FICHA TÉCNICA 1998

 

Carnavalesco     Jerônimo Guimarães
Diretor de Carnaval     Luiz Fernando Reis, Alberto Leandro e Bruno Santos
Diretor de Harmonia     Zico e Paulinho
Diretor de Evolução     Zico e Paulinho
Diretor de Bateria     Mestre Paulo Renato
Puxador de Samba Enredo     Jackson Martins
Primeiro Casal de M.S. e P. B.     Marquinhos Sorriso e Marcella Alves
Segundo Casal de M.S. e P. B.     Peixinho e Rosângela
Resp. Comissão de Frente     Sidney e Stellinha
Resp. Ala das Baianas     Dona Zilah Reis
Resp. Ala das Crianças     Não teve ala

 

SINOPSE 1998

Negra Origem, Negro Pelé, Negra Bené

Argumento:

            A partir de 1982. ano de seu ingresso no seleto grupo das grandes Escolas do Carnaval Carioca, a CAPRICHOSOS vem marcando um estilo crítico, alegre e irreverente. E o seu jeito, seu estilo de contar, de apresentar um enredo, e sempre faz isso assumindo posições corajosas, como, por exemplo, exigindo DIRETAS JÁ, em 1985, enfocando autonomia CULTURAL, em 1986, criticar o sistema político, em 1987, reafirmar a convicção de que o PETRÓLEO ÉNOSSO, em 1992, ou apontar as diferenças sociais no enredo NÃO EXISTE PECADO... em 1993 e daí por diante.
            A CAPRICHOSOS é assim mesmo, decidida, ousada, corajosa a ponto de contar e cantar o momento presente, o dia-a-dia. E consegue aliar critica e alegria, assumindo compromissos descompromissadamente... sambando, o que é melhor.
            Certamente, por conhecer a própria casa e a sua estrutura, a Presidência convoca a Comissão de Carnaval da Escola e sugere uma homenagem para a RAÇA NEGRA, pelo seu valor e importância.
            E é isso que vamos fazer com a cumplicidade dos nossos irmãos negros, da própria comunidade, montando e mostrando este enredo no Carnaval/98:

NEGRA ORIGEM, NEGRO PELÉ, NEGRA BENÉ

Desenvolvimento:

            Para melhor entendimento e concepção plástica, o enredo será dividido em 6 quadros:

