Tupã, o
soberano Guarani e a encantadora floresta da magia
Justificativa:
Tudo o que
permeia a história e cultura do nosso jovem Brasil, nos remete ao
sonho, ao místico, as coincidências e inspirações extraordinárias, e
nela, abre-se um campo de suposições e até mesmo nos transporta ao
imaginário.
Tupã é uma divindade que transborda mistério e magia e a
floresta torna-se encantada quando contada com os olhos de pajés.
Temos às vezes a impressão de que em parte ele, Tupã, é
fruto do inconsciente e que rouba pra si, todo um universo de
sonhos, mitos, lendas e fatos que convergiram para o coração do povo
brasileiro, para compor uma epopeia de um Deus tipicamente
brasileiro revelando segredos da pré-história de nossa pátria.
Tupã nos desafia e nos encanta à medida que nos afastamos
de sua imagem humana e nos aproximamos do divino. Ele até pode ser
uma obra do homem, porém ele é certamente o resultado de inspirações
e credos de tribos indígenas que faz com que nosso imaginário
mergulhe em profundo devaneio.
Em tempos em que se enaltece a preservação do
meio-ambiente como nunca antes, além de uma homenagem, um alerta
sobre o risco que corremos sem a preservação da fauna e da flora e
nesse mundo imaginário, fazemos conhecer-se Anhangá, divindade tal
qual o diabo dos cristãos, que segundo nossa lenda é o principal
motivador do espírito de destruição que vive no ser humano e faz com
que estes destruam descontroladamente a floresta. Assim, o Grêmio
Recreativo Escola de Samba Acadêmicos do Sossego tem o orgulho de
apresentar para a Intendente Magalhães e o povo carioca apaixonado
por samba e carnaval o seu enredo que retratará as divindades que
povoam séculos de existência de um país rico em cultura e sabedoria.
Por sua importância para o Brasil e o mundo, por sua peculiar
história, de imaginações, de visões e por ser ele, uma criatura
imortal capaz de unir Sonho à realidade, empresta sua beleza
transforma-se em porta-voz de um pedido de clemência aos seres
humanos para com a mãe natureza e na composição dessa obra, que é
uma verdadeira mensagem; enfeitar o samba.
Sinopse:
Tupã e a criação da floresta
Tudo
começou num tempo muito antigo quando contavam os mais antigos pajés
de recônditas tribos indígenas da floresta amazônica que em uma era
muito remota, no princípio de tudo, na mais profunda escuridão, ao
longe do horizonte, no firmamento onde retumbavam trovões e raios
que recortaram o céu nasceu a vida. E lá, por dentro das nuvens,
existia um imenso palácio onde morava o grande Tupã, realizador de
toda criação, que com o ressoar de trovoadas deu vida a tudo que
habitava nas florestas da Terra. Cada folha, cada flor, as água,
cada animal e seus espíritos por Ele foi criado. Fez germinar as
belas carnaubeiras, chamadas de árvores da vida e soprou fôlego
divino em cada ser vivente que rastejava pelo solo, que corria pelo
chão, que nadava nas águas, que subia nas árvores e voava pelo ar.
Os
mais belos animais, de plumas exuberantes, anfíbios de múltiplas
cores e insetos de indescritível beleza se originaram do grande Tupã
que inundou os afluentes, as florestas, as montanhas, os vales e
tudo mais que se podia enxergar com lendárias criaturas que
protegiam o mundo recém criado. Povoou as matas e iluminou o vasto
céu de estrelas nas alturas celestes, onde permanece seu reino,
protegido por Tainacam, deusa das constelações. Naquela época seres
fabulosos coexistiam com os Índios e os elementos naturais se
traduziam em mágicas manifestações espirituais que tornavam as
florestas em encantadoras e repletas de magia.
Para
concluir sua obra Tupã veio ao mundo e fez o primeiro homem que se
chamava Rupave e deu-lhe como companheira a primeira mulher que se
chamava Syvape e logo eles se multiplicaram e encheram toda a Terra.
O poderoso deus ensinou-lhes a arte de tirar do seio do solo seu
alimento, a trabalhar com barro e argila e do ferro, fazerem as mais
fortes lanças e armas de guerra. Depois transmitiu aos homens todo o
conhecimento sobre os remédios para todas as doenças. Finalmente,
ensinou-lhes as artes que tornaram a vida mais suave a amena no
culto à Mãe Natureza... A vida estava criada.
