De Estácio de Sá ao Pão de Açúcar, o Rio nasceu na Urca

Justificativa:

          Muito já se falou da Cidade do Rio de Janeiro, mas pouco foi falado da Urca, pequeno bairro que deu origem à cidade de São Sebastião do Rio de Janeiro. Um bairro pequeno no tamanho, mas grande em história, que além de testemunhar a chegada de Estácio de Sá expulsando os franceses, foi palco de grandes obras, como por exemplo, o Instituto Beijamim Constant, escola para deficientes visuais existente até os dias de hoje numa majestosa construção. E palco de noitadas inesquecíveis no cassino mais famoso da cidade, o Cassino da Urca, no prédio que mais tarde abrigaria a primeira emissora de televisão brasileira, a TV Tupi.
          O que falar da Praia Vermelha, com um pedaço de Mata - Atlântica ainda preservada, o Caminho do Bem-te-vi, e a visão privilegiada do Pão – de - Açúcar, cartão-postal dos mais famosos no mundo, visitado por turistas de todo o Planeta.
          Assim é o bairro da Urca, pacato, lindo, seguro, cercado por quartéis militares por todos os lados e com uma Associação de Moradores (AMOUR) combativa, competente, respeitada em toda a cidade, preservando os interesses de seus moradores.

Sinopse:

A origem do nome do bairro

          Embora considerado um bairro novo, uma vez que, foi construído entre os anos de 1922 e 1930, o espaço geográfico da Urca, sempre foi motivo de interesse, em virtude de ter sido o local de fundação em 1565 da Cidade do Rio de Janeiro.
          Situado estrategicamente na borda ocidental da Barra da Baía da Guanabara, foi um dos cenários de combate às forças francesas por Nicolau Durand de Villegagnon, que desde 1555, havia estabelecido na ilha de mesmo nome as bases militares para um empreendimento colonial denominado França-Antártica.
          Provavelmente o nome da Urca deriva da forma de uma embarcação, a "Urca Flamenga", que era utilizada para o transporte de pães-de-açúcar (cones de açúcar mascavo) entre áreas produtoras e a região de Flandres, onde estavam localizadas as refinarias européias. Assim vários estudiosos acreditavam que o topônimo Urca pode ter surgido em função da forma daquele penedo, com aparência semelhante a um casco de Urca emborcado e de sua proximidade com o morro Pão de Açúcar.
          Assim surgiu o menor bairro do Rio, com apenas treze ruas e quatro avenidas. Mas foi a partir deste pequeno lugar que tanta coisa importante começou a acontecer.

A chegada de Estado de Sá. Nasce o Rio de Janeiro

          Após o descobrimento do Brasil por Pedro Álvares Cabral em 22 de abril de 1500, o Rei de Portugal decide enviar até aqui expedições que tinham como objetivo conhecer e explorar as terras descobertas.
          Assim, coube a primeira expedição exploradora a costa brasileira, comandada não se sabe ao certo por quem, o mérito de descobrir no dia 1° de janeiro de 1502, a Baía de Guanabara.
          Nesta época, existia o costume de chamar-se de rio a qualquer embocadura, mesmo que não houvesse o caráter estritamente fluvial. Daí a denominação de Rio de Janeiro, dada ao local onde estava situada a Baía de Guanabara.
          Com o passar dos anos a presença de várias povoações portuguesas ao longo da costa leste do Brasil conseguiu diminuir, mas não extinguir, a freqüência de navegadores franceses, muitos deles corsários, nos locais onde pudessem carregar madeira, pimenta, algodão e produtos indígenas. Um destes locais era o Rio de Janeiro, onde apenas algumas sesmarias haviam sido concedidas em 1554, por um preposto do donatário da Capitania de São Vicente.
          Diante deste fato, o marinheiro francês e vice-almirante Nicolau Durand Villegagnon decide criar no Brasil, mais precisamente no Rio de Janeiro, uma colônia para abrigar os calvinistas, que estavam sendo perseguidos pela igreja, na França.
          Assim, com a proteção do Governo Francês, auxilio financeiro e permissão para trazer criminosos, Villegagnon e seus companheiros logo firmaram relações com s tamoios da região, há muito tempo, amigo dos franceses. No entanto em 1559, Mem de Sá, que era Governador Geral do Brasil, recebe do reino de Portugal a missão de combater os franceses, intimando-os à rendição ou ao recolhimento às aldeias indígenas. Mas para isto, havia necessidade de reforços.
          Portugal envia uma frota comandada por Estácio de Sá, sobrinho de Mem de Sá, que passando por Salvador e Espírito Santo, chega ao Rio de Janeiro em 1565, desembarcando no dia 1° de março, junto à entrada da Baía de Guanabara, entre os morros Pão – de - Açúcar e Cara – de - Cão. Com 120 – brancos e 30 índios, tinha como missão, a fundação da Cidade de São Sebastião dó Rio de Janeiro, assim denominada em homenagem a Dom Sebastião, Rei de Portugal.
          Estácio de Sá resistiu por dois anos, até a reconquista final da Baía de Guanabara, após Batalha das Canoas, em 20 de Janeiro de 1567. Vitória esta que lhe custou à vida, pois veio a falecer em conseqüência de um ferimento no rosto, provocando por uma flecha, Após a morte de seu sobrinho, Mem de Sá decide transferir a cidade para o Morro do Castelo.
          Em 1568, retira-se para a Bahia, deixando solidamente lançados os fundamentos daquela que viria a ser uma das cidades importantes do Brasil: a nossa querida Cidade de São Sebastião do Rio de Janeiro.
          Apos isso, uma primitiva fortificação, ampliada e reforçada através dos séculos, veio a se transformar na hoje conhecida Fortaleza de São João. No Brasil - Colônia, acompanhando a evolução da artilharia, a Fortaleza de São João entrou em serviço oficialmente no dia 24 de junho de 1618, constituída por quatro baterias ou redutos, São José, São Teodosio, São Martinho e São Diogo, com um total de 30 bocas – de - fogo. A partir de 1763, com elevação do Brasil a Vice-Reino e a instalação da sede do governo do Rio de Janeiro, pensa - se mais seriamente na defesa da Baia da Guanabara, tendo tido a Fortaleza de São João relevante função.