  • Negra Origem

  • Contribuição Negra

  • Negro Trabalhador

  • Consciência Negra

  • Luta Negra

  • Expectativa Negra

            Desde a antigüidade. o homem questiona sobre a sua origem, procurando encontrar resposta para o seu aparecimento. Mesmo respeitando e considerando cada versão religiosa explicando o fato, consideremos a teoria científica, com os mais recentes tratados sobre o nosso aparecimento.
            A ciência dá conta de que o primeiro homo-sapiens teria surgido há milhões, talvez bilhões de anos, no Continente Africano, o que aumenta a probabilidade de que esse primeiro espécime seria da RAÇA NEGRA, e essa teoria nos faz acreditar que estaremos homenageando em nosso enredo, não apenas uma raça, mas certamente a raça-mãe, a geratriz de toda a espécie, a RAÇA NEGRA.
            Portanto, iniciaremos o nosso enredo lembrando a MÃE ÁFRICA, incubadora da raça, destacando seus diferentes povos e etnias, crenças, modos, modas e costumes. E eram Quiloas, Rebolos, Congos, Angolas, Bantos, Jêjes, Nagos e Yorubás. E eram NEGROS.
            A expansão da RAÇA NEGRA, não se deu apenas a partir do descobrimento do fogo, das técnicas para caça, mas, especialmente, pelos deslocamentos em diversas direções e muitos séculos se passaram até acontecer o desembarque em outros continentes.
            Especificamente no Brasil, o desembarque ocorreu depois de constatada a necessidade de braços fortes e hábeis para o trabalho, já que o índio, natural da terra, apesar da forte complexão física demonstrava desinteresse pelo cultivo da terra. Foi escolhido, então, para o trabalho braçal, os negros africanos e graças ao seu ingresso no País, houve miscigenação de raças, surgimento de novas culturas e a raça brasileira se aprimorou em todos os sentidos, principalmente no embelezamento físico.
            Mesmo sabendo da sua importância e da sua contribuição para o desenvolvimento de uma nação, o Homem Negro sentia saudade da sua terra, da sua identidade, cultura e tradições próprias. E sonhava com o direito de poder dispor de seu próprio destino.
            Deflagrada a luta, muitos anos depois. viu o sonho tornar-se realidade, e hoje, a CAPRICHOSOS canta, conta, dança e se confraterniza com os negros da sua comunidade, seus cúmplices, seus parceiros e amigos, no desfile do Carnaval/98.
            Até abrandar o espírito e se resignar com a nova situação, o negro trabalhava em silêncio e só se manifestava para orar pedindo pela liberdade. Com o passar do tempo, já impaciente, inicia uma luta contra o sistema e penetra pelas florestas, procurando ficar distante do causador da sua tristeza. A cada dia aumentava o número de fugitivos, tomando necessário o estabelecimento de regras para sobrevivência do grupo, que deveria continuar sob a direção de um autêntico líder, de nome Zumbi, e que mais tarde ficou conhecido como ZUMBI DOS PALMARES, protetor de todo homem livre ou não mesmo que não fosse da sua cor. Tornou-se símbolo de uma luta não reconhecida, mas que ainda hoje persiste.
            Grupos intelectuais do País e do exterior, exerceram forte pressão e o Império Brasileiro, em fins do Século 19, aboliu definitivamente o trabalho forçado no País.
            Apesar de ter sido um passo de razoável tamanho, não foi suficiente para satisfazer toda a necessidade do Homem Negro, introduzido no Brasil, ou mesmo de seus descendentes.
            Atualmente, não somente no Brasil como no resto do mundo a luta da raça negra continua, para a conquista de oportunidades em igualdade de condições. As portas foram abertas mas não o suficiente e o negro tem consciência dessa realidade. Não basta ser livre para andar de um lado para outro sem destino a lugar nenhum. É preciso saber a direção que deve tomar.
            O Homem da RAÇA NEGRA, por natureza, é forte espiritualmente e vem reduzindo à menor expressão toda sorte de humilhação que lhe é imposta, para manter vivo o seu passado, tradições e cultura. Tudo isso, naturalmente, acaba por refletir na cultura e costume dos países em que passou a viver. notadamente do Continente Americano.
            As músicas desses países. por exemplo, com a contribuição do negro tornaram-se mais alegres e variadas, com o nascimento do jazz, blues e o samba. E isso! O negro é da raça que sabe dançar, batucar, balançar, requebrar e sambar como nenhum outro faz.
            O negro também influenciou, no caso brasileiro, na formação do sentimento religioso, iniciando a prática do Candomblé, Umbanda e Quimbanda, primeiramente na Bahia, espalhando-se depois por todo o país. A pluralidade religiosa do negro é bem vasta. Introduziu o VUDU no Haiti e o Islamismo nos Estados Unidos da América.
            Nas Igrejas Católicas e Protestantes, as duas principais correntes do cristianismo, contam com a participação, sem exagero, de milhões de seguidores negros, em perfeita convivência e harmonia com todos os demais da espécie.
