Era
tão forte a ligação entre Alcebíades Barcelos, o Bide, e Armando Marçal,
uma das duplas de compositores mais bem sucedidas na música popular
brasileira, que ambos se misturaram no imaginário popular. Quando da
realização da Bienal do Samba pela TV Record de São Paulo, a produção
do evento decidiu convidar compositores importantes no gênero, para
apresentarem suas obras e serem homenageados, independente da competição.
Entre os convites expedidos individualmente, estava lá um para o “Senhor
Bide Marçal”, os produtores pensando que a dupla fosse uma só pessoa.
De certa forma não erraram, pois durante toda a vida musical que levaram
juntos, Bide e Marçal se completaram a ponto de criarem um estilo tão
definido que seus sambas eram reconhecidos aos primeiros acordes.
Armando Vieira Marçal nasceu no Rio de Janeiro, filho de Vicente Marçal
e Carolina Marçal, no dia 14 de outubro de 1903. Sua família era humilde
e teve infância difícil, mal podendo cursar o primário. Iniciou-se cedo
na profissão de lustrador de móveis na Casa Pratt e, mesmo tendo sucesso
como compositor e ritmista, não a deixou. Ao morrer, em 20 de junho
de 1947, era o lustrador dos móveis do Hotel Vera Cruz. à rua D. Pedro
I, sempre no Rio de Janeiro.
Casado com D. Ângela Delfina Marçal, foi pai de três filhos, inaugurando
verdadeira dinastia de sambistas. O terceiro filho, Nilton (os outros
dois, Valdir e Iara, morreram cedo), viria a se tornar o conhecido Mestre
Marçal, um dos maiores ritmistas da música popular brasileira, mestre
de bateria da Escola de Samba da Portela. e o neto, Marçalzinho. continuaria
a tradição como ritmista, fazendo carreira nos Estados Unidos.
Armando Marçal participou da primeira gravação com instrumentos de ritmo
feita no Brasil, a de Na Pavuna, de autoria de Almirante e Homero
Dornelas, que se assinava Candoca da Anunciação. Marçal, Bide. João
da Baiana. Bucy Moreira. Raul Marques e outros que se tornaram os pioneiros.
Marçal trabalhava como ritmista em emissoras de rádio, desde 1934. e
gostava de promover rodas de samba em sua casa, freqüentadas por amigos
compositores e por astros consagrados como Francisco Alves, Orlando
Silva, Sílvio Caldas, entre outros.
O maior sucesso da dupla Bide/Marçal foi o samba Agora É Cinza, que
tem uma história curiosa. Oferecido no Café Nice ao cantor Mário Reis,
junto com o samba Vivo Sonhando, foi em princípio recusado. tendo
Mário aconselhado que as músicas fossem apresentadas primeiro a Francisco
Alves. Isso porque eles estavam meio brigados desde que resolveram não
gravar mais em dupla e Mário queria fazer uma gentileza ao colega. Francisco
Alves escolheu Vivo Sonhando e Mário Reis gravou a que sobrou,
Agora E Cinza, que se tornou um clássico, um dos cinco maiores
sambas de todos os tempos. segundo pesquisa junto a especialistas.
Além dos grandes sambas que compunham juntos. Bide e Marçal – como quase
todos os compositores de sua geração – eram excelentes seresteiros e
gostavam das valsas brasileiras em moda. São deles, como exemplos, as
valsas Silêncio, composta em 1941, e Prece À Lua, feita
em 1945.
Dois anos depois, em 1947, bastante jovem, com apenas 44 anos de idade,
um ataque cardíaco surpreendeu Armando Marçal. quando visitava as dependências
da gravadora RCA Victor, no Rio de Janeiro. A morte dele desfazia a
famosa dupla, mas seus sambas continuam a ser gravados, com sucesso,
até hoje.
(Fonte
História do Samba - Volume 3 - Editora Globo - 1998)
|