O Hotel Balneário, o Cassino e a TV Tupi

          Um grande edifício construído nos anos 20 pela Empresa da Urca, junto à praia e no ponto mais central do bairro, viria a tornar o Bairro da Urca conhecido internacionalmente. Novos e grandes hotéis foram surgindo fora do Centro. Nas praias do Russel e do Flamengo, os Hotéis Gloria e Central (já demolido), em Copacabana o luxuoso Copacabana Palace, e na Urca, um bairro criado pela valorização do solo a beira-mar, o Hotel Balneário. Este nunca chegou a se tornar um grande hotel como os demais, possuía apenas 34 aposentos e se tornou muito mais famoso quando transformado em Cassino em 1933. O Cassino reunia um complexo de diversões para acompanhar as horas de lazer, ao lado da principal atividade que eram os jogos de roleta e outros. Os shows apresentavam artistas nacionais e internacionais como por exemplo: Carmem Miranda e o Bando da Lua, que saíram da Urca para conquistar Hollywood. Outros que se apresentaram no palco da Urca foram: Grande Otelo, o Trio de Ouro composto por Dalva de Oliveira, Herivelto Martins e Nilo Chagas (ou ainda o diretor português Chianca Garcia), Emilinha Borba, Dircinha e Linda Batista, Alvarenga e Ranchinho ou os internacionais Josephine Baker, Minstinguette e Pedro Vargas.           Em 1946, por decreto presidencial de Gaspar Dutra, são proibidos os Cassinos no Brasil.
A TV Tupi, canal 6, dos Diários e Emissoras Associadas, transferiu seus estúdios do Centro para a Urca em 1950. No prédio do hotel cassino, realizou programas musicais, como A Buzina do Chacrinha. O auditório sediou programas como "O céu e o limite" de J. Silvestre, os de calouros animados por Ari Barroso ou Flavio Cavalcanti e os programas infantis com Carequinha. Finalmente em julho de 1980, a TV Tupi foi tirada do ar por ordem do Governo Federal que cassou sua concessão.

Avenida Pasteur e Praia Vermelha

          Na Avenida Pasteur, temos o tradicional e luxuoso late Clube do Rio de Janeiro com seus imponentes barcos ancorados. Também ancoradas só que na "Piscina do Quadrado", na Avenida Portugal, ficam os barcos dos pescadores. Em frente ao Iate clube fica o Instituto Benjamim Constant, escola especializada para cegos.
          Ali pertinho na Praia Vermelha fica a pista Cláudio Coutinho (homenagem ao oficial do exército e técnico de futebol, famoso por seus avançados estudos sobre educação e condicionamento físico, morto em trágico acidente) ou Caminho de Bem-te-vi, um verdadeiro caso de amor com a natureza. Lá estão presentes: a pujança de um mar extremamente azul que dilui em etérea espuma sobre a rocha escarpada; o anil do céu, o verde das árvores, o canto dos pássaros, o farfalhar das borboletas, sagüis e camaleões, uma brisa suave e aquele cheiro de montanha mesclado com maresia. Este aprazível local constitui-se hoje, num dos últimos redutos de Mata Atlântica.

