Bidu Sayão e o canto
de cristal
Introdução
Como
linguagem mundial de emoção através de belas histórias, afinação da
voz humana e produções caprichadas, a Opera “Il Guarany” de Carlos Gomes
e a “La Traviata” de Verdi, celebram uma das mais elevadas expressões
da inteligência e sensibilidade humana.
O Brasil é um dos poucos países a ter marcado tão especial presença
nesse respeitado campo artístico, em sua capital mundial que é New York
e em seu templo, o Metropolitan Opera House, graças ao trabalho abnegado
e espírito determinado de uma “carioca da gema” que foi considerada
a “maior soprano lírico do mundo, em todos os tempos”: BIDU SAYÃO!
Mas não lhe bastou triunfar no “The New York Times”, “Le Figaro” e outros
respeitados jornais do Globo. Ela queria mostrar à gente simples do
interior do Brasil sua voz e a beleza do canto lírico. pois muito lhe
interessava que sua terra natal também afirmasse ter ela o “canto de
cristal”. Durante dois anos (1937 e 1938), o “rouxinol” brasileiro(“the
Brazilian nightgale”) embrenhou-se em mais de 200 cidadezinhas do Brasil,
apresentado-se de Livramento, no Rio Grande do Sul à Manaus, Amazonas
numa temporada que muitos consideravam suicida para uma “Diva” que nada
mais tinha a provar ao mundo.
Mas a “Prima Dona” amava e ama o seu Brasil e pouco lhe importava pagar
do próprio bolso as despesas, viajar de navio e cantar para tribos indígenas,
ter corno palco caminhões e tetos de armazéns. O que Bidu Sayão queria
era brindar todos quantos quisessem com o seu “bel canto”. “Eu venho
de um grande país da América do Sul que se chama Brasil”, exclamou ela
para o príncipe herdeiro do Japão, Hiroíto e a Rainha Maria da Romênia.
Recusou à naturalização americana quando cantava na Casa Branca para
Roosevelt, dizendo ao presidente americano que “era artista brasileira
e queria morrer como tal”. A “piccola brasiliana” (apelido dado pelo
grande maestro italiano Arturo Toscanini), foi a exigida por Mussolini
na Gala Operística, que o estadista oferecia em homenagem às bodas do
Príncipe Humberto, herdeiro do trono italiano com a Princesa Maria de
Savóia da Bélgica.
Pelos palácios, teatros e cerimônias importantes para o Planeta Terra,
lá estava uma pequena, delicada, talentosa e lindíssima “garota” do
Brasil, que tanto orgulha a Beija-Flor de Nilópolis por poder trazer
ao conhecimento do “povão”. (como fez com a querida Margaret Mee em
94), sua história gloriosa de divulgação da capacidade artística do
brasileiro no mundo inteiro.
“Bidu Sayão e o canto de cristal”
É nosso enredo para o Carnaval de 1995!
Um tributo que prestamos ao Carnaval carioca corno Ato Cultural que
acreditamos que ela seja, ao talento dos grandes nomes que fazem a História
do Brasil mais bela e a alegria e orgulho da nossa população, que não
se nega a, quando lembrada, aplaudir e agradecer grandes espetáculos.
Bravo Bidu!
Repertório de Bidu Sayão
Ópera
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Personagem
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Autor
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Ariadne Auf Naxos
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Zerbinetta
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Strauss
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Il Barbiere Di Siviglia
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Rosina
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Rossini
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La Bohême
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Mimi
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Puccini
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Um Caso Singular
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Mario Maria
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De Campo
|
Don Giovanni
|
Zerlina
|
Mozart
|
Don Pasquale
|
Norina
|
Donizetti
|
Elisir D’amore
|
Adina
|
Donizetti
|
Faust
|
Margherite
|
Gounoud
|
Il Guarany
|
Cecília
|
Carlos Gomes
|
Lakmé
|
Lakmé
|
Delibes
|
Lucia De Lammermoor
|
Lucia
|
Donizetti
|
Manon
|
Manon
|
Massenet
|
Il Matrimonio Segreto
|
Carolina
|
Cimarosa
|
Mefistofele
|
Margherita
|
Boito
|
Le Nozze Dl Figaro
|
Susanna
|
Mazart
|
Pagliacci
|
Nedda
|
Leoncavallo
|
Pelléas Et Melisandre
|
Mèlisandrf
|
Debussy
|
I Puritani
|
Elvira
|
Bellini
|
Il Re
|
Rosalina
|
Giordano
|
Rigoletto
|
Gilda
|
Verdi
|
Romeu E Juliette
|
Juliette
|
Gounoud
|
La Serva Padrona
|
Serpina
|
Pergolesi
|
La Sonnambula
|
Amina
|
Bellini
|
Soror Madalena
|
Margarida
|
Costa
|
La Traviata
|
Violetta
|
Verdi
|
Bateria da Beija-Flor: A Orquestra Sinfônica-“Escravos da Opera”
Mestre da bateria: o maestro
Neguinho da Beija-Flor: o tenor
Sônia Capeta: primeira bailarina do corpo de baile
Mestre- sala e Porta-bandeira:
Passistas: o corpo de baile do Teatro Municipal
Homenagem à voz límpida e envolvente de Bidu Sayão, urna lenda registrada
na história da Opera Mundial corno “a maior Soprano Lírico do mundo, em
todos os tempos”.
