FICHA TÉCNICA 2003

 

Carnavalesco

    Oswaldo Luis Correa de Araújo (Deco) e Carlos André Wendos

Diretor de Carnaval     Marcus Vinícius
Diretor de Harmonia     Valtinho
Diretor de Evolução     .............................................................
Diretor de Bateria     Mestre Tabaco
Puxador de Samba Enredo     Niltinho Oliveira
Primeiro Casal de M.S. e P. B.     Carlos Eduardo Júnior (Mosquito) e Jaçanã Ribeiro
Segundo Casal de M.S. e P. B.     ................................................................
Resp. Comissão de Frente     Geni Dias
Resp. Ala das Baianas     Dona Arlete
Resp. Ala das Crianças     Adelaine

 

SINOPSE 2003

Festa do Quilombo: Na coroação de um rei negro

          No século XVII, quando se verificavam as invasões holandesas, aproveitando-se da confusão que se estabelecera, milhares de escravos começaram a fugir de seus senhores, agrupando-se nas fadas do Outeiro da Barriga, no atual estado de Alagoas. Em pouco tempo, o número de fugitivos (em sua maioria negros de angola), atingia 20.000. Construíam então, uma república conhecida pelo nome de Quilombo de Palmares ( denominavam-se “quilombos” as barracas ou antros construídos as pressas, quase sempre com folhas de palmeiras, enquanto “Palmares” eram regiões em que as palmeiras abundavam). Esta república constituía-se num aglomerado de cerca de quinze aldeias, ou mocambos. Os principais mocambos eram: Amaro, Arotirene, Zumbi, Dambrabanga, Aqualtene, Subupira, Andalaquetuche, e o mais importante Cerca Real de Macacos.
          A partir das lutas com os holandeses, o destino do grande quilombo de Palmares aparece ligado à família da princesa africana Aqualtune, haja visto que a liderança dos mocambos dá-se por seus familiares. Dois de seus filhos, Ganga Zumba e Gana Zona devem ter substituído algum irmão de Aqualtune, do qual até hoje nenhum registro foi encontrado.
          O crescimento do quilombo e as novas necessidades de defesa, haviam transformado Palmares numa Federação. Ganga Zumba, que governada a maior das aldeias – Cerca Real de Macacos – presidia o conselho de chefes dos mocambos e passou a ser considerado rei de palmares.
          Nosso enredo, num sonho lúdico e numa irrisão bem típica do negro sofrido, trata da coração de Ganga Zumba, símbolo de liberdade e rebeldia, creditando aos mocambos as danças originárias de seu continente pátrio, muita das vezes miscigenados em sua nova cultura, brindando a promessa de liberdade no que chamamos de uma África dentro do Brasil.
          As investidas do opressor na tentativa de aniquilar a “Nova África”, não eram bem sucedidas e a fama do novo reinado negro corra toda a colônia. Como isso a grande festa quilombola para coroação, era cada vez mais valorizada. A supremacia do negro na guerra á se fazia latente, sendo assim, os mocambos enaltecem a resistência cultural do negro, homenageando o novo rei com danças, músicas e encenações. Todo o quilombo fora enfeitado trazendo cores, formas e lembranças da “mãe África”.
          Os atabaques iniciam a comemoração, dá-se a festa de coroação, e o novo rei é saudado primeiramente pelo mocambo de Cerca Real de Macacos, que abrilhanta a Quizomba com a Congada, uma manifestação na qual é representada a coroação de um rei do Congo, através de muita música, dança e representação; são usados pandeiros, triângulos, reco-reco, cuícas, chocalhos, apitos marimbas e atabaques. Durante representação aparecem personagens como o príncipe, o cacique do rei, os congos, o embaixador dentre outros, além do próprio rei, figura querida e respeitada por todos. A história começa com os congos em marcha, ao som de marimbas e atabaques. Logo depois o embaixador que quer impedir a coroação do rei, lutando e resistindo contra os fidalgos, e mesmo assim indo preso. Aconselhado pelo cacique, entretanto, o embaixador pede perdão ao rei que finalmente é corado. Terminado a representação os personagens foram uma grande roda e põem-se a dançar.
          A noite segue e a festa continua, com o mocambo de Andalaquetuche, se apresentando esplendorosamente homenageando o novo rei, com uma representação do Maracatu. Uma dança origem sudanesa (do Sudão da África) com presença da lua crescente em seus estandartes, além de alguns animais africanos como o elefante e o leão. Os cantos e danças são em louvor da boneca (calunga) figura feminina de origem religiosa, reminiscência de cultos fetichistas (vodoo); os personagens principais do maracatu são a rainha, que se fixa à linha matriarca tão do gosto africano e a dama do paço. Já menos importantes são: Dom Henrique e o Índio Tupi.