Caminho Aéreo do Pão de Açúcar

          Qual dos portugueses da equipe de Estácio de Sá deu esse nome ao morro mais fotografado do mundo é difícil saber. Uma Coisa é certa: quando os fundadores da cidade desembarcaram e viram o imponente maciço, acharam que parecia com os cones de açúcar que eram produzidos na Ilha da Madeira e colocados no mercado europeu. O Pão de açúcar tem aproximadamente 400m   de altura e está próximo aos Morros da Urca e da Babilônia. Em 1909 os engenheiros Augusto Ferreira Ramos e Manoel António Galvão ganharam autorização da Prefeitura para construir e explorar durante 30anos, um caminho aéreo que ligasse a Praia Vermelha ao Morro da Urca. O projeto parecia tão desafiador que muita gente não acreditou que os engenheiros pudessem levar semelhante tarefa a cabo. Mas, para a surpresa dos incrédulos às obras se iniciaram no mesmo ano em que obtiveram a concessão. Os trechos iniciais, cobertos por cabos de aço, numa distância de 575 metros e 224 de altura, foi inaugurado a 25 de outubro de 1912 em meio a uma festa   e foguetório, que mobilizou a cidade    c particularmente o bairro. A Praia Vermelha engalanou-se mas foram poucos - em gera homens - as que tiveram coragem de figurar como primeiros passageiros da viagem aérea até o Morro da Urca, O trecho seguinte - Urca - Pão de Açúcar - cobrindo um distância de 800 metros e 395 de altura, aconteceu a 18 de janeiro de 1913. O bondinho comportava 23 passageiros e deslizava em dois cabos-trilho. Houve outra festa, e desta vez, formou-se fila, pois eram muitos os que desejavam, ver a cidade como estivessem num avião. O "Caminho aéreo do Pão de Açúcar" prima pela segurança. O sistema de cabos e roldanas é permanentemente vistoriado. Em 1970 foram realizadas obras de modernização. O Bondinho que conduzia 23 passageiros, agora comporta 75. Por ano, segundo dados oficiais, aproximadamente um milhão de pessoas - em geral turistas -utilizam-se do Bondinho, a fim de ver que o Rio de Janeiro é realmente, uma cidade maravilhosa.
          Assim é a Urca, pacata, linda, pequena (o menor bairro do Rio), mais parecendo uma agradável cidadezinha do interior, mas com muitas curiosidades e principalmente muita, muita história afinal "DE ESTÁCIO DE SÁ AO PÃO DE AÇÚCAR!!! O RIO NASCEU NA URCA ".

Agradecimento:

          Este trabalho é em homenagem a toda Diretoria da AMOUR, em especial a duas pessoas que com seus conhecimentos, simpatia e alegria se tornaram fundamentais na realização de tudo: Sra. Elza Lima c seu marido Sr. Horácio. Falecido após nosso primeiro encontro, mas inesquecível em meu coração.

Ricardo Netto

Bibliografia:

• Cantos do Rio Urca - José Louzeiro Relume Dumará - Rio Arte

• Urca: Construção Permanência de um Bairro - Coleção Bairros Cariocas Secretaria Municipal de Cultura

• Jornal da AMOUR em Revista 18 anos - dezembro de 1997

• Revista do síndico N° 164-Janeiro de 2006 APSA

• Um palácio na História Geológica Brasileira - Pierluigi Tossato - Edição Comemorativa dos 60 anos do DNPM - Ministério de Minas e Energia

• Rio de Janeiro Ontem e Hoje - Volumes I e II Alberto A. Gohen Sérgio A. Fridman - Prefeitura do Rio de Janeiro

• Rio Antigo - Volumes I e II - CJ. Dunlop - Editor Rio Antigo

• Jornal da Urca - Números: 139, 140, 142, 144, 145, 146, 147, 149, 151, 155, 157, 158, 161. Associação de Moradores da Urca - AMOUR

Roteiro do desfile:

1º Setor: A chegada de Estácio de Sá e a expulsão dos Franceses e seus aliados, os Tamoios em 1565. Também fala da construção da Fortaleza de São João na tentativa de impedir futuras Invasões. E da Fundação da Cidade do Rio de Janeiro.