No dia 11 de maio de 1904, nasce, sob o signo de Touro, BALDUÍNA DE OLIVEIRA
SAYÃO.
Esta “carioca da gema”, nascida na Praça Tiradentes, N° 48, tem ascendência
portuguesa pelo lado do pai, o advogado Pedro Luís de Oliveira Sayão,
e franco-suíça pelo lado da mãe, Maria José Teixeira da Costa Sayão, por
sua vez descendente da segunda geração dos fundadores, da cidade de Nova
Friburgo, no Rio de Janeiro.
Quando Bidu nasceu, sua mãe não esperava mais ter filhos, pois já estava
com 33 anos e o “varão”, Pedro, já se encontrava com 15 anos de idade.
O nome Balduína é o mesmo de sua avó paterna.
A menina Bidu nunca foi muito saudável quando criança, tendo inclusive
contraído tifo.
Sua família, de posses, construía então uma casa na praia de Botafogo,
e logo após a mudança para lá, quando Bidu tinha 5 anos, seu querido pai
morreu.
Bidu tornou-se uma menina levada: subia nas árvores, criava problemas,
tentando superar a ausência paterna. Sua mãe nunca mais casou-se e até
os 16 anos, Bidu recebia seus professores em casa, nunca tendo freqüentado
escola primária ou secundária.
Em 1915, aos 11 anos, ela cantou pela primeira vez em público, não profissionalmente.
A música escolhida foi uma canção de seu grande incentivador, o tio-médico
Alberto Costa: “O Coração tem dois lados”.
A casa do tio Alberto era ponto de encontro de artistas da Ópera, e Bidu
se envolveu neste ambiente desde cedo. Por adorar ver Procópio Ferreira
representar no Teatro resolveu que seria atriz, o que a mãe e o irmão
mais velho consideraram inadmissível para urna moça de família.
Certo dia acompanhou sua melhor amiga, Germana de Lucena Mallet até a
aula de canto na escola “Ars e Vox”, na Av. Rio Branco, cuja professora
era Grande Mestra romena, Madame Helena Theodorini.
Como não podia ser atriz quis ser cantora, desta forma estaria no palco
e poderia interpretar as letras das músicas que cantasse. Apoiada pelo
tio, assediou a mestra de canto que a aceitasse corno aluna, e a mãe que
a deixasse freqüentar o curso.
Bidu venceu Mdme. Theodorini pelo cansaço, já que a professora a considerava
muito jovem para o canto e de “pequenina” voz, mas ficou impressionadíssima
com a força de vontade da garota.
Para o “fio de voz” que era Bidu, Theodorini ordenava solfejos e vocalizes
intermináveis para que ela pudesse superar as únicas Ires notas que alcançava.
Exercitava com “Serenata” e “Canto de Saudade” de Barroso Neto. Bidu só
não suportava as aulas de piano.
Durante anos a pequenina Bidu esforçou-se e renegou divertimentos típicos
da idade, como festas e namoros, pois tinha em mente um objetivo preciso:
o palco.
Em 1916 ela diplomou-se ao lado de toda a turma de Madame Theodorini,
no grande palco do Teatro Municipal do Rio de Janeiro.
Começa sua carreira apresentando-se no Teatro Trianon, no Rio de Janeiro,
e os críticos cariocas se dividem: enquanto Oscar Guanabarino, do Jornal
do Comrnercio, publica que a cantora não servia para cantar nem em Salão,
pois tinha “voz de salinha”, o Dr. Carvalho Neto, crítico do Diário da
Noite via futuro na carreira de Bidu e a incentivava.
