Teatro Rival, 70 anos de Resistência
Cultural
O
Grêmio Recreativo Escola de Samba Alegria da Zona Sul tem o prazer
e a honra de apresentar este ano o Teatro Rival como tema enredo.
O Teatro
Rival é um sobrevivente. Ao completar 70 anos torna-se o teatro
particular mais antigo de nossa cidade. Enfrentando fases de sucesso
e de fracasso, o grande mérito da construção de sua historia foi
sempre ter conseguido encontrar alternativas para contornar as dificuldades
e nunca deixar seu palco vazio. São praticamente 70 anos de atividades
ininterruptas, ficando de fora apenas os períodos em que estava
em obras ou reforma.
A casa
foi inaugurada em 1934, com a comédia "Amor", e é este
o sentimento que vem direcionando sua trajetória. Durante muitos
anos foi palco de comédia, tornando tradicional no gênero do "teatro
declamado".
Em meados
da década de 50, os rumos do teatro foram redirecionados para o
"teatro de Revista", que se encontrava em sua época de
ouro. O glamour, a purpurina as belas mulheres renderam inúmeras
montagens do gênero.
O Rival
foi um dos últimos redutos do teatro de revista, mesmo quando este
já se encontrava em decadência, graças à tradição construída pela
casa.
Os anos
60 foram anos difíceis para o Brasil. As artes foram fortemente
afetadas com as restrições impostas pela censura militar. Com a
proibição de esquetes políticos e do improviso espontâneo, começou-se
a explorar mais a beleza, a sensualidade e o erotismo das mulheres.
O resultado foi o que se chamou de "teatro rebolado".
Em 1970
o teatro foi comprado por Américo Leal (pai de Ângela Leal). Neste
período o centro da cidade virou um canteiro de obras com a construção
do metrô e o Rival ficou entrincheirado em meio aos canteiros e
tapumes. O acesso tornou-se difícil e a Cinelândia enfrentou um
período de abandono. O centro da cidade era tomado por "inferninhos",
prostíbulos, boates e cinemas pornô.
O Rival,
num golpe de sobrevivência abrigou durante alguns anos, shows de
travestis c transformistas que, de uma maneira ou de outra mantinham
o teatro em funcionamento e o "gênero musical" vivo, num
período em que estava prestes a agonizar.
Em 1974,
o teatro é arrendado por empresários espanhóis, que intencionam
transformá-lo em boate, bar e restaurante. Seria o fim do Rival.
A classe artística mobilizou sociedade e autoridades em defesa do
Rival, e após muitas discussões ficou acertado que o teatro seria
transformado em Café-Concerto sem deixar de ser uma casa de espetáculos.
Em 1979,
o teatro retorna às mãos da família Leal. Tendo agora a atriz Ângela
Leal, filha do proprietário, à frente do negócio. Ângela tinha planos
de retomar a tradição do teatro de revista e do teatro musicado
que construíram sua história, a que faz renascer o gênero. Os espetáculos
foram sucesso de crítica e de público, mas o gênero estava em franco
declínio, e era preciso encontrar alternativas para o Rival se manter
ativo; era urgente e necessário traçar estratégia de sobrevivência.
Foi então que a música surgiu como tábua de salvação. A proposta
era valer-se da peculiaridade de o Rival ser praticamente o único
teatro com mesas e serviços de bar e restaurante na cidade. E a
transição do teatro para casa de shows resgatou a situação agonizante
em que se encontrava.
Tendo
a música como seu novo pilar de sustentação, o Rival foi reconquistando
seu público, construindo sua nova identidade e se consolidando como
palco obrigatório no roteiro de shows de grande parte de artistas
da música brasileira, lhe rendendo inúmeros prêmios.
Hoje,
o teatro segue abrigando o brilho dos artistas independentes, nas
graças do povo. O Teatro Rival manteve com dignidade a cultura do
Rio de Janeiro, e porque não dizer, do Brasil. Pois a construção
de sua historia foi toda estruturada na capacidade de manter-se
vivo e ativo; abrigando de peças teatrais, à música, ou à dança:
abrigando a arte, pois a arte está acima dos gêneros. O que o espectador
deseja é ser lançado ao fantástico mundo da imaginação que só a
arte é capaz de nos conduzir.
Agradecimentos a
Micaela Góes, por fonte de pesquisa
Oswaldo
Luis Correa de Araújo (Deco), Carlos André Wendos e Marco Antônio