• Comissão de Frente: Portugueses - Vieram para expulsar os franceses

• Ala 01: Tamoios - Índios que apoiavam os franceses

• Ala 02: Franceses - Invasores que contavam com o apoio dos tamoios

• Ala 03: Forte São João - Fortaleza construída para evitar futuras invasões

• Alegoria 1: Urca - Tipo de embarcação que deu nome ao bairro

2º Setor: A construção do Hotel Balneário que mais tarde se transformaria no Cassino da Urca em 1933, com grandes noitadas e Shows de Dalva de Oliveira, Herivelto Martins, Emilinha Borba Carmem Miranda e outras grandes estrelas. Após a proibição do jogo e fechamento do Cassino em 1946, por decreto Presidencial de Gaspar Dutra foi efetuada a transferência da TV Tupi do Centro da cidade para a Urca no prédio do Cassino. Com grandes programas como: O céu e o limite, de J. Silvestre, os de calouros comandados por Chacrinha, Ari Barroso e Flavio Cavalcanti, novelas e os infantis com o Palhaço Carequinha.

• Ala 04: Carregador de malas - Profissionais que trabalham no Hotel Balneário, que viria a ser Cassino da Urca e mais tarde a TV Tupi

• Destaque de Chão: Carmem Miranda - Estrela maior do Cassino

• Ala 05 (Passistas): Vedetes - Sucesso absoluto do Cassino

• Ala 06: Croupier - Profissionais que trabalham nos cassinos

• Ala 07 (Baianas): A Era da Televisão - Inauguração da TV Tupi no antigo Cassino

• Ala 08: Calouros - Programas comandados por Ari Barroso, Flávio Cavalcanti e Chacrinha

• Ala 09 (Crianças): Carequinha - Palhaço que foi um dos primeiros funcionários da TV Tupi

• 1º Casal de Mestre-Sala e Porta-Bandeira: Carmem Miranda e Zé Carioca - Vem representando Carmem Miranda que se tornou internacional e Zé Carioca que foi criado por Walt Disney para ser seu companheiro

3º Setor: Fala do Pão de Açúcar, como um dos principais pontos turísticos do Brasil e do Mundo e também dos atrativos da Praia Vermelha e da Avenida Pasteur.

• Ala 10 (Bateria): Militares - Homenagem aos vários quartéis militares do bairro

• Destaque de Chão: Chacrinha - Comunicador irreverente que fez fama na TV Tupi

• Alegoria 2 (Quadripé): TV Tupi Canal 6 – Símbolo Índio Tupi – será empurrado por seis índios tupis

• Ala 11: Deficiente Visual - Alunos do Instituto Benjamim Constant

• Ala 12: Pescadores - Tradicionais pescadores do bairro

• Ala 13: Comodoro - Presidente do Iate Clube

• Ala 14: Caminho do Bem-te-vi - Esportistas e moradores que desfrutam de pista de 1.250 metros na base dos morros da Urca e Pão de Açúcar para caminhar e praticar “Cooper” com uma vista privilegiada.

• Ala 15: Alpinistas nas nuvens do Pão de Açúcar - Alpinistas que escalam o Pão de Açúcar

• Ala 16: Turistas - Turistas de todo o mundo que visitam o Pão de Açúcar

• 2º Casal de Mestre-Sala e Porta-Bandeira: Cartão Postal - Representam o cartão postal conhecido no mundo

• Alegoria 3: Bondinho do Pão de Açúcar - Principal ponto turístico do bairro e um dos mais conhecidos do mundo

• Ala 17: Compositores

• Ala 18: Galeria da Velha Guarda

Cassino da Urca Balneário Hotel
Carmem Miranda a encantar
Roda roleta Oh! Terezinha
É um barato a Buzina do Chacrinha

Pelo ar a paisagem é tão bela
O Pão de Açúcar vem adoçar o meu céu
Praia Vermelha Pasteur,
Minha Avenida querida
Benjamin Constant é a luz.
A força da fé, ao esporte conduz
Hoje o bairro me seduz.
De Estácio de Sá ao Pão de Açúcar
O Rio nasceu na Urca

Nosso canto hoje ecoa
Pisa forte Arrastão
Amour, Amour é simpatia e alegria
Vem sambar na explosão da bateria