Após o término da Primeira Guerra Mundial, Madame Theodorini aposentava-se
e resolve voltar para a sua terra natal, a Romênia.
Madame Theodorini consegue que Bidu seja convidada pela Rainha mãe do
Trono da Romênia, Maria, para uma apresentação no Palácio Real de Bucareste,
durante a recepção de Gala que Sua Majestade oferecia em homenagem ao
Príncipe Herdeiro do Japão, Hiroíto, com a presença de várias cabeças
coroadas da Europa.
Bidu descreve a cena do recital no Palácio Real de Bucareste como se estivesse
num conto de fadas, “A Rainha de lamê prateado e colar de pérolas...”,
quando interpretou para a realeza canções em Romaico e Árias do Barbeiro
de Sevilha.
A Rainha mãe da Romênia presenteia a jovem cantora com uma jóia e elogia
sua beleza e vivacidade encantadoras. Em seguida, Hiroíto quer saber,
“de onde vem voz tão perfeita” à quem Bidu imediatamente responde: “Sou
de um grande país da América do Sul chamado Brasil”.
Em 1916. Bidu ainda apresenta-se no Teatro Municipal do Rio de Janeiro
com a “Cena da Loucura” da Ópera Lucia de Lamermor de Donizete.
Em 1917, a conselho da Rainha Maria da Romênia, e já convencida do talento
da filha, Dona Maria José leva Bidu para estudar com uma das maiores autoridades
do canto mundial, na época, o Polonês Jean de Rezke, considerado o maior
tenor da ópera francesa, rival de Caruso e que morava em Nice, França.
Bidu foi a única sul-americana aceita por Rezke, e em sua escola ela recebe
aula de dicção francesa com Lucien Maratore e aulas de interpretação com
Reinaldo Hahn, importante compositor que a ensina especialmente a cantar
sua composição “Si me vers”, com letra de Vítor Hugo, gravada depois no
disco “French Arias and Songs”.
De 1918 a 1925 Bidu estudou com afinco na escola de Rezke, tendo conseguido
apresentar-se para o fechado mundo operístico de Paris pela primeira vez
em 1924, oportunidade que deve aos amigos de Jean de Rezke. Apesar de
triunfar neste concerto, segundo críticas em importantes jornais franceses,
ela, ainda assim, não se sente preparada para enfrentar o público francês
em óperas inteiras, e retorna para mais um ano de estudos em Nice.
Com a morte de Jean de Rezke em 1925, Bidu parte para Roma a fim de consultar
Emma Carelli e Walter Mocchi, diretores do Teatro Constanzi em Roma. Carelli
a põe sob a tutela de Luigi Ricci, o maestro que lhe ensinaria o Repertório
Operístico.
No mesmo ano que morre sua grande Mestra, Helena Theodorini, 1926, Bidu
Sayão faz sua estréia profissional internacional do mundo operístico,
cantando o papel de Rosina, na ópera “Barbeiro de Sevilha” de Rossini,
na noite de 25 de março de 1926 no Teatro Constanzi em Roma, tendo ao
seu lado Carlo Galefi e sob regência do maestro Edoard Vitale. Nesta mesma
temporada interpreta a Ópera “Il Rigoleto”, no papel de Gilda, e a Carolina,
da Ópera “Il Matrimônio Segreto”.
Ainda em 1926 Bidu faz a sua estréia profissional no Brasil cantando no
Municipal do Rio de Janeiro “O Barbeiro de Sevilha”, na noite de 15 de
junho. Antes, cumpriu temporada no Teatro Municipal de São Paulo já que
Walter Mocchi, grande empresário da ópera para a América Latina, aceitara
o cargo de Diretor do Teatro Municipal de São Paulo e trouxera Bidu consigo
para cumprir as duas temporadas cujo repertório. além das consagradas
Barbeiro de Sevilha, I1 Matrimônio Segreto, Il Rigolleto e Il Puritane,
incluía, por exigência de Bidu, duas óperas brasileiras: Um Caso Singular.
de Carlos de Campos e Soror Madalena, de seu tio Alberto Costa.
No Brasil, Bidu aproveita para cantar composições de Francisco Mignone,
o Ciclo de Canções Populares de Ernani Braga e canções de Lorenzo Fernandes
e Barroso Neto.