          Trata-se de uma outra representação da coração de reis negros. Com rei, rainha, porta estandarte, dama do paço, que leva a calunga, caboclos de lança e corte: com duque, duquesa, príncipe, princesa e embaixador, além de súditos que até usam de glamurosos chapéus-de-sol para proteger o os corados.
          O próximo mocambo a prestar sua homenagem é o Aqualtene, trazendo o Maculelê (originário do Cucumbi). Uma dança dramática, de procedência africana que guarda traços de acontecimentos históricos de sua terra de origem: entronização e cortejo de reis, seu coroamento, rivalidade com outros monarcas também negros, cenas de embaixadas e lutas entre hostes de “nações inimigas, gestos, atitudes e linguagem”. Os instrumentos musicais que usam os congos são pandeiros, Ganzás (chocalhos de lata), atabaques além de bastões de madeira e facões (sugestionados por batalhas de defesa dos negros nas senzalas contra as investidas dos feitores) ao ritmo dos instrumentos e cânticos de linguagem popular. Muita das vezes, numa alusão ao misticismo que apavora o inimigo, integrantes da dança soltam fogo pela boca.
          Em seguida temos neste grande desfile de homenagens o mocambo de Zumbi, que espera-se com a CAPOEIRA, uma dança luta originaria do jogo da zebra: um ritual africano, vindo da Angola, onde os negros lutavam em pequenos recintos e a premiação pra os vencedores eram as meninas moças das tribos. Em celebrações como N'golo ou Basula, os negros entravam em verdadeiro transe, e o ritmo bárbaro dos instrumentos de percussão exacerbava os movimentos dos participantes, dotando – os de grande agilidade, mobilidade, destreza e velocidade.
          Já aqui no Brasil, o jogo transformou-se em luta, defesa pessoal dos negros contra os maus tratos e a crueldade dos feitores e soldados, que os perseguiam enquanto escravos, ou em luta por sua liberdade.
          Ainda, nesse desfile de saudações temos o mocambo de Subupira que apresenta o Jongo (Caxambu), uma dança de origem africana, possivelmente de Angola, da qual participam homens e mulheres. Provavelmente jongo quer dizer divertimento. Aqui no Brasil, os escravos usavam o jongo dentro da senzala, como um meio de comunicação cifrada, uma espécie de duelo de poesias, adivinhações, onde o poder da palavra era capaz de enfeitiçar. Uma musicalidade feita para dançar, fundamentando-se no “ponto”, ou seja, a pessoa que tem que “desamarrar” (decifrar) o “ponto” (adivinha). Os instrumentos utilizados são: os atabaques guanazamba e candongueiro, nos quais os homens tocam sentados sobre os instrumentos, além da angóia (chocalho) e da puíta (cuíca). Os casais se apresentam, o dançador fica em frente a sua dama, ela segura a saia delicadamente sem sair do lugar. Com maneios e requebros a mulher acompanha os galanteios do cavalheiro; numa troca constante de casais. Na maioria das vezes a música e'cantada por duas, ou três vozes: é comum a pessoa praticante do Jongo dançarem ao redor dos instrumentos. É uma dança que se movimenta de forma contrária ao movimento do relógio (sentido anti-horário).
          De maneira não menos festiva, o mocambo Amaro apresenta o Tambor de Crioula, uma dança afro brasileira praticada, sobretudo por descendentes africanos; a dança é a formação de um círculo com solistas dançando alternadamente no centro. Um de seus traços distintivos é a punga (umbigada) e a pernada, com sotaques, “uma dança afinada a fogo, tocada a murro, e dançada a coice”. Uma dança de divertimento realizada costumeira em homenagem ao padroeiro dos negros, São Benedito, o santo pretinho, que representa o vodum daomenano Toi Avarequet.
          Logo após temos o mocambo Dambrabanga, que enaltece o novo rei, pedindo proteção aos orixás para o novo reinado, apresentando o Candomblé. Um oratório dançado, com um paradigma dos cultos africanos no Brasil. Cada entidade, orixá, exu ou erê tem suas cantigas e suas danças específicas. O canto é puxado e em solo pelo pai ou mãe de santo, e é seguido por um coro em uníssono formado pelos filhos de santo. Participam de cerimônia três instrumentos básicos: os atabaques, o agogô e o piano de cuia (ágüe). A esses se acrescentam um adjá (das nações jêje nagô)e um caxixi (nos ritos do grupo angola – congo). Por meio de cantos e danças, ao som de atabaques entram em contato com os deuses, atingindo o êxtase místico. Os orixás vindo ao encontro dos mortais proporcionam alegria e sua chega é saudada esfuziantemente com cantos e danças.
