesso de modéstia, terá o seu bendito nome merecidamente registrado na Memória da Humanidade.
            Usando dessa Graça Divina, o Emérito Professor, resignadamente executa a sua missão, na Clínica da Rua Dona Mariana, sem precedente na História da Medicina, restaurando e devolvendo ao seu semelhante atingido pela fatalidade ou portador de uma imperfeição congênita, a alegria de se sentir igual, parte da espécie humana. É dessa forma que a bondade divina, inspiradora do "Solar da Misericórdia" se manifesta através do competente credenciado, que na maioria das vezes se afasta, espontaneamente, do conforto do seu retiro espiritual para restaurar, sempre que necessário, as criaturas menos afortunadas e humildes e, além de tudo, imperfeitas e também as vítimas da própria imprudência.
            Não é somente através das obras executadas com as mãos que se revela a versatilidade do nosso Mestre e homenageado.
            Distingue-se, também, pela qualidade e quantidade de obras literárias, de surpreendente beleza e profundidade poética-filosófica. Valiosa contribuição para o enriquecimento da cultura nacional, bastando atentar para estas frases, aparentemente simples, mas de incalculável conteúdo, verdadeiras pérolas que nos obrigam a uma reflexão:

"O Ser Humano é um só na sua procura da identidade com seus pares, sua tribo, seu grupo".

"A beleza eu não sei definir, mas sempre que a vejo sei percebê-la".

Sexta Enfermaria:

            O que antes era embaraçoso e mantido em segredo passou a ser um acontecimento normal e até saudável. Por isso, a Caprichosos decidiu se submeter ao toque de embelezamento do consagrado PITANGUY, para comemorar o primeiro Cinqüentenário de Fundação e se apresentar inteiramente "restaurada" no Sábado das Campeãs do Carnaval - 99, com a mesma vitalidade e desembaraço de uma adolescente viçosa.
            A gratidão é uma das virtudes humanas e, de certa forma, vem sendo praticada, e é isso que a Caprichosos pretende mostrar.
            Considerando o merecimento por tudo que tem feito e ainda irá fazer, mesmo contrariando a sua vontade, a Caprichosos de Pilares deflagrará as homenagens públicas devidas a Ivo PITANGUY, e com isso sairá à frente de todos.
            Essas homenagens, uma verdadeira Consagração, serão prestadas por 4.000 componentes cantando, contando, dançando e agradecendo a honra de conduzir o seu retrato e ingressar no seleto grupo de seus Amigos.
            À Família Pitanguy, aos Acadêmicos de Medicina, à Imprensa Especializada, aos pacientes que tiveram o privilégio de merecer a dedicação do Mestre PITANGUY, enfim, ao Universo do Samba e a todos que assistirão, prestigiarão e comentarão o trabalho executado com incontida emoção, os abraços e os agradecimentos da Caprichosos de Pilares.
            Formulo agradecimentos aos Doutores Fernando e Aldemar Leandro e aos Membros da Comissão de Carnaval da Caprichosos de Pilares pela acolhida a um artista iniciante, fato incomum no Universo do Samba, mas próprio de homens sensíveis com espírito de humanidade e confiança no trabalho de um semelhante.

Etevaldo Brandão

 

SAMBA ENREDO                                                1999
Enredo     No universo da beleza, mestre Pitanguy
Compositores     Sidney Leite, Flávio Quintino, Marcelinho da Caprichosos, Bittar e Jorge 101
Criando e modelando a natureza
As mãos do arquiteto aqui estão
No universo da beleza, o jardim da inspiração
Doando aos homens o valor do seu cinzel
Do barro a vida uma dádiva do céu
De afordite a oxum negra do amor
Todas as gueixas têm um encanto sedutor

Amor me leva
Me leva que eu vou caprichar
Minha alma narcisista
Nas bodas de ouro eu buscar

A imagem e semelhança do senhor
Restaurada pelas mãos do professor
A auto-estima em cada ego despertar
Obra divina a cultuar

Praticando o bem profundo
Este cidadão do mundo pioneiro, singular
E no solar da caridade
Tão generoso alcança a imortalidade

Fantástica,
Beleza plástica
Da sultileza à perfeição
Tanto talento merece consagração

O amor a vida faz rejuvenescer
A saúde traz a paz, gostoso é viver
A luz do céu conduz seu bisturi
E a Caprichosos canta Mestre Pitanguy