Seres encantados
De
seu palácio no alto dos céus sentado em seu trono, Tupã criou
milhares de criaturas celestiais que satisfaziam suas ordens e o
louvavam. E entre as histórias de deuses e deusas e seres
encantados, surgem às escondidas, nas matas, misteriosos entes para
proteger e guardar a floresta que se encobria em encantos e magia.
No
começo havia a penumbra, Tupã então criou o sol, kwara'sy. Um dia o
sol ficou cansado e precisou dormir. Quando fechou os olhos tudo
ficou escuro e para iluminar a escuridão enquanto ele dormia, Tupã
então criou a lua, îasy e os dois se apaixonaram mas, quando o sol
abria os olhos para admirar a lua, tudo se iluminava e ela
desaparecia, e jamais podiam se encontrar. Tupã criou também muitas
estrelas, para que fizessem companhia a lua enquanto o sol dormia.
Assim nasceu a fábula do céu e todas as coisas que vivem lá. Sendo a
natureza iluminada pela luz do sol durante o dia e encantada pela
magia da lua à noite.
Os
rios, lagos e mares passaram a ser vigiados com misteriosas
divindades... Nasceu então o Caboclo D’água que junto de sete
espíritos protegia os peixes dos pescadores maldosos. E protegendo
os belos rios que cortavam as florestas, nasceu a mais bela deusa
das águas. Y-îara, senhora dos peixes, que com magia banhava-se nos
rios, cantando uma melodia irresistível onde homens que a viam não
conseguiam resistir a seus fascínios e enfeitiçados pulavam nas
águas e ela então os levava para o fundo e quase nunca voltavam
vivos... E para esconder tais lendas dos rios, surgiu Nampé a
Vitória-Régia que era a rainha dos lagos que desabrochava em uma
grande flor que flutuava em águas calmas, e que ao luar soltava um
inebriante perfume mantendo os rios velados em seus fascínios
noturnos...
Tupã
criou então a terra fértil e que produzia árvores frutíferas que os
homens precisariam... Naqueles tempos os mistérios e magias já
estavam alastrados pela floresta, mas o mato precisava de um místico
rei e então Tupã deu vida ao Uirapuru cujo canto seria tão belo que
faria esquecer-se a própria tristeza e o sofrimento. A mata inteira
emudeceria ao teu cantar cuja melodia subiria aos céus numa sentida
harmonia em forma de graciosa canção que alegrava o Deus Tupã. Os
seres mágicos povoavam as florestas.
Anhangá e a mata sombria
Alegres
viviam os homens, felizes cresciam as crianças, mas o mal também
residia na floresta que tinha lugares sombrios, escuros e
tenebrosos. Tupã formou um lugar de delícias para os bons, mas
existia um lugar infernal governado pelo tenebroso Anhangá.
Então
começaram os homens a serem dominados por grande ambição e a
ameaçadora deusa Sumá (inimiga dos homens), envolvida em negra
manta, feita de cipó chumbo, vagou pela terra, espalhando ódio e
discórdia. Deste modo os maus sentimentos ganharam o mundo e os
mortais tiveram o conhecimento do mal, da injustiça e amaram mais a
maldade do que as belas virtudes.
Eis
que um dia, Anhangá, cheio de inveja, enviou Uacauã, um demônio de
agouro e azar, que cantava feitiço que se transformou numa ave negra
e soprou no ouvido dos homens a crueldade e ainda que os outros
deuses protetores vagassem em torno deles para ajudá-los, nada
conseguiram, os homens estavam corrompidos pela ganância e deixariam
de proteger a mata.
Neste
lugar vagavam os espectros sem vida e os espíritos negros. Para lá
iam almas inglórias ou fugidas das tribos, os maus caçadores e
aqueles que destruíam a floresta. Tupã, após uma batalha, lançou
para este lugar sombrio, seu temível e poderoso inimigo Anhangá,
Deus dos Infernos, chamando estes lugares de regiões infernais, a
floresta sombria. Juntamente com este impiedoso Deus, a este mundo
subterrâneo também forma dirigidos o Jurupari que ficou conhecido
como mensageiro deste deus cruel; Xandoré, o deus do ódio; as
Tiriricas, deusas da raiva e o Pirarucú, deus das águas escuras e
perigosas dos rios. Grande quantidade de espíritos do mal formou o
reino do pavor, do ódio, da dor e da vingança. O homem estava
amaldiçoado.