          Seguindo as homenagens e comemorações, segue o mocambo Arotirene, trazendo pro festejo o AFOXÉ, que é o sagrado participando do profano. Uma espécie de candomblé adequado às estas da carne. Uma obrigação de levar o axé (energia positiva) aos festejos que participam. Inicia-se com um despacho para Exu; para que esta não interrompa as festividades. Dão-lhes farofa de Dendê com azeite. Na maioria das vezes, vestem roupas de cetim e arminho em profusão; os participantes utilizam-se de um adereço com contas dos orixás, conjunto de miçangas que unidas formam um tipo de colar (guias), que é preparado com ervas e outros produtos para poder ser utilizado pelo filho do orixá, como sinal de respeito e proteção. O mestre canta na língua nagô e as filhas -de – santo respondem em coro. Aí vem a louvação do rei e da rainha do afoxé. Em seguida, a Babalotim, uma boneca negra nagô, representante dos Ibeji (Cosme e Damião), é conduzida por meninote exímio dançarino capaz de executar os complicados passos da coreografia que reverencia a boneca.
          Cantando em língua nagô o afoxé passa tocando seus atabaques, saudando com alegria o povo, conduzindo um estandarte onde é bordada a “babalotim”. Ao final dessa dança acaba-se a primeira parte do Afoxé. Só então a turma sai às ruas em cortejo. A babalotim vai na frente, seguida pelo Oba (rei), pela rainha e pelo quimboto (feiticeiro), que faz zoada com um maracá. Ao contrário do que acontece no início da manifestação, agora os integrantes dançam e cantam alegremente e acabam contagiando todo mundo que vê o afoxé passar.
          E por fim o mocambo de Tovabacas apresentando o SEMBA. Uma derivação do quimbundo Semba, que significava umbigada, ou do umbumbo SAMBA que significa estar animando ou estar excitado. Há também quem afirme que a palavra tenha sua ligação com a língua luba e com outras línguas bantas, nas quais samba significa pular e sal ou saltar com alegria. O Semba é a base do ritmo que originou os sambas e algumas danças brasileiras. Essas danças são: a dança da umbigada, a de pares e a de roda.  Essa música e essas danças forma trazidas para o Brasil pelos escravos e desenvolvera-se em uma área que vai desde o Maranhão até São Paulo. Receberam, em cada Estado brasileiro, um nome diferente e um jeito diferente de ser tocadas.
          Portanto, é certo afirmarmos que o semba ou samba pode ser visto como um ritmo que engloba vários outros, já que suas ramificações não param de crescer. É fato que quando o samba foi trazido ao Rio de Janeiro pelos baianos, no início do século 20, encontrou um parceiro que foi feito sob medida para ele: o CARNAVAL. Essa dupla incendeia as ruas e salões do Brasil inteiro e ficou conhecido pelos quatro cantos do mundo, tornando possível o maior espetáculo popular da Terra.
          E como num desfile de Escola de Samba, o cortejo de saudação de boas vindas ao novo rei Ganga Zumba faz evidente a alegria de toda uma nação, expressa em brilho, sonho e fantasia...
          Um desfile que vale a pena repetir todos os anos, na estação em que o calor dos trópicos aflora a sensualidade própria de uma raça nada mais, nada menos, que cem por cento negra! Onde o carnaval é o seu reinado e a folia é a festa da coroação! Onde a passarela é o tapete vermelho do palácio do samba. No quilombo da Marquês de Sapucaí!

Oswaldo Luis Correa de Araújo (Deco) e Carlos André Wendos

 

SAMBA ENREDO                                                2003
Enredo     Festa no Quilombo, na Coroação de um Rei Negro
Compositores     Fio, Moura e Expedito
Desperta o show vai começar
A alegria vem mostrar
A festa da coroação
Os mocambos vão dançar
Para um rei negro, com emoção
É arte, é cultura
Foi no Quilombo a consagração
Liberdade, um grito forte ecoou...ecoou
De um povo guerreiro
Que seus costumes neste solo semeou
Tem maracatu, maculelê e candomblé
Negro joga capoeira, com seu canto de fé
Axé....Afoxé, oferenda aos orixás
Tambor de crioula, é feitiço é ritual
Bailam jongo e a congada 
O semba virou samba em nosso carnaval
Hoje a zona sul em festa
Vamos aplaudir
A dança da raça
Encanta a massa na Sapucaí
O meu tambor vai ressoar
A noite inteira
Saudando Ganga Zumba
Com danças afro-brasileiras