Em 1927 Bidu casa-se com Walter Miocchi, 40 anos mais velho que ela. (“sempre
procurei meu pai nos maridos que tive”), período afetivo que ela não gosta
de recordar, pois considera que “errou”.
Nos dois anos seguintes, 1928 e 1929, além de Roma. Rio e. São Paulo,
Bidu passa a incluir em seu roteiro o Teatro Colón, em Buenos Aires.
Roma parou para ver o espetáculo de gala que festejava o casamento do
Príncipe Humberto, herdeiro do trono da Itália, com a Princesa Maria José
de Savóia, da Bélgica, na noite de 10 de janeiro de 1930, no Teatro Real
de Roma, quando. por exigência de Mussolini, seu grande admirador, Bidu
Sayão foi a única estrangeira incluída num “cast” só de italianos. À ela
é reservado o papel principal. Norina, na Ópera Dom Pasquale, de Donizeti,
que ela canta ao lado do grande Schippa.
No dia 24 de janeiro do mesmo ano ela interpreta pela primeira vez o papel
de Rosa1ina, na Ópera Il Re, de Giordano, em Roma.
No dia 2 de março de 1930, Bidu Sayão faz sua estréia triunfal no Scala
de Milão, onde é ouvida, admirada e apelidada de ‘La Piccola Brasiliana’
por um dos maiores maestros de todos os tempos. o grande Arturo Toscanini.
então diretor artístico do Scala de Milão.
Em 1931, Bidu Sayão estréia um novo repertório. convidada pela Ópera de
Paris, cantando nesta grande Casa de Espetáculo as seguintes óperas: Rorneu
e Julieta, de Gounoud. tendo Georges Thill como Romeu e “Fausto”, também
de Gounoud.
A interpretação de Bidu para Julieta é recebida com grande entusiasmo
pelo Le Figaro, que considera sua performance triunfal.
No mesmo ano apresenta-se na Opera Comique de Paris, interpretando o papel
principal da obra Lakmé, de Delibes.
As comemorações do centenário de Bellini em 1932, levam Bidu até a cidade
de Catania, na Itália, para cantar uma de suas óperas mais populares:
Sonnambula, no papel de Amina.
Parte para Gênova e San Remo onde canta, em italiano, a ópera Ariadne
Auf Naxos, de Strauss, no papel de Zerbineta, segundo a própria Bidu seu
papel mais complexo.
Em 1933 Bidu Sayão grava no Brasil, para a RCA Vítor “Il Guarany”.
Neste mesmo ano e no seguinte, Bidu cumpre temporada no Teatro Municipal
de São Paulo e Rio de Janeiro, quando canta as óperas Lucia de Lamermoor,
O Barbeiro de Sevilha e Il Rigoletto.
No final de 1934 ela divorcia-se do primeiro marido, Walter Miocchi.
Em 1935, no Teatro San Carlo, de Nápoles, Bidu conhece o magnífico tenor
italiano Giuseppe Danise, com quem canta Il Rigoletto. Ele se tornará
o segundo marido de Bidu, 24 anos mais velhos que ela. Neste mesmo ano,
após cumprirem a Temporada Brasileira, quando Bidu cantou Manon, I1 Rigoletto,
11 Puritani, Romeu e Julietta, La Traviata, Lakmé e Bohéme, e a temporada
Sul-americana, Giuseppe sugere que eles passem em New York antes de retornarem
à Itália, pois ele já pressentia instabilidade política na Europa.
Os papéis que Bidu Sayão só cantou na América do Sul e Europa, e jamais
cantou nos Estados Unidos, são os seguintes: Lucia de Lamermoor, Amina,
em La Sonnambula, Elvira em Puritani e Lakmé.
Em 1936 Bidu apresenta-se no Town Hall de New York e triunfa segundo crítica
no “The New York Times”.
Durante uma festa, o grande maestro Arturo Toscanini atravessa todo o
grande salão da recepção para cumprimentar a cantora e “agradecer o privilégio
de tê-la ouvido cantar anos antes no Scala de Milão”. Na mesma oportunidade,
Toscanini convida Bidu para urna audição, pois queria tentar a voz dela,
etérea, para interpretar um poema sinfônico de Debussi. Para surpresa
da própria Bidu, ela é escolhida, e em abril de 1936 Bidu tem uma noite
de glória no Carnegie Hall, cantando “La Demoíselle Élue” e recebendo
maravilhosa crítica no “The Tribune”.