Mas
do céu Tupã guardava os homens de bem e a maldade somente reinava
naqueles que não respeitavam e zelavam da vida criada por Ele. E
assim seguiu o destino dos homens que optam pelo bem ou pelo mal na
preservação ou destruição da encantadora floresta da magia.
Fabianno Santana
Roteiro do
Desfile:
Nº |
Nome da Fantasia |
Nome da ala |
Descrição |
Responsável pela ala |
Comissão de Frente: Pajés
Místicos
Os
seres divinos das aldeias indígenas e que foram os
porta-vozes das lendas guaranis por séculos e quem
contam as histórias que envolvem Tupã e os seres
encantados da Floresta |
1° Casal de Mestre Sala e
Porta Bandeira: Espíritos da Natureza
Representam a encarnação da mãe natureza,
segundo os indígenas, como o grande espírito onipresente
da natureza |
1 |
Anciões da mata |
Velha-Guarda |
Representam os ancestrais da
floresta propagadores da sabedoria e conhecimento
milenar |
|
1ª
Alegoria: Tupã e a encantadora floresta da magia
Representa o reino de Tupã, ou seja, a
floresta encantada, exuberante e repleta de mistérios |
2 |
Espíritos das folhas |
|
Representa o espírito da
floresta, das árvores, do espaço aberto; por extensão
que governa o tempo
Representa o espírito da floresta, das árvores, do
espaço aberto; por extensão que governa o tempo em seus
múltiplos aspectos. Divindade das Folhas litúrgicas e
medicinais que os índios utilizavam em seus múltiplos
aspectos.
Divindade das folhas litúrgicas e medicinais que os
índios utilizavam |
|
3 |
Espírito das flores |
|
Representa o espírito das
flores que manifesta a exuberância da flora silvestre
tão apreciada pelos índios que mantêm o equilíbrio da
natureza |
|
4 |
Espírito das águas |
|
Representa o espírito das
águas que materializam os rios, alagados, cachoeiras e
mares sobre os mistérios submersos da floresta |
|
5 |
Espírito dos animais |
|
Representa o espírito bravio
da fauna que reúne todos os animais viventes, aqueles
que rastejam, voam ou nadam |
|
6 |
Rupave e Sypave |
|
Os humanos originais criados
por Tupã eram Rupave e Sypave, nomes que significam "Pai
dos povos" e "Mãe dos povos", respectivamente. |
|
7 |
Jaci deusa da Lua |
Baianas |
Representação da deusa da
Lua, protetora dos amantes e da reprodução para os
tupi-guarani. |
|
8 |
Kwara'sy, o sol |
|
Guaraci ou Quaraci (do tupi
kwara'sy "sol") na mitologia tupi-guarani a
representação ou divindade do Sol |
|
Rainha e Madrinha de Bateria: Mistério das caboclas
encantadas
Representam a feminilidade das índias que
residem na floresta e a poção feminina da criação de
Tupã |
9 |
Caboclo D'agua |
Bateria |
Representa um ser mítico,
defensor dos rios, que assombra os pescadores e
navegantes, chegando mesmo a virar e afundar
embarcações. |
|
10 |
Nampé, o segredo dos lagos |
Passistas |
Representa uma deusa que ao
despontar a noite, florescia nos lagos e beijava e
enchia de luz as mais belas virgens índias. A vitória
Régia |
|
11 |
Uirapuru, rei místico |
|
Representa o pássaro
Uirapuru como um místico rei cujo canto seria tão belo
que faria esquecer-se a própria tristeza |
|
2ª
Alegoria: Anhangá e a mata sombria
Representa a parte obscura da floresta onde
reside o principal rival de Tupã, Anhangá, o grande
demônio da destruição |
12 |
Suma |
|
Representa a ameaçadora
deusa Sumá (inimiga dos homens), envolvida em negra
manta, feita de cipó chumbo |
|
13 |
Uacauã |
|
Representa um demônio de
agouro e azar, que cantava feitiço que se transformou
numa ave negra e soprou no ouvido dos homens a crueldade |
|
2°
Casal de Mestre Sala e Porta Bandeira:
Angoéras, fantasmas do mato
Representam os espíritos malignos que residem
na floresta |
14 |
Jurupari |
|
Representa um demônio que
servia como mensageiro de Anhangá |
|
15 |
Xandoré |
|
Representa um demônio do
ódio e da perdição humana |
|
16 |
Pirarucu |
|
Representa um demônio das
águas profundas dos rios |
|
|