            Entre outras coisas, ligadas a modas e costumes, a vinda do negro para o Brasil alterou os hábitos alimentares do nosso povo, com receitas culinárias de apurado preparo e sabor. Pratos como a feijoada, caruru, moqueca, abará, acarajé, para citar apenas alguns, passaram a fazer parte da alimentação e graças a essas preciosidades, com certeza, o Brasil dispõe da mais variada e requintada culinária, que atrai milhares de turistas para saborear esses pratos na terra onde melhor são preparados - BAHIA DE TODOS OS SANTOS.
            Mas o negro não contribuiu apenas para o desenvolvimento da culinária, da música e da religião. O negro descobriu suas aptidões para a prática dos esportes, tendo se destacado, principalmente, nas lutas marciais, esportes de força e velocidade, futebol, basquete e no boxe, modalidades em que são praticamente imbatíveis.
            Entretanto, o negro ainda não está satisfeito nem realizado com tudo isso. Sabe que pode e quer muito mais. E a medida que o negro ultrapassa um obstáculo, todo o povo brasileiro é favorecido com a sua ascensão, porque fazemos parte dessa NEGRITUDE.
            Na área política, o negro tem demonstrado excepcional desempenho. No Brasil o desaparecimento do líder Zumbi, mostrou que a luta, ao invés de terminar, ali começava. Assim surgiu a CONSCIÊNCIA NEGRA. A morte do pastor MARTIN LUTER KING desencadeou outro sistema de luta, mais aberta, descoberta, declarada, e até hoje continua sem a menor trégua. Mas essa luta é no campo das idéias, onde os vencidos são tratados com humanidade, acentuando-se com o exemplo dado por NELSON MANDELA, para tirar a revolta do peito do negro e no seu lugar introduzir orgulho sem prepotência, a vaidade sem soberba e a consciência sem arrogância que verdadeiramente a RAÇA NEGRA é linda, sincera e amiga. E tudo isso foi ensinado por um líder com mais de 27 anos de paciente resistência, pregador da igualdade e da fraternidade inter-racial. Esse posicionamento conquistou os maiores intelectuais da sua época e as manifestações favoráveis tornou-o Presidente de uma grande nação democrática - ÁFRICA DO SUL.
            Em todo o mundo existem negros de passado e comportamento invejável. Um exemplo disso pode ser visto aqui no Brasil.
            Há mais de 40 anos surgiu para o mundo um rapaz predestinado a conquistar popularidade, encantando com a arte de jogar futebol. Continuando discretamente a sua profissão transformou­se no maior talento do esporte, chegando a ser chamado o REI DO FUTEBOL, e soube conservar a sua coroa, com nobreza, seriedade e modéstia.
            De REI DO FUTEBOL para ATLETA DO SÉCULO Só precisou dar “dois passes”. Para a realização final foi questão de tempo, e logo acrescentou ao seu inigualável curriculum o cargo de Ministro, que não pertence a ele, mas a toda a RAÇA NEGRA. a todos os esportistas.
            PELÉ. não se realizou apenas como futebolista e político. E também polivalente e eclético: Canta, toca, compõe e representa. Portanto, joga em várias posições, e neste Carnaval também será uma das personalidades do nosso enredo.
            O Brasil também pode se orgulhar de incluir nesta seleta relação de personalidades e lideranças políticas, uma mulher negra, de origem e família humilde: BENEDITA DA SILVA.
            A grande líder, movida pelo efeito de uma frase que ouviu na juventude, dita por sua mãe - “NEGRO NÃO SE RENDE, NEM SE VENDE. NEGRO TEM QUE TER BRIO” - e fez dela um exemplo de vida, foi à luta, transpondo todas as barreiras que encontrou pela frente. Passou por todas e venceu, mostrando também que todos podem vencer.
            O fundamental é que saibam pisar sem prepotência e que nunca se envaideçam de “Ter”, mas de “Ser”.
            É uma filosofia de vida. Um caminho a ser seguido.
            E a CAPRICHOSOS vai por aí, mostrando BENÉ símbolo da Mulher Negra Brasileira.

Jerônimo Guimarães

 

SAMBA ENREDO                                                1998
Enredo     Negra origem, negro Pelé, negra Bené
Compositores     Flávio Quintino, Noquinha, Sidinho da Zoeira, J.B. e Zé Carlos da Saara
Me embala no teu colo, oh mãe, África
A chama de Palmares inspirou
A luta de Zumbi é realidade
Negro Congo – negra Angola
Afro-americanizou (com valor)
Com sorrisos de esperança
Braço forte que não cansa
É o negro semeando amor

Quem tem magia no pé
É Pelé
Quem vem na força da fé
É Mandela
E a voz que veio de lá
Da favela
É da guerreira Bené
Salve ela

Segue o negro trabalhando
Construindo este gigante, na raiz
A bandeira da igualdade
Desfraldada pelo mundo
O povo é mais feliz

A capoeira não é brincadeira
O som do negro é universal
Canta a Caprichosos toda prosa
É a raça negra no seu carnaval