Neste mesmo ano, Bidu apresenta-se no Teatro da Paz, de Belém do Pará.
Ali conhece Nilson Penna, da Secretaria Estadual de Cultura, e tornam-se
grande amigos. Nilson é hoje considerado o maior pesquisador da vida de
Bidu Sayão e seu mais ardente fã.
Após cumprir a mesma temporada do ano anterior no Rio e em São Paulo,
1936 mancava o centenário de Carlos Gomes, e a 7 de setembro de 1936 ela
canta com Georges Thill, no Rio de Janeiro, II Guarany (canta depois a
mesma Opera em São Paulo).
Em 1936 e 1937, Bidu percorre mais de 200 cidades brasileiras, do Rio
Grande do Sul ao Amazonas. No interior apresenta-se gratuitamente, usando
como palco tetos de armazéns, carrocerias de caminhão e navios (à Manaus
ela vai pelo Loyd Brasileiro). Na falta de hotéis, se hospeda na casa
de amantes da boa música e muitas vezes paga do próprio bolso as despesas.
No dia 13 de fevereiro de 1937, Bidu Sayão alcança o palco mais importante
para a Ópera Mundial neste século, dando com este passo o salto para a
imortalidade: como Manon, de Massenet, ela pisa o METROPOLITAN OPERA HOUSE,
o MET. Substituía a grande cantora lírica Lucrécia Bori, e cantava ao
lado de Sidney Rayner.
Sobre a estréia no) Metropolitan, Bidu conta uma passagem bem humorada:
“Eu não estava nervosa porque tinha ensaiado muito e confiava demais no
tenor que cantaria comigo. Em cena, de repente, vi um estranho entrar
e se anunciar como meu partner. Pensei: Meu Deus, quem é este homem?,
e fui até o tini cantando com o desconhecido”.
Este espetáculo de estréia foi transmitido pelo rádio para os Estados
Unidos, Canadá e ao vivo para o Rio de Janeiro.
Foi Toscanini que a apresentou aos cinco diretores artísticos do MET e
falou que ela poderia ser a nova Manon, pelo físico bonito e dicção impecável
do Francês. Nessa primeira temporada no MET, foram as seguintes as récitas:
Manon, 3 récitas, Traviata, 3 récitas e La Bohéme, 2 récitas.
Este ano de 1937 marca um desagradável “embate” entre Bidu e sua rival
Gabriela Benzanoni Lage. Na temporada brasileira, onde cumpria o mesmo
repertório do ano anterior, após a recita de Il Guarany, Bidu foi vaiada
por um grupo de admiradores da rival. No mesmo instante que percebeu a
vaia, o teatro inteiro começou a aplaudir e a vaia foi abafada, fazendo
o grupo de Gabriela se retirar apressado do Municipal do Rio de Janeiro.
Já consagrada pela crítica Norte Americana, Bidu canta gratuitamente para
uma multidão na Praia do Russel, Rio de Janeiro, em 1938. Neste mesmo
ano Bidu canta na casa Branca em recital para o Presidente Franklin Delano
Roosevelt, quando nega-se a naturalizar-se americana a convite do presidente:
“ – Obrigada, Mr. Presidente, mas eu quero terminar a minha carreira como
artista brasileira”.
Além das já costumeiras temporadas no MET (onde canta Manon com o grande
tenor Tito Schippa), no Municipal do Rio de Janeiro e São Paulo. e no
Teatro Cólon de Buenos Aires, o ano de 1939 traz um novo convite para
Bidu: Apresentar-se na maravilhosa Ópera de São Francisco, uma das grandes
Casas dos Estados Unidos.
Em 1940, Bidu interpreta pela primeira vez o papel de Susana na ópera
Le Nozze de Figaro, de Mozart, no MET, papel este que é o que ela mais
executou ao longo da carreira, num total de 45 récitas.
Apesar de nunca ter cantado a Opera Madame Butterfly por completo, ao
vivo, esta sempre foi uma das grandes paixões de Bidu. Entretanto, em
1941 ela grava para disco a ária UN BEL DI Bidu Sayão canta La Traviatta no Teatro Municipal do Rio de Janeiro com
Tito Schippa, em 1942.
Grava para disco as árias King of Thule e Jewel Song, da Ópera Fausto,
de Gounoud, interpretando o papel de Margharite, em 1945. Neste ano ela
ouve as “Bachianas Brasileiras n° 5” de Villa Lobos, seu grande amigo,
e pede que ele altere o arranjo de 8 violoncelos e 1 Violino para 8 violoncelos
e 1 voz, a dela, para que ela pudesse gravar e cantar em recitais, o que
acontece antes do final deste ano.
Quando a guerra termina. Bidu recebe em 1946 o Certificado da Defesa Civil
dos Estados Unidos da América e do Pentágono. por ter se apresentado nos
hospitais e alojamento de soldados que combateram na Segunda Grande Guerra
Mundial.
Em
1947, canta no Metropolitan ‘Romeu e. Julieta’ de Gounoud. ao lado
do tenor Bjorling. rm noite considerada histórica Pelos amantes do bel
canto. A interpretação de toda a Companhia. considerada impecável e gravada
em disco, seria lançada anos depois para comemorar o centenário do Metropolitan
Opera House.
Mas dois acontecimentos importantes de 1947: casa-se pela segunda vez
cem Giuseppe Danise. e grava para a Columbia Discos a Opera La Bohéme
completa.
Em 1950, Bidu Sayão canta pela última vez uma ópera inteira num Teatro
Brasileiro, apresentando suas despedidas do Brasil com “La Bohéme”, no
Municipal do Rio de Janeiro. Neste mesmo ano desliga-se da Columbia Discos.
A mesma companhia lança nos Estados Unidos, em 1951, o disco BIDU SAYAO,
BACHIANAS BRASILEIRAS N0 5, ORQUESTRA CONDUZIDA PELO MAESTRO VILLA LOBOS,
e a ária AH! FORS É LUI (de LA TRAVIATA).
Bidu começa a ter rouquidões repentinas e decide operar as amídalas. Descobre
que estava com um tumor na garganta, e submete-se a uma operação de sucesso,
voltando à cena 23 dias depois, na Pensilvânia.
Em 1952, ela interpreta pela primeira vez a Ópera Mefistófeles na Ópera
de São Francisco, composta por Boito e no papel de Margherita. Na mesma
temporada canta Il Pagliacci de Leoncavallo, no papel de Nedda.
No dia 16 de fevereiro de 1952, Bidu Sayão faz sua última apresentação
no MET como Mimi (na sua 46ª récita de La Bohéme), e a 23 de abril apresenta-se
pela última vez, com a Companhia do MET, num Tour em Boston, interpretando
a Manon (na sua 22ª récita deste papel).
Aqui está o balanço da carreira de Bidu Sayão no MET: Pisou o palco 150
vezes para récitas de Ópera, cumpriu 16 temporadas quando interpretou
16 papéis.
Das 226 performances que Bidu apresentou em New York, 36 foram gravadas
em discos que documentam sua interpretação de 11 personagens.
Em agosto de 1955, Bidu apresenta-se em Concerto no Hollywood Bowl de
Los Angeles, e a 9 de outubro canta em seis idiomas no auditório da
O.N.U..
Em 1957, mesmo ano em que morre o grande maestro e amigo Arturo Toscanini,
Bidu Sayão decide encerrar a sua carreira profissional de cantora, que
durou 32 anos, de 26 a 57 (recorde, pois para os Sopranos Líricos a média
é de 25 anos). Ela escolhe o mesmo lugar e o mesmo poema sinfônico da
estréia em New York para se despedir para sempre do público: o Carnegie
Hall e a Demoiselle Élue, de Debussi, com a Orquestra Sinfônica de N.
York. Ela declara: “Queria sair de cena enquanto ainda fosse aplaudida.
Achei que tudo completa um círculo. O meu se fechava ali”.
Estes são os papéis que Bidu interpretou no MET: Violeta, Mimi, Julietta,
Susana, Norima, Zerlina, Adina, Mélisande e Serpina de La Serva Padrona.
Em 1959, Bidu abre uma exceção para atender a um pedido pessoal de seu
grande amigo Heitor Villa Lobos, grava o disco “A Floresta do Amazonas”
sob a regência do próprio, para a United Records (entre as árias “Canção
do Amor” e a “Melodia Sentimental”). Segundo Bidu o poema sinfônico era
longo e difícil, ensaiavam de manhã à noite. Villa Lobos já estava muito
doente, mas a música da Floresta do Amazonas transpira vida e energia.
Nunca mais Bidu Sayão voltou a cantar profissionalmente depois da gravação
deste disco. Neste mesmo ano Bidu estabelece-se definitivamente na cidade
de Camden, Mayne, norte dos Estados Unidos, onde mora até hoje.
Em 1963, morre Giuseppe Danise, o barítono italiano que foi seu segundo
marido e grande companheiro. Chocada, Bidu perde 18 Kg. em um mês.
Em 1966, morre sua mãe, Maria José, que sempre a acompanhou, aos 94 anos
de idade.
Um grande incêndio destrói completamente a sua mansão no Maine em 1969.
Depois de reconstruir a casa, a vida de Bidu é ainda mais uma vez instabilizada:
em 1972 sua nova residência é assaltada. Neste mesmo ano Bidu recebe a
Condecoração da Ordem do Rio Branco, no Brasil.
Também em 1972, a Columbia Broadcasting System lança o disco Legendary
Perfomances. “In Honos of the 35th. Aniversary of her Metropolitan Opera
House Bebut”
BIDU SAYÃO, Opera Arias by Mozart, Gounoud, Puccini e Leoncavallo.
No dia 19 de novembro de 1973, volta ao Brasil para ser jurada do Concurso
Internacional de Canto sob o patrocínio do Museu Villa Lobos a convite
da viúva Mindinha Villa Lobos. Aproveita a viagem e grava depoimento no
Museu da Imagem e do Som entrevistada por Álvaro Cotrim, Eurico Nogueira
França, Aloísio de Alencar Pinto e Francisco Mingnone.
A Columbia Broadcasting System relança o disco
LEGENDARY PERFOMANCES
Bidu Sayão, French Arias and Songs (antes já editado pela CBS-RCA Vitor),
em 1976.
Na cerimônia de comemoração do 40° aniversário de sua estréia no MET,
Bidu Sayão recebe um telegrama de parabéns da primeira dama dos Estados
Unidos, Rosalynn Carter, e é a capa do número especial da Revista do MET,
a Opera News.
No dia 3 de maio de 1977, Bidu é convidada para ser a presidente honorária
do Festival Villa Lobos, que se realiza na Academia de Ciências no Kennedy
Center Biblioteca do Congresso Nacional, em Washington D.C..
Em 1979 vem ao Brasil ser homenageada pela Funterj no Teatro Municipal
do Rio de Janeiro, a 14 de julho.
No dia 12 de abril de 1984, o MET homenageia Bidu Sayão lançando o álbum
(com 3 discos), comemorativo do Centenário do MET, escolhendo a gravação
completa de Romeu e Julietta de Gounoud, gravado em 15 de janeiro de 1947,
com ela e o tenor sueco Jussi Bjoerling, fazendo este álbum parte da coleção
METROPOLITAN OPERA HISTORIC BROADSCATING (gravações dignas de serem preservadas
pela história da ópera).
Também em 1984, recebe o “Hall of Fame” da National Academy of recording
Arts and Sciences pela gravação das Bachianas Brasileiras n0 5, honraria
esta dedicada às gravações duradouras de qualidade e significação histórica.
O Hall of Fame reconhece raridades do passado até 1959 e significa que
a interpretação é perfeita e deve ser preservada na história da música.
Em maio de 1987, Bidu recebe do Governo Italiano a “Ordem do Mérito” por
sua contribuição à cultura do país. Neste mesmo ano vem ao Brasil para
ser jurada do XIII Concurso Internacional de Canto do Rio de Janeiro,
na Sala Cecília Meirelles (organizado por Helena de Oliveira).
Grava nesta viagem ao Brasil, no Hall do Hotel Glória, a canção Casinha
Pequenina de Hernani Braga, que foi ao ar no programa Voz do Brasil do
dia 10 de junho de 1987.
No dia 25 de junho de 1987. recebe a Ordem Nacional do Mérito no Paço
Imperial do Rio de Janeiro, das mãos do presidente José Sarney.
Assiste como Patrona de Honra à estréia da nova produção de Manon Lescaut,
no MET, celebrando os 50 anos de sua estréia na mesma ópera.
Em 1988, a marca italiana Melodram lança o disco Elisir D’Amore (gravação
de 1947 com Bidu e Fenício Tagliavani).
Em 1991 Bidu Sayão sofre o primeiro derrame e em 1993 um outro abala ainda
mais a sua saúde.
Em 1994 é o enredo da Escola de Samba Beija-Flor de Nilópolis para o Carnaval
95 e avisa: “Quero ir ao Rio de Janeiro agradecer ao Cristo Redentor por
uma vida